⁴
Você tem que me ajudar
Eu estou perdendo a cabeça
Continuo tendo a sensação
Que você quer deixar tudo isso para trás
Pensei que estávamos indo bem
Pensei que estávamos aguentando firme
Não estamos?
𝑯𝑰𝑺𝑻𝑶𝑹𝒀 | ONE DIRECTION
O mundo deve me odiar. Não tem outra explicação.
Porque não é possível.
Minha irmã estava na mesma faculdade que eu. Não por coincidência, não porque o destino quis, mas porque alguém — provavelmente minha mãe — achou que seria uma boa ideia nos "reaproximar".
O problema?
Ela já estava aqui há quase um ano e meio. Um ano e meio vivendo na mesma cidade, caminhando pelos mesmos corredores, respirando o mesmo ar, e nem uma única vez sequer tentou me procurar.
Senti algo se rasgar dentro de mim, como se alguém tivesse arrancado algo do meu peito com as mãos nuas.
Eu passei meses achando que ela estava ocupada, que estava na Grécia com a mamãe, que tinha sua própria vida e, por isso, não podia me ver. Mas a verdade era bem mais simples. Bem mais cruel. Ela estava perto. Simplesmente escolheu não me ver.
Uma risada amarga escapou dos meus lábios.
Eu era um idiota.
— O que deu com a conversa com seu pai? — Collen perguntou, como se o peso do mundo não estivesse esmagando minhas costelas.
Eu inspirei fundo, mas o ar parecia cortante.
Em um movimento brusco, arranquei meus patins e os joguei longe, ouvindo o baque seco contra o chão. Collen arregalou os olhos, mas não disse nada.
Meu peito subia e descia rapidamente. O que diabos eu esperava?
— Dolly está estudando aqui. — Minha voz saiu mais grave do que eu imaginava, quase um rosnado.
Collen piscou algumas vezes, abrindo e fechando a boca como um peixe fora d'água. Não era surpresa que a pegava desprevenido.
Era culpa.
— Você sabia.
Não foi uma pergunta.
— Porra... VOCÊ SABIA!
Meu grito ecoou pelo vestiário, mas eu não me importei. A raiva crescia dentro de mim como fogo em palha seca, consumindo tudo antes que eu pudesse sequer tentar respirar.
— Calma, mano... — Collen ergueu as mãos, como se estivesse tentando domar um animal selvagem. Mas eu não era um animal. Eu era um cara que acabava de ser apunhalado pelas costas por todo mundo que amava. — Eu pensei que você sabia. Vocês sempre estavam no mesmo lugar... pensei que sabia, mas ainda estava magoado com...
Não deixei ele terminar.
Meu punho se fechou antes mesmo que minha mente processasse o movimento.
O impacto contra o armário foi ensurdecedor. Um estrondo metálico que vibrou pelo meu braço até os meus ossos. Senti a pele dos meus dedos arder, mas era uma dor insignificante perto do que rasgava meu peito por dentro.
Meu coração batia como um tambor em guerra.
Meus olhos ardiam.
Minhas mãos tremiam.
E, acima de tudo, eu só queria entender.
Por que diabos ela me odiava tanto?
— Meu meio-irmão é amigo dela. Descobri há pouco tempo. — Collen tentou se explicar, a voz vacilando. — Ela sempre me evita. Pensei que fosse porque vocês ainda estavam brigados...
Eu soltei uma risada vazia, sem humor.
Ainda brigados. Como se fôssemos duas crianças fazendo birra, não dois irmãos que, a essa altura, eram praticamente estranhos um para o outro. Como se o problema fosse algo pequeno, algo reparável. Como se eu fosse só um idiota exagerando tudo isso.
Mas não era exagero. Era abandono.
Suspirei, cansado. Me sentia drenado, como se todo o meu corpo pesasse o dobro do normal.
— Já chega. — Minha voz saiu rouca, falha. — Você sabe onde ela mora?
Collen hesitou antes de balançar a cabeça.
— Meu irmão disse que ela ganhou uma bolsa e está em um quarto... E ela mal usa seu sobrenome.
O silêncio entre nós foi tão brutal que quase pude ouvi-lo gritar dentro da minha cabeça.
Meu estômago revirou, um gosto amargo se formando na minha boca.
Ela não queria ser associada a mim ou ao meu pai. Essa era a única conclusão possível.
Meus dedos se fecharam involuntariamente. A dor da pancada no armário ainda latejava na minha mão, mas era um nada comparado ao que rasgava por dentro.
Isso doía. De um jeito que eu não sabia colocar em palavras. Como se alguém tivesse cravado uma lâmina invisível dentro do meu peito e a estivesse torcendo lentamente.
Ela me apagou. Cortou qualquer laço que pudesse nos ligar.
Eu não era mais seu irmão.
— Ei... — Collen tocou meu ombro de leve, sua expressão carregada de preocupação. — Talvez... talvez não seja o que você está pensando. Às vezes as pessoas só... se perdem um pouco, sabe?
Soltei um suspiro pesado, encarando o chão.
— As pessoas se perdem, Collen. Mas ela não estava perdida. Ela estava exatamente onde queria estar... Longe de mim.
Eu ri, mas não havia nada engraçado nisso.
Collen ficou em silêncio por um instante, depois tentou de novo:
— Cara, e se ela só não souber como falar com você? Tipo, imagina a cabeça dela... E se ela estiver achando que você não quer vê-la?
Minha mandíbula travou.
— Se ela quisesse me ver, teria tentado. Nem que fosse só pra confirmar que ainda me odeia.
Meus ombros despencaram, e eu passei as mãos pelo rosto, exausto.
Collen suspirou, pensativo. Depois bateu no meu ombro com mais força, tentando quebrar um pouco a tensão.
— Você é um merda pra caramba quando tá triste, sabia?
Lancei um olhar cortante para ele.
— Tô falando sério! — Ele riu, mas era um riso hesitante, uma tentativa desesperada de aliviar meu peso. — Tu fica assim, sombrio, com esse olhar de protagonista fodido de filme indie. Parece que vai começar a chover só por tua causa.
— E se chover? — resmunguei.
Ele abriu os braços, como se fosse óbvio.
— Então a gente compra um guarda-chuva e vai atrás da sua irmã.
Eu balancei a cabeça, uma pequena, quase imperceptível, curva se formando nos meus lábios.
Não chegava a ser um sorriso. Mas, por agora, era o melhor que eu conseguia fazer.
Depois de muitas insistência dos caras do nosso time , eu fui no bar com eles, a Rose, namorada do Collen disse que iria trazer uma amiga — porque segundo ela , ela esta rodeada de idiotas que só pensa com a cabeça de baixo e precisava de uma amiga — e por isso ela iria se atrasar.
Eleonor entrou no bar com aquele ar misterioso que sempre a acompanhava, mas foi impossível não notar o modo como os olhos de Rosetta, e de muitos outros ao redor, se fixaram nela. A presença de Eleonor era como uma tempestade prestes a se formar: calma, mas carregada de uma energia que deixava o ar denso. Aquele vestido, delicado e ajustado ao corpo, parecia desenhar a sua silhueta de maneira quase provocante. Ela se sentou com elegância, mas seus olhos estavam em todo lugar, capturando tudo ao seu redor.
A voz de Rosetta interrompeu seus pensamentos, mas não suavizou a tensão que já se instalava no ar.
— Gente, essa é a minha amiga Eleonor, e ela acabou de chegar — disse ela, quase com um sorriso de quem queria apresentar uma obra de arte. Então, com um olhar fulminante para o grupo, completou: — E pode parar de olhar para ela como um predador olhando para sua caça.
Mas, naquele momento, o único predador ali parecia ser Eleonor. Algo em sua postura, no modo como ela se recostou na cadeira e deslizou os olhos lentamente sobre todos, fazia com que a sala se silenciasse por um breve segundo. Era como se ela estivesse ciente do poder que tinha, mas o guardasse para si, esperando, apenas esperando para deixar transparecer.
E foi nesse instante que tudo ficou claro para mim.
Meu olhar se fixou nela de maneira involuntária. A forma como seus cabelos loiros caíam suavemente ao redor do rosto, a boca ligeiramente curvada em um sorriso que poderia ser mais um desafio do que uma saudação... Tudo nela exalava uma confiança tão intensa que a tensão no meu peito se transformou em algo mais. A boca seca, o corpo mais alerta, os músculos tensos. Eu sabia o que estava acontecendo, mas era como se eu não pudesse controlar.
Quando ela me olhou, um brilho sutil no olhar, uma faísca de algo difícil de descrever, minha respiração se acelerou. Ela estava brincando com isso, com o poder que tinha sobre todos nós. Era inegável. Não só fisicamente, mas na forma como ela se posicionava, como se fosse a dona do lugar, e nós, suas presas.
Eu não pude deixar de sorrir levemente para mim mesmo, tentando esconder o que estava sentindo. Mas a verdade era que o que eu sentia por Eleonor, de alguma forma, era muito mais do que desejo. Era algo mais visceral, um impulso primitivo que me fazia querer saber até onde ela iria com esse jogo. Ela sabia disso. E parecia se divertir.
— Não se preocupe, Rosetta — falei com um sorriso divertido, meus olhos ainda fixos em Eleonor. — Não estou olhando como um predador... estou só observando, como quem admira uma obra-prima.
Rosetta me lançou um olhar desconfiado, mas eu já estava perdido no sorriso enigmático de Eleonor, que, sem dizer uma palavra, parecia saber exatamente o que eu queria dizer.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro