Fantasma
Narrador: Jão
Se era dia ou noite, eu já não sabia.
Não me importava. Tinha prometido a mim mesmo que nessas duas semanas de férias (férias da minha própria vida) eu não iria me importar com nada que tinha deixado para trás.
Esse era o motivo de eu não ter atendido todos aqueles telefonemas - eram tantos e de tantas pessoas diferentes que eu poderia montar uma coleção.
E eu nem tinha aberto as minhas mensagens. Tudo aquilo era demais para mim.
Eu tinha avisado a minha mãe. Antes de eu partir ela só tinha dito: "Beba muito por mim". E era por isso que eu a amava tanto.
Ontem eu finalmente tinha percebido que estava desperdiçando os meus dias em Barcelona. Estava seguindo o conselho da minha mãe de beber tudo o que eu podia. Eu simplesmente ficava no hotel e bebia. Ou vagava pela cidade sem realmente ver qualquer coisa.
Os dias anteriores estavam nebulosos na minha cabeça e eu não tinha certeza o que tinha acontecido. Mas não importa aonde eu fosse, era como se o fantasma do Pedro estivesse ali junto, sempre me lançando um olhar reprovador.
O meu celular me avisava que eram duas da tarde. Então devia ter sido ontem a noite (ou anteontem) que eu tinha encontrado a menina do refrigerante. E agora eu sabia o seu nome, era Mariana.
Naquele momento com ela percebi que talvez eu estivesse sendo muito dramático. Às vezes estamos tão focados em nós mesmos que achamos que os nossos problemas são os maiores do mundo, mas na verdade não chegam nem perto disso.
Eu dei um sorriso, ela falava tantas coisas malucas que conseguia arrancar risadas que eu nem sabia que ainda conseguia. E acho que era disso que eu precisava, um pouco de risadas sem sentido.
Abri o meu Instagram e entrei no seu perfil.
Ei, Mariana Refrigerante, o que acha de uma sessão de dor comigo hoje? (Sim, isso é um convite para fazermos microcortes em nossas línguas bebendo refrigerante)
Digitei e enviei rindo. Mal podia esperar para saber com qual fato doido ela me distrairia hoje.
Narradora: Mari
- Mari, o que está acontecendo? Você está bem? - a Vi veio do meu lado desesperada.
Eu não conseguia parar de chorar.
Era mais forte do que eu.
Tentei explicar para ela que estava tudo bem, mas só saiu um monte de grunhidos estranhos.
Respirei fundo (o que pareceu o Darth Vader respirando).
- O Jão me chamou para sair - e comecei a chorar de novo. Eu estava tão feliz que não conseguia me controlar.
Recebi um soco no braço.
- Vai se ferrar, Mariana. Eu pensei que era algo sério - a Vi falou braba.
- É sério. Ele me chamou para tomar refri - DROGA. Ele me chamou para tomar refrigerante. Será que eu deveria contar para ele que eu não bebia isso?
- Específico - ela me olho de canto. Ontem quando contei tudo ela não percebeu a enormidade daquela situação. Acho que ainda não percebeu. Aaaah.
Era o Jão, como ela não estava surtando comigo?
- Vi. É o Jão. Você tem noção? - eu perguntei - eu vim até Barcelona. E eu encontrei o Jão. Sabe o que é isso?
- Coincidência? - ela perguntou.
- Não. Não é isso. É destino. Quais as chances de eu sem saber encontrar o Jão perdido nas ruas de Barcelona enquanto eu estava perdida sem nem saber que ele tinha viajado?
- Acho que se duas pessoas estão perdidas a probabilidade é maior de se encontrarem - ela disse e deu de ombros - Mas você vai? Tu nem gosta de refrigerante. Por que não pergunta se pode ser em uma sorveteria?
E foi assim que acabamos aqui. Ele com o sorvete de chocolate branco. Eu com chocolate amargo.
- Você sabia que chocolate branco nem chocolate é? - eu apontei para o sorvete dele Tantos sabores para escolher e ele foi pegar justo aquele.
- Não é? - ele olhou para o sorvete com uma cara de espanto.
- Não, no processo de produção de chocolate eles fazem a massa do cacau e o que sobra é a manteiga de cacau. O chocolate preto é feito com essa massa. Já o seu chocolate branco é só a manteiga de cacau. Ou seja. Não é chocolate. Na verdade, para
ser considerado chocolate é necessário ter uma concen...
- Ok. Ok. Eu já entendi. Chocolate branco não é chocolate - ele riu e fez um sinal para que eu parasse.
Eu ri também.
- Mas eu nem terminei de contar sobre a legislação do chocolate - eu falei rindo também.
- A questão é: eu comer a manteiga de cacau ou passar o chocolate branco na boca não faz diferença? É isso que você tentou dizer? - Ele riu mais ainda.
Isso era um sonho?
Mesmo se for, obrigada Vi por essa viagem. Foi a melhor coisa que poderia fazer nas férias. (Ou em qualquer outro momento da minha vida)
Depois de encontrar o Jão eu tinha certeza que voltaria mais leve para o Brasil.
______________________________________
Qual o seu chocolate favorito?
______________________________________
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro