VIII
Henry estava deitado de costas sobre uma enorme cama de casal, o teto era ornamentado com detalhes provavelmente feitos à mão na madeira escura, esperava paciente pelo relato de sua amiga sobre o que desencadeou o fim de seu relacionamento com Jack. Charlotte se encontrava com as costas apoiadas na cabeceira da cama, as pernas cruzadas e com uma almofada de plumas sobre elas. Não estava muito ansiosa para começar.
- Se você não quiser, não precisa me falar nada. - Henry garantiu, virando a cabeça para encarar a garota que torceu a boca minimamente e deu de ombros cansada.
- Talvez seja melhor falar tudo, até porque de acordo com ele, você tem uma grande parcela de culpa pelo nosso fim. - informou, o pegando totalmente de surpresa.
- O que eu tenho haver com isso? - indagou confuso, não lembrava de ter feito nada que pudesse acabar com o relacionamento dela.
- Olha, antes de tudo você tem que entender que o Jack nunca foi realmente um fã seu. - começou, Henry abriu a boca para protestar, mas ela continuou. - Nós nos conhecemos há muitos anos, eu sempre falei de vocês para eles.
Deixou no ar para que ele percebesse por si só, o Hart voltou seu olhar para o teto quando entendeu onde ela queria chegar.
- E falando sobre nós, você com certeza deve ter reclamado muito.
- Vocês sempre me deram motivos para reclamar. - o lembrou rapidamente ao escutar o tom magoado dele.
- Sei que sim, agora pensando bem, até entendo ele ter me provocado pelo nome do restaurante. - disse, voltando sua atenção novamente para ela. - Era só raiva, porque o nome era incrível.
- O que faça você se sentir melhor. - falou, resistindo a vontade de revirar os olhos após ele abrir um sorriso convencido. - A questão é que depois que saímos da Caverna naquele dia, as coisas ficaram bem estranhas entre a gente.
- Estranhas como?
- Primeiro que nós meio que discutimos sobre o fato de você estar dando em cima de mim ou não.
- Mas eu não-
- Eu sei que não. - o tranquilizou. - É seu jeito, você flerta até com o vento.
- Isso não é verdade. - garantiu meio impaciente.
- Por favor, Henry, não vamos entrar nesse assunto agora. - pediu, o fazendo se calar antes que ele começasse um monólogo defensivo. - Só que o Jack não gostou, porém esse assunto morreu, ou eu achei que tinha morrido. Mas resumindo, os meses se passaram e a carreira dele começou a ficar incrivelmente mais agitada, foi uma sucessão de fatos e acontecimentos. O ciúmes dele, a falta de tempo dos dois lados, a chegada da Elisa que claramente comprovou muitas suspeitas minhas e nossos planos totalmente diferentes para o futuro. - declarou, soltando um suspiro e deixando seus ombros caírem como se um peso tivesse sido tirado deles.
- Sinto muito. - disse sincero.
- Não precisa, doeu muito, mas bem antes de terminarmos. - falou, franzido o cenho como se lembrasse de algo. - Parece que tudo acabou antes mesmo do fim, eu gosto dele e sempre vou ficar feliz pelo o que vivemos, mas não era pra ser.
- Quando vocês terminaram? Foi antes da festa?
- Nós terminamos já tem mais de um mês.
- Um mês? E por que você não me falou nada? - perguntou preocupado, viu que Charlotte desviou o olhar meio magoada.
- E vocês por acaso me escutam?
A pergunta o acertou em cheio, sabia que tinha sido um amigo bastante negligente e por isso estava tentando recompensa-la a todo momento, mas pelo visto não estava fazendo um bom trabalho. Sentou-se na cama e se aproximou para ficar em frente à ela, pegou as mãos de Charlotte nas suas e tentou transmitir em sua voz o arrependimento que sentia.
- Desculpa não ter prestado atenção em você, não ter te escutado e por te colocar sempre em situações embaraçosas e difíceis. Sei que muitas vezes sou um péssimo amigo e eu queria que você soubesse o quanto eu estou com raiva de mim mesmo por não ter estado ao seu lado em todos os momentos que você precisou.
A Page inspirou profundamente e focou seu olhar em suas mãos unidas, sentia o nariz pinicar pelas lágrimas e tentou a todo custo não chorar. Sentia falta de ter seu amigo ao seu lado, tinha Jasper e incrivelmente Piper em vários momentos, mas a presença de Henry era diferente, ele sempre havia consigo acalma-la nas mais turbulentas tempestades. Sabia que era assim que ele também a via, o Hart já havia expressado isso em muitas ocasiões.
- Você está aqui agora, já é muito. - garantiu, fechando os olhos quando o sentiu se aproximar.
Henry levou uma mão ao rosto dela e colou suas testas. Podia sentir a respiração de Charlotte em seu rosto, com o dedão começou a desenhar círculos na bochecha quente da garota, desejou poder permanecer ali por muito tempo. Sentiam as batidas da música alta reverbar por todo o quarto, a porta trancada impedia que invadissem, estavam em seu próprio mundo.
- Não vou mais sair do seu lado. - prometeu, em um sussurro calmo. - E se por acaso eu for um idiota de novo você tem todo o direito de me bater.
- Bom saber. - disse, soltando uma pequena risada.
Charlotte abriu os olhos e encontrou os dele brilhando de uma forma totalmente nova, os dois estavam muito próximos, próximos o suficiente para acabar com seu senso de perigo. Seu coração começou a bater acelerado, sentiu uma onda de calor tomar conta de seu corpo e passou a língua sobre o lábio inferior de forma nervosa. Não teve como ignorar que a atenção de seu amigo se desviou para os seus lábios e repetiu o gesto, Henry abriu ligeiramente os seus próprios e Charlotte podia jurar que o ar estava mais espesso, parecia que uma carga de energia estava tomando conta do ambiente.
- Char.
A voz do Hart saiu rouca, ele deslizou a mão que estava em seu rosto para sua nuca, a outra que estava entrelaçada na sua agora se encontrava em sua cintura. O aperto mínimo dele a fez ter coragem e levar suas mãos ao ombro dele, uma delas desceu até o braço e o apertou.
- É uma linha muito fina, Hart. Muito fina. - afirmou, sustentando o olhar intenso que ele a lançou.
- Sinto que já passamos dela há muito tempo.
Contra aquele argumento ela não tinha palavras, Henry percebeu. Se aproximou devagar para dar a chance dela recuar, mas Charlotte não apenas não recuou como fechou a distância entre eles. O toque dos lábios foi hesitante, mas não demorou para que a sensação de ter o outro tão perto os levassem a querer mais. Passou o braço ao redor da cintura dela e a puxou para o seu colo, Charlotte prontamente circulou o corpo dele com suas pernas e aproximou ainda mais os dois. O beijo foi aprofundado e não soube quando ele a deitou contra os travesseiros, mas ter Henry tão perto, sentir o corpo dele colado ao seu, fez sumir qualquer resquício de sanidade.
- Finalmente!
- Você é insana!
Os gritos estridentes os assustaram, Charlotte empurrou Henry bruscamente para sair de cima dela, o que o fez rolar e cair para fora da cama. Olhou para Joss, que a encarava com um olhar mortal, e Babe que estava com um imenso sorriso malicioso no rosto, mas que logo se voltou para a garota ao seu lado completamente irritada.
- Você é a pior pessoa que existe na face da terra!
- O que está acontecendo aqui? - Henry perguntou impaciente, após se levantar e voltar a sentar ao lado de Charlotte.
- Ela aqui. - começou Babe, apontando para Joss que ainda encarava o casal em clara fúria. - Estava abrindo todas as portas trancadas pra vê se conseguia encontrar vocês. Garota, você realmente precisa de terapia.
- Cala a boca, Carano.
- Tô mentindo por acaso?
- Olha aqui.
- Olho nada.
Charlotte queria jogar as duas pela janela, inclinou a cabeça para apoia-la no ombro de Henry, que a abraçou de lado, e perguntou baixinho.
- Podemos ir embora?
- E deixar todos aqui? - indagou rindo.
- Deixar a Joss aqui. - respondeu como se fosse óbvio.
- É uma excelente ideia. - não tinha como discordar.
Os dois se levantam e começaram a procurar seus pertences, Charlotte calçou rapidamente suas botas e Henry a esperou tranquilamente.
- Você tem que dar um jeito nessa garota. - disse, se levantando e ficando ao lado dele.
Henry a olhou e assentiu firmemente.
- Prometo que vou colocar um fim nisso.
- É bom mesmo. - falou em tom de aviso e quase riu ao ver o olhar assustado dele.
As duas ainda discutiam quando uma loira nervosa invadiu o quarto e encarou o casal em um alívio quase palpável.
- Ainda bem que encontrei vocês.
- O que houve? - Henry perguntou preocupado, Charlotte só sentia que eles provavelmente deveriam ter arrumado confusão.
Pelo menos Babe e Joss haviam parado de discutir.
- Hum, nada. - desconversou inutilmente.
- Piper. - o Hart nem queria imaginar o que ela havia feito, a expressão falsamente inocente que ela adotou não estava convencendo ninguém.
- Só vamos embora logo. - pediu, os empurrando para a porta.
- Rápido, rápido, rápido. - foi a vez de Jasper invadir o local, seu rosto estava vermelho e ele segurava a mão de Kyle, o garoto que provavelmente também estava metido em o que quer que fosse.
- O que vocês fizeram? - Charlotte perguntou séria, Piper a olhou e abriu um sorriso confiante.
- Não se preocupe, vocês não vão precisar tirar a gente de nenhuma delegacia hoje.
- Por que sinto que isso não é verdade?
- Vai ser verdade se formos embora agora. - garantiu, a pegando pela mão e liderando o caminho para fora.
A música ainda era alta, o corredor estava lotado de pessoas e Henry viu ali a oportunidade de escapar da festa.
- Nossa deixa. - informou, empurrando Jasper para sair e depois se virando para Joss. - Obrigada pela festa, Joss, mas já está na nossa hora.
- Como assim? Por que você não fica? - ela tentou, se aproximando dele que recuou desconfortável.
- Olha, eu sei o que você estava tentando fazer, mas o que aconteceu entre nós já acabou e você se lembra muito bem o porque. - disse, não poderia deixar que ela pensasse que ainda tinha algo entre eles, por mais que tivesse sido bem irresponsável em outras ocasiões. Jasper diria que sempre era melhor tarde do que nunca.
- Eu não estava preparada para um relacionamento sério naquele tempo, mas agora eu estou e sei que você ainda sente algo por mim. - afirmou, se encostando no portal de madeira e abrindo um sorriso que em outros tempos o faria esquecer de tudo.
Mas não ali, não naquele momento, pois ele havia descoberto outro sorriso que agora o dominara por inteiro.
- Desculpa, mas não tem como.
Joss soltou uma risada de escárnio e olhou para além dele, Charlotte esperava no início do corredor enquanto conversava seriamente com Piper e Jasper. Voltou seu olhar para o Hart de forma mais suave.
- Estou te dando uma saída, Hen. Podemos voltar a ser o que eramos antes, antes dela aparecer.
- Acontece que ela sempre esteve aqui. - disse, abrindo um sorriso quando virou a cabeça e seu olhar se encontrou com o de Charlotte. - E eu não quero sair de onde estou, vou fazer de tudo para permanecer.
- Você vai se arrepender. - o tom foi rancoroso, o que fez o Hart olha-la com pena.
Ela não o queria por amor ou paixão, o queria como um prêmio. Pelo visto a herdeira não estava acostumada a não ter o que queria, mas Henry não iria participar daqueles joguinhos e nem deixaria que ela atrapalhasse a vida de Charlotte por um simples capricho.
- Espero que você seja feliz, Joss. - desejou sincero, dando alguns passos de costas e se despedindo. - Adeus.
Joss o observou a dar às costas e se afastar em direção à Charlotte, soltou um pequeno grito e bateu o pé indignada.
- Já eu espero que você tenha o que merece. - a voz de Babe a atingiu.
A Carano saiu do quarto e ficou de frente para ela com um sorriso vitorioso estampado em seu rosto.
- Por acaso está me ameaçando? - cruzou os braços e a encarou de forma descrente.
Babe riu e jogou o cabelo solto para o lado, estava claramente se divertindo com a raiva da outra.
- Que nada. - disse, abanando a mão em pouco caso. - Só tô te desejando a lei do retorno. - falou, piscando para ela. - Nunca esqueça, o carma é uma vadia vingativa.
- Isso vale para você também, Carano. - afirmou, mas a outra somente a ignorou e saiu para longe.
Babe sabia que não devia provocar a ira de uma herdeira da máfia, mas não conseguia se controlar quando tinha o poder de provoca-la. Os dias de viagem podem ter sido reduzidos, mas a chance de ver Joss Moss se remoendo em raiva e ajudar um casal cego a enxergar o outro fez o pouco tempo valer a pena. Além, é claro, do contrato milionário que ela conseguiu.
*****
Primeiro de tudo, essa foi uma fic nada planejada e por não ter sido planejada o capítulo final saiu antes do esperado. Minha intenção era mostrar o início de um novo sentimento entre a Charlotte e o Henry e aqui está, eu acho.
Obrigada a todos que leram, desculpem qualquer contratempo e espero que tenham gostado. Foi pequeno, mas espero que tenha distraído vocês. Bjs, até a próxima.
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