Surpresa Noturna
Ao final daquela primeira semana me vi completamente exausta, os alunos do terceiro ano pareciam vigorosos quanto aos treinamentos físicos. E pediam constantemente pelo meu auxílio, olhando para o teto do meu quarto suspirei alto, ao menos não precisava me preocupar em treinar nas horas livres. Uma brisa fresca entrava pela janela aberta do balcão e além dela apenas a noite.
Realmente não tinha forças para me mexer, ou vontade, porém minha mente estava inquieta, impedindo que finalmente me entregasse nos braços do sono. Lembranças de um passado triste vinham e voltavam com frequência, estar no mesmo lugar que estudei trazia de volta as mesmas sensações que tive ao longo dos anos de U.A.
Se Touya estivesse vivo, teria gostado daquela aula. Com certeza ele venceria o festival esportivo, será que faria estágio com Endeavor na agência?
Em minha juventude pensamentos como aquele eram comuns, até criar uma maturidade para deixar o passado no lugar dele, tive alguns momentos de dúvidas e questionamentos. De repente todas as lembranças daqueles dias voltaram com força.
Revirei na cama mais uma vez e me vendo impossibilitada de fazer qualquer coisa levantei, as noites de verão estavam quentes, a camisola de cor escura e tecido leve tinha alças finas e o comprimento até os joelhos. Andei em direção a cozinha, meu pai estava viajando, então seria apenas eu e o silêncio por alguns dias tempo.
Pesquei uma barra pequena de chocolate na gaveta, já ficaria acordada por um tempo escovar os dentes novamente não seria um problema. Tinha as fichas dos primeiro-anistas nas mãos, colocaria aquela insônia insistente para ser útil e daria uma olhada nos alunos do acampamento.
Distraída, voltei para o quarto sem reparar na figura parada do lado de fora de meu balcão.
— Sempre pensei que vermelho combinava melhor com você, mas vou me render ao preto.
Os olhos amarelos brilhavam como os de um gato, sua figura iluminada pelas costas deixava sua feição indecifrável, mas podia imaginar o sorriso arrastado que tinha nos lábios.
— Foi inteligente o suficiente para não pisar do lado de dentro — respondi apesar da surpresa —, o sistema de segurança é configurado por código genético. Teria se tornado o mesmo frango frito que tanto gosta Hawks.
Ele riu — Que tal desativar o sistema para conversarmos mais de perto então?
— O que quer que tenha para me falar, pode dizer de onde está. — surpreendentemente a quantidade de pele exposta não me fez tanta diferença, não era nenhuma puritana. Mas quase invadir o quarto de alguém no meio da noite, não era também a mais nobre das ações.
— Se continuar a me olhar assim, acho que posso desmaiar — ele se inclinou para trás e voltou —, tão perto, mas tão longe. Algum dia você ainda vai me dar uma chance?
— Talvez quando você parar de se esconder atrás dessa fachada. — andei até a pequena luminária ao lado da cama e a acendi, apenas quando a frente de sua silhueta se iluminou tive uma genuína reação de surpresa. Hawks não estava vestido com seu traje de herói, mas sim roupas comuns, e, além disso, cobertas de sangue.
Sua camisa estava manchada assim como uma parte de suas calças jeans, seu rosto estava pálido de olhos quase se fechando. Corri até o painel na lateral e desativei a segurança do quarto.
— Porque não disse estar machucado? — segurei seus ombros e o puxei para o lado de dentro, o rapaz grunhiu quando seus pés pousaram na minha sacada — Hawks você deveria ter ido a um hospital!
— Barulho demais, pessoas demais, perguntas demais, como posso deixar que vejam o número 3 neste estado? — disse com um tom sarcástico, mas quando viu meu rosto sério completou com o que julguei ser uma meia verdade — É complicado. Acreditei que uma colega poderia me ajudar.
— Além das asas seu cérebro também parece ser de passarinho às vezes — peguei seu braço e passei pelo meu pescoço o levando até o meu banheiro e o sentando na beira da banheira —, tire a camisa.
As penas escarlates de suas asas se afastaram da base em que se prendiam, deixando muito mais fácil o trabalho de remover as roupas.
— Por favor, não olhe, é vergonhoso.
— Todos temos nossas fraquezas — respondi com um riso e me abaixei para abrir uma gaveta —, parecer um frango depenado não te faz menos um herói.
A jaqueta parece ter saído facilmente e fora jogada na banheira vazia, mas a camiseta foi necessária alguma ajuda, o homem ergueu os braços e eu me vi puxando o tecido até a tirar pela cabeça e em seguida as costas. O corte era profundo, tinha aproximadamente o tamanho da extensão de minha mão, era em sua lateral e aparentemente não havia acertado nenhum órgão.
Peguei os medicamentos na caixa de primeiro socorros, ajoelhei em sua frente para tratar do ferimento — Vai doer, e eu juro que se você fizer qualquer comentário sexual sobre eu estar ajoelhada no meio das suas pernas, essa agulha vai costurar outra coisa.
— Sim senhora — Hawks respondeu e inclinou a cabeça olhando para o teto, assim ele se manteve por todo tempo. Minhas mãos estavam vermelhas e conforme perfurava sua pele fazendo a sutura podia ver seus músculos se contraindo. Não era cega, entendia o porque de muitos serem fãs de Hawks, ele era alguém realmente atraente. Levantei os olhos para seu rosto por um momento, não havia nenhuma expressão.
— Como conseguiu isso? — comecei a conversar com ele, na tentativa de não deixar que ele dormisse. Dependendo da quantidade de sangue perdida não era bom.
Ele me olhou por um instante antes de se ajustar de maneira desconfortável — Metendo meu nariz onde não sou chamado, é só isso que precisa saber.
Dei um último ponto e me levantei para lavar a mão e limpar envolta da ferida antes de finalizar. Cura não estava dentro de nenhuma das minhas habilidades, portanto foi algo que me interessei quando mais jovem, se não tivesse escolhido ser uma heroína teria provavelmente seguido no ramo médico.
A faixa branca foi enrolada com firmeza em sua cintura e a cor parecia estar voltando ao seu rosto antes pálido, juntei os descartáveis numa sacola. Teria que os descartar apropriadamente depois, me afastei rapidamente e em silêncio seguindo para meu closet, gostava de camisas largas, com certeza tinha algo que serviria para o homem vestir. Junto de uma tesoura e uma toalha os deixei sobre a bancada acompanhados de uma calça de moletom.
— Pode se limpar um pouco, não tenho asas, então precisa fazer algumas modificações na camiseta. Deixe suas roupas no canto, dou um jeito nelas depois.
— Você é tão gentil, quantas vezes vai fazer eu me apaixonar por você [Nome]?
Balancei a cabeça e fechei a porta do meu banheiro o deixando sem resposta, se antes eu não conseguia dormir por estar com a mente cheia, imagine agora com um herói profissional que foi costurado em meu banheiro. Aproveitei estar longe e também troquei minhas roupas por uma menos reveladora, logo em seguida me sentei na mesa como era o plano original. Passei por algumas fichas de alunos até que Hawks voltasse a aparecer.
— Tem que me dizer onde comprou essas roupas, são surpreendentemente confortáveis. — comentou e se voltou para mim com olhos atentos.
— Apenas tente não parecer desapontado seu pervertido — peguei o chocolate que era originalmente meu e joguei em sua direção — coma antes que desmaie.
— Obrigado — com passos lentos se sentou na poltrona perto de mim — mê de alguns minutos e eu vou embora.
Peguei uma caneta e taquei em sua direção, não tão gentilmente quanto o chocolate, uma de suas penas a desviou imediatamente — O que te faz pensar que vou te expulsar da minha casa após ter sangrado nela? Não acho que pareço ser esse tipo de pessoa desalmada.
— Já que você me odeia, achei ser o mais plausível.
Virei a cadeira — Só porque eu não caio no seu charme barato não quer dizer que te odeio. Você também não faz nenhum esforço para entrar na minha lista de melhores amigos.
Hawks riu fraco — Você é bonita, até mais que isso se me permitir falar, confesso que a maioria das coisas que digo é só para te ter respondendo. É divertido, você é boa [Nome], não merece alguém como eu.
O tom de sua voz foi estranho, vago como se tivesse segredos escondidos naquelas palavras. Informações que eram exclusivas de seus pensamentos, não pude deixar de sentir um tom melancólico e isso me fez o questionar mentalmente.
Sua fala foi como se ele mesmo não fosse um herói, em poucos segundos de silêncio ele acabou cochilando. O papel do doce em seu colo e a cabeça tombada para o lado, por hora vou colocar o assunto de lado, mas teria certeza de prestar um pouco mais de atenção no herói de asas carmesim daqui para frente.
N/A: Obrigada por ler até aqui!
Até a próxima! Xx
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro