Uma vida feliz
No tempo após o casamento, nossa vida correu com tanta normalidade quanto eu havia desejado. Borjan era bom em seu trabalho e eu era uma excelente dona de casa, que sentia prazer em cuidar do lar e encontrar o marido apaixonado que me enchia de amor e atenção. Minha vida era feliz.
Para minha completa satisfação vovô passava tanto tempo conosco que às vezes parecia residir em nossa morada. Por vezes ele viajava a negócios, tanto dele quanto de Borjan, mas não se demorava longe mais que dois meses.
Nove meses após o casamento, em uma tranquila noite familiar, estávamos todos reunidos na sala e tive ocasião de anunciar minha primeira gravidez.
— Isso é fantástico! — Borjan abraçou-me, beijou-me e me girou no ar. Depois pousou-me no piso, olhou em meus olhos e pude ver suas íris marejadas de lágrimas. — Estou pleno de muita alegria! — Declarou com um sorriso bobo. — E eu nem sabia que poderia ser mais feliz do que era a alguns minutos atrás!
— Silêncio, marido. — Repreendi por brincadeira. — Está gritando tanto que os vizinhos imaginarão que o agrido.
Borjan passou uma mão sobre minha barriga plana, ainda profundamente comovido com a notícia.
— Um bebê. — Falou com voz embargada de alegria. — Teremos um bebê. Nossa família crescerá. — Ele parecia descrer daquele fato.
— Sim. — Segurei a mão dele. — Teremos um bebê.
Olhei por sobre os ombros de Borjan e vi vovô estático, fitando-nos com expressão congelada. Estava sentado em sua poltrona predileta, queixo apoiado sobre os dedos das duas mãos que estavam entrelaçados. Seu olhar parecia perdido em uma dimensão inalcançável.
Borjan percebeu que eu observava meu avô e me soltou para fazer o que eu desejava. Ajoelhei-me no chão, na frente do velho Merak e segurei seus pulsos.
— Vovô. — Chamei, mas ele não reagiu. — Vovô Barakj.
Meu avô deu um pequeno salto como se houvesse, repentinamente, caído dentro do próprio corpo. Surpreso ele lançou o olhar sobre mim, para depois começar a chorar.
— Serei bisavô. — Ele sorriu entre lágrimas.
— Sim. — Respondi também em prantos. Segurei uma de suas mãos e acariciei a palma com meu polegar. — Eu nem sei como farei isso, vovô. Estou com medo. Somos pais de primeira viagem e precisaremos de sua experiência.
Olhei para Borjan em busca de apoio.
— Não é mesmo, meu amor? — Perguntei.
— Mas é claro! Não faço mínima ideia de como será, apesar de estar estupidamente feliz. — Meu marido me apoiou.
— Vocês podem contratar uma babá. — Vovô se fez de desentendido.
— E quem vai me ajudar a cuidar da babá? — Questionei erguendo uma sobrancelha.
— Ora Lira — meu avô devolveu o gesto —, você é uma Bruja, pode incendiar qualquer pessoa, principalmente uma babá descuidada.
— Vovô! Não fale assim! — Repreendi.
Divertidos com minha indignação, vovô e Borjan gargalharam. A felicidade parecia pesar sobre nossos ombros, nos provocando um prazer raro.
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