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Além do alcance

— O prazer é meu, Pequi. — Sorri de um modo que julguei amistoso e vi meu reflexo nos olhos negros da criatura. Pequi transmitia tranquilidade e eu gostava daquilo.

O animal fitou o Anhangá e depois fez uma observação com sua voz de timbre aveludado.

— Ela é aprendiz de Jaci. — Suspirou. — Sinto saudades de nossa pequena Jaciara, mas ela precisou seguir o próprio destino.

O Anhangá colocou as mãos sobre a cintura, onde sua tanga estava presa, e suspirou também.

— Você precisa ser rápido, Pequi. Nossas vidas dependem disso. Chore suas mágoas por Jaci em outros momentos. — Falou. — Agora, sinto muito, mas preciso deixá-los. Há uma perturbação com uma família de tatus.

Olhei para o Anhangá que se transformou em arara novamente e percebi que sua forma parecia com aquela desenhada na parede da caverna. Pequi fez um aceno com a pata enquanto o Anhangá partia sem maiores explicações. E por que ele deveria dar explicações? Era uma entidade protetora, não um livro.

A capivara olhou-me com sua expressão de tranquilidade e suspirou.

— Você precisa comer, Lira! — Decretou em tom suave.

Depois encostou sua pata em minha mão, como uma mãe pronta para levar ao passeio uma criança ainda pequena. Não se confunda, Pequi tinha no máximo um metro e vinte centímetros de altura, mas sua atitude impunha sua vontade.

Segurei a pata de Pequi e ele me conduziu até sua caverna onde havia uma mesa de pedra cheia de frutas e folhas. O local era iluminado por uma família de vaga-lumes que morava na parede.

— Não tenho cadeiras ou bancos onde você possa se sentar, Lira. Sinto muito. Não tenho o hábito de receber a visita de humanos, no máximo de um tucano atrevido, ou uma cotia esfomeada. — A capivara soltou uma risada estranha.

Os olhinhos negros brilharam na penumbra da caverna. Eu estava apaixonada por aquele olhar gentil.

— Eu posso sentar-me no chão. — Informei enquanto me sentava sobre o chão coberto de terra batida.

Pequi se acomodou também.

— Pensei que fosse mais exigente. Os Merak são uma família abastada, não são? — Questionou.

Soltei um suspiro inevitável. Lembrar de minha família era sempre doloroso.

— É difícil explicar, Pequi. Meu avô é sim um homem abastado, mas a fortuna de meu pai foi tomada em boa parte quando ele morreu. Nasci pobre e depois que minha tia Ana morreu, fiquei ainda mais pobre. Eu comia os restos de comida que um taverneiro doava ou algumas caças que eu mesma buscava na floresta. — Expliquei para ele, que me ouvia atento. — Então meu avô surgiu com Lord Vlad e ao mesmo tempo descobri meus poderes. Foi quando eu soube que meu avô ainda tinha muitas posses.

— Bem — Pequi falou enquanto apoiava uma pata sobre a mesa —, há portais em partes dos Carpați que pertencem à ele, mas nem mesmo ele sabe.

Cruzei as mãos sobre meu colo enquanto erguia uma sobrancelha.

— Você conhece os Carpați?

— Ora, sou um ser mágico que vê além do alcance de um ser comum. Daqui posso ver tudo, até mesmo os Carpaţi.

Passei as mãos pelos cabelos enquanto tentava digerir aquela nova informação.

— Como pode ser isso? — Perguntei de maneira retórica.

Mesmo assim Pequi polidamente.

— Da mesma forma que você faz fogo da sua força vital, Lira. Acontece porque os deuses assim desejaram. — Pequi pegou um fruto alaranjado que estava sobre a pedra. Tinha formato cilíndrico e meio arredondado. — Coma, é um cajá-manga.

Peguei um dos frutos e cheirei. Tinha aroma doce.

— Você precisa tirar a casca para comer.

Com os dentes de roedor e uma habilidade ímpar na pata, Pequi mordeu uma parte da casca e puxou. Depois mordeu a polpa fruto suculento, arrancou um naco e mastigou. Fiz o mesmo e descobri que o caroço do fruto ela como um sol, com raios longos e flexíveis. E tinha sabor delicioso.

Aproveitei a oportunidade e me alimentei bem com tudo que tinha ali. Perguntei para Pequi se ele sempre comia frutas e ele respondeu afirmativamente, além daquilo comia ervas como capim, por exemplo.

Quando terminamos a refeição, a mesa ficou amontoada de cascas e caroços, mas Pequi, usando da casca grossa e curva de uma árvore, juntou tudo e jogou em um lugar no meio da mata. Depois voltou como sempre, andando como um bípede, e se postou na minha frente. Senti sede, por isso aproveitei que a caverna era um ambiente úmido e puxei água até formar no ar uma esfera, que suguei para me saciar. Era deliciosamente fresca e doce.

— Pois bem, Lira. Antes de sua chegada, periodicamente, eu já vigiava os passos de Katuryna, pois assim me ordenou a deusa Jaci em uma noite à beira do rio. — Falou com notável admiração.

— Jaci? A Lua? — Levantei-me, prevendo que era chegado meu momento de partir.

— Sim, a própria Jaci. Ela é belíssima, como nenhuma outra criatura jamais será. — Suspirou colocando uma pata sobre o peito, como se segurasse ali o próprio coração.

— Ela não disse algo sobre os motivos de terem me escolhido para essa missão? — Tentei obter alguma resposta pela fonte que eu tinha na minha frente.

A capivara olhou-me com hesitação, a boca semi-aberta, como se precisasse decidir entre falar ou não. Por fim, acabou falando.

— Eles escolheram muitas de várias raças diferentes, de espécies diferentes, até mesmo de dimensões diferentes. Porém elas não sobreviveram. Não conseguiram passar nem mesmo da juventude. — Revelou. — No entanto, você resistiu. Você, que é a humana. Não há nada de muito especial nos humanos, exceto a força de vontade.

— Tem razão, não me sinto excepcional. Nunca me senti. Eu apenas precisei sobreviver e fiz isso da melhor forma que podia. — Desabafei.

— Sim, você fez. E já perdeu pedaços de si até chegar aqui. Eu sei que ainda dói, Lira. Sei que lateja em sua alma a morte de sua filha, mesmo assim você ainda está aqui. Seu segredo foi enxergar o que ainda podia ser feito e não se prender às amarguras causadas pelos golpes que você levou. — Pequi segurou minha mão entre ambas as suas patas, de uma maneira reconfortante. — Todos sabem que houve e haverá momentos nos quais você não pôde ou poderá fazer algo, mas não se preocupe, mantenha a fé, pois você é a Renascida dos Mil Deuses. Você foi uma candidata, mas agora você é a dignitária. Você tem fé nos deuses, e todos tem fé em você. Havia vários destinos para você seguir, mas esse foi o que você traçou. Então Lira, não pergunte mais "por que você". Tenha fé em si.

Senti meu coração disparar com aquele discurso de Pequi. Eu sentia, de maneira sobrenatural, que havia algo muito certo ali, como se ele tivesse sido inspirado pelos próprios deuses.

Concordei com a cabeça, como se ele tivesse me pedido uma resposta.

— Terei fé em mim. — Prometi de coração.

— Assim que se diz, mulher. Agora me acompanhe. — Pequi soltou minhas mãos e apoiado em suas quatro patas começou a andar ligeiro para dentro da caverna. O segui com facilidade enquanto entrava por um túnel que subia. Era rústico e mal arejado, mas largo o suficiente para passar uma mulher adulta e uma capivara.

Desembocamos no topo da montanha, de onde a vista era espetacular. Uma imensidão verde escuro sob o olhar. Coincidiu de anoitecer justamente quando eu e Pequi chegamos lá, e o verde das árvores tornou-se negro na noite. Joguei no ar uma esfera de fogo que funcionava como uma lanterna a nos iluminar. Um vento frio bateu em nossos corpos.

Pequi começou a soltar ruídos repentinos. Assustada, olhei para o animal que tremia descontroladamente. Seus olhos tão gentis tornaram-se agressivos e vermelhos, o corpo transmutou-se em algo meio humano, e no rosto, em volta dos olhos, surgiram longos tubos que não permitiam mais ter uma visão de suas íris vermelhas como sangue, incandescente tal qual a lava.

— Vejamos onde ela se esconde. — Disse o ser que eu não sabia mais como definir.

Colocou as mãos em volta nos tubos e começou a girá-los, como se ajustasse uma espécie de luneta. Fez uma volta completa de trezentos e sessenta graus em torno do próprio eixo, depois voltou cento e oitenta graus.

— Isso não é nada bom. — A rouca voz sobrenatural transmitia desgosto.

Pequi grunhiu como uma besta quando bateu a mão na ponta do tubo esquerdo e fez com que ele recuasse para trás, desaparecendo sobre o rosto e deixando exposto um olho vermelho. Aquela íris teve sua cor alterada para amarelo enquanto a pupila aumentava de tamanho.

Pequi arrancou o globo ocular amarelo de seu lugar deixando ali restou apenas uma cavidade mais negra que a noite. Com habilidade, colocou o olho dentro do tubo que ainda cobria o olho direito e empurrou-o para dentro.

Logo a luz que saía do tubo mudou de avermelhada para alaranjada e era tão forte que iluminava as árvores do vale abaixo. O tubo mudou de forma, sendo que sua ponta ficou mais larga como a boca de um sino. Novamente, Pequi deu uma volta, mas não chegou a completá-la.

— Maldição! Como eu temia. — Praguejou para o nada.

— Conte-me! — Pedi aflita enquanto me sentia cega.

— Ela foi para a ilha de Maradentro. — Informou com desgosto.

— Ótimo, eu só preciso voar até lá. — Falei convicta.

— Não há como. — Pequi girou o tubo, o ajustando, e a luz ficou ainda mais forte.

— Mas não fica nessa dimensão? — Perguntei começando a me desesperar.

— Fica, Lira! Porém é cercada por portais, só é possível chegar através deles. — Cada uma das palavras tinha um peso incalculável quando saía da boca dele.

— Não, outro portal mágico! — Enfiei os dedos entre meus cabelos com desespero. Aquilo significava não ter domínio sobre o tempo. — E agora? O que eu faço? — Questionei. — Onde há um portal para eu entrar no espaço desta ilha?!

Pequi tirou o olho amarelo de dentro do tubo e o devolveu a seu lugar de origem. A Íris ficou vermelha outra vez. O tubo que tinha enlarguecido voltou ao formato estreito e a capivara o empurrou para que ele se recolhesse.

— Ela não tinha como controlar os portais, talvez você tenha uma chance. — Ele me encarou.

— Guie-me. — Implorei. — Por favor, não posso deixar que o sangue de inocentes lave a terra!

Agitei os braços à minha frente. Pequi começou a tremer novamente. Os pêlos de seu corpo ficaram arrepiados e de sua cabeça nasceu um par de chifres. A criatura cresceu até chegar a mais de dois metros de altura. Parou de tremer e arrancou um dos chifres. Mordeu a ponta que quebrou sob a pressão dos dentes, depois soprou no buraco e o chifre quebrado transformou-se em uma trombeta.

Pequi soprou mais forte, o som grave e longo espalhou-se vibrando pelo ar.

— Cinco, quatro, três, dois, um... — Contou e eu observei sem entender enquanto ele jogava no ar o chifre trombeta.

O chifre transformou-se em um portal amarelo luminescente do qual saiu um rosto conhecido.

— JALIAN? — Gritei surpresa.

Era ele mesmo, o próprio Jalian que no passado havia me encontrado retalhada em Avalon. O homem não teve tempo de falar comigo porque Pequi pegou-me no colo e me arremessou da montanha após dizer:

— Não há mais tempo, para Maradentro!

Caí desajeitada no ar, mas ainda vi Jalian mexer os braços freneticamente enquanto um pouco abaixo de mim nascia um portal de luz roxa.

— Adeus. — Sussurrei para meus amigos.

Virei-me de ponta cabeça, mergulhei dentro do portal e abri minhas asas de fogo.

Se era para lutar eu já chegaria pronta para o ataque.

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