Capítulo 39
Maya
Quando Austin e Luke desligam os telefones, os dois se entreolham, parecendo chocados e até mesmo desconfiados.
— Que caras são essas? — Kathryn pergunta antes mesmo de mim.
Então, sem suspense ou delongas, eles nos contam tudo. Algumas semanas atrás, nossos pais decidiram virar sócios de um shopping. Porém, ao conferirem no computador o lucro total da semana, perceberam que o valor era muito maior do que o repassado pelos donos das lojas. Isso significa que alguém pegou o dinheiro. E os únicos que possuem esse acesso são nossos pais. Sendo assim, um passou a desconfiar do outro, e agora são inimigos declarados. Isso também nos afeta, pois nossos pais não querem mais que mantenhamos contato.
— De uma coisa eu sei: meu pai nunca faria isso. Ele não tem motivos para uma barbaridade dessas. — Austin defende nosso pai.
— O que você está querendo dizer? Que o meu pai fez isso? Fique sabendo que ele é o homem mais honesto que conheço! — Luke rebate, exaltando-se um pouco.
— Parem! — Me intrometo. — A briga é entre os dois, não precisamos nos meter nisso!
— Acho que é meio impossível. — Luke responde, baixinho. — Kathryn, nosso pai comprou duas passagens para o Brasil, para nós dois. Embarcamos amanhã de manhã.
— O quê?! — Kathryn pergunta, chocada. — Mas e tudo que construímos aqui? Não podemos abandonar!
— Ele está irredutível. Talvez, pessoalmente, consigamos convencê-lo. — Luke comenta tristemente.
Minha vida virou de cabeça para baixo tão rápido que ainda não consigo acreditar. Um dia desses, estávamos na fazenda do avô de Luke, comemorando o Natal todos juntos, como uma grande família feliz. Hoje, o pai de Luke e Kathryn decide nos roubar? Porque, se há culpado entre meu pai e ele, com certeza é ele. Conheço meu pai bem o suficiente para saber que jamais faria isso. Já o Sr. Castellan... não sei muito sobre ele.
— Eu vou ligar para o Peter, ele vai me explicar isso melhor. — Austin anuncia, subindo para o seu quarto.
Kathryn me encara, atordoada.
— Eu... até tinha me acostumado a conviver com você.
— Eu também. — Confesso, baixinho.
Um filme passa pela minha cabeça. Como conheci os irmãos Castellan, como os detestei e como passei a gostar deles, me acostumar com a presença dos dois e até mesmo considerá-los como minha família. E agora... tudo acabou.
— No que está pensando? — Luke me pergunta.
Encaro seus olhos azuis. Será essa a última vez que irei vê-los? Com esse pensamento, tenho vontade de me atirar em seus braços e beijá-lo. Um adeus. Uma despedida.
— Maya?
— Nada. — Respondo, balançando a cabeça e expulsando tais pensamentos.
— Tudo bem. — Ele suspira. — Eu vou dormir. Até ama... — Ele se interrompe, se dando conta de que amanhã não estará mais aqui. — Boa noite. — E sobe para seu quarto.
— Ei, você quer... sei lá, pintar as unhas? — Kathryn me pergunta, com os olhos cheios d'água.
— Não. Eu quero um abraço. — Confesso.
Então, nós duas nos abraçamos. Sinto as lágrimas de Kathryn molharem minha blusa, e ela provavelmente também sente as minhas molhando a sua. Nunca pensei que chegaríamos a ser amigas um dia. Mas agora, nós somos. E a inimizade entre nossos pais torna tudo mais difícil.
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Kathryn
Eu estou arrasada. Não é como se um parente da minha família tivesse morrido, mas é uma dor parecida. E tudo isso porque resolvi me abrir para ser amiga de Maya e Austin. Eu esperava que Maya e eu pudéssemos ser melhores amigas e que Austin e eu... Bom, no começo, rivais. Depois, amigos. E agora... Algo mais do que isso.
Caminho em direção ao meu quarto, mas decido mudar minha trajetória e entro no quarto de Austin. Ele dorme profundamente, de barriga para cima. Seus olhos estão fechados, sua respiração calma e sua boca entreaberta. Me sento em sua cama.
— Eu te odeio. — Digo a ele, com lágrimas nos olhos. — Odeio como você é tão babaca e sarcástico. Odeio como é convencido e gentil. Odeio como me faz rir na mesma medida que me provoca. Odeio como você me fez sentir quando me beijou. E, principalmente, odeio você por me fazer deixar de te odiar e me apaixonar por você. E agora, está tudo acabado.
As lágrimas rolam soltas pelo meu rosto. Austin se mexe, virando de lado, e eu saio de seu quarto. Vou para o meu e arrumo minhas malas. Logo depois, me deito, mesmo sem conseguir dormir.
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Maya
Depois que Austin me trouxe para meu quarto, tentei dormir, mas não consegui acalmar meu coração e todo a ansiedade que estou sentindo. Então, decido ir encontrar por quem meu coração chama. Pego as muletas e vou até o quarto de Luke. Quando entro, fecho a porta e encosto minhas costas nela.
— Maya? — Ele pergunta, se sentando na cama e ligando o abajur, colocando seus óculos de grau logo em seguida.
— Oi. — Respondo mais baixo do que queria.
— Aconteceu alguma coisa?
— Não, eu só... — Preciso me despedir de você. Porém, não é o que digo. — Você sabe tocar violão, não sabe? Toca uma música para mim.
Luke franze um pouco o cenho, mas pega seu violão e começa a tocar Photograph, de Ed Sheeran.
Ele canta toda a música me encarando nos olhos, e sinto como se... estivesse dedicando toda a letra a mim. Meu coração bate desenfreado, e sinto vontade de chorar. Quando a música acaba, seus olhos ainda continuam fixos nos meus.
— Você realmente tem o dom para música. — Sorrio fraco.
— Obrigado. — Ele agradece, mas não sorri.
— Bom, eu... vou indo. Boa noite. — Digo, me preparando para sair.
— Você pode dormir aqui hoje. — Oferece. — Eu vou embora amanhã mesmo.
— Eu... tudo bem. Mas você vai ter que me emprestar uma blusa sua.
Luke sorri de lado, triste, e pega uma blusa no guarda-roupa.
— Aqui está. Vai ficar grande, mas acho que tudo bem.
Pego a blusa e ele me ajuda a entrar no banheiro para me trocar. Ao sair, deito ao seu lado. Ele apaga a luz do abajur e o silêncio reina entre nós. Meus olhos marejam e um soluço escapa dos meus lábios. Sinto os braços de Luke me envolverem em um abraço apertado e afundo meu rosto na curva de seu pescoço, aspirando e memorizando seu cheiro enquanto me esforço para não chorar. E é assim, que gradativamente, pego no sono.
Quando acordo, o quarto está vazio. Sinto um aperto no peito e o choro entalado na garganta que se abranda ainda mais ao ver o bilhete que Luke deixou na mesa de cabeceira.
"Queria que tivéssemos tido mais tempo e que as coisas tivessem sido diferentes. Me desculpe por não me despedir de você, Tomatinho. Mas a verdade é que no momento que você me olhasse com esses olhos que se tornaram os meus preferidos da vida, eu jamais poderia ir embora. Espero que esse não seja nosso adeus, e que nos encontremos novamente, e então eu finalmente poderei confessar todas as palavras não ditas.
Com amor,
Luke."
Aperto o bilhete contra o peito e não seguro mais o choro.
***
Uma semana depois
Após uma semana, decidi voltar para o Brasil. Quando cheguei, fiquei sabendo que Luke se transferiu para uma escola de música no Japão e Kathryn foi fazer um curso de maquiagem em Nova York, o que realmente me surpreendeu. Achei que ela optaria por seguir com o Muay Thai, como foi o caso de Austin. Ele não apenas quis continuar com a luta, como também voltou para Londres.
Eu, por minha vez, estou indo para Milão estudar dança, e minha melhor amiga, Laura, irá me acompanhar. E nossos pais... continuam sem falar uns com os outros, e em um complicado processo judicial.
E esse é nosso final infeliz.
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