Capítulo 23
Kathryn
Já estamos na estrada novamente. Luke conversa com papai sobre futebol, mamãe troca a música no rádio freneticamente, Zoey brinca em seu iPad e eu... como batatinha. Este é o terceiro saco de Ruffles que devoro, e sei que deveria ter parado no primeiro, mas estava com tanta fome que não consegui. O pior de tudo é que são da Zoey. Graças a Deus, ela está empolgada demais no seu jogo Plantas vs. Zumbis para prestar atenção em mim. Agora faltam poucos minutos para chegarmos à fazenda. Acabamos de passar pela placa que diz: Fazenda Castellan.
Meus avós adoram este lugar. Eles abriram mão de toda a sua fortuna para morar aqui. Para ser mais precisa, gastaram um terço da fortuna na fazenda, e o resto ficou para meu pai, meu tio Billy e minha tia Cláudia. Entramos na estrada de areia, e já consigo ver a casa do vovô bem pequenininha, como se fosse uma casa de formiga.
— Kathryn. — Zoey me chama.
— Oi?
— Passa dessa fase para mim, por favor. Não estou conseguindo. — Ela faz um biquinho fofo.
— Claro.
Pego o iPad e começo a jogar. E não é que esses malditos zumbis são espertos? As plantas, por outro lado, são um bando de lesas.
— Vai logo, seu lesado! Como você consegue ser uma lesma desse jeito? — Reclamo com o pé de feijão que não quer atirar as sementes. Se é que essa planta imbecil é mesmo de feijão.
Sinto o carro parar.
— O que você disse, Kathryn? — Meu pai pergunta, me olhando fixamente pelo retrovisor.
— Hã? — Tiro os olhos do iPad e olho para ele.
— Não se faça de boba, mocinha. Eu ouvi muito bem o que você disse! — Exclama, parecendo estar com raiva.
— Como assim?
— Quando chegarmos à fazenda, teremos uma conversinha sobre o seu comportamento. — Finaliza, dando partida.
— Mas o que eu fiz? — Pergunto, frustrada.
— Pai, ela não disse por mal. — Luke me defende, como sempre. Porém, dessa vez nem eu sei o motivo.
— Então está tudo bem uma filha desrespeitar o pai, chamando-o de lesado e lesma?! — Ele se exalta um pouco.
— Calma, querido. — Mamãe toca em seu ombro, numa tentativa de acalmá-lo.
Zoey e eu nos entreolhamos e começamos a rir.
— Do que vocês estão rindo, posso saber? — Papai pergunta, furioso.
— Ela não chamou o senhor de lesado e lesma, papai. Kathryn estava falando com a planta de feijão do meu joguinho. — Zoey explica com sua vozinha fofa.
— O quê? — Ele pergunta, surpreso.
— Pois é. Alguém me deve um pedido de desculpas. — Cruzo os braços.
— Me desculpe, querida. Pensei que estivesse falando comigo. — Ele se desculpa, envergonhado.
— Tudo bem. — Digo entre risos.
Assim que chegamos à fazenda, descemos do carro e os Buchmann também fazem o mesmo. Maya atola o sapato na areia, e seu irmão mais velho, Peter, a ajuda a tirar.
— Cuidado com os escorpiões. — Pisco um olho para ela, provocando-a.
— Ai, meu Deus! Aqui tem escorpiões?! — Pergunta, apavorada. Depois, vira-se para o irmão. — Pete, você ouviu isso? Você vai dormir comigo!
Abro a porta e anuncio:
— Cheguei!
Vovó está sentada na cadeira de balanço, tricotando. Vovô lê o jornal e... Olho para o outro lado da sala e vejo meus primos, Jéssica e Rodrigo. Ah, e uma garota ruiva ao lado deles.
— Prima! — Jéssica grita animada, vindo me abraçar.
— Nossa, tá gata, hein? — Rodrigo comenta, vindo me abraçar também.
— Que saudades de vocês! — Exclamo, abraçando-os de volta.
— Rodrigo! — Luke diz atrás de mim, vindo abraçar nosso primo. Jéssica também abraça Luke e depois aperta as bochechas de Zoey.
— Oi, meus velhinhos lindos! — Digo em tom de brincadeira, dando um beijo na bochecha de cada um.
— Que demora para virem. Não era para terem chegado ontem? — Vovô resmunga.
— É, vô, mas teve uma chuva forte e tivemos que parar em um hostel. — Explico.
— Ah, verdade. E onde estão seus pais? — Pergunta, curioso.
— Estão lá fora com os Buchmann.
— Buchmann? — Rodrigo e Jéssica perguntam ao mesmo tempo.
— Sim, papai convidou seu amigo e a família dele para passarem o Natal com a gente. — Explico novamente e, sinceramente? Já estou cansada de repetir isso.
— Ah, que chato. — Jéssica comenta. Então, os Buchmann entram pela porta, e todos se viram para olhá-los. Rodrigo não desgruda os olhos de Maya, e Jéssica e sua amiga ruiva não param de olhar para Peter e Austin.
— Retiro o que disse. — Jéssica murmura.
***
Maya
Talvez eu seja um pouco egocêntrica, mas não gosto do fato de ter outra garota ruiva aqui, ainda mais com um nome parecido com o meu. É meio agoniante.
— Oi, gente. — Maiara diz, parecendo tímida. Algo me diz que é só fingimento.
Rodrigo não para de olhar para mim, o que está me deixando constrangida. Ainda mais quando Peter e Austin resolvem falar besteiras, provavelmente porque também perceberam.
— Sabe, quando a Maya estava no primeiro ano do Ensino Médio, apareceu um garoto para paquerá-la. — Austin começa.
Me controlo para não revirar os olhos. É sempre a mesma história.
— Só que ele não era bom o suficiente para ela, então tivemos que dar um susto nele. Coisa básica. — Continua Peter.
— Ele só ficou com os dois olhos roxos e um dente quebrado, nada demais. — Austin olha fixamente para Rodrigo.
Meu Deus, o que eu fiz para merecer isso?
— Nossa, que perigoso! Adoro. — Jéssica comenta, fazendo todos rirem.
Mamãe nos chama e nos aproximamos para conhecer os avós de Kathryn.
— Olá, querida. — A avó de Kathryn fala comigo.
— Olá. — Sorrio, e então pouso meus olhos no tricô em suas mãos. — Nossa, que lindo! Acho que nunca conseguiria fazer um desses.
— Então pode deixar que, nesses dias que você vai passar aqui, em um deles eu te ensino.
— Sério? Legal! Obrigada! Isso vai ser útil quando eu voltar para Londres!
Depois da recepção, fui para o quarto onde ficarei hospedada. Coloquei um short e uma regata rosa, calcei um chinelo e prendi o cabelo em um coque frouxo. Quando desci, todos os jovens estavam no sofá.
— Nossa, quanta garotada! — Diz um homem ao entrar com duas mulheres.
Logo descubro que é o tio de Kathryn com sua esposa e outra tia.
— Finalmente você tomou vergonha na cara e trouxe a namorada. — O tio de Kathryn diz para Luke.
Meus olhos se encontram com os dele, e tenho certeza de que os dos meus irmãos também.
— Maya não é minha namorada, tio. E eu estou solteiro.
Depois do comentário, Peter e Austin parecem relaxar.
— Perigo não detectado. — Peter murmura.
— Beleza, então vamos cair fora. — Austin completa, e os dois saem.
Só depois entendo que eles estavam falando de Rodrigo.
– Será que o Flip ainda está aqui? - Kathryn pergunta para o irmão, com os olhos brilhando.
– Talvez.
– Vou lá dar uma olhada! - Anuncia, saindo correndo em seguida.
O meu olhar e o de Luke se encontram novamente. Somos os únicos que restaram na sala.
— Quer dar uma volta? - ele sugere?
— Claro. - assinto.
Saímos da casa, e Luke começa a me mostrar a fazenda.
***
— Aquela garota, amiga da sua prima, você já a conhecia antes? — pergunto.
— Não... e por que está fazendo essa cara?
— Que cara? — franzo o cenho.
— De quem comeu e não gostou — ele constata. — Está com raiva dela?
— Não! Eu só... não gostei de ter outra garota ruiva aqui, ainda mais com um nome parecido com o meu — confesso, fazendo Luke rir.
— Você está com ciúmes — ele diz, enquanto passamos por uma lagoa onde vários patos nadam.
— Ela parece ser falsa — faço uma careta.
— Maya — Luke me repreende.
— O quê? É verdade. Eu sinto — digo com convicção.
— Não julgue um livro pela capa — Luke me diz.
Ficamos em silêncio por um momento.
— Em que está pensando agora? — pergunto, um pouco entediada.
— Em você — responde, e nós dois arregalamos os olhos. — Quer dizer, é que você está caminhando comigo agora e estava falando há pouco tempo, então, por isso, estava pensando em você — explica rapidamente, virando-se para me olhar, quase como se estivesse nervoso. — E você? No que está pensando agora?
— Eu... — tento dizer alguma coisa, mas é difícil pensar quando ele está assim, tão perto. — Que você está perto demais — minha voz sai quase como um sussurro.
Ficamos apenas nos olhando por um tempo, até que ele balança a cabeça negativamente e se afasta.
— Aqui tem uma piscina — revela, repentinamente.
— Sério? — pergunto, surpresa.
— É. Kathryn e Jéssica imploraram bastante.
— Ah. Ei! Quem é Flip? — pergunto, curiosa.
— Flip é um pônei. O vô deu para Kathryn no aniversário de 15 anos — ele explica.
— Um pônei? Que fofo!
— Eu posso te mostrar amanhã — ele oferece, enfiando as mãos nos bolsos.
— Por que só amanhã? — indago, curiosa.
— Porque eu acho que estão chamando a gente — ele aponta para trás de mim. Viro-me para olhar e vejo sua avó acenando para nós dois.
***
— Eu preciso que você pegue um porco para mim. E Kathryn, duas galinhas. Precisamos para a ceia de Natal — anuncia a avó de Kathryn.
— Um porco? — pergunto, perplexa. — Mas eu nunca nem entrei em um chiqueiro em toda a minha vida! — exclamo, horrorizada. Luke apenas ri de mim.
— É fácil, querida. Tenho certeza de que você irá conseguir — ela dá tapinhas em meu ombro.
Já passa do meio-dia e até já almoçamos, e agora ela me pede para pegar um porco? Como vou fazer isso?
Minutos depois, estou com uma roupa horrível: um macacão jeans brega, um chapéu de palha e uma bota de couro falso. Que pesadelo!
— Uau, que gata! — Luke zomba de mim, e eu mostro meu dedo do meio para ele, que apenas ri.
Entro em um dos chiqueiros com ânsia de vômito. Toda aquela lama imunda e a comida dos porcos estão me deixando tão enojada que devo estar ficando verde. Luke, divertindo-se com a situação, apoia-se na cerca e assiste a tudo de camarote.
Dou um passo, depois outro e mais outro. Quando chego bem perto do porco, ele faz um barulho. Eu me assusto e caio, de cara na lama. Escuto Luke rindo e os porcos fazendo barulho. Talvez eles estejam rindo de mim também.
— Que. Nojo. — falo pausadamente, me levantando.
Não consigo abrir os olhos. Sinto braços me puxando e um pano passando sobre meu rosto, devolvendo minha visão e... nossa! O pano usado para limpar meu rosto foi a blusa de Luke, e agora ele está sem. E a visão é... maravilhosa. Não imaginava que ele tivesse tantos músculos assim.
— De nada — ele ergue as sobrancelhas.
— Ah! Eu... O-obrigada — digo, nervosa, sentindo minhas bochechas corarem. Luke pega sua camisa de volta e a joga por cima do ombro. Já eu, viro-me e vejo os porcos me encarando. Eles parecem maus. — Me ajuda, por favor! Eu nunca fiz isso e não sei nem por onde começar. Além do mais, esses porcos parecem que não vão muito com a minha cara! — imploro para Luke.
Ele apenas sorri e entra no chiqueiro. Pouco tempo depois, conseguimos (ou melhor, ele consegue) pegar um porco. Luke o coloca em meus braços, e eu o levo para sua avó.
— Sabia que você conseguiria — a avó de Luke diz com aprovação.
— É, até que não foi tão difícil — respondo, trocando um olhar cúmplice com Luke, que ri baixinho.
— Você sabe cozinhar? — a avó de Luke me pergunta.
— Não! — respondo rapidamente, apesar de saber fazer algumas coisas. Só não quero que ela me peça mais nada, por isso invento: — Da última vez que tentei, quase coloquei fogo na casa.
— Minha nossa! — ela exclama, assustada. — Tudo bem, então. Vá descansar.
Após ser dispensada e tomar um banho relaxante para me livrar daquela lama imunda e do odor horrível do chiqueiro e dos porcos, Luke e eu vamos assistir a um filme que está passando na TV. As mulheres estão preparando a ceia, e os homens foram comprar mais coisas que vamos precisar.
— Você pode ir mais para lá? Tipo, bem na ponta?
— Por quê? — Luke franze o cenho.
— Porque eu quero me deitar — sorrio amarelo.
— Folgada.
— Por favor! — imploro. — Eu até peguei um porco hoje! Acho que mereço.
— Eu peguei um porco — Luke me corrige, e eu reviro os olhos.
— Também fui parte ativa nisso.
— Bem pouco.
— Aff, como você é chato! — reclamo, jogando uma almofada nele.
— E você, uma grande folgada — ele rebate, jogando a almofada de volta.
— Idiota!
— Folgada.
— Babaca!
— Folgada.
— Seu...
— Minha nossa! — o tio de Luke me interrompe, surgindo do nada. — Desse jeito, vai dar namoro.
Luke e eu nos encaramos. Encolho os ombros e tenho certeza de que estou vermelha. Abraço a almofada e viro o rosto para o filme, sem falar mais nada.
***
Quando o filme termina, percebo que todos estão fazendo alguma coisa, ajudando em algo para o Natal. Apenas Luke e eu não. Imediatamente, sinto-me culpada. Porém, preciso tirar meu sono de beleza da tarde, então é exatamente isso que faço. Ou melhor, tento fazer. Quando piso no primeiro degrau da escada, a mãe de Luke me chama.
— Apenas esses dois papeizinhos sobraram para vocês dois, já que os outros já pegaram os seus — ela informa.
— Para que é isso, mãe? — pergunta Luke.
— Para o amigo secreto que vamos fazer — ela explica, e eu e Luke pegamos os papéis. — Escrevam nesse outro papel o que vocês querem dar para o amigo oculto de vocês, para que eu e Adam possamos ir até a cidadezinha aqui perto comprar. Lá tem coisas interessantes e até mesmo uma loja que recebe mercadorias de cidades grandes.
Fico surpresa com quem tirei. O que posso dar para essa pessoa? Hum... acho que já sei! Anoto no papel o que quero e entrego para a Sra. Lívia. Logo, Luke faz o mesmo.
Em seguida, subo para o quarto onde estou instalada com Kathryn e me deito na cama. Coloco meu tapa-olhos, puxo o cobertor até o pescoço e logo caio no sono.
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