Capítulo_5 Parte 1/3
O Recomeço
Quantas vezes as pessoas já acordaram no meio da noite e seus pensamentos não lhes permitiram voltar a dormir? O que acontece durante a noite com nossa mente? Por que ela fica mais confusa? E se a noite fosse o melhor momento para não pensar e estar com a mente vazia seja diferente de estar calmo. Quais monstros se escondem por de baixo do tapete chamado subconsciente? O que nós realmente queremos? Seriam as nossas guerras internas que não nós permite enxergar as nossas próprias verdades?
Emma vivia uma guerra, uma guerra que ela sentia que não poderia ganhar. Ela tinha medo da sua própria verdade. Lhe falaram sobre um incêndio, mas esse não era o medo verdadeiro de Emma, o medo dela era de nunca mais voltar a enxergar. Chamaram sua cegueira de uma questão psicológica, a consequência de um trauma que ela teria que superar. Como ela poderia superar algo de que não se recordava? É possível perdoar um passado apagado? Ela se sentia na encruzilhada da vida que teria que atravessar sem saber a onde estava indo. Como voltar a enxergar algo que ela nem mesmo se lembra de ter visto?
Sentada na cama, sem saber nem a cor que seria a xícara que tomou o café, ou qual seria o sapato da enfermeira, Emma temia que a incerteza a esmagasse, e isso doía mais do que a cegueira. Ela se fazia muitas perguntas, tantas, que até aquela sala de hospital ficaria pequena perto de tantas dúvidas. Ela confiava tanto nos cheiros e nos sabores, na sua audição, na sua intuição. Sentia como se algo sério tivesse acontecido. Não podia aceitar que ela provocou um incêndio, nem aceitar que tinha um namorado chamado Nicolás, mas o que ela menos queria aceitar é que se passaram dois anos desde o dia que viu Eduardo. Para ela, esse dia teria sido ontem, mas a realidade a sufocava. Ela tinha tanto medo da verdade que seu sono era insignificante perto de tantas perguntas não respondidas.
Quem eu me tornei nesses dois anos? Será que esse médico está louco?
Quem é Nicolás? Eu não queria me apaixonar
Eu namoro uma pessoa de que não me lembro nem o rosto?
Devo continuar o amando? Mas como continuar algo que não sinto?
Como é o rosto dele?
A onde nós conhecemos?
O que Eduardo está fazendo que não veio me ver?
Quem é Nicolás?
Por onde devo começar ... O ranger da porta lhe assusta, porém é o único meio dela saber que alguém está entrando. É tão silencioso que lhe assusta não saber o que está acontecendo. Alguém entra, tão ligeiro como rato. Ela sente um calor se aproximar, se arreda para trás e teme.
___Emma___ É a voz de um homem, que por sinal não é seu médico.
___ Olá ___ Diz ela.
___ Eu sou o Nicolás, seu namorado.___ Ela se sente estranha. Mexe os lábios desenhando aquele nome e algo dentro dela diz que ela já disse esse nome várias vezes. Ela confia na sua intuição. Pensa como essa pessoa deve estar com tudo isso. Ela era boa demais para não se por no lugar dele. Suspirou e disse.
___ Você já deve saber que perdi a memória, que perdi minha visão, que perdi o que nós fomos, mas você pode me abraçar agora?___ Nicolás estava exasperado. À abraçou e uma lágrima escorreu dos seus olhos.
___ Meu amor, eu sinto muito por tudo isso. Eu queria que você se lembrasse de tudo.___Era mentira, ele não queria que ela se lembrasse de tudo. De alguma forma o esquecimento o beneficiava. Ele não sabia se ela o perdoaria quando descobrisse que ele era culpado. Em meio ao abraço ele também estava muito triste, confuso.
___ Eu queria poder dizer que te amo, sabia? Mas não posso... Por que não me lembro de nada desses dois anos.___ Ele se senta ao lado dela e segura suas mãos enquanto ela olha para baixo, como se não estivesse ali.
___ Tudo bem. Nós apaixonados uma vez, se você quiser podemos nós apaixonar novamente.
___ Assim que você me contar tudo que aconteceu, poderei responder. Eu tenho muitas perguntas.
___ Sim, mas primeiro tenho que te levar para casa. A verdade é que não temos casas.
___ Meu Deus, me tornei mendiga.
___ Não, pode ficar tranquila.___Eduardo contou a ela um pequeno resumo, pulando as partes que ele acreditava não ser agradável contar.
___ Então eu era feliz?
___ Sim, muito feliz. Você é uma garota muito especial.
___ Obrigada Nicolás. Nesse tempo todo eu nem parei para pensar que não tenho onde ficar.
___ Bom, devido a sua situação, você não pode mais dar aulas... O que significa que não pode mais morar no orfanato.
___ Olha, sei que você me ama, mas eu não posso mudar com você.
___ Emma, você sempre cuidou de mim, deixa eu cuidar de você agora.
___É muito estranho pra mim. Parece um sonho, num dia estava num lugar e no outro dia acordo sem enxergar, em um hospital, com um desconhecido querendo me levar para morar com ele... Entende a gravidade da situação?
___ Entendo. Mas eu aluguei um apartamento pra nós, e vou continuar dando aulas... Claro que vamos ficar em quartos separados e eu não vou colocar um dedo em você se você não quiser.
___ Mas como posso confiar em você?
___ Essa é a parte que não sei responder. Sei que sou um estranho pra você, que você não pode nem me olhar nos olhos para poder ao menos tentar enxergar algo bom em mim... Mas pensa nisso, a Emma que eu conheci amaria a ideia.
___ Eu odeio estar cega. Isso aumenta minha confusão em uns oitenta por cento. Bom, pelo que vejo eu continuo teimosa.
___ Sim, você é bem teimosa mesmo.___Risos dentro da sala.
___ Pode me dizer se eu ainda tenho espinhas?
Durante trinta dias Emma ficou desacordada, até que sua situação melhorasse e ela pudesse despertar do coma. Nicolás jurou que ficaria ao lado dela, independente das dificuldades que poderia ter. Pensou várias vezes quais das complicações ela teria, mas o maior medo era que ela não acordasse jamais. Lembrava das conversas durante os intervalos, das danças, daqueles olhos grandes que pareciam sorrir para ele. Lembrava que seria pai...
Horas antes...
___ Como assim você está grávida?___ Nicolás não sabia o que sentia nesse momento.
___ É, minha menstruação atrasou, fiz o teste por precaução e deu positivo.
___ E você diz isso assim tão despreocupada?
___ Claro. Sempre foi nosso sonho ter um filho, lembra?
___ Mas não nessa circunstância. Nós nem estamos mais juntos.
___ Pensa Nico, e se for o destino querendo dizer que estarmos separados é um erro?
___ Um erro foi não ter usado camisinha.___ O barulho do estralo que o tapa fez, chamou atenção de todos___ Ai!
___ Você é um idiota___ Pegou sua bolsa e saiu do restaurante, mas sentiu seu braço ser puxado enquanto voltava para atrás e seu cabelo dançava com o vento.
___ Rose, me desculpa.
___ Tudo bem. Não devia ter te dado um tapa. Seu rosto está vermelho.
___ Eu vou amar essa criança como um pai deve amar um filho. Nada faltará a ele.
___ É só que ___Respira fundo___ Eu ainda não superei o fato de não estarmos mais juntos. Eu te magoei, depois me arrependi e te segui. Eu quis saber quem era essa Emma, por quem você tinha me trocado. Mas eu não tenho esse direto.
___ Você não ser uma boa ex, não significa que não possa ser uma boa mãe. Isso só depende de você.
___ Você também acha que fomos um erro?
___ Não. Eu não tinha entendido o porquê da sua traição. Eu te achava a pior das mulheres. Mas você nunca foi qualquer uma. Eu tive que trair também para entender.
___ Do que está falando?
___ A última vez que ficamos eu já estava namorando.
___ Tá me dizendo que eu te transformei nisso? Nesse mulherengo que é hoje?
___ Não, estou dizendo que nosso filho não é um erro. Aquele dia foi um erro. Por causa dele Emma fez o que fez.
___ Solta meu braço. Seja lá o que essa Emma fez, não foi por causa daquele dia. Foi por sua culpa? Quando você vai assumir que a culpa de tudo foi sua? A culpa do nosso relacionamento inteiro.
___ Você sempre faz isso. Você sempre arruma uma forma de ser a mais tóxica do mundo.
___ Engraçado, eu não era assim antes de te conhecer.___ Rose sai andando enquanto coloca seu óculos escuro, para esconder suas lágrimas.
___ Melhor nós começarmos a ler uns livros, pois filhos não vem com manual.___ Nessa altura, todo o restaurante prestava atenção, mesmo que fosse de uma forma incrivelmente discreta.
Horas depois...
Quando a espectativa é quebrada, a esperança se joga pela janela e se suicida. Nicolás não imaginou que além de perder a memória, Emma também ficaria cega. Lembrou de quando aprendeu a andar e que tudo dê baixo dos seus pés era inseguro. Fez várias perguntas para si mesmo.
Doutor Estevão está blefando?
Vou cuidar dela para sempre?
Por que eu deveria ter medo disso? O amor requer cuidado, diziam meus pais.
E se ela nunca chegar a me amar outra vez?
Ela têm parentes, para onde ela vai?
Vou ligar para corretora.
___ Nicolás reponde!!!
___ Perdão Emma.
___ Eu estava dizendo pra você não soltar minha mão, porque eu não aguento mais me sentir sozinha. Não importa se não lembro de você, eu não posso passar mais um dia comendo comida de hospital.
.
.
.
Outrora eu era daqui, e hoje regresso estrangeiro,
Forasteiro do que vejo e ouço, velho de mim.
Já vi tudo, ainda o que nunca vi, nem o que nunca verei.
Eu reinei no que nunca fui.
Fernando Pessoa
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