Capítulo 04
Não contei a minha mãe sobre a noite passada, ela tampouco perguntou. Acho que estava explícito no meu rosto que não tinha sido como ela e suas amigas esperavam.
Quem sabe assim me deixassem em paz de uma vez por todas.
O bom era que o terno que Nicolas havia encomendado já estava pronto e ele viria buscá-lo hoje mesmo.
Nesse momento eu terminava de confeccionar sua gravata borboleta com as pérolas no centro.
Após o último toque na pequena peça a coloquei junto ao terno de Nicolas que o manequim vestia. Tentei ajustar a cabeça do boneco, porém a mesma estava um tanto sem jeito.
O sininho da loja toca. Quando me viro para receber quem entrou vejo o dono da roupa sorrir, ao mesmo tempo ouço um "toc".
Arranquei a cabeça do manequim e ela estava agora nas minhas mãos estáticas.
— Pobre manequim — lamentou ele escondendo a risada.
— Nicolas.... Oi. — Ele estava sorrindo mesmo depois de ontem eu ter, praticamente, armado uma barreira entre nós? — Eu estava só... tentando dar um jeitinho.
— Não se preocupe, eu entendo — caçoou ele.
Então seus olhos focaram no terno atrás de mim.
— Você pode provar, se quiser. — Eu estava tão sem jeito quando a cabeça do boneco na minha mão.
Nicolas havia ficado tão incrível com o terno quanto eu imaginei que ficaria.
— Você tem muito talento, Alice! — Elogiou ao se olhar no espelho. — É claro que o modelo ajuda também.
— Convencido — ri e ofereci a gravata. — Como havíamos dito, o toque das pérolas. Não precisa usar se não tiver gostado, eu apenas...
— Eu adorei, com certeza usarei — Nicolas garantiu.
Ao pegar a peça ele tocou a pulseira que estava no meu pulso. A mesma tinha pingentes delicados de lírios.
— Bela pulseira.
Dei um sorriso leve.
— Era da minha avó, ela ganhou quando se casou, depois a deu de presente para a minha mãe quando ela também se casou... e então minha mãe me deu — expliquei. — Mas eu não me casei, ela só cansou de esperar — acrescentei rindo e sendo acompanhada por ele.
Por segundos Nicolas permaneceu observando silenciosamente a pulseira.
Ele balançou a cabeça e disse:
— Você não estragou a coisa toda.
Minhas bochechas esquentaram.
— Esplêndido! Mui belíssimo! — Minha mãe corta o clima. — Você será o padrinho mais bonito de todos, disso eu tenho certeza.
Essa foi a vez de Nicolas ficar envergonhado. Ora, então ele também corava!
— Muito obrigado, o crédito é todo da Alice.
Minha mãe logo deu um jeito de se enfiar na sala de costura e nos deixar sozinhos.
Olhei para Nicolas com uma expressão de desculpas, mas ele apenas ria.
Depois acertamos as últimas etapas da compra e o acompanhei até a porta da loja.
— Obrigado, você me surpreendeu.
Surpreendi como? Com o terno? A gravata? Ou com meu trágico histórico?
Não tive coragem de perguntar.
— Não precisa agradecer. Espero que se divirta na festa — disparei a primeira coisa que veio na minha mente.
Ele assentiu, talvez não fosse essa a resposta que ele queria. Nicolas entrou no carro depois de um sorriso e um aceno.
Suspirei. Pois aquela podia ser, e era, a última vez que eu o via.
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Digamos que eu estava um tanto atrasada. Minha mãe precisou usar o carro e agora eu estava chamando loucamente um táxi. Respirei aliviada quando um parou para mim.
Passei o endereço de onde aconteceria o casamento, que por sinal era da minha melhor amiga.
A sorte devia estar ao meu favor naquele dia, pois não havia o costumeiro trânsito, o que me fez chegar rápido no local.
Procurei pela quantia certa do dinheiro na pequena bolsa que eu levava.
— Você é a madrinha? — Perguntou o taxista notando que meu vestido era como o de mais algumas moças paradas na porta.
Soltei o ar dos pulmões com força.
— É, eu sou a madrinha — disparei ríspida. — Porque. Eu. Sempre. Sou. A. Madrinha! — Cada palavra era uma cédula ou uma moeda na mão do motorista confuso.
Finalmente sai do táxi levantando a barra do meu vestido salmão.
— Você é louca? — Perguntou o motorista descaradamente.
— Mas o que? — Me indignei. — Louca é a senhora sua avó...
— Alice! — Mariana me chama.
Ela estava simplesmente incrível de noiva. Sem contar o sorriso ansioso e empolgante.
— Ah você está linda! — Abracei minha melhor amiga esquecendo o insulto do taxista sem noção.
— E você está um arraso! Espere só até ver o seu par. — Ela piscou para mim. Então foi me guiando através das pessoas reunidas.
— Não sei de onde você tirou essa ideia maluca de montar os pares através de um sorteio...
— Alice Velilah, conheça meu amigo Nicolas Montagnier — disse ela. — Nicolas, essa é a minha melhor amiga.
— Você — dissemos em uníssono.
— Ah legal, vocês se conhecem! — Disse uma Mariana animada. Ela logo desapareceu para falar com outras pessoas.
Nicolas estampava aquele sorriso que fazia meu coração dar uma batida a mais.
— Você está deslumbrante, senhorita Velilah.
Tentei relaxar ao seu lado.
— Você também não está nada mal. — Meneei com a cabeça. — Belo terno, aliás.
— Ah, foi feito por mãos muito talentosas.
Sorri ao passo que meu rosto esquentou.
E então começou a entrada dos padrinhos. Nicolas tomou minha mão e a apoiou delicadamente sobre seu braço. Tal gesto fez as coisas acontecerem devagar e rápido ao mesmo tempo.
O modo como sua mão tocou a minha fez alguma coisa despertar. Como um aviso.
Nicolas e eu caminhamos até o local indicado para os padrinhos e madrinhas.
Minha mão ainda repousava no braço dele, eu sentia o tecido do terno familiar o que me fez lembrar de quando o espetei com um alfinete.
Não consegui evitar uma risada baixinha.
— Do que está rindo? — Nicolas se abaixa um pouquinho para cochichar.
— Não é nada — desconversei me concentrando nas portas de madeira que agora revelariam a noiva.
Então os benditos saxofones e violinos fizeram a melodia. Lágrimas tomaram meus olhos antes que eu me desse conta.
Música de casamento era um ponto fraco para mim.
— Você fez um belo trabalho — Nicolas se referiu à peça que a noiva vestia.
Me perguntei como ele havia adivinhado que tinha sido eu que fizera o vestido de Mariana.
Ao fim da cerimônia os convidados se dirigiram para a ala onde aconteceria a festa.
Já era noite, o casamento tinha sido lindo e...
— Vamos, eu vou jogar o buquê! — Mariana me achou e me puxou para junto das outras moças.
— Três... Dois... Um!
As flores voaram pelo ar fazendo uma curva perfeita na minha direção. Por Deus, será que finalmente seria a minha vez? Ergui os braços o máximo que pude para agarrar a chance com as duas mãos. Senti as suaves pétalas resvalarem meus dedos quando...
O buquê parou bem em cima da minha cabeça, segurado por uma mão diligente. Me virei para brigar com a pessoa intrometida que pegara a minha chance.
Nicolas abriu um sorriso traiçoeiro e debochado.
— Está de brincadeira, não é?! — Resmunguei para mim mesma.
O deixei lá com as flores nas mãos e fui aproveitar a festa.
Casamentos causavam emoções, emoções causavam lágrimas e lágrimas borraram a minha maquiagem no fim da noite.
Não me importei com o fato de eu estar sentada na escada do jardim da frente, com os saltos altos na mão e o rosto inchado.
— O que faz aqui?
Nicolas desce as escadas até ficar frente a frente comigo.
— Esperando um táxi.
— Não. Vamos, eu levo você.
Resmunguei um "não se incomode", mas ele já havia pego os saltos da minha mão e agora me ajudava a levantar.
— É oficial, serei sempre a madrinha e nunca a noiva! — Uma outra onda de emoções me atingiu.
— Não diga isso, um dia você vai se casar.
Parei de andar, ele fez o mesmo. Nicolas focou os olhos nos meus atentamente.
— Me prometa.
— Prometer o que? — Ele fez uma expressão confusa.
— Que vai achar um noivo para mim.... Que vai me dar um noivo de presente, já que você pegou o meu buquê! — Choraminguei.
Ele morde os lábios para conter o riso, mas diz:
— Prometo sim.
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