Treinamento
Na vida é preciso ter a sabedoria de prosseguir mesmo quando o coração dói.
Meu treinamento começou no dia seguinte à partida de vovô, logo após o desjejum. Élora não exagerou quando disse que a ilha entraria em estado de alerta. Havia sentinelas armadas em todos os lugares e todas as atividades eram controladas de forma rígida.
Durante as refeições era feita uma longa chamada para verificar se todos, de fato, estavam ali. Muitas pessoas começaram a odiar ainda mais aquele que ameaçava nossa segurança, porque com isso, acabou por tirar nossa liberdade.
Convidaram-me para ficar no Castelo, mas eu não quis. Preferia permanecer em minha cabana, junto com as coisas que ainda guardavam o cheiro de vovô e de Borjan. Não tive coragem de trocar os lençóis nos quais Borjan dormira. Sentir seu cheiro neles me deixava com um pouco menos de saudades.
Após o desjejum, segui para o lugar indicado no mapa como "Área de Treino".
Quando cheguei, encontrei Ashia, Yuki, Etzel, Mbizi, Gaya, Nair e Jaci, acompanhadas dos Elementais Gaothin, Tiney, Domhany e Mermeide.
Pelo visto a primeira etapa, da conquista dos Elementais, havia sido superada após todo aquele sofrimento.
Durante as duas semanas que se seguiram meu treino foi desgastante. Eu repetia pequenas técnicas ensinadas por todos, menos por Jaci, que seria a última. Primeiro Gaothin e Yuki me ensinaram a pegar o ar e manipulá-lo ao meu bel prazer. Incansavelmente repeti uma sequência que me deixava como idiota, batendo no nada, mas com a ajuda de Gaothin o ar finalmente se tornou palpável.
Foi emocionante pela primeira vez formar uma esfera de vento entre as mãos, ato muito comemorado, e também muito desgastante. Os Elementais estavam ali por esse motivo, para suprir minhas energias que se esvaíam com rapidez espantosa.
Depois do ar, veio a terra. A primeira vez que dominei a terra, a fiz tremer com uma batida de pé. Pude finalmente controlar aquele pulsar que eu sentia todas as vezes que entrava em comunhão com ela.
A água foi mais difícil, mas não foi a última. Quase morri de euforia quando fiz o lago cuspir um peixe para fora. Para dominar a água era preciso um coração muito sincero e convicto, e extrema fluidez em todos os movimentos executados.
Mais duas semanas e minhas técnicas foram se aprimorando depressa, até que eu já dominava os elementos com facilidade realmente notável. Entretanto, eu ainda não voava.
Não conseguir não significa que não tenha tentado. Já tinha escalado o ar e usava o vento para erguer meu peso e objetos, mas voar era diferente. Era uma habilidade que exigia aprendizado de movimentos específicos e extremamente precisos. Bater asas era uma tarefa cansativa demais.
Na quinta semana Meva e Galdur foram convidadas a me instruir na meditação. Era algo intenso ter todos de mãos dadas com o poder fluindo livre para fora do corpo e passando para a pessoa ao lado em um ciclo assustadoramente natural. Os Elementais não nos acompanharam, pois o objetivo da meditação era aprender a extrair a energia do ambiente.
Na sexta semana eu consegui alcançar a tão sonhada harmonia elemental. Meu corpo finalmente se alimentava das energias do ambiente, que forneciam combustível para a magia dos elementos. E então eu estava pronta para aprender a voar.
Explicaram-me, finalmente, que era preciso tirar energia do ambiente, pois apenas as minhas não seriam suficientes para manter as asas por muito tempo. Apenas as Brujas do ar conseguiam fazer isso porque elas eram o próprio ar.
A primeira vez que projetei asas foi estranha, eu precisava movimentá-las como uma parte de meu corpo, mas mesmo o próprio corpo não aprendemos a mover com rapidez. Foram dois dias de tentativa, até que tive a ideia de fazer o pé das asas em fogo, para controlar melhor.
Funcionou perfeitamente. E na sétima semana, eu finalmente voei. Então eu já estava pronta para treinar com Jaci.
Naqueles dias eu via Timaki e Arthur apenas durante as refeições. Quando chegava em casa, mal conseguia me banhar antes de deitar na cama e dormir. Dessa forma a saudade esmagadora que sentia de vovô e Borjan ficou guardada no fundo do peito.
Juntei dezenas de vestidos novos que eu nunca tinha usado e doei, senão não teria espaço para os outros. Às vezes eu me olhava no espelho e me assustava com a velocidade de meu desenvolvimento. Um dia, realmente observei Timaki e percebi que estava um pouco mais alta e bem mais forte, apesar de irreverente.
A voz de Arthur estava mudando e seu queixo tomava uma nova forma, com mais pêlos, embora ainda continuasse suave.
Estávamos amadurecendo afinal e quase nem notávamos.
A vida passa como um raio perante nossos olhos.
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