Capítulo 1
Reino de Camelot
Os dias pareciam passar rápidos demais, até mais do que gostaria a princípio. As responsabilidades aumentaram e só de pensar no peso da coroa meu estômago embrulhava. Quando é que havia me tornado tão incompetente a esse ponto?
— Anda muito pensativo, Arthur. Algo lhe aflige internamente?
— Para ser sincero, tudo se tornou pior do que pensei — confesso tirando dela um sorriso. — Quer a coroa? Eu te dou sem pestanejar.
— E perder a minha liberdade? Jamais! — Seus cabelos acastanhados brilhavam em meio ao sol da manhã e a diversão de seu sorriso tornava nossa interação ainda melhor. — Não precisa se sujeitar a isso, Arthur. Logo será você o rei, esse cargo te dá pleno poder de mudar as leis de nosso povo.
— Falar é fácil, Morgana, porém eu — paro fitando a extensão de terras campestres, o meu lar é esse e não posso decepcionar as pessoas que confiam em nosso reinado. — Preciso ser aquele o qual o povo confia e adiantar a coroação para mudar certas leis, não é correto.
— Então vai mesmo se sujeitar a esse noivado? — Os olhos escuros de Morgana me analisam com reprovação.
— E eu tenho escolha? Entenda, nem todos pensam como Ulisses, se eu abdicar da coroa, quem subirá ao trono é você e, nós dois sabemos que Morgana Pendragon jamais se sujeitará a um casamento de conveniência. — Enquanto dizia aquelas palavras, a jovem a minha frente fazia careta pelo simples fato de mencionar um relacionamento.
— Podemos fugir para terras longínquas e deixar o Lucius assumir a coroa, vai que ele se derreta aos pés da Princesa de Cornwall — ela sugere em tom divertido. — É sério, Arthur, você não precisa fazer isso — seus dedos pressionam meu braço carinhosamente — todos vão entender se desistir.
— Não entenderam quando seu pai abdicou da coroa — admito encarando a jovem que muda seu tom de diversão para tristeza.
— Aquilo foi diferente. Ninguém quis entender o lado dele e — olho profundamente para ela, suas palavras eram mais óbvias do que qualquer outra. — Está bem, você venceu. Boa sorte com sua nova esposa, espero que ela seja no mínimo inteligente.
— E se não for? — pergunto me divertindo com sua fala.
— Aí, meu querido, você está completamente ferrado. — Morgana abre um sorriso provocativo. — Acho que precisamos de uma rainha e não uma dondoca de coroa.
— Só você para pensar assim. Aliás, o Merlin deve estar te procurando. Deveria dar uma chance ao mais novo escriba do reino — falo só para vê-la corar instantaneamente.
— O Merlin foge de mim como se eu fosse uma leprosa — seus ombros caídos, demonstrando que as ações infantis do jovem só a machucavam. — Mas, eu não me importo com isso — afirma em um sorriso escarnecedor.
Gostava daqueles momentos com Morgana, ela merecia alguém que a visse como ela realmente é, não que a subestimasse por ser mulher. Merlin certamente se tornaria um capacho em suas mãos, o que não era de todo ruim, não quando sei que o jovem adora a garota que está ao meu lado. Ele só é bobo demais para conseguir esperar seus sentimentos.
— Bem, o passeio foi ótimo e sua companhia ainda melhor, porém vou voltar para casa antes que eu enlouqueça com tudo — ela apontou ao redor onde as pessoas andavam de um lado para o outro na cidade baixa.
Morgana nunca foi o tipo de garota que gostava de agitação, ela amava o silêncio da natureza e convidá-la para aquela caminhada era uma forma de me distrair mais do que agradá-la com a conversa.
— Prometo que na próxima te levo para um piquenique sobre a sombra de uma árvore encorpada.
— Realmente, Arthur, você é um excelente cavaleiro, e um péssimo galanteador. Se me trata assim, imagina o que fará com sua noiva? — Morgana indaga com um sorriso debochado.
Infelizmente ela tem razão, sou péssimo nesses assuntos e nunca procurei melhorar.
— Desculpa! — admito a fitando.
— Agora vamos — ela entrelaçou seu braço ao meu e me puxa para longe da multidão.
Muitos ali faziam reverência por onde passávamos e outros sorriam com nossa presença em meio aos plebeus, e se estarmos juntos não fosse tão frequente, certamente haveria mexericos infundados. Entretanto, independente de tudo, Morgana era como a irmã que nunca tive e vê-la sorrindo alegrava até meus dias escuros e sem vida. Fora que seus conselhos possuem mais fundamentos do que gosto de admitir, ela e Merlin são irritantes juntos e dariam um excelente casal que infernizariam minha vida com tanta sabedoria. Aquela ideia só me faz rir.
Internamente sei que ela tem razão, porém Morgana não nasceu com as mesmas responsabilidades que eu, e seu pai sempre teve uma maneira diferente de ver o mundo e ensinou os filhos da mesma forma. Não é à toa que uma jovem como ela ainda era solteira, tendo vinte e cinco anos, o que parecia não a incomodar nem um pouco. Homens eram comuns se unirem em matrimônio após os trinta anos, mas as mulheres não, e sua pequena decisão já havia sido vista como uma afronta por muitos, menos pela família que a apoia além de tudo.
✯⊱∽∽∽⊰ M ⊱∽∽∽⊰✯
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro