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Capítulo 26

Kathryn

Sinto vontade de dizer não, de dizer que ele não pode. De mandá-lo ir à merda e ficar com a minha prima. Mas por que eu falaria isso? Na verdade, por que estou com raiva por Austin ter ficado com Jéssica? Isso não faz nenhum sentido. Não é como se eu me importasse. Porque eu não me importo.

— Por que você não fica aqui e me deixa em paz e feliz? — pergunto, erguendo as sobrancelhas.

— Prefiro irritar você. — Ele sorri largamente. — E também, não tenho nada melhor para fazer.

— Claro que tem. Você pode entrar no quarto da Jéssica de novo e ficar com ela! — Mas isso eu só digo na minha cabeça. O que realmente sai da minha boca é bem diferente: — Olha, só não me perturba, beleza?

— Vou tentar. — Ele responde, montando em Flip logo em seguida.

Austin se segura na minha cintura, e tenho que respirar fundo antes de começar a cavalgar. O ar parece ter se tornado mais escasso.

Depois de um tempo cavalgando, amarro meu pônei em uma árvore e me sento na grama, sustentando o tronco do corpo com as mãos.

— Nossa! Essa vista é realmente bonita! — Austin exclama, apreciando a paisagem.

— Sim, por isso eu adoro vir aqui. — Comento, pousando minha mão na grama. No entanto, ela acaba ficando por cima da de Austin. Imediatamente, puxo minha mão de volta.

— Isso costuma acontecer em livros e filmes. — Ele comenta, divertido. — É bem clichê.

— Também acho. — Concordo, envergonhada.

Austin suspira.

— Adoro o Brasil, mas estou sentindo falta do frio de Londres.

— Verdade. Também sinto saudades de lá. — Confesso, pensando em Kim, Lexi e na academia de Muay Thai.

— Tem mais alguma coisa legal por aqui? Ainda tenho dois dias nesse lugar. — Austin pergunta, virando o rosto para me encarar.

— Bom... Vai ter um show de forró amanhã à noite, mas eu não sou muito fã, e acredito que você também não. — Digo entre risos.

— Não mesmo. — Ele ri, e eu o acompanho.

— Ah! Não tomamos banho na piscina ainda. — Lembro.

— Verdade. Podemos fazer isso hoje, o que acha? — Ele sugere.

— Por mim, tudo bem. Você trouxe o celular?

— Sim, mas está sem sinal.

— Tudo bem, só quero saber a hora mesmo.

— São dezessete e meia. — Ele responde, checando o visor do celular.

— Vai escurecer daqui a pouco, é melhor voltarmos.

— Tudo bem, vamos lá. — Austin concorda.

Em seguida, levanta e me ajuda a fazer o mesmo, me puxando pela mão. Por causa da força que ele usa, nossos corpos se chocam um no outro. Meu coração acelera e sinto sua respiração quente contra meu rosto. Nossos olhares se cruzam, e logo os dele descem para os meus lábios. Um frio percorre minha espinha. De repente, lembro dele beijando minha prima e me afasto imediatamente.

— Vamos logo. — Digo, lhe dando as costas e caminhando apressadamente até meu pônei.

— Por que parece que você está fugindo de mim? — Ele pergunta, logo atrás de mim.

Porque é exatamente o que estou fazendo.

— Não estou fugindo de você. — Minto, soltando Flip da árvore.

— Então por que saiu correndo? — Ele insiste. — Estava com medo de que...

— Austin, por que você não vai beijar a Jéssica e para de me encher o saco? — Explodo, irritada com ele.

— Ela te contou? — Ele pergunta, parecendo surpreso.

— E a Maya também.

— Foi só um beijo insignificante. — Ele se explica.

— Eu não ligo. Você não me deve explicações. — Finalmente viro para ele. — Agora vamos logo, ou te deixo aí.

Sem esperar por resposta, subo em Flip, e Austin logo faz o mesmo. No meio do caminho de volta para a fazenda, começa a chover, e Austin me aperta mais ainda. Quando enfim chegamos, levo Flip ao celeiro e depois sigo para a casa.

— Graças a Deus! — Mamãe suspira, parecendo aliviada. — Já está escurecendo e vocês não chegavam, estávamos preocupados!

— Não saiam sem nos avisar, pelo amor de Deus. — Pede a mãe de Austin.

— E onde estão Luke e a Maya? — Peter pergunta.

— Eles não estavam com a gente. — Informo.

A mãe de Austin cai sentada no sofá, tendo um breve desmaio.

— Querida! Acorde! — O Sr. Buchmann senta-se ao lado dela, mexendo seu rosto de um lado para o outro.

— Mãe! — Austin exclama, assustado.

— O que... — Ela começa a acordar. — Onde está minha filha?

— Sra. Buchmann, nós não sabemos onde eles estão, mas tenho certeza de que está tudo bem. Luke é a pessoa mais responsável que conheço, não precisa se preocupar. — Me agacho ao seu lado, tentando tranquilizá-la.

Não é nada bom ficar preocupada em seu estado.

— Eu vou me deitar um pouco. Me chamem quando ela chegar. — Pede a mãe de Maya, e nós concordamos com ela.

***

Maya

Depois de alguns minutos dirigindo por uma estrada estreita de terra, Luke estaciona em frente a uma cachoeira maravilhosa. Descemos do carro e nos sentamos no capô dele, apreciando a vista.

— Eu vou te matar. – digo a ele, encarando a enorme fonte d'água caindo.

— Por quê? – pergunta, sem entender.

— Porque você me traz em um lugar desse e nem fala para trazer biquíni! Agora, só posso ficar olhando. – exclamo, emburrada.

— Hum... – murmura, pensativo. – Falta de biquíni não é um problema. – Então, sem que eu esperasse por isso, ele tira a camisa e mergulha na cachoeira. Fico o encarando, imóvel, até ele emergir da água. – Vem!

— Eu... eu sou menina! – rebato. – As coisas funcionam diferente, não é só tirar a camisa e mergulhar.

— Você já deve ter percebido que não sou tarado. Prometo não olhar! – ele tenta me convencer. Penso um pouco, hesitante. Porém, resolvo ceder.

Que meu pai e irmãos nem sonhem com isso.

— Tá! – rapidamente, tiro a blusa e o short, ficando apenas com minha lingerie lilás. Quando olho para frente, pego Luke me encarando e sinto vergonha. – Você disse que não ia olhar! – grito com ele.

— Desculpa! – ele se vira, imediatamente. – É que você tirou a roupa tão rápido que eu... esqueci dessa parte. – Luke tenta se explicar.

Entro na água com um mergulho, e quando emerjo, estou cara a cara com Luke.

— A água está ótima. – comento.

— Sim. Está. – ele concorda, sem desviar os olhos dos meus.

Assim como mais cedo, o silêncio prevalece, e ficamos apenas nos encarando. Nervosa, mordo o lábio inferior, atraindo a atenção de Luke para minha boca. Então, uma gota d'água pinga bem em meu nariz. Olho para o céu e percebo que começou a chover.

— Droga, temos que ir! – Luke me apressa. – A estrada daqui não é muito boa e já está escurecendo.

Luke sai da água e eu vou atrás. Me enxugo rapidamente com minha blusa e visto apenas o short. Entramos no carro e logo começa a chover fortemente. Luke dá partida, mas o carro acaba se atolando na lama no meio do caminho.

— Droga! – ele resmunga, batendo no volante.

— A gente vai ter que ficar aqui? – pergunto, já batendo os dentes.

— Infelizmente. – ele responde, desligando o carro.

_ E-eu tô mo-morrendo de fri-frio. – gaguejo por conta do frio, abraçando a mim mesma.

_ Eu também. – Luke confessa. – Espera. – Sem falar mais nada, ele sai do carro e abre o porta-malas. Pega alguma coisa, coloca debaixo da camisa e entra no carro novamente.

— É um cobertor e toalha. – ele me explica. – O tio Billy deve usar quando dorme fora da fazenda.

— S-santo Billy! – exclamo, agradecida.

Pego a toalha e uso-a para me enxugar mais um pouco. Depois, Luke faz o mesmo. Ele liga o aquecedor e vamos para o banco de trás, para podermos dividir o cobertor. Nos enrolamos o máximo que conseguimos, e para isso precisamos ficar grudados um no outro.

— Será que eles estão preocupados com a gente? – pergunto, me referindo às nossas famílias.

— Acredito que sim. – Luke responde.

***

Luke

Como o cobertor não é grande o suficiente para dois, Maya e eu tivemos que ficar colados um no outro, o que até ajuda um pouco, por conta do calor humano.

— Luke. – ela me chama. — Você me acharia muito folgada se eu pedisse para encostar minha cabeça no seu ombro? – Maya pergunta, e eu rio baixinho.

— Um pouco. Mas não me importo. – respondo, e não me importo mesmo. Então, Maya encosta sua cabeça no meu ombro e se aconchega um pouco mais.

— Você acha que vão vir atrás da gente? – ela pergunta, de olhos fechados.

— Não sei, a chuva está muito forte. Talvez só amanhã. – falo.

— Uhum. – murmura.

Depois de alguns minutos, tudo fica em completo silêncio, a não ser pelo barulho da chuva. Olho para Maya e vejo que está dormindo. Seu rosto parece o de um anjo. Ela consegue ser linda até dormindo e morrendo de frio.

—Incrível, você é linda até dormindo. – murmuro para mim mesmo.

— Obrigada. – ela responde, ainda de olhos fechados. Arregalo os olhos. Ela não estava dormindo? Que vergonha.

— Pensei que estivesse dormindo.

— Estava quase lá. Mas agora, vou dormir de verdade.

Sem pedir permissão, Maya se deita em meu colo e logo adormece. Cochilo um pouco, mas logo acordo. A chuva parou. Tiro a cabeça de Maya do meu colo e vou para o banco do motorista. Depois de alguns minutos tentando, consigo desatolar o carro. Dou partida até a fazenda, e quando chego lá, fico com pena de acordar Maya. Então, pego-a nos braços e abro a porta principal da casa com um pouco de dificuldade. Depois, fecho-a com o pé. Quando estou subindo as escadas, Maya acorda.

— Luke? – pergunta, parecendo atordoada. – Por que não me acordou?

— Porque você fica bonitinha dormindo. – respondo com humor, sorrindo de lado.

— Só bonitinha? – ela também sorri.

— Só bonitinha. – afirmo. Mas a verdade é que ela fica linda. Nenhuma beleza, de garota alguma que já conheci, se compara com a dela. Se bem que Kathryn não fica para trás. Tenho que admitir, minha irmã é muito bonita.

Levo Maya até seu quarto, onde Kathryn está dormindo na cama ao lado,  e ela me agradece de um jeito nada legal.

— Obrigada, escravo. – diz sorrindo.

— Hahaha. – rio com sarcasmo.

— Obrigada por hoje. Até amanhã, Luke. – ela se despede com um sorriso sincero, fechando a porta em seguida.

Vou para o meu quarto e tomo um bom banho. Saio vestido e me deito em minha cama sem fazer barulho para não acordar Austin, e logo em seguida, adormeço.

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