O sumiço do medalhão
Demos a volta na cabana e fomos direto ao pequeno jardim, onde o corpo de Brietta jazia sem vida.
Galdur e Élora chegaram quase ao mesmo tempo em que nós, evitando que mexêssemos no cadáver.
Nervosa, observei enquanto elas analisavam os detalhes. Brietta teve metade do corpo queimado. A outra metade fora apunhalada dos pés ao ombro e seu vestido estava coberto de sangue seco. O rosto guardava uma expressão de puro horror, e a mão queimada estava fechada como se segurasse algo.
Uma necromante, de nome Leonie Nikolaus, também parte do Conselho, tratou de fazer a mão se abrir sob seus comandos mágicos. Vimos um desenho na palma. Um que eu conhecia muito bem.
Com o coração acelerado, corri para dentro de minha morada e procurei o objeto em todos os lugares. Timaki me olhava como se eu enlouquecera e Arthur perguntava se eu precisava de ajuda.
Sim, eu precisava de ajuda.
— Meu medalhão, sumiu! — Gritei apavorada. Minhas mãos tremiam descontroladamente. Meu interior estava esquentando rápido e eu já sabia que aquilo era um sinal de perda de controle.
Sim, era preciso me controlar, mas era difícil fazer isso sob a pressão do momento.
— Qual medalhão? — A pergunta veio de Timaki.
— O medalhão com o qual meu avô me presenteou. É herança de família. — Informei quase em prantos.
— Acredito que me lembro dele. — Arthur apoiou a palma da mão na testa enquanto olhava para o teto. — Era um medalhão com uma gravação única, certo? Vermelho e prata.
— Sim! Era uma jóia que indicava um membro da Ordem do Dragão. — Respondi. — Um original.
— O que o medalhão tem a ver com essa situação? — Timaki perguntou confusa.
Lancei para ela um olhar mordaz.
— Além do valor afetivo, aquele medalhão é uma herança de família! — Passei a mão sobre o rosto, nervosa. — Não apenas isso. Você viu a marca na mão dela? De Brietta?
Timaki e Arthur trocaram olhares.
— Sim. — Concluí em voz alta. — Aquilo estava gravado no medalhão. É como uma cópia refeita na pele. Brietta me odiava e agora está queimada. Morta! E meu medalhão sumiu! Isso é terrível.
Enfiei os dedos em meus cabelos e andei de um lado para o outro. Eu não era mais a menina inocente que já fora antes. Sabia que aquilo me colocava na condição de suspeita. E o pior de tudo aquilo, é que eu nem mesmo confiava em mim, pois tendia a perder a consciência às vezes e não controlava meus poderes.
— Você precisa contar para Élora. — Timaki se aproximou e puxou meu braço, me fazendo estacar o passo da loucura. — Você precisa contar que seu medalhão sumiu.
— Agora! — Arthur a apoiou.
Sim, eles estavam com razão, mas meu coração se enchera de dúvidas. E se ela não acreditasse em mim? Pior que isso... E se eu realmente fosse a assassina?
— Vamos. — Timaki começou a me arrastar. — Agora.
— Timaki, me solte. Eu... Eu... — Queria inventar uma desculpa para não ir, para não encarar aquela dúvida terrível.
E se Élora me mostrasse a verdade sobre a morte de Brietta e essa verdade confirmasse meus temores? Não tive escolha. Encontramos Élora conversando com Jaci, um pouco afastadas da turba excitada de centenas de pessoas que se juntaram para conferir o ocorrido.
— Élora... — Chamei com voz tremida, mas foi Jaci quem me olhou primeiro.
— Sim, Lira. — Élora atendeu.
— Preciso contar algo... — respirei fundo reunindo coragem. — Aquela marca na mão de Brietta... É a marca do meu medalhão e ele desapareceu.
— Eu já sabia que era seu medalhão, Lira, mas tem certeza que ele desapareceu? — Questionou surpresa.
— Sim. — Respondi.
— Também não está no canteiro. — Jaci resmungou.
As Conselheiras trocaram olhares significativos que eu queria entender, mas havia algo mais importante a dizer.
— Élora, não fui eu. Eu não fiz aquilo. — Defendi minha inocência antes mesmo de ser acusada.
— Evidente que não foi você, menina — Élora contrapôs. — E é exatamente por isso que você não deve ficar sozinha mais. — Então ela olhou para meus amigos. — Arthur e Timaki, se importam em acompanhar Lira quando ela não estiver em suas lições diárias?
Meus amigos concordaram em me acompanhar.
Alguém solicitou a presença de Élora em outro lugar, portanto ela se foi, me deixando aliviada. Ficamos apenas eu, Timaki, Arthur e Jaci. A última se aproximou com os olhos tomados por pura ameaça.
— Eu disse para você ir embora daqui. — Sorriu com sarcasmo. — Isso pode ser apenas um começo.
— O que quer dizer? — Perguntei assustada.
— Você matou aquela garota, Merak. E vai matar outra vez. — Jaci disse antes de sair voando.
Meu coração ficou pesado com a dúvida.
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