Capítulo 2_ Parte 2/3
Sentados sobre raízes de uma árvore tão antiga quanto o orfanato, estavam Emma e Nicolás, comendo torta de maçã e tendo uma dentre todas suas pequenas e grandes conversas.
___ Você acha mesmo que Diogo traiu Meredith?
___ Com toda certeza Emma. Olha para os dois sentados ali, tão distantes um do outro e ao mesmo tempo tão perto.___ Observavam o professor de biologia e a de inglês, que eram namorados.
___ Isso não significa que alguém traiu alguém. Só devem ter discutido, como sempre.
___ Mas sempre discutem por ciúmes da parte dela. Não acha que alguma coisa está errada?
___ Nesse ponto talvez esteja certo. Também sentiria ciúmes dele. Olha como ele é sexy e ao mesmo tempo misterioso como um assassino.
___ Você sempre diz que eu me empolgo e veja você babado por Diogo outra vez. O que tem ele que eu não tenho?!
___Não estou babando por ninguém e aliás, só digo isso por você ser o único amigo que tenho neste lugar.
___Queria ser muito mais que um amigo___ Nicolás segura uma de suas mãos enquanto a encarava, abaixado e bem perto. Se aproximou mais um pouco e alcançou seus lábios. Ali começava uma grande paixão. Emma o empurrou com os pés e saiu correndo, se sentindo feliz e indignada consigo mesma.
___ Emma, volte aqui mulher___ O professor de história, mais forte e com suas longas pernas não demorou para a alcançar. Segurou seus braços enquanto ela olhava para baixo. Tão mulher e tão menina. Vestia um vestido de seda Preto justo, e um colar de pérolas que ela sempre dizia que o jogaria fora.
___ Me solta ou piso no seu pé.
___ Não pode agir como se fosse uma criança. Eu só te beijei.
___ E daí. Me deu na telha sair correndo o que tem com isso.
___ Não seja ignorante eu sei que você gostou do que aconteceu ali___ Soltou seus braços e ela lhe encarou com melancolia nos olhos.
___ É só que, eu não... Bom... Eu nunca...
___ Beijou alguém?
___ É.
___ Não precisa sair correndo por isso. Venha cá___ Lhe puxou para mais perto e lhe roubou outro beijo, mostrando-lhe um beijo suave e calmo, sem pressa e eficiente. Emma se sentiu tola e ao mesmo tempo tão feliz e amada. Ela já gostava do rapaz desde que o olhou pela primeira vez, apesar de que fugia cotidianamente do seu amor. Ele se tornou seu melhor amigo e aos poucos a confiança era tanta que até sobre Darlan e Eduardo ele já sabia. Ela interrompeu o beijo.
___ Bom, mas como eu ia dizendo eu tinha mesmo que ir agora.
___ Não seja mentirosa e não tente fugir. Qual é, já somos adultos independentes e não tem necessidade de esconder nada entre nós___ Os dois estavam sobre um campo mais afastado do pátio de onde vieram.
___ É que eu...___ Emma queria fugir da situação e ao mesmo tempo beijá-lo tantas vezes até que a boca doece. A falta de experiência lhe assustava e se sentia envergonhada___ Estou morrendo de vergonha, eu sei, é ridículo.
___ Não fique com vergonha, sou eu ué, Nicolás, seu bom e velho amigo. Eu estou apaixonado por você e não é de hoje que você sabe que te gosto muito.
___ Eu também te gosto muito. Só tenho medo.
__ Não tenha medo. Vamos fazer assim, vamos olhar a chuva de meteoros daqui à pouco e conversar sobre qualquer coisa como sempre fazemos. Não precisamos correr com as coisas.
___ Eu realmente não corri com as coisas e é por isso que acabo de perder meu "bv" aos vinte e quatro anos___Risos___Ah, a chuva! Nem me lembrava mais.
___Com esse beijo que eu te dei eu também não me lembraria___ Risos.
___ Você é mesmo um convencido.
___ Me surpreende uma mulher tão linda quanto você não ter beijado antes.
___ Digamos que eu nunca tive paciência pra essas coisas.
___ Entendo. Então vamos?
___ Vamos. ___ Saíram de mãos dadas indo para o observatório.
Naquele dia, Emma se sentiu tão feliz em ouvir que Nicolás estava tão apaixonado quanto ela, foi aliciante e convidativo. Olharam a chuva de meteoros até dormirem no observatório, um do lado do outro como sempre. Nicolás foi o último a dormir para poder ficar à olhando durante a madrugada fria que se estendia. Ele era um conquistador, mulherengo e até um pouco irresponsável, e falava para si mesmo que não poderia magoar aquela mulher, como fez com todas as outras. Ele se viu na obrigação de cuidar da única ao qual confiava depois de sua mãe, a única que despertou nele um sentimento que não fosse unicamente sexual... Enquanto ela dormia, ele se odiava por pensar na ideia de que não conseguiria mais viver sem ela, odiava a ideia de que não poderia simplesmente dormir com ela e a tratar como se não fosse nada no outro dia.
Quando amanheceu a garota não estava mais lá, somente ele com seus pensamentos confusos. "Eu acho que a amo mesmo". Estava perturbado com o fato de que amava alguém sem ser ele mesmo, tão egocêntrico."Aquele beijo, naqueles lábios e aquela bendita boca. Como queria segurá-la outra vez e a beijar por horas... até dispir sua roupa, sua alma e descobrir qual o mistério por trás da suas curvas. Ela não é tão fácil como as outras, não, ela realmente não é fácil".
Emma contornava os braços em volta da sua própria silhueta, e imaginava a noite que poderiam ter tido se ela quisesse. Se lembrava do amigo contando suas aventuras amorosas enquanto desejava estar no lugar de todas aquelas mulheres, mas a lembrança de Eduardo a incomodava. Sentia que devia ser ele à beijá-la pela primeira vez, não Nicolás, e se culpava por não ter o beijado antes de sair de sua casa. "Será que está pensando em mim, Eduardo? Será que já ama outra mulher que não seja eu... ou vive na sombra da minha recordação?"
Ao dar aula de balé naquele dia, lembrou-se da antiga professora que lhe ensinou tudo que sabia antes de partir daquele orfanato. Descobrir o mundo lá fora era apenas isso? Dar aula de balé para crianças sem pais e se apaixonar por um professor de história? Porque nada nunca estava bom o suficiente para Emma, como se tudo estivesse coerentemente certo, mas ao mesmo tempo nada fizesse sentido. Seu peito doía ao lembrar do irmão, correndo solto pelo quintal e contando aos quatro ventos que até ele já tinha beijado primeiro do que a irmã. "Queria que estivesse aqui para te contar, maninho". Afastou o pensamento.
___ Professora!___ Insistia a menina que já não sabia mais onde a professora estava com a cabeça.
___ Estou aqui. O que há Maria?
___ Você pode amarrar o laço da minha sapatilha?
___ Claro minha flor e você está linda hoje. Melhor, você é linda sempre!
___ Achei que fosse dizer que isso era um absurdo___ Diz a manina branquinha de aproximadamente cinco anos de idade.
___ Eu não. Por que eu diria isso? Oras!
___Você sempre diz que tudo é um absurdo___ Deu de ombros e se virou para que a professora fizesse o laço da sapatilha.
___ Isso que você está dizendo que é um absurdo.
___ Você namora com o tio Nicolás não é?
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.
A tua voz fala amorosa...
Tão meiga fala que me esquece
Que é falsa a sua branda prosa.
Meu coração desentristece.
Sim, como a música sugere
O que na música não está,
Meu coração nada mais quer
Que a melodia que em ti há...
Amar-me? Quem o crera? Fala
Na mesma voz que nada diz
Se és uma música que embala.
Eu ouço, ignoro, e sou feliz.
Nem há felicidade falsa,
Enquanto dura é verdadeira.
Que importa o que a verdade exalça
Se sou feliz desta maneira? "
Fernando Pessoa
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