Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo VI - Ducit me desperandum

Era uma noite intensa. As estrelas brilhavam de forma inquietante, como se buscassem pela harmonia entre a claridade que emanavam e a escuridão que pintava o céu. Abaixo da densa atmosfera, estava a longa estrada que rasgava a terra seca e acompanhava, curiosa, o caminho que Abner e Caio percorriam sobre a moto.

Sob o luar e acompanhado daqueles malditos gominhos, Abner aproveitava o calor e a emoção de sentir as rajadas de vento cortarem o capacete, numa dança síncrona com o visor que protegia seu rosto. Aquilo era um sentimento inexplicável e ele aproveitava cada segundo.

Caio, por outro lado, tentava esconder o tesão em sentir aquelas mãos na sua cintura. Nas entrelinhas de cada curva, o toque delicado inundava seus pensamentos de forma avassaladora, quase como um caminhão desgovernado. Ele de fato estava gostando, mesmo que negasse internamente, e então surgiram os questionamentos.

Na linha do horizonte, era possível ver os fogos de artifício explodindo e revelando formatos e cores únicos. Abner via beleza naquilo. Caio via apenas o infortúnio. Afinal, ele estava cada vez mais perto da entrada e a um passo de perder a oportunidade de continuar sentindo aqueles dedos.

Tomado pelo desgosto, Caio estacionou na última vaga que encontrou. Abner saltou com dificuldade e retirou o capacete, deixando seus pequenos cachos voltarem à forma natural. Hipnotizado, Caio observou suas feições e sentiu um leve impulso. Era como se algo o empurrasse, mas o medo foi maior e ele se conteve.

— Acho que o Kayc ainda não chegou. —Abner comentou. — Ele não mandou mensagem.

— O Gabriel que é lerdo dirigindo. —Caio completou, guardando suas mãos no bolso da calça. — Vamos, não quero enfrentar fila.

— Você que manda, querido. —Abner abriu passagem e sorriu. — As damas primeiro.

No centro da multidão, os dois se destacavam. Haviam barraquinhas de comidas e bebidas, algumas que Abner sequer conhecia. Todas enfileiradas e bem alinhadas, com um curto espaço de distanciamento, o que permitia uma certa facilidade em experimentar tudo.

Caio analisava as finitas possibilidades de combinação de sabores e desejava comer tudo ao mesmo tempo. Não se engane pelos músculos e seu corpo definido, ele nunca manteve uma dieta rigorosa. Era do tipo que comia porcarias e não engordava, ou seja, era um dos favoritos de Deus.

Abner, por outro lado, se sentia culpado quando exagerava na quantidade que colocava no prato. Ele tinha medo de engordar o bastante, ao ponto de pular algumas refeições, tudo para manter a magreza. Era do tipo que enxergava apenas a beleza física em si mesmo e considerava a própria personalidade uma merda.

Seguindo essa linha de raciocínio, Abner decidiu se contentar apenas com as bebidas alcoólicas. Entre uma lata de cerveja e outra, ele já estava bêbado o suficiente para dizer certas besteiras. Era quase um hábito não manter a sobriedade, tudo em nome do desejo sufocante de manter os traumas afastados, embora uma hora ou outra eles surgissem repentinamente.

— Não vai comer? —Caio perguntou apreensivo. — Te vi petiscando o vento até agora.

— Tô sem fome. —A voz de Abner saiu meio embargada. — Acho que só vou beber mesmo.

— Conheço uma bebida que vai te levar ao céu. —Caio sorriu maliciosamente.

— Meu clonazepam já faz isso, obrigado. —Abner desviou o olhar, tentando disfarçar.

— Te garanto que não vai se arrepender.

Caio jogou o rosto para o lado, convidando Abner até uma barraquinha de cachaça. As prateleiras estavam lotadas de destilado e a decoração era roceira. Parecia os botecos que Abner frequentava em Minas e isso trouxe uma sensação de familiaridade. Aos poucos, ele cedeu e seus olhos passaram a brilhar em conformidade com o tesouro que estava em sua frente.

— Me vê uma pinga com escorpião, por favor. —Caio sorriu para o camelódromo.

— Pinga com escorpião? —Abner se assustou. — Nem fodendo.

— Ah, vai. —Caio insistiu depois de pegar a dose. — É uma delícia e eu não aceito que você visite a Bahia sem passar pelo batismo regional.

— Agora eu entendi quando você disse que conhecia algo que me levaria pro céu. —Abner fechou a cara. — Essa porra tá viva!

A cachaça era amarelada e possuía um odor característico da cana depois de ser fermentada. O copinho era simples, cabia a quantidade ideal para quem não é muito fã de água ardente. O problema estava no escorpião, aquilo sim era tenebroso.

Seu ferrão estava apontado para a parte onde se coloca a boca e suas patas sambavam pelas bordas do recipiente. Ele era pequeno, não mais do que o copo, e era preto. Nada convidativo e super arriscado.

— Eu não vou beber isso nem sob ameaça de morte. —Abner se afastou do balcão. — Joga fora.

— Se você não vai tomar, eu vou. —Uma senhora corcunda roubou a cena e ingeriu o líquido, quase engolindo o animal junto. — Tomava isso na mamadeira.

— O capeta tem medo de você. —Abner ironizou com nojo.

— Vira homem, porra. —Ela gargalhou e se retirou.

— Velha abusada. Me dá outra dose, vai.

Seu maior defeito era tomar atitudes impensadas e arriscadas em momentos de fúria. Não havia escapatória e ele sabia disso. O escorpião o encarava, como se pudesse farejar o medo que exalava das glândulas do Abner. Era a caça contra o caçador.

Num impulso audacioso, Abner virou o copinho na boca, sentindo a cachaça esquentar sua garganta de um jeito inexplicável. O sabor era divino, mas não compensava o desespero e a aflição que faziam suas mãos tremerem como vara verde.

— Viu? Não foi tão difícil. —Caio deu tapinhas em seu ombro. — Tem com aranha também.

— Não quero, tá muito caro. —Abner devolveu o copo à bancada.

— Mas é de graça.

— Continua caro, obrigado!

Embora Abner fosse aventureiro e pinguçu, havia algo nele que o impedia de fazer certas cagadas. Provavelmente era a sua consciência gritando "Viado, limites!", mas isso nunca o inibiu por completo de experimentar coisas novas. Seu lema era não ter tantas limitações como uma pessoa comum.

Caio gostava dessa personalidade. Ele achava diferente das demais e permitiu ser levado pelos encantos do Abner. A cada segundo, Caio se sentia ainda mais atraído, tal como uma mosca é levada pela luz que se provará uma armadilha para a morte certeira.

Entre tantos pensamentos, o mais latente era o desejo incansável de sentar em algum banco para fumar e Abner não demorou muito para externalizar essa vontade. Caio apenas concordou com a cabeça e o levou para uma praça que não ficava longe.

Estava vazia e super propícia para fazer certas sapecagens. No meio, havia um pequeno lago e os peixes dançavam conforme o movimento sereno da água. Tudo estava muito sugestivo e isso preocupava os dois garotos.

Abner por estar casado, mesmo que com um homem no qual ele não amava, e Caio por ser hétero e ter uma imagem a zelar. Ele não era homofóbico e nem nada do tipo, só não pretendia ceder aos seus caprichos toda vez que seu pau ficasse duro.

— Vai demorar muito pra fumar? —Caio perguntou apreensivo.

— Eu acabei de acender o cigarro. —Abner o olhou sério.

— Preciso mijar. —Caio tentou esconder o volume em sua calça.

— E tem alguém te segurando?

— Não é isso.

— Ah, entendi. —Abner sorriu de forma maliciosa. — Você quer que eu segure ele pra você?

— Oi? Não! —Caio se envergonhou. — Não quero te deixar sozinho aqui.

— Caio, eu sei me cuidar. —Abner deu uma tragada. — Não vou fugir e ninguém vai me sequestrar.

Ao terminar a frase, ele olhou para uma direção que somente ele via. Era como se ele estivesse encarando a quarta parede, igual aqueles personagens cômicos fazem. Sentiu aí? Porque eu sim.

— Aliás, quem me sequestraria, né? —Ele fez novamente.

— Por que você tá olhando pro nada? —Caio arqueou a sobrancelha esquerda.

— Sei lá. —Abner balançou a cabeça. — Às vezes parece que alguém tá me observando.

— Deve ser Deus.

— Ou algum leitor desocupado.

— Mas se a pessoa tá lendo, ela não é desocupada e nós não estamos num livro.

— Minha vida ultimamente tá parecendo uma fanfic mal escrita. —Abner riu. — Não dúvido que seria lançada no Wattpad.

— E qual seria o gênero? —Caio se interessou.

— Eu gostaria que fosse um hot bem explícito.

— É. —Caio suspirou. — Não seria ruim.

— Já reparou que todo hot assim sempre tem um personagem mais alto que o protagonista, normalmente é mais forte e tem pose de hétero?

— Não sou fã de livros, mas faz sentido. É disso que o povo gosta, eu acho.

Abner finalizou a última tragada e encarou Caio com desdém. Não foi a melhor cantada do mundo, mas para um bom entendedor meia palavra basta e Caio não era desses. Ele tinha dificuldade de pegar as coisas no ar e essa foi uma delas.

— Você é muito burro. —Abner comentou.

— Vai me ofender de graça? —Caio retrucou.

— Faltou eu ficar pelado na sua frente.

— E por que você faria isso?

— Esquece.

Caio o olhou de baixo para cima e tentou entender qual era a mensagem que Abner escondia nas entrelinhas. Aos poucos, sua mente clareou e ele ligou os pontos daquela cantada mal feita. A princípio, sua vontade foi de enfiar a cara na grama por causa da vergonha, mas ele decidiu ficar estático.

Não foi a melhor reação, eu sei, porém foi o que ele conseguiu raciocinar no momento. Vamos aos fatos: Caio queria muito beijar aquela boca, então por que não aproveitar? É simples. Ele não esperava que Abner tomasse uma atitude de repente.

— Vamos? —Abner perguntou.

— Pra onde? —Caio ainda o olhava.

— Uai, de volta pra festa. Preciso beber mais.

— Espera. —Caio repousou a mão na coxa do Abner.

Num movimento quase involuntário, sua mão subiu pela barriga dele até encontrar o começo do seu pescoço. Com uma força moderada, Caio apertou a região, trazendo Abner para mais perto. Suas bocas estavam próximas e eles respiravam em sincronia.

A água do lago se agitou em resposta à lua, mostrando que ambas estavam atentas a tudo. Não conformados, os peixes também dançaram ao estímulo, colaborando com o clima. Era gostoso ouvir a natureza enquanto dois corações pulsavam mais rápido por causa da serotonina.

Caio agilizou seus lábios e fechou os olhos. Ele estava sentindo a adrenalina e aquela emoção de se entregar aos seus desejos. Seria sua primeira vez beijando um homem e não havia nada que traduzisse isso.

Abner já estava acostumado. Afinal, não era a primeira vez que ele beijava outro homem. A diferença era que com Caio, tudo parecia mágico e único. Não era a situação em si e sim a forma como ela acontecia.

Antes que suas línguas entrelaçassem, o celular do Abner tocou, interrompendo o beijo que eles tanto queriam. Abner pensou em não responder e fingir que não tinha um maldito aparelho em seu bolso, mas poderia ser o Kayc perdido na festa.

Para o seu desgosto, não era e ele se arrependeu amargamente. Na tela fria, a mensagem era do Rian. Mesmo com estados de distância, o cão não largava o osso e Abner tinha bastante deles para oferecer.

Ao se lembrar da noite em que a sua vida mudou completamente, Abner também lembrou de algo importante. O gosto da vingança encharcou sua boca, o relembrando do áudio que havia gravado.

— Desculpa. —Abner falou. — Preciso responder.

— Tudo bem. —Caio recuperou o fôlego. — É o Kayc?

— Eu gostaria que fosse.

— Parece ser sério.

E era.

Abner procurou o áudio nos arquivos e pensou na forma mais maquiavélica de vazar ele. Entre um plano e outro, o lugar ideal era o TikTok. O algoritmo de lá era danado para entregar fofoca de qualidade.

Satisfeito com a postagem e vendo os números crescendo de forma desproporcional, não demorou muito para o Rian mandar mensagem novamente. A diferença estava apenas no tom.

— Amigo! —Kayc gritou do outro lado.

— Tava achando que você não viria mais. —Abner sorriu ao ver o Kayc.

— Tive que chamar um Uber porque o Gabriel tava no escritório com o Samuel.

— Agora que estamos reunidos, já podemos voltar pra festa, né? —Caio comentou.

— Vamos. —Kayc respondeu. — Alguém aqui tem que me contar detalhes de uma fofoca e eu preciso estar bêbado pra ouvir.

Animado, Kayc acelerou o passo enquanto ouvia o áudio em loop. Aquilo daria pano para trezentas mangas e a noite só estava começando. Será que já tinha chegado na chifruda? Espero que sim.

Antes de acompanhar o Kayc, Abner sentiu Caio segurar seu braço e o puxar para o seu peitoral, deixando os dois próximos como estavam no banco. Caio olhava o fundo daqueles olhos, perdido no castanho que os coloria.

— E o nosso beijo? —Ele sussurrou.

— Se dormir comigo, posso te dar bem mais do que um beijo. —Abner sorriu.

De volta à mansão, especificamente no escritório, Samuel e Gabriel conversavam. As paredes reprimiam o som, impedindo que quem estivesse do lado de fora acabasse ouvindo o que não deveria.

Como sou bonzinho, vou nos colocar lá dentro. Vejam isso como uma pista sobre o enredo. Afinal, toda fofoca é boa e edifica a alma, certo? Menos para o Rian.

— Já acharam a caixa? —Samuel encarava o quadro que outrora esteve escondido pela pequena cortina preta.

— Ainda não, senhor. —Gabriel respondeu. — Tenha fé, sei que estão perto.

— Não podemos demorar. Tem mais gente atrás dela e eu não quero concorrência no meu pé.

— Talvez seja a hora de contar ao Abner. Ele é o único que sabe a localização exata.

— Não. —Samuel ficou inquieto. — Só vou enfiar ele nessa história quando acharem a maldita caixa e for a hora de abrir ela.

— Confio no seu plano.

— Ao menos já consegui trazê-lo pra cá.

— Não te assusta o quão fácil foi? —Gabriel foi até o quadro, se posicionando do lado do Samuel.

— Se levar em conta os relatos da Ághata, sim. —Samuel colocou a mão no bolso. — Ele andava rodeado de seguranças. Me assusta é saber que acharam ele naquele barzinho de quinta.

— Agradeça ao dono. Parece que o Abner era o cliente mais fiel daquele lugar.

— Enfim. —Samuel suspirou. — A sorte está sorrindo para o Clã Risonhares...

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro