Capítulo 16
Maya
Acordo com o corpo todo dolorido. Consequências da faxina na refeitório. Limpar aquele lugar enorme me deixou exausta, e isso porque haviam mais três pessoas me ajudando. Se fosse apenas eu... não quero nem pensar nessa hipótese.
Com o relógio marcando sete e dez da manhã, me levanto cambaleante, por conta do sono. Pego minha toalha, entro no banheiro e me dispo por completo dentro do box. Inicio o banho com água gelada, para me despertar. Porém, em seguida, troco para água quente, porque estou com frio. Banho terminado, visto uma legging preta e uma blusa branca que aparece cerca de quatro dedos da minha barriga. Amarro um casaco na cintura, para quando ficar mais frio do que está e calço um vans verde-água.
Desço às escadas e não vejo mais ninguém à mesa. É quando noto que Austin já estava de saída.
— Austin, me espera! — Chamo sua atenção, fazendo o mesmo se virar para mim.
— Achei que não iria hoje. — Meu irmão comenta.
— Não posso nem dar a honra de não aparecer. — Respondo, indo até a geladeira e pegando uma maçã verde apenas para não ficar sem comer.
Em seguida, vou com ele até o carro. Ao chegarmos na escola, algumas pessoas soltam piadinhas pelo o ocorrido ontem, e tenho que segurar Austin várias vezes para que ele não faça uma burrada.
— Não liga para isso. Elas só querem um motivo para continuar falando. — Digo a ele, tentando acalmá-lo. — Não dê esse gostinho a elas.
Minhas palavras surtem efeito e Austin relaxa. Ele me acompanha até a sala de dança e me dá um beijo na têmpora antes de ir. Entro no lugar que passo grande parte das minhas horas e vejo Luke conversando com Clair. Será que ele vai aceitar meu pedido ou estão falando sobre outra coisa?
— Luke? — O chamo, aproximando-me calmamente dos dois.
— Ah. Oi, Maya. — Ele sorri para mim, e só então me dou conta de suas lindas covinhas. — Estava contando a novidade para Clair.
— Que novidade? — Pergunto, curiosa, e torcendo para ser o que estou pensando.
— Apenas que vocês terão um novo integrante no grupo: eu. — Luke dá de ombros.
— Ai, meu Deus! Obrigada, obrigada, obrigada! — Grito empolgada, pulando em seu pescoço e abraçando-o em seguida.
Não acredito que vou realmente ter a chance de vencer Mery! Mal posso esperar por esse dia! Quando a empolgação vai passando, percebo que ainda estou abraçada com Luke. Imediatamente, me desvencilho dele, envergonhada. Céus! É a segunda vez que minha empolgação me coloca em uma situação constrangedora com ele.
— Desculpa. — Digo, com minhas bochechas ficando coradas.
— Tudo bem, eu... gostei. — Luke confessa, me fazendo arregalar os olhos.
— Com licença. — Pede Clair, saindo correndo em direção ao banheiro.
Ai, não! Droga!
— O que aconteceu com ela? — Ele pergunta, franzindo o cenho.
— Não sei, vou lá ver. — Minto, e vou atrás dela.
Mas, é claro que eu sei. Clair gosta de Luke, e não é nada legal ouvir o garoto que você gosta dizer que gostou do abraço de outra garota. Quando entro no banheiro, escuto um fungado baixinho, vindo da última cabine.
— Clair? — Pergunto, me aproximando.
— O-oi. — Ela gagueja.
— Você está bem? — Pergunto, apesar de já saber a resposta.
— Na verdade não, não estou nada bem. — Responde o que imaginava.
— Você pode desabafar, se quiser. Ou, precisar. — Digo baixinho.
Um silêncio se instaura. Estava quase me movimentando para ir embora, quando ela começa:
— Sabe, eu me apaixonei por Luke desde a primeira vez que o vi aqui na escola. Ele era tão bonito! Mas é claro, eu sabia que ele era demais para mim. Quando vi que ele faria a mesma aula que eu, pensei que só poderia ser o destino. Começamos a conversar e viramos amigos, e só me apaixonei ainda mais. Quando fizemos um dueto então... Eu não podia estar mais feliz. E o nosso primeiro encontro? Foi tudo tão mágico! Apesar dele não ter me beijado, infelizmente. Na verdade, ele nunca nem sequer me abraçou ou me deu um beijo na bochecha. Nunca olhou para mim como mais que uma amiga. Eu só queria... só queria ser notada. Não como uma amiga, mas como mulher, como interesse amoroso. — Clair desabafa, com voz chorosa.
Me entristeço por ela. Também passei por essa fase da friendzone com Bernardo, e foi horrível. Gostar de alguém e não ser correspondida por ela é horrível. É como se você não fosse suficiente.
— Eu sinto muito, Clair. — Digo com sinceridade. Em resposta, ela abre a porta da cabine.
— Tudo bem. Eu só... precisava desabafar. Agora, é melhor irmos ensaiar. — Não tenho tempo para contestar, porque ela se vai rapidamente.
Saio do banheiro em seguida e acabo trombando com Luke, que parecia estar me esperando.
— Tá tudo bem com a Clair? Ela saiu tão rápido que nem tive chance de dizer alguma coisa.
— Sim, é só... coisa de mulher. — Minto. — Então, vamos ao ensaio. É melhor começar assistindo e vendo a execução de alguns passos. Amanhã você começa a dançar realmente.
— Claro, tudo bem. — Ele responde. Depois, vai sentar no banco, e fica observando a mim e aos outros dançando.
***
Kathryn
Quando chego na academia, vejo Austin se aquecendo. Ao me ver, ele para e vem em minha direção com um sorriso de canto nos lábios.
— Preparada para perder? — Pergunta, convencido, referindo-se à luta que iremos ter.
— Vai sonhando. — Retruco.
— Porque eu perderia meu tempo sonhando em lutar com você? Tem coisas muito melhores. — Ele sussurra a última parte, aproximando-se de mim.
Meu coração acelera, e nem sei porquê.
— Tipo o quê? — Pergunto, mantendo a pose.
— Tipo jogar fermento na sua cara. — Ele sorri largamente. Em resposta, também sorrio com a lembrança.
Acho que estou começando a criar uma nova amizade com Austin Buchmann Lancaster, o que antes parecia impossível. Mas agora é... bom. Apesar de ainda ser estranho.
— Lutadores! Tenho um comunicado para vocês. — O treinador chama a atenção de todos, incluindo a nossa. — Daqui alguns dias, acontecerá o Campeonato Estadual de Muay Thai, e eu quero vê-los suando muito para que eu possa escolher os melhores lutadores da academia para participar. — Ele anuncia. Austin e eu nos entreolhamos e damos um sorrisinho.
— Chegamos! — Kim anuncia sua chegada com Lexi para todos.
— Atrasadas, como sempre. — Nosso treinador reclama, fazendo-as ficarem caladas.
Minhas amigas acenam para mim, e eu retribuo. Em seguida, elas vão treinar juntas.
— Essas suas amigas são gatas, hein? — Austin comenta comigo, observando Kim e Lexi treinarem. — Eu não me importaria de pegar uma das duas. Ou, até mesmo, as duas.
— Cala a boca. — Dou uma cotovelada em seu estômago, incomodada com seu comentário. Depois, vou treinar com um saco de pancadas.
***
Após o fim do treino, nosso mestre nos dá a notícia de que antecipou nossa luta para a próxima semana, justamente no dia da minha apresentação de dança! Isso só pode ser castigo.
— Treinador, eu tenho uma apresentação de dança nesse dia! Não posso estar nos dois lugares ao mesmo tempo! — Protesto com ele, em sua sala.
— Não posso fazer nada. A menos que se saia como uma das melhores lutadoras. Aí poderei esperar por você. — Declara.
Ótimo, só precisava saber disso. Darei o meu melhor e serei uma das melhores. Saio da sala um pouco mais tranquila e Kim e Lexi logo vêm ao meu encontro.
— Oi, amiga! — Kim me saúda.
— Oi, meninas. — Sorrio fraco.
— Então... como está você e Ryan? Não saíram mais? — Lexi pergunta, direta como uma bala.
— Na verdade, não. — Confesso.
Não vejo ou falo com Ryan desde nosso primeiro e último encontro. E, sinceramente, não faço questão. Não gostei da forma como ele falou da pulseira que Michael me dera, como se fosse apenas um objeto que pode ser facilmente substituído.
— Ah, sério? Vocês combinavam tanto! — Lexi faz biquinho.
— Sim, eu estava shippando muito! — É a vez de Kim dizer.
— Não estou com cabeça para namorar agora, meninas. — Dou uma desculpa para não magoá-las.
— Eu acho que você só não se permite. — Lexi fala.
— Verdade. — Sua irmã concorda.
— Eu tenho que ir, Luly deve estar com fome. — Me despeço das meninas e vou até minha moto. Jogo meus cabelos ao vento e coloco o capacete.
***
Maya
Na hora da saída, procuro por meu irmão para que possamos ir juntos para casa. No entanto, não o acho em lugar algum. Então, vou até a sala de luta e encontro um grupo de cinco garotos no corredor. Eles não estão com as roupas que Austin costuma usar para lutar, por isso não sei se praticam o esporte. No entanto, talvez conheçam meu irmão e saibam onde ele está.
— Oi. — Digo ao me aproximar deles.
— Oi. — Um garoto de cabelos castanhos e olhos verdes me cumprimenta, com um sorriso doce na boca.
— Eu estou procurando por meu irmão, Austin. Ele faz Muay Thai aqui na academia, e é ruivo. Por acaso, vocês o viram por aí? — Pergunto, me sentindo desconfortável com a forma que alguns deles olham para mim.
— Não, não vimos. Mas o que importa seu irmão? Vamos aproveitar que ele não está aqui e nos divertir, gatinha. — Diz um garoto alto e moreno, que logo me puxa contra si e aperta minhas nádegas.
— Me solta! — Grito, enojada e incrédula, empurrando-o para longe.
— Que é isso, princesa? A gente só vai se divertir. — Um garoto loiro responde, também se aproximando de mim.
Uma sensação de desespero me invade, e só quero chorar.
— Parem com isso, idiotas. — Diz o garoto que me respondeu com "oi". Então, rindo, eles param. — Vem, eu te levo em casa. — Ele segura em minha mão, me tirando dali.
Estou tão assustada que deixo o garoto me levar, acreditando que ele não me fará mal, já que me salvou.
***
O garoto que me trouxe foi muito gentil e prestativo. Diferente de seus amigos, ou seja lá o que sejam, não tentou nenhuma gracinha. Me trouxe em segurança até em casa.
— Obrigada. — Agradeço, desafivelando o cinto de segurança.
— Não têm de quê. — Ele sorri. — A propósito, me chamo Dylan.
— Maia. — Respondo.
— É um nome bonito. — Ele me elogia. — Você pode... Me dar o seu número? — Ele pede.
— Eu... tudo bem. — Concordo.
Após passar meu número para ele, nos despedimos e entro em casa. Quando vejo todos à mesa jantando, principalmente Austin, sinto uma raiva se apossar do meu corpo.
— Finalmente você chegou! — Austin diz na maior cara de pau.
— Finalmente eu cheguei? — Repito, elevando o tom de voz e chamando atenção de Kathryn e Luke também. — Se você se importasse comigo, teria me esperado, e eu não teria sido assediada por um grupo de garotos imbecis e trazida até aqui por um desconhecido que me salvou! — Grito com ele, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas.
— O quê? Do que você está falando? — Ele pergunta, parecendo preocupado.
— Não importa. Você deveria estar lá! — Exclamo, as lágrimas rolando por minhas bochechas.
Em seguida, corro escadas acima e me tranco em meu quarto, fechando a porta com força. Lembro das mãos daquele cara em mim e fico tão enojada que quase vomito. Com as lágrimas encharcando minha roupa, vou tomar banho, porque me sinto suja.
Saio do banho e enrolo meus cabelos na toalha. Visto meu pijama e me deito, com Mel em meu colo. Quando pego o celular, me deparo com uma mensagem de Dylan.
Dylan
Oi, aqui é o Dylan
Maya
Eu sei, salvei seu número
Dylan
Nossa, verdade
Que tapado! Hahaha
Maya
Hahaha
Só um pouco
Dylan
Então, você está bem?
Maya
Sim
E você?
Dylan
Bem melhor agora
Quando vou te ver de novo?
Maya
Hã... não sei. Talvez amanhã, se você passar por algum corredor que eu costumo passar
Dylan
Hahaha, engraçadinha
Eu quis dizer fora da escola, mesmo
O que você acha de irmos numa sorveteria amanhã?
Penso por um segundo. Ele foi tão legal me salvando daqueles caras e me trazendo em casa. No entanto, estava com os garotos que me assediaram. Não posso sair com ele sem saber o motivo, primeiro.
Maya
Me responde uma coisa antes
Por que estava com aqueles caras?
Dylan
Infelizmente, um deles é meu irmão
Ah! Agora tudo faz sentido.
Maya
Entendi
Podemos sim, sair amanhã
Dylan
Ótimo!
Depois da escola?
Maya
Sim, pode ser
Dylan
Fechado, então
Até amanhã!
Maya
Até amanhã
Desligo o celular, focando totalmente em minha cachorrinha.
— O que acha de brincarmos um pouco, filha? — Pergunto a ela.
Em resposta, Mel late e lambe meu rosto. Interpreto isso como um sim.
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