Visitantes
Olhava pela janela quando vi Lira passar do outro lado da rua. Eu sabia para onde ela ia; Para a casa da tia, que continuava intacta. Conservada no estado em que estava quando Lira partira do vilarejo. Pude ver quando minha noiva gargalhou de algo que o avô dissera. Seu jeito matreiro era tão singular que fazia meu coração acelerar ao simples contemplar de sua figura.
Malditas as horas que não passavam rápido. Eu não aguentava mais me manter longe dela. Os sonhos de teor proibido aumentaram e todas as noites eu desejava tê-la em meus braços. Para não cair em tentação, eu evitava até mesmo os beijos, pois havia algo forte em mim que lutava para sair. Algo borbulhante, latente e talvez avassalador.
Alguém bateu na porta. Com certeza era Nicolazi, meu assistente.
— Entre. — Autorizei.
— Senhor Alioth. — O cumprimento formal me chamou a atenção.
Imediatamente olhei para ele. Não era costume de Nicolazi ser formal comigo. Éramos amigos de infância.
— Sabe meu nome, Nicolazi. Não irei chamá-lo de Spinosi. — Falei enquanto lia para alguns papéis sobre a mesa. Informações sobre as colheitas.
— Borjan, temos visitantes. — Avisou arrumando a lente do monóculo que trazia frente ao olho esquerdo.
Nicolazi era ruivo, de cabelos lisos, sardas no rosto e olhos verdes claros. Mais alto que eu pelo menos um palmo e tinha um nariz pronunciado. Ali estava outro recluso. Eu admirava o jeito discreto dele ser.
— Não estou à espera de visitantes. Você sabe que tenho adiantado o trabalho para ter mais tempo com minha futura esposa. — Falei.
— Sei bem, mas essas pessoas nunca estiveram aqui e elas são um tanto... — Ele olhou para o teto e girou a mão no ar. Depois coçou a barba rala no queixo e finalmente pareceu ter encontrado a palavra. — Exóticas.
— Ora... — Falei curioso. — Informaram os nomes?
— Não. Disseram que são amigos de sua noiva.
— Faça-os entrar, por gentileza. — Pedi.
Nicolazi saiu da sala e fez com que minhas visitantes entrassem. Nem preciso dizer o quão surpreso fiquei quando vi três figuras conhecidas, mas inesperadas. Apesar das roupas comuns e os penteados na moda, era impossível não reconhecer as criaturas a quem eu devia todo o respeito. Percebi que Nicolazi nos observava pela porta aberta e fiz sinal para ele sair e fechar.
— Senhora Le Fay. — Cumprimentei-a com elegância.
A mulher tinha uma beleza indizível, assim como a moça de pele negra e o homem de cabelos loiros.
— Borjan Alioth. — Ela fez um gesto com a cabeça. — Lembra-se de Timaki Sirhan e Arthur?
Arthur... Qual seria o sobrenome daquele jovem? Ele já havia dito algum dia? Se disse eu não me recordava. Mas sua aparência me fazia crer que era de alguma família nobre. Na verdade ele tinha traços ligeiramente familiares.
— Senhorita Sirhan, Senhor Arthur. — Cumprimentei-os com um aceno de cabeça antes de olhar novamente para Le Fay. — A que devo a honra da visita?
— Queremos um encontro com a senhorita Merak. Você é o administrador da vila e noivo dela, imagino que saiba onde ela se encontra.
— Está hospedada em minha casa. — Falei. — Neste momento ela não se faz presente por lá, pois saiu com o avô para um passeio, mas creio que em breve retornará.
Timaki analisava todo o escritório e para tal feito mexia apenas os olhos. Arthur me avaliava sem dar sinais. Eu sentia. E Le Fay sorria de uma maneira gentil que escondia sua natureza arrasadora.
Era claro que estavam ali para cobrar explicações e eu me colocaria pronto para apoiar minha noiva. Mas antes eu precisava contratar mais três pessoas para cozinhar. Além disso, Nicolazi deveria comprar mais comida.
Sentei-me em minha mesa e escrevi uma pequena lista de afazeres antes de continuar a conversa. Quando pronta, dobrei o papel, selei e voltei a encarar A Fada.
— Acredito que é melhor seguirmos para minha residência. Logo minha noiva retornará. Vocês já se hospedaram?
— Não. — Le Fay respondeu.
— Então insisto que se hospedem em minha casa. Tem abundância de espaço e estou certo que será do agrado de Lira ter perto de si os amigos e a tutora.
— É muita gentileza sua, senhor Alioth. — A Fada sorriu.
— É um grande prazer. Creio que não preciso dizer que estão convidados para nosso matrimônio. Advirto que não aceito recusas. — Dei a volta na mesa e me coloquei na frente dos três.
Timaki se mexeu de uma maneira que demonstrava nervosismo antes de falar:
— Penso que não é boa ideia irmos ao casamento. Por razões de crença... Talvez não seja adequado. — Ela piscava mais rápido que o normal.
Abri um sorriso. Entendi exatamente o que sugeriu.
— Não se preocupem. — Tranquilizei-os. — Nosso casamento será celebrado em espaço aberto.
— Talvez possamos ajudar na decoração. — Arthur se prontificou.
Aquilo seria bem vindo, mas não queria dar trabalho para os visitantes.
— Não se preocupem, já acertamos tudo. — Contei.
— Ora. De certo que não nos negará este prazer. — Élora parecia ameaçadora, mesmo tão calma. — Nossa menina se casará afinal, precisamos fazer disso algo memorável.
Considerei negar aquele prazer por um minuto, certamente eles usariam poderes e caso alguém visse aquilo poderia repercutir de maneira negativa para minha noiva, mas novamente pensei que uma desfeita não seria inteligente.
— Veremos com Lira. — Respondi simplesmente.
Toquei uma sineta para chamar Nicolazi. Ele apareceu como um mágico.
— Sim, senhor Alioth. — Aproximou-se passando pelos "convidados".
Entreguei para ele o pequeno bilhete com a lista de recomendações e fiz um sinal com a sobrancelha para que ele fosse discreto.
— Cuide disso. — Pedi.
Nicolazi pegou o papel e se virou para partir. Percebi que Timaki o olhava de forma diferente. Foi rápido, mas o suficiente para captar o desejo. Fazia parte de minha natureza ser observador dos detalhes. Quando Nicolazi saiu da sala, passei uma mão nos cabelos antes de prosseguir.
— Podemos ir?
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