Sabedoria estendeu para mim o grosso livro cuja capa era forrada em veludo vermelho de tom muito vívido. Peguei o pesado volume, abri na terceira página amarelada e vi o título, manuscrito em letra elegante: "Volume II: Brujas del Fuego".

— Leia-o em outra oportunidade, sim. Se desejar posso emprestar para que leve consigo, mas devolva-o sem muita demora. Dispomos apenas deste exemplar. Agora, lhe explicarei seu trabalho.

Enquanto a acompanhava até uma mesa gigantesca com dois enormes livros sobre ela, aproveitei para analisar o ambiente. A mesa, mais uma vez, era parte da própria árvore, assim como os bancos e as estantes que brotavam das paredes. Estantes repletas de livros com capas pretas.

— Aqui ficam os livros de registro — disse, acenando para as estantes —, onde tomamos nota de todos os movimentos que ocorrem em Avalon. Obviamente as funções de registro são feitas por pessoas específicas, designadas para tal.

Finalmente chegamos à mesa. O cômodo era gigantesco.

Os livros sobre a mesa tinham um metro e meio de comprimento por meio metro de largura. Um estava aberto em uma página marcada por uma fita negra, o outro, estava fechado e ambos se mostraram extremamente grossos.

— Aproxime-se, sim. — Comandou.

Andei até o outro lado da mesa, onde a anciã estava parada a me encarar, e me posicionei ao lado de Sabedoria.

— Este volume — ela colocou a mão sobre o livro aberto — é para registro dos novos livros. E este volume — ela abriu o livro que estava fechado —, indica como cada livro deve ser catalogado. Você deve colocá-los em ordem alfabética, por sobrenome do autor, está tudo explicado no livro. Não se esqueça de numerar. Os livros você coloca nesta coluna — ela apontou para uma coluna em branco que estava em uma das páginas do outro livro — seguido de autor, nome, ano da edição e o andar no qual está o livro.

— Estes livros são enormes, eles ficam sempre aqui? — Questionei admirada.

— Não, nós os guardamos.

— Como? — Eu estava perplexa de imaginar aquela senhora franzina erguendo tamanho objeto.

No entanto, ela rompeu meu raciocínio imaginativo.

— Mais de uma pessoa, uma pessoa muito forte ou através de levitação. Quando você dominar o vento, vai ser fácil erguer objetos como este livro. Inclusive, você conseguirá erguer a si própria, sim.

— Mal posso esperar. — Sorri.

— Acredite, não será fácil, mas espero que isso sirva como estímulo para que você treine com afinco. — Desejou.

— Estou certa de estar completamente estimulada. — Brinquei.

A anciã gargalhou.

— Você irá escrever nos livros com pena e tinta. Como você deve saber, a tinta demora a secar, então caso você preencha todo o espaço, pode deixar o livro aberto e ir para casa. Geralmente o calor ou o vento fazem a tinta secar mais rápido, acelerando o trabalho, mas você ainda não os domina. Agora vamos aos livros. — Acenou para que eu a seguisse novamente.

A mulher e eu subimos na plataforma, pois os novos livros ganharam um andar unicamente para eles. Não que fossem especiais, mas nos outros andares não havia espaço para mil novos livros. Apenas setecentos foram doados por vovô Barakj, os demais tinham outras procedências.

A plataforma subiu e me deixou ver de relance os andares enormes, cheios de prateleiras e estantes que iam do chão ao teto, lotadas de livros.

Chegamos então ao sétimo andar. Havia um enorme amontoado de livros perto da entrada. Tão grande que chegava ao teto. E todas as prateleiras e estantes estavam vazias.

Sabedoria me mostrou os números em todas as prateleiras e explicou a lógica da ordem, depois me deu alguns papéis e um lápis para que eu fizesse as anotações preliminares. Em seguida eu levaria as anotações para o andar de registro, onde as passaria para o livro de registro.

Seria um trabalho cansativo, mas gostei da perspectiva de ficar ali. Era um lugar calmo e agradável, onde eu me sentia confortável.

A dimensão do trabalho me fez entender porque dispensaria metade do dia. Era preciso me dedicar muito.

Depois das explicações e de fazer dois registros sem ajuda, para mostrar que entendi o funcionamento do lugar, Sabedoria me dispensou.

— Pode ficar com o resto do dia livre, sim. — Ela disse.

Fiquei profundamente agradecida.

— Obrigada, Senhora. Trarei o mais rápido possível. — Falei, estendendo o livro no qual eu tinha tropeçado e o qual eu carregara até ali.

— Ora, não me chame de "senhora", me sinto mais velha que meus trezentos anos de idade. — A mulher deu uma piscada marota.

Fiquei chocada sem saber se era brincadeira. Garanto que não era. Ninguém acreditaria se eu contasse quantos anos aquela mulher viveu antes de ser assassinada.