Capítulo VIII - Fallitur visio
A sua vitória era noticiada nas redes sociais e seus perfis online cresciam num ritmo descompassado, e o barulho das notificações irritava Abner. Ele olhava o celular na esperança de ser algum convite despretensioso do Grindr e se decepcionava ao ver aquele monte de seguidores.
Abner não ligava para as doações e nem para caridades. Ganhar do Matteo foi questão de ego, ele apenas queria chamar a atenção do Samuel e provar do que era capaz. Seu único intuito era puramente egoísta. Abner era orgulhoso, de fato, e rebelde. Ele odiava ser desacreditado ou contrariado.
Samuel, por outro lado, havia se lembrado do motivo que o fez sequestrar aquele garoto. Era uma mistura de ambição com paixão doentia e uma pitada de masoquismo. No fundo, ele amava ser pisoteado por um twink e Abner oferecia bem mais do que isso.
Já descontente com a atenção indesejada, Abner voltou à mesa e percebeu o olhar fuzilante do seu marido. Samuel ainda estava perplexo com o jogo e com a sua vitória repentina, mas também aliviado e certamente feliz. Eu acho.
— Nunca mais faça isso. —Ele comentou.
— Isso o quê? —Abner retrucou. — Você não manda em mim.
— Por pouco, Matteo quase nos destruiu. —Samuel limpou a testa com um paninho.
— Não era você que há poucos dias falou que uma das minhas maiores qualidades é a inteligência? Não tô entendendo o sufoco.
Samuel ponderou antes de responder. Ele em suma admirava essa qualidade específica, só não esperava tamanha astúcia. Matteo era um dos maiores mafiosos do mundo e derrotá-lo num jogo foi muito humilhante.
— Bom, confesso que me faltou fé. Mas não vou me desculpar.
— Não pedi isso. —A língua do Abner era afiada. — Tô satisfeito com minha vitória.
O evento correu sem dar trela para o tempo e acabou em um piscar de olhos. Os ricos do pedaço se organizavam em fileiras para saírem do local, todos muito pacientes. Alguns com o desgosto da derrota e outros comemorando, sabe-se lá o motivo. Talvez pela arrecadação ter sido um sucesso?
Entre a multidão da elite social, aquela misteriosa mulher de vermelho perseguia Abner no anonimato. Ela queria o alcançar, mas ainda não era a hora certa. Seria arriscado uma abordagem tão direta, principalmente com o Samuel por perto.
Voltando o cenário à mansão, Caio estava sentado no sofá enquanto mergulhava de cabeça em seus pensamentos. Ele tinha muitos questionamentos e sua mente estava a mil, algo que não acontecia há bastante tempo. Aquele beijo foi só um deslize, certo? Caio não se considerava talarico.
Sem perceber, Kayc passou de fininho e foi para o lado de fora. O perfume do seu body splash impregnou o cômodo, deixando um rastro imaginário de sedução e confiança. A lua o convidava para caçar machos, algo que fazia parte da sua natureza predatória. Ele realmente era a alma gêmea do Abner e combinava até nisso. Uma verdadeira loba.
Caio recobrou a consciência e tomou uma decisão. Ele precisava tirar essa história a limpo e seria naquela noite. Como? Nem ele sabia. O importante era ao menos tentar e nisso Caio tinha maestria.
O barulho do carro estacionando estalou uma emoção súbita em seu coração: a ansiedade. Suas mãos tremiam por causa do nervosismo e pelo medo de como Abner reagiria. Tudo dependia apenas de como Caio o confrontaria. Rude? Educado? Confuso? Tímido? Assertivo? Legal?
A porta deslizou e ele deslumbrou Abner entrando sorridente, seguido do Gabriel com a mesma expressão facial de sempre e Samuel arrancando pelinhas da boca. Caio estremeceu ainda mais, mas não pelo motivo anterior. Seus olhos estavam vidrados na beleza que irradiava daquele garoto.
— Como foi o evento? —Caio se aproximou.
— Excelente. —Samuel respondeu. — Mandei até prepararem um jantar especial.
— Uau. —Caio reagiu. — Como foi pra você, Abner?
— Eu preferia ter ficado em casa. —Ele falou indiferente.
— Não seja modesto. —Samuel interrompeu. — Ele derrotou o Matteo no jogo principal.
— Sério? —Caio se surpreendeu. — Aposto que tá todo orgulhoso.
— Eu nem conhecia aquele velho. —Abner desdenhou.
— Tô falando do seu maridão. Ele vai espalhar isso pros sete ventos, mesmo não tendo um dedo na história.
Era nítida a tensão que rolava entre o Caio e o Samuel, mas Abner não se deixou levar pela toxidade. Ele conseguia ser pior quando queria, então apenas relevou e sorriu internamente. Samuel era pisoteado por todo mundo mesmo, como um hobby.
— O jantar já está servido, senhores. —Gabriel quebrou o clima. — É melhor comerem enquanto ainda está quente.
— Boa ideia! —Todos responderam uníssono e foram para a cozinha.
No outro canto da cidade, Kayc se apressava para chegar no lugar onde marcou de encontrar um ativo gostosão do Grindr. Seu GPS indicava que faltava pouco até o endereço, então ele diminuiu o ritmo descompassado para não suar ainda mais. Porco assado é só no natal, porra!
Kayc se sentou em um dos bancos que achou e decidiu esperar um pouco. Saindo do beco escuro, ele avistou o tal rapaz. Era alto, magro e bem vestido. Aparentava ser bonito o suficiente para cometer crimes e sair impune, como qualquer branquelo faz nos Estados Unidos.
— Cucetinha sapeca? —O homem perguntou apreensivo.
— Eu mesmo. —Kayc se envergonhou. — Dotado sigiloso?
— Não tão sigiloso quanto eu gostaria porque nos encontramos numa praça pública, mas sim. Sou eu. —O homem sorriu.
— Questão de segurança. Minha vida não vale uma mamada.
— Tá certo.
— Tem local?
— Claro, minha casa fica aqui perto.
— Bora. —Kayc se certificou de mandar sua localização para o Abner.
Então, o dotado sigiloso tomou a liderança da caminhada e levou a cucetinha sapeca para o abate. A lua brilhava incansavelmente, iluminando tudo, menos o maldito beco escuro que arrepiava a espinha da nossa boqueteira fantasma.
Lembra o que eu disse sobre o rapaz ser bonito o suficiente? É aqui que a história do Kayc muda. Com um pano mergulhado em clorofórmio, o desgraçado desmaiou a nossa ninfetinha e arrastou seu corpo até um açougue fechado. Mas não se preocupe, Kayc não virou peça de pernil.
Isso que dá confiar em estranhos.
O vapor denso preenchia o banheiro, criando uma névoa quente e reconfortante enquanto Abner se banhava sob o chuveiro, sem saber sobre o que havia acontecido com o melhor amigo. A água morna escorria suavemente sobre sua pele, relaxando cada músculo tenso do dia agitado. Ele fechava os olhos, apreciando o momento de tranquilidade, permitindo que a água levasse embora o cansaço acumulado.
Após desligar o chuveiro, ele alcançou a toalha macia e começou a se secar cuidadosamente. Cada movimento era meticuloso, quase ritualístico, enquanto esfregava a toalha pelo corpo, garantindo que nenhuma gota fosse deixada para trás. Em seguida, ele enrolou a toalha na cintura e caminhou até a pia.
O espelho ainda estava embaçado pelo vapor. Com a palma da mão, Abner limpou a superfície, revelando seu reflexo. Pegou a escova de dente e aplicou a pasta dental, começando a escovar os dentes em movimentos circulares, cuidadosos e metódicos. O gosto fresco da menta invadiu sua boca, trazendo uma sensação de limpeza revigorante. Ele a enxaguou e soltou um suspiro satisfeito.
Com a escova de cabelo em mãos, ele começou a pentear os fios ainda úmidos, os desembaraçando com paciência. Cada passada da escova trazia ordem ao caos dos cabelos despenteados, deixando eles lisos e alinhados. Abner se olhou no espelho, avaliando o resultado com um leve sorriso de aprovação.
Por fim, abriu o frasco de creme hidratante e aplicou uma quantidade generosa nas palmas das mãos. Com movimentos suaves e circulares, ele espalhou o creme pelo corpo, começando pelos braços e subindo para os ombros, depois o peito, a barriga e as pernas. A textura rica do creme deixava a pele macia e perfumada, uma camada protetora que mantinha a hidratação.
Abner respirou fundo, se sentindo renovado e pronto para a noite de descanso. Ele vestiu um pijama confortável e deu um último olhar ao espelho, satisfeito com o cuidado dedicado a si mesmo. Após desligar a luz do banheiro e seguir para o quarto, onde o aconchego da cama o aguardava, prometendo um sono tranquilo, Abner escutou alguém batendo na porta.
— Se for o Samuel, eu tô dormindo. —Ele gritou.
— Posso entrar?
— Caio? —Abner reconheceu a voz. — Ah, pode.
— Obrigado. —Caio entrou apressado. — Precisamos conversar.
— Não pode ser amanhã? Eu acabei de tomar um puta banho e tô doido pra dormir.
— Tem que ser agora. —Caio falou firme e sem receio.
— Tá. —Abner estranhou. — O que aconteceu?
— Eu passei o dia matutando sobre ontem e tô confuso sobre a gente...
— Por que confuso? —Abner bateu devagar na cama, indicando que era para Caio se sentar. — Nós somos amigos, não?
— Sim, mas não tem como fingir que nós não nos beijamos e possivelmente transamos. —Caio finalmente se sentou.
— A gente tava bêbado e eu sei guardar segredo.
— Não é isso... —Caio ficou tenso. — Eu sou hétero, é claro, mas sei lá.
— Acho que entendi. —Abner arqueou a sobrancelha esquerda. — Foi um deslize, apenas. Não vai acontecer de novo.
No fundo, Abner odiou falar aquilo e se sentiu desapontado consigo mesmo. Ele não era do tipo que cometia deslizes sexuais. Ambos queriam e a bebida só deu o empurrão. Não era tão difícil aceitar isso.
— Olha, eu realmente tô cansado e você vir aqui pra falar disso me aborreceu bastante, então acho melhor você ir dormir. —Ele completou.
— Calma. —Caio relutou. — Eu posso ser honesto?
— Mais do que já tá sendo? Acho impossível.
Caio fechou os olhos e respirou fundo. Ele estava disposto a ao menos tentar e não se permitiria falhar. Sem muitos questionamentos, Caio se aproximou do Abner e o puxou para perto de si, em um movimento bruto e dominante.
— Eu quero te foder consciente do que tô fazendo e quero me lembrar disso todos os dias. —Caio sussurrou.
Abner tentou dizer algo, mas foi impedido pelo dedo indicador do deus grego que pairava na sua frente. Ele se sentiu dominado e rendido, tal qual um bandido quando percebe que está encurralado.
— Eu vou te foder até os seus olhos revirarem, mas você ama essa parte, não é? —Caio voltou a sussurrar em seu ouvido. — Tira a minha camisa.
Sem sequer pensar duas vezes, Abner obedeceu e deslizou as mãos sobre a camisa branca do Caio, e a retirou cuidadosamente, apenas para sentir os gominhos da sua barriga trincada. A sensação era deliciosa e isso o excitava profundamente.
Caio puxou seu cinto com pressa e permitiu que o zíper da calça se abrisse, revelando o volume do seu pau na cueca box. Ele pulsava em resposta ao estímulo e estava sedento para experimentar aquele rabo.
— Tira a roupa.
Abner novamente o obedeceu e arrancou cada peça com agilidade, exibindo seu corpo nu e suas curvas provocativas para aquele que o devoraria em instantes. Todos os cantos de si estremeciam com ferocidade. Ele estava pronto para ser destruído.
Sem cerimônia, Caio puxou Abner pela cabeça, em direção ao seu pau. A boca quente e macia dele deslizava no ritmo exato, deixando cada centímetro totalmente babado. Caio gemia de prazer enquanto provava do melhor boquete da sua miserável vida.
Em um movimento sereno, Abner se virou por cima do Caio e permitiu que a língua dele caminhasse entre sua bunda. Mesmo com o pau na boca, Abner também não poupava gemidos. Todos escapavam com muita facilidade.
Aproveitando a posição, Caio segurou a cintura da sua putinha, afirmando que estava na hora de cavalgar e Abner entendeu o recado. Sentí-lo rasgando seu cuzinho o obrigou a gemer a cada sentada faminta.
O ar cheirava a sexo e o lençol estava encharcado de suor, tudo na medida perfeita para os dois. Caio aproveitava e deixava o momento guiá-lo para cantos remotos do prazer, que íam desde enforcar Abner até socar suas costas que já estavam marcadas por chupões violentos.
Conectados pelo tesão genuíno e picante, os dois gozaram ao mesmo tempo. Pela primeira vez, Abner conseguiu sem ter que se masturbar durante a foda e a sensação era inexplicável.
Caio o olhava com a satisfação de saber que era aquilo que ele queria para o resto da sua vida. O misto entre a adrenalina e o proíbido era gostoso, reconfortante e excitante. A partir daquela noite, um pacto surgiu: amigos em público e amantes além de quatro paredes.
— Onde eu tô? —Sua visão pregava peças por causa da sonolência. — Que lugar é esse?
Sua voz estava embargada.
— Seu melhor amigo e o marido dele mexeram com a pessoa errada, e você será o nosso recado.
— Muito frio...
Kayc desmaiou novamente e sua cabeça foi de encontro ao chão gelado.
— Acredite, assim será menos doloroso.
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