Capítulo 3_ Parte 3/3
O céu alaranjado do fim da tarde parecia a mais bela pintura, e todas as nuvens ajudavam a enfeitar aquele imenso quadro no céu. Emma olhava pela janela, pensando em tudo que aconteceu recentemente. Ela era curiosa, tinha vontade de voltar para a floresta que ficou perdida e descobrir o que o senhor e seu cachorro faziam nas horas vagas. Pensou também, que ele deveria ter muitas histórias para contar e apesar dessa ideia maluca ser extremamente perigosa, ela já estava roendo as unhas de curiosidade.
A noite caiu e os sinos da capela que havia no orfanato soaram por todos os lados, indicando ser seis horas. Naquele sábado alguns casais foram conhecer as crianças, mas nenhuma foi levada e o rosto de decepção dos pequenos foi de partir o coração. Emma sugeriu que as suas alunas fizessem uma apresentação de dança que ensairam pela semana, mas a diretora Brianna negou o pedido, e agora Emma se sente indignada. Dar tanto conhecimento à elas para ser apenas apresentado as paredes.
Saiu da janela e começou a procurar seu caderno de desenhos, e quando o encontrou ela pode achar o desenho que fez outro dia, que era algumas borboletas. Se sentiu feliz em encontrar esse desenho, e encheu ao seu redor de lápis coloridos para mais um de seus desenhos. Ela desenhou o crepúsculo, e tentou mostrar naquele desenho todos os traços mais bonitos que pode enxergar.
A vida têm várias formas de nós surpreender, seja uma má ou boa notícia, ou simplesmente uma bela paisagem que sempre esteve ali esperando admiração, ou somente sendo o que ela é, uma pequena parte essencial do ciclo da vida. Mesmo com todas as incertezas no coração de Emma, ela sabia que todos os dias o sol iria nascer e se pôr, sem se importar se o dia estaria aberto ou nublado. Então Emma, naquela tarde, esqueceu dos seus problemas e se fez sol.
Na manhã seguinte, Emma se levantou e se arrumou como nunca antes. Vestiu um vestido vermelho justo e as sapatilhas da mesma cor, prendeu seus cabelos escuros num rabo de cavalo. Ela não usava muita maquiagem, não gostava da atenção direcionada a ela, e por isso não tinha o costume de se arrumar de forma tão bonita. Pegou sua bolsa e sem nem saber o que faria, bateu na porta do dormitório de Nícolas, sem muita força para não acordar os outros muito cedo. Ela era de fato, uma mulher aleatória.
___ Vamos Nícolas acorde___ Sussurrou para porta. Colocou a testa contra a porta e se questionou o que estava fazendo ali. Quando olhou para a maçaneta e se perguntou se ela estaria aberta. Colocou a mão direita, mas soltou, estava insegura sobre invadir o quarto do namorado.
___ E se ele estiver sem roupa? Bom, nada do que eu já não tenha visto.___ Pensou o quão patético seria acordar o professor logo pela manhã, toda vestida de pecado sem ao menos terem um lugar para irem. Ela deu de costas e quando pensou em sair deu de cara com Josh, o professor de artes.
___ Vestida assim desbanca qualquer obra de artes___ Ele era loiro, aparentava ter uns quarenta e cinco anos e os dois somente tinham trocado palavras em algumas reuniões, mas nada fora disso. Ela não sabia nada de útil sobre ele, nem como responder o elogio, ou qual foi a intenção do elogio dele. Ela tinha dificuldades em entender que era uma mulher bonita.
___ Obrigada, digo, bom dia. ___ Deu um sorriso seco para ele enquanto segurava sua bolsa com as duas mãos na frente do corpo. Queria simplesmente sumir dali.
___ Bom dia. Desculpa a pergunta, mas você saiu do quarto do meu querido Nícolas?
___ Não é da sua conta. ___ Disse num impulso.
___ Extremamente educada e depois extremamente impulsiva. Não quer mesmo saber o porquê da pergunta.
___ É, acho que foi um impulso. Eu só quero ir embora daqui e finjir que não tive a ideia patética de acordar meu namorado assim.
___ Seu namorado? Você me pareceu mais escura ontem à noite, desculpa, acho que estava mesmo escuro.
___ Ontem a noite? Ah, ontem à noite, claro___ Se sentiu indignada. Quem estava ontem à noite com seu namorado? Se perguntava, mas ela era esperta. ___ E ontem eu também estava deslumbrante como hoje?
___ Não pude reparar, pois vocês dois estavam praticamente sem roupa e eu não costumo me importar com essas coisas do Nícolas. Mas você deve ser mesmo especial para ele ter te pedido em namoro.
___ Desculpa, tenho que ir agora.
Emma voltou para o quarto totalmente destruída emocionalmente, tanto que nem notou que jogou sua bolsa no chão antes de ir pra lá. Estava tão transtornada, que subiu até o observatório onde dormiu com Nícolas alguns dias atrás e o quebrou todo, sabia que ninguém iria saber se não ele desse fato. Ela não queria destruir o observatório que tanto gostava, onde na maioria das vezes desenhava ali, ela queria destruir toda a raiva que sentia no coração. Se sentia usada.
___ "E eu não costumo me importar com essas coisas do Nícolas"!!! Desgraçado!___ Quebrou a mesa com um martelo enorme que pegou em meio a todas ferramentas enferrujadas que havia ali.
___ Você não sabe o tanto que eu te odeio Nícolas!___ Gritou um pouco mais alto, enquanto jogava a cadeira pela janela.
___ Você brincou comigo, enquanto eu só amei você!___ Colocou fogo nos lençóis e o tacou longe também, longe suficientemente para não notar o fogo se alastrando por todos os lados.
Toda fúria no coração de uma mulher algumas vezes, pode ser tão destruidor quanto o próprio fogo e tirar tanta angústia do peito não é algo fácil. Essa raiva a pôs em uma situação perigosa, e dessa vez ela foi mais impulsiva do que todas as outras. Dessa vez ela não apenas disse algo por impulso, ou desviou o olhar, ela extravasou toda sua raiva. Na cabeça daquela bailarina, tudo o que precisava era dançar sobre todos o caos que sentia no coração, e enquanto as coisas pegavam fogo ela dançava escutando Pink Floyd- Comfortably Numb
___ Me salve agora Nícolas, me salve de mim mesma___ Gritou.
___ Me salve mais uma vez seu filho da mãe___ Pensou nele aos agarros com outra mulher, enquanto há um dia atrás ele a teve nos braços e a pediu em namoro. Ela caiu no chão e lembrou-se que não poderia surtar daquela forma, mas já era tarde. A passagem de volta estava fechada pelo fogo e só tinha mais uma forma de sair dali.
___ Merda! Poderia fazer um filme de você Nícolas ___ Gritava mais uma vez, como se ele estivesse ali.
___ Se chamaria: Heroísmo e egoísmo.
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Ouça um bom conselho
Que eu lhe dou de graça
Inútil dormir que a dor não passa.
Chico Buarque
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