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Me disseram que quando eu ficasse mais velho

Todos os meus medos iriam diminuir

Mas agora eu sou inseguro

E me importo com o que os outros pensam

Meu nome é insegurança

E me importo com o que você pensa

𝑺𝑻𝑹𝑬𝑺𝑺𝑬𝑫 𝑶𝑼𝑻 | Twenty One Pilots

— Eu já entendi, mãe — respondi, enquanto caminhava apressada pelo campus da universidade. — Eu vim pra cá, não vim?

— Eu sei, Rory, mas vir não é o mesmo que se aproximar — a voz de Margaret soava na linha com aquela mistura entre paciência e severidade que eu conhecia tão bem.

Revirei os olhos, e então, uma ideia maquiavélica começou a tomar forma.

Com um estalo da boca, comecei a simular uma interferência na ligação.

— Mãe, não tô escutando... — afastei o celular cada vez mais da orelha. — O sinal aqui é péssimo...

— Aurora S... — ela começou a dizer, mas interrompi com um novo chiado, exatamente quando iria pronunciar meu sobrenome. — Não ouse...

Desliguei o celular antes que ela pudesse terminar.

Suspirei, sabendo que mais tarde teria que enfrentar as consequências. Margaret Campbell não deixaria isso passar em branco, mas, por enquanto, consegui uma pequena vitória. Enfiei o celular no bolso rapidamente, e no meio dessa ação, acabei esbarrando em alguém. Não vi quem era, estava com muita pressa.

— Desculpa! — soltei automaticamente, nem me dando ao trabalho de olhar para trás.

Quando cheguei ao grande estádio de patinação, meu parceiro, Leon, já estava com os braços cruzados, batendo os dedos no pulso, como se me lembrasse silenciosamente do relógio.

Corri para me trocar e colocar os patins. A senhora Gracie Kilorn, nossa instrutora, se aproximou, a postura firme e os braços cruzados.

— Senhorita Aurora, posso saber o motivo do seu atraso? — perguntou com a voz calma, mas carregada de uma autoridade que me fazia estremecer.

— E-eu... — hesitei, sem uma desculpa convincente. Gracie suspirou, levando a mão à testa como se tentasse aliviar a tensão.

— Não basta ter talento, Aurora — sua voz era suave, porém cortante. — Comprometimento é tão importante quanto.

Engoli em seco, envergonhada e frustrada comigo mesma. Ela estava certa. Senti aquele peso familiar no peito, a pressão de sempre querer ser mais, fazer mais, mas me sentindo paralisada pelo medo.

Assim que a música "Find Me" do Sigma começou a tocar no treino, eu sentia uma mistura de ansiedade e expectativa. Estávamos apenas nós no gelo, longe dos olhares do público, mas a pressão de conseguir transmitir a emoção da coreografia me deixava nervosa. Eu sabia que a música falava sobre conexão, sobre um amor profundo, mas, por alguma razão, não conseguia sentir isso.

Meu parceiro começou a mover-se suavemente, e nós iniciamos o aquecimento, fazendo uma sequência de passos que deviam fluir como um rio. Quando ele me puxou para perto, tentei me entregar ao movimento, mas a verdade é que minha mente estava distante. O que deveria ser um momento íntimo entre nós parecia mais uma tarefa a ser cumprida. Tentei focar nos seus olhos, mas uma barreira invisível parecia separar nossos sentimentos.

Chegou o momento do lift, e eu sabia que deveria sentir a liberdade de estar suspensa no ar. Meu corpo confiava nele, e ele me levantou com facilidade, mas, enquanto girava, eu me vi pensando em como não estava conseguindo me conectar. O frio do gelo sob os patins contrastava com a calidez que a música prometia. Eu estava ali, flutuando, mas não sentia nada além da pressão do meu próprio desconforto.

Na sequência dos giros, meu parceiro parecia se mover com segurança, mas eu me sentia como uma marionete, tentando apenas seguir os passos dele. Eu tentava transmitir a paixão que a música evocava, mas tudo que conseguia era uma execução mecânica. As manobras eram impressionantes, mas minha cabeça estava cheia de pensamentos confusos. O que eu estava fazendo ali? Como poderia trazer à vida a emoção que tanto desejava?

Quando chegamos ao death spiral, esperava que esse fosse o momento em que tudo se encaixasse. Ele me segurou firme e me inclinou para trás, e eu deveria me sentir livre, mas, ao invés disso, uma sensação de insegurança tomou conta de mim. Era como se estivéssemos patinando em dois mundos diferentes. Eu estava lutando para encontrar meu equilíbrio, e a tensão em meu corpo era palpável. O movimento não era apenas uma técnica; era uma história, e eu não estava conseguindo contá-la.

Finalmente, na parte final da coreografia, era hora de mostrarmos a emoção acumulada. Eu sabia que devíamos estar em perfeita sintonia, mas, ao invés disso, era como se houvesse uma parede entre nós. Olhei para ele, buscando uma conexão, mas a verdade era que me sentia perdida, como se estivesse apenas seguindo um script sem entender a profundidade da cena. 

O treino terminou, e enquanto a música diminuía, eu ainda estava presa em meus próprios pensamentos. Desejava ter conseguido sentir a música de verdade, mas, no fundo, sabia que algo estava faltando. Essa luta para me conectar comigo mesma e com meu parceiro se tornava cada vez mais evidente.

— Vocês parecem robôs — a treinadora interrompeu a música, o olhar fixo em mim. — Cadê a emoção? O que os personagens estão sentindo? O que querem transmitir para o público?

As palavras dela cortaram fundo. Eu sabia que faltava algo, e a frustração de não conseguir atingir o que ela pedia começou a crescer.

— Aurora, vem cá — chamou, me estudando por um momento. — Já namorou alguém?

O choque me deixou sem reação por um instante, não esperava aquela pergunta.

— Nunca? — insistiu, ao ver meu silêncio. Apenas balancei a cabeça em negativa, sentindo o rosto queimar de vergonha.

Ela suspirou, parecendo exausta.

— Você lê, certo?

Assenti rapidamente.

— Ótimo. Então veja como os personagens de romance expressam o que sentem, como transmitem isso — ela me encarou. — Você tem potencial, mas tem tanto medo que seu próprio talento fica preso.

Aquelas palavras me atingiram como um soco. Meu estômago afundou, a vergonha e o medo se misturando dentro de mim. Eu sabia que ela estava certa. Sempre soube que meu maior inimigo era eu mesma, minha incapacidade de me abrir, de mostrar o que eu sentia de verdade.

Ela suspirou, suavizando o tom.

— Vou deixar você treinar seu solo. Leon, você está liberado — disse, antes de sair.

Leon se aproximou, sempre com seu jeito despreocupado, tentando aliviar o clima.

— Ela pega pesado com você porque sabe o futuro incrível que você tem pela frente — ele passou o braço pelos meus ombros, apertando de leve e beijando o topo da minha cabeça, um gesto reconfortante. — Não fica assim, que tal irmos ao Rogals hoje?

— Sério? — revirei os olhos. — Aquilo é o ponto de encontro dos jogadores.

Ele deu de ombros, um sorriso brincando nos lábios.

— O que mais você vai fazer numa sexta à noite? Ler um livro que acabou de comprar?

Sorri, a resposta já estava estampada na minha expressão, mesmo sem eu dizer nada.

— Não acredito... comprou mais um livro?

— É Hamlet, não é qualquer livro — me defendi.

Leon riu, uma risada silenciosa, mas cheia de entendimento.

— Vai terminar antes das onze — provocou, fazendo-me revirar os olhos novamente. — Vamos, Rory, é nosso último ano. Leva sua colega de quarto também, aposto que ela é gostosa.

Bati de leve no ombro dele, protestando. Não conhecia a garota direito ainda, mas não gostava da ideia de alguém ser reduzido a isso.

— Você é um idiota, sabia? — soltei uma risada, dessa vez verdadeira.

— Viu? Você fica muito mais bonita quando sorri — ele recuou, fazendo graça. — E então, vai ou não?

Suspirei, sabendo que seria difícil dizer não.

— Tá, eu vou — cedi.

— Ótimo! — ele comemorou, levantando os braços como se tivesse vencido uma batalha. — A gente fica no balcão, bem longe do idiota do seu irmão e os amigos dele, prometo.

— Tudo bem... — assenti, enquanto ele se afastava.

— Até mais tarde, minha bela dama — disse, com a voz caricaturada, me arrancando outra risada.


Já passava do meio-dia, e eu mal percebi o tempo voar. O gelo do estádio estava derretendo sob o calor das lâmpadas, assim como minhas pernas tremiam após horas de prática. Minha coreografia estava quase perfeita — quase. Os giros estavam alinhados, as sequências eram fluidas, mas o backflip... Não. Odiava a forma como sempre hesitava nesse ponto, como meu corpo congelava ao imaginar a queda iminente, o impacto. E então, a pior parte: tentar finalizar com um biellmann spin, o giro que minha mãe fez uma vez, um movimento tão sublime quanto traiçoeiro, que custou a ela um ligamento rompido e sonhos desfeitos.

Eu sabia que ela nunca superou isso, e, por mais que evitasse admitir, eu temia que a mesma história se repetisse comigo. Ela sempre disse que,  eu seria grandiosa, muito mais além do que ela foi capaz. Hoje, eu só queria sentir que conseguia.

A exaustão tomou conta de mim. Minhas pernas pareciam de chumbo, e o vazio no estômago só piorava a sensação de derrota. "É o suficiente por hoje, pensei. Já estava cansada de lutar contra o gelo e contra meus próprios medos. Peguei minhas coisas e caminhei de volta ao alojamento, os fones nos ouvidos abafando o som do mundo. 

Quando entrei, uma bolsa no canto me chamou atenção. "Minha colega de quarto chegou", concluí com um certo alívio e curiosidade. Será que ela era do tipo amigável? Mas, por enquanto, o cansaço era maior do que a necessidade de socializar. Eu só queria comer algo antes de me jogar na cama.

Preparei uma lasanha rápida, arroz e batata palha — a refeição perfeita para sabotar minha dieta antes das competições. "A Gracie me mataria se visse isso", pensei com um sorriso cansado. "Mas quem liga?" Depois do dia que eu tive, merecia um pouco de conforto.

Enquanto a comida estava no forno, lembrei-me do livro que havia comprado, algo que estava ansiosa para devorar nas poucas horas de tranquilidade que me restavam. "Será que deixei na bolsa?" Fui até o quarto, tentando ser o mais silenciosa possível para não acordar minha nova colega. Quando entrei, o aroma de protetor solar e pele recém-bronzeada preencheu o ambiente. Ela estava deitada de costas, uma cabeleira loira esparramada sobre o travesseiro. Parecia uma Barbie da Califórnia, perfeita e alheia ao cansaço que eu sentia. Sua respiração era tranquila, ritmada, como se o mundo ao redor não pudesse tocá-la.

Suspirei e comecei a procurar meu livro, tentando não fazer barulho. Vasculhei a bolsa e a cama, mas nada. "Que droga, onde eu coloquei?" A frustração me tomou por um instante, mas decidi deixar para lá. Talvez estivesse na mala. Fui até a estante perto da escrivaninha e puxei  Orgulho e Preconceito. Mesmo sem ser o livro que eu queria, Jane Austen sempre sabia como acalmar minha mente inquieta.

Enquanto abria o livro, o cheiro de papel antigo me trouxe uma sensação de conforto familiar. Aquele não era o dia perfeito que eu esperava, mas, por um momento, me permiti esquecer as frustrações da patinação, dos giros malfeitos e das expectativas esmagadoras. Acolhi o silêncio ao meu redor, sabendo que amanhã teria que voltar para o gelo e encarar tudo de novo. Mas, por hoje, apenas o som suave das páginas virando seria o suficiente para preencher o vazio.

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