A verdade
Após um longo e demorado banho, todas as forças que eu usaria para me deslocar até o local das refeições, pareceram se esvair. Felizmente, a tarefa do dia seguinte era na biblioteca outra vez. Seria menos complicado que concentrar energias, e pela primeira vez eu poderia sair de minha morada direto para o café da manhã.
Naquela noite, meu corpo se encontrava completamente dolorido. Minha cabeça não era a mesma do dia anterior. Eu não conseguia me concentrar por muito tempo em alguma atividade.
Sentei-me em uma das poltronas da sala, recolhi as pernas e abracei os joelhos. Havia sobre mim um peso que eu não sentira antes. O peso da responsabilidade, da angústia e do medo do desconhecido. Olhei para os lados e tive a estranha consciência sobre minha solidão, então resolvi preencher o vazio da alma com um pouco de leitura pertinente.
Locomovi-me até a mesa da sala e abri o livro das Brujas del Fuego na página que estava marcada. Recapitulei sobre o que já tinha lido anteriormente. A última Bruja da lista fora Bruhnilda Sholeh, a primeira a ter uma aprendiza. Então a próxima seria sua antiga aprendiza, uma Bruja chamada Iná Teçã.
Iná foi retratada no livro com a cútis avermelhada, olhos estreitos e cabelos longos e lisos. Usava uma veste minúscula para tapar seu sexo, e só. Seu desenho a mostrava de perfil e de sua boca se projetava uma coluna de chamas. Era a quarta filha do fogo e fora apelidada de Dragão do Ocidente, por cuspir o elemento. Tinha se rebelado contra a mestra e acabou lhe queimando metade do rosto, mas a situação se resolveu com o perdão.
Iná se ausentou de Avalon por alguns anos, mas posteriormente voltou e ali ficou até sua morte. Neste ínterim, treinou sua sucessora para o mundo, a quinta Bruja de fogo.
Zara Lâmia não tinha cabelos, era da cor da avelã e sua altura era incomum. No livro, fora desenhada ao lado de um cão de porte médio que estranhamente tinha quase sua altura. Estava com as mãos erguidas para cima enquanto atirava pingos de fogo em um movimento chamado Chuva da Desgraça. O movimento fazia jus ao nome, porque realmente se parecia com uma chuva. Uma chuva que não perdoaria a ninguém que estivesse em seu raio de alcance.
Zara foi a primeira a ter contato com os Elementais. Quando terminou o treinamento, saiu de Avalon para viajar pelo mundo e nunca mais foi vista. Assim sendo, já no fim de sua vida e sem sinais de que Zara retornaria, Iná se viu obrigada a treinar a nipônica de nome Mahina Harumi.
Não havia imagem de Mahina. Nenhum rabisco ou traço que representasse sua aparência. Era descrita como tímida silenciosa e extremamente tranquila. Tinha habilidades fora do comum para se conectar com os Elementais e conseguiu dominar não apenas o fogo, mas também outros elementos. Foi titulada como um orgulho de Avalon. Devido a sua natureza cautelosa e comedida, fora diversas vezes enviada para findar guerras, tendo sucesso em todas as suas missões.
Criou um ataque chamado Leque Incendiário, que consistia em concentrar as energias nas mãos e lançar o fogo com um leque especial. Seus ataques variavam e se tornavam ainda mais perigosos com o auxílio dos demais elementos.
Mahina treinou Jaciara Potira, vinda de terras onde mais tarde na História, seria o Brasil.
A vida de Jaci era misteriosa e seu desenho mostrava uma mulher diferente da que conheci. Era alta, com postura elegante e muito bela. Usava roupas, pinturas e adornos característicos de seu povo e ganhou o apelido de "Jaci", nome da deusa Lua, "graças aos cabelos brancos". Fiquei muito interessada no que li a seguir, porque quem visse a mulher, jamais adivinharia a força que tinha ou a competência.
Jaci era um talento natural. Conseguia projetar fogo sobre toda a extensão da pele e sua habilidade fora nomeada como Armadura do Sol. Em Avalon a chamaram de Fênix.
Jaci contatava os Elementais com facilidade e usava a energia deles combinada com sua própria energia, podendo lutar por muitos dias.
Infelizmente a história de Jaci estava incompleta, faltava uma página e isso me deixou intrigada. Como a jovem e promissora Jaci se transformara em curandeira de Avalon? Por que sua aparência havia mudado tanto? E mais importante: eu teria lições com aquela mulher?
Passei para a página seguinte, apenas por curiosidade, afinal, o livro tinha muitas outras páginas além. O que encontrei naquela página foi meu nome anotado na parte superior. Apenas isso. Alguém esperava meu desenvolvimento para anotar minhas características.
Porém, quem anotaria? O autor daquele livro estava entre nós? Por que o livro fora jogado no chão da biblioteca e qual o motivo de terem arrancado uma página que contava a história de Jaci? O passado de Jaci escondia algo. Eu poderia descobrir a verdade sobre sua transformação?
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