Véspera
Havia um bom motivo para que meu treinamento ainda não fosse iniciado. Dois dias depois de acordar de meu sono profundo, a ilha entrou em uma agitação descomunal. Pessoas e seres se puseram a preparar a dita Celebração de Idades. De onde estava, eu conseguia ver algumas mudanças na configuração do espaço abaixo.
Árvores e rochas foram deslocadas para abrir mais espaço. Literalmente saíram do lugar onde estavam e se afastaram. Em um dos dias, com a permissão de Élora, Caroulinde e Murciégala me levaram para ver o arranjar da decoração, que já estava quase pronta.
Dez enormes pilastras de mármore branco e dourado, que tinham mais de cem metros de altura, contavam com entalhes representando lendas e seres mágicos. Circundavam um espaço circular coberto por um tapete de grama verde escura tão macia quanto o veludo. Como um luxuoso carpete natural.
No centro de todo o espaço havia um palco de pedra, alto o bastante para proporcionar a todos a visão de quem ali estivesse. Várias apresentações foram ensaiadas por semanas a fio para serem exibidas ali.
Duas mesas redondas foram postas no círculo, como dois anéis, um dentro do outro, cercados pelas pilastras. A mesa de fora estava a apenas dois metros das colunas e a de dentro ficava a quase dois metros da outra. Havia pequenas aberturas nas mesas, passagens para que as pessoas pudessem se mover entre os espaços.
Fadas e Elementais cultivavam uma parede de flores que ligava as pilastras de cima a baixo. Eram esplêndidas e vivas. Emanando perfume que levava ao deleite dos atos mais simples, como o de respirar.
As flores exalavam pós que davam a impressão de um arco íris móvel e à medida que o pó multicolorido se aproximava do centro do espaço, acima do palco, se se transmutava para dourado brilhante, que caía sobre o chão como uma chuva e desaparecia logo em seguida.
Bem acima de tudo, luminárias flutuavam preenchidas por luzes que não se apagavam. Entre as duas pilastras que funcionavam como entrada, não havia uma parede de flores, mas uma queda constante de neve mágica. Que não se acumulava sobre o solo. O evento seria noturno, portanto, a neve também iluminava.
No chão, viam-se pequenos vãos onde seriam acesas fogueiras que nos aqueceriam.
Achei um exagero tanto espaço. O Pomar nem tinha tantas pessoas quanto havia lugares naquelas mesas. Por questões de segurança - Caroulinde quem disse - uma muralha mágica foi erguida entre o local da Celebração e o restante da comunidade.
As cozinhas, a todo vapor, preparavam delícias e iguarias de todas as partes do mundo. E alguns pratos especiais criados por Elizaberta.
Já à véspera da celebração, em razão de todos estarem ocupados, pediram para que eu acendesse as fogueiras. Tarefa que cumpri de muito boa vontade. Não queria me sentir inútil. E não fui.
Na última hora a situação nas cozinhas ficou caótica, e em busca de perfeição e tranquilidade, Elizaberta subiu para minha cabana. Onde, com minha ajuda, preparou pratos delicados que exigiam tempo correto de cozimento e calor medido. O lugar, inicialmente projetado para minhas refeições, transformou-se em uma estufa de alimentos.
Foi possível sentir a calmaria na comunidade quando tudo ficou pronto e todos finalmente se recolheram para um merecido descanso.
Fui informada de que poderia circular pela Celebração sem segurança, pois estaria à vista de todos.
Pela noite, antes de me deitar, o medalhão brilhou em meu pescoço. Confesso que me senti estranhamente nervosa com aquele sinal. O que ele anunciava afinal?
Tirei o medalhão e adormeci olhando para ele.
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