Eu vou proteger você
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Cheguei com a Vmim UO que prometi pra vcs, PORÉM aviso que é provável que algumas coisas aqui surpreendam vcs. Confesso que eu mesma me surpreendi com coisas que escrevi aqui kkkkk mas quis sair da minha zona de conforto e fazer algo mais arriscado
OBS: me inspirei totalmente na letra de Lie, por isso a fic talvez esteja um pouco dark. E não esperem teorias como em NLU, quis brincar com as possibilidades e explorar mais o lado emocional e psicológico de Vmin
É uma short fic e não sei quantos cap. terá
Enfim, espero que gostem ♡
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2012 - Eu vou proteger você
1.
Desde que Jimin podia se lembrar, conhecia Kim Taehyung.
Antes das salas de treino com cheiro de suor e borracha de sola de tênis queimada.
Antes das distensões musculares, garotas gritando seus nomes e as viagens enlouquecedoras.
Antes que eles aprendessem como viver sobre as nuvens, num voou e outro, Jimin conhecia Taehyung.
Estudavam juntos na mesma escola quando se mudaram para Seoul, mas nem sempre foram melhores amigos. Jimin era encrenqueiro e impulsivo. Taehyung era esquisito, retraído e complexado. Jimin era popular, cercado de amigos; Taehyung vivia correndo atrás de companhia. Jimin via o garoto magricelo de orelhas grandes implorando para que alguém fizesse o trabalho em dupla com ele. Taehyung se esforçava para que gostassem dele e um dia chegou na escola com uma jaqueta bizarra. Todo mundo riu, inclusive Jimin, mas não conseguiu deixar de reparar o quanto Taehyung parecia orgulhoso de si mesmo com aquela jaqueta, e como a arrancou fora e a enfiou na mochila depois que riram dele.
Nesse dia, Jimin o convidou para comer salgadinho de algas e rámen na cantina da escola. E no dia seguinte. E no outro. Apesar de ter um jeito realmente peculiar, Taehyung tinha um sorriso fofo, aberto e sincero. Poucas pessoas que Jimin conhecia sorriam assim. Ele achou que podia gostar de Taehyung.
Descobriram depressa que eram mais parecidos do que supunham – falavam bastante, eram agitados, gostavam de ler mangás e ver animes e falar besteiras. As pessoas tinham dificuldade em entender as coisas que Taehyung dizia, ele não se expressava de forma convencional, dava voltas, as vezes usava metáforas, mas Jimin entendia tudo, lia Taehyung sem dificuldade.
E percebeu que gostava de olhar para o sorriso quadrado dele, a forma como as bochechas acobreadas apertavam os olhos em arcos, os dentes brancos formando uma linha apertada.
"Como aconteceu com você?", Jimin perguntou para Taehyung numa tarde em que estavam na grama da escola, deitados, lendo mangás, as cabeças encostadas.
"Um olheiro me viu na rua e disse que eu devia fazer as audições para a empresa, que eu tinha uma boa aparência. E você?"
"Com essas orelhas de abano?", Jimin deu um peteleco na orelha de Taehyung, fazendo o garoto rir. Jimin riu também e se ajeitou de novo. "Eu sempre quis isso. Dançar e cantar. Então, eu falei para os meus pais e eles me mandaram para cá, para Seoul, e eu me inscrevi nas audições de umas cinco empresas. Mas só passei para a Big Hit."
"Aquele garoto, qual era mesmo o nome dele?"
"Aigoo, Kim Seokjin?", Jimin teve um ataque de riso e levou uma mão à boca. "Você se esfregou nele do nada, meu Deus, porque diabos fez aquilo?"
"Eu estava nervoso", Tae confessou, sorrindo sem graça, "Queria quebrar aquele clima esquisito, foi a primeira coisa que me veio na cabeça."
"A sua cabeça tem que ser estudada, Taehyung! Agora todo mundo acha que você é maluco!"
"Eu sei", Taehyung murmurou, soando distraído. "Você acha que vamos conseguir passar para a próxima fase?"
"Muitos saem, TaeTae. São mais de cem candidatos, é muito difícil e não temos como saber o que eles realmente estão procurando. Você pode se esforçar, mas não ter o que eles procuram. Não tem como saber, mas você sempre pode tentar de novo, em outra empresa."
"Eu não quero ir para outra empresa. Quero estar no mesmo grupo que você."
Taehyung virou de lado, passando uma perna por cima da barriga de Jimin, que riu.
"Aish, sai, você é tão carente, Taehyungie!"
Eles riram, e quando pararam Taehyung tirou a perna, mas ficou olhando para Jimin, a expressão serena e o olhar sonhador e infantil, uma mão pousada na grama entre eles. Jimin corou. A franqueza inocente de Taehyung o surpreendia, e a necessidade que aquele garoto tinha de contato físico, tocar, abraçar, encostar, era constrangedora. Virou o rosto e voltou a ler o mangá.
2.
Aconteceu depressa demais.
Num dia, eram só garotos comuns, misturados a outros tantos, fazendo testes atrás de testes, e de repente receberam contratos.
Foram chamados, um por um, para ficar de frente com Bang PD nim. Não havia mais uma sala lotada de traineers. Havia apenas uma sala que subitamente parecia gigante com sete garotos se entreolhando assustados, as expressões infantis e ansiosas compartilhadas. Atrás deles, o nome imenso da empresa afixado na parede de tijolinhos brancos em letras azuis sobre seus ombros.
E então, na semana seguinte, mudaram-se para o dormitório. Um apartamento perto da empresa com um único quarto, uma sala e uma cozinha. Eles tentaram se organizar da melhor maneira que podiam, mas os primeiros meses foram esquisitos demais. Eles nem se conheciam direito. Tinham que lidar com as manias uns dos outros, os hábitos. Jimin sentiu, mais do que nunca, alívio por ter feito amizade com Taehyung antes – assim a sensação de deslocamento parecia diminuir.
De noite, quando os beliches ainda não tinham chegado, dormiam em colchonetes espalhados pelo chão. Taehyung acordava no meio da noite, cutucava Jimin e eles se divertiam brincando de pregar peças nos outros membros, filmando tudo com uma câmera de visão noturna. Faziam cócegas, mexiam nos cabelos, puxavam a pele macia embaixo dos queixos. Era a forma que eles encontravam de tornar aquela convivência mais engraçada e menos desconfortável.
Aos poucos, Taehyung e Jimin foram entendendo os limites dos outros garotos. Yoongi era rabugento e podia ser realmente perigoso se fosse acordado, então eles sempre pulavam por cima do corpo magro de Yoongi e passavam para o alvo seguinte. Jungkook podia ser o mais novo de todos, praticamente um pré-adolescente de 15 anos, mas era o mais sério. Passava a maior parte do dia calado, só observando tudo e chegava a chorar se era colocado em situações de muita exposição. Jimin sentia pena, mas Taehyung achava simplesmente engraçado demais. Provocava e implicava com o garoto vinte e quatro horas por dia até enfim arrancar um sorriso do rostinho fofo de Jungkook.
Jimin percebeu que Taehyung desenvolvia depressa um interesse excessivo no garoto, uma mania incomum de estar perto, perturbando, abraçando, como se Jungkook fosse um coelhinho de pelúcia. Jungkook ficava desesperado, sem saber como agir. Taehyung nem se dava conta. Por fim, o garoto acabava rindo das gracinhas de Taehyung e a mudança de comportamento do mais novo acontecia diante dos olhos deles como mágica.
Namjoon não conseguia perder a paciência com nenhum deles. Não importava quantas vezes Taehyung o acordasse no meio da noite simplesmente para pregar peças – o líder resmungava gentilmente para que fosse para cama e voltava a dormir. Taehyung era capaz de ficar horas apertando o indicador na covinha de Namjoon enquanto o outro abanava a mão como se espantasse uma mosca. Jin não era muito diferente – o mais velho do grupo tinha uma postura rígida, mas carinhosa. Ele tirava a câmera das mãos de Taehyung, a desligava e enfiava debaixo do travesseiro, acabando com a brincadeira.
Jimin ria. Às vezes era mais divertido ver o quanto Taehyung era bobo e se entretinha com as coisas mais sem sentido do que com as brincadeiras em si. Noite após noite, eles ficavam acordados até tarde, jogando, lendo, fazendo barulho. Era um verdadeiro inferno para os outros, mas, aos poucos, tiveram que se acostumar.
Os pesadelos começaram mais ou menos na época em que os beliches finalmente foram instalados. Por alguma razão a mudança de espaço no quarto afetou o sono já agitado de Taehyung e ele passou a levantar no meio da noite e perambular pela casa. Por ter sido acordado no meio da madrugada tantas vezes, Namjoon despertava naturalmente antes do nascer do sol, olhava para a cama vazia de Taehyung e ficava preocupado. Encontrava o garoto nas situações mais estranhas – em pé no meio da cozinha, debruçado na varanda, escorado no corredor com a testa quicando na parede.
Preferia que Taehyung acordasse para lhes aporrinhar a paciência. Era aflitivo vê-lo vagando pela casa sonâmbulo, as pálpebras semicerradas como um robô.
"O que foi?", Jimin perguntou certa vez, quando acordou e viu Namjoon guiando Taehyung de volta para a cama.
"Tae está tendo crises de sonambulismo."
"Aish", Jimin esfregou os olhos. Observou Namjoon colocar o garoto na cama e sentar na beirada do colchão. Olharam-se sob a luz opaca do fim da madrugada.
"Estou com medo de dormir e ele levantar de novo", Namjoon confessou, "A cozinha é cheia de facas e o trinco da porta da varanda está quebrado."
"Eu vou dormir com ele", Jimin decidiu. Migrou para a cama de Taehyung, que murmurou uma reclamação ao ter que recuar para alinhar a espinha dorsal contra a parede.
"Tem certeza?", Namjoon coçou a cabeça.
"Sim. Não vou deixar ele levantar."
Acomodou-se na beirada do colchão, formando uma espécie de barreira com seu corpo. Taehyung encolheu-se debaixo das cobertas e exalou um suspiro cansado. Jimin olhou para o rosto dele, o biquinho amuado que a boca formava e os cílios longos roçando nas bochechas aveludadas, a franja lisa e castanha cobrindo a testa.
Foi a primeira vez que passou pela cabeça de Jimin que por trás da agitação e da inocência infantil, Taehyung tivesse um lado obscuro que vinha à tona enquanto todos dormiam. Como se seu corpo estivesse dando os sinais que sua personalidade inquieta sufocava.
Eles estavam sob pressão, todos eles. Mas Jimin sinceramente acreditava que a forma como Taehyung via o mundo, leve a aérea, pudesse protegê-lo.
Estava errado.
3.
O problema é que ele não conseguia se conter. Tinha um fogo queimando no peito e precisava extravasar.
Quem diabos tinha mexido em seus acessórios?
Porque suas meias sempre iam parar na gaveta de Jungkook? E pior, o par desfalcado!
E aqueles garotos da empresa, os outros trainees, reclamando de tudo toda hora, choramingando porque estavam cansados, sinceramente não ia com a cara de nenhum deles.
Levou dez advertências da empresa num espaço de seis meses por arrumar confusão no alojamento e nas salas de treino. Encarava deslavadamente as staffs. Olhava para elas mordendo o lábio só para ver o quanto podiam ficar vermelhas. Ele não conseguia se conter.
O manager chamou Jimin para uma sala e foi claro: mais uma briga, mais uma provocação e você será convidado a se retirar do grupo.
O que estava acontecendo de errado?
Depois disso, entrou no banheiro e socou a parede. Porque sentia aquele furor incontido dentro de si? Uma... vontade, uma energia impossível de extravasar. Era isso que chamavam de hormônios?
Sentia falta de seus pais, sua antiga vida, sentia-se cansado, no limite da paciência o tempo todo. Era culpa daquela maldita coreografia que não conseguia acertar por nada. Treinava seis, dez horas por dia, estava prestes a implodir.
Sem falar nas noites mal dormidas.
Os pesadelos de Taehyung estavam cada dia pior. Jimin se arrastava para a cama do amigo, zonzo de sono, quando Taehyung começava a se remexer debaixo das cobertas, e o resto da noite era preenchida por gemidos sufocados e movimentos bruscos.
"Taehyungie", Jimin se apoiava nos cotovelos, tentando decifrar a expressão de agonia do amigo. Não fazia ideia do porquê dos sonhos dele serem tão ruins, quando estava acordado Taehyung era o tipo de pessoa que parecia distante de sentimentos sombrios. "Aish, porque você não dorme?", Jimin choramingava, puxando os cabelos. "O que você tem?"
Mas toda a compaixão que Jimin sentia pelo amigo durante a noite sumia no instante em que pisava no alojamento, depois dos treinos.
Taehyung estava num estado de agitação que não deixava ninguém pregar o olho no apartamento. Normalmente, Jimin o acompanhava, mas não andava bem-humorado. Quando chegava em casa só queria tomar um banho e ser deixado em paz. Os outros garotos também pareciam exaustos e iam cada um para suas camas, mas a pilha de Taehyung não tinha fim. Ele ria o tempo inteiro, tagarelava, levantava e andava para lá e para cá mexendo em tudo.
Estava dando nos nervos de Jimin.
Numa noite, quando estava num sono profundo, acordou sendo sacudido. Tomou um susto porque achou que fosse Namjoon. Seu coração disparou, a mente entorpecida trabalhando depressa e criando imagens de um Taehyung sonâmbulo, machucando-se com objetos cortantes ou coisa pior. Abriu os olhos, assustado, e viu Taehyung debruçado em cima de si, acordado, o sorriso largo e ingênuo. A respiração cálida roçava na bochecha de Jimin, quente e com cheiro de pasta de dente de canela.
"Jiminie, acorde. Eu consegui!"
"Hã?", Jimin afastou a franja dos olhos.
"Eu consegui zerar o jogo!"
Jimin piscou. Havia uma luz forte sendo jogada bem na frente de sua cara e ele levou alguns segundos para entender que era a lanterna do celular de Taehyung. A luz praticamente o cegava e aquilo foi o cúmulo. Tinha sido acordado não por um ataque de sonambulismo de Taehyung, mas porque ele queria falar sobre a merda de um jogo que ele tinha zerado?
Antes que sequer pudesse refletir sobre a raiva irracional que sentia, Jimin estava agarrando a gola da camiseta de Taehyung e o sacudindo. Um ruído contínuo ecoava por seu peito e ele se deu conta, tarde demais, de que estava rugindo e rilhando os dentes.
Foi fácil demais. Taehyung era leve, tão leve. A raiva de Jimin o tornava terrivelmente forte.
Jogou Taehyung no chão e sentou em cima dele, imobilizando-o pela gola da blusa, mas tudo foi tão rápido que Taehyung nem teve tempo de entender o que estava acontecendo antes que as mãos de Jimin se enrolassem em torno do colarinho de sua camiseta num nó.
"EU ODEIO VOCÊ!", Jimin berrou. Sentia a boca espumando, pastosa, os pulmões prestes a estourarem e os nervos esticando. "POR QUE TEM QUE SER TÃO INSUPORTÁVEL O TEMPO INTEIRO? POR QUE NÃO PARA? POR QUE. VOCÊ. NÃO PARA?"
"Jminie!", alguém gritou. Uma agitação louca se formou à sua volta. Mãos se fecharam em seus ombros, mas elas sequer faziam cócegas. Tudo que Jimin sentia, tudo que ele sabia era que não aguentava mais e Taehyung era uma maldita abelha barulhenta à sua volta.
"Jiminie, para!"
"Não!"
"Jiminie!"
Foi puxado bruscamente para trás. Uma força maior que a sua enfim se impôs e ele foi arrastado para longe de Taehyung, resfolegando, bufando. Viu Taehyung tossir e virar de bruços no chão, a camisa branca com um rasgo imenso na gola. Jimin piscou. Viu os travesseiros das camas espalhados por todo lado, viu Jungkook sentado em sua cama abraçando os joelhos, os olhos arregalados cheios de lágrimas de terror fixos em Taehyung. Viu o garoto tropeçar pelos lençóis e se ajoelhar ao lado do mais velho.
"Hyung", Jungkook murmurava, trêmulo. "Hyung."
Alguém xingou. Soava como Yoongi.
Jimin não conseguia tirar os olhos de Taehyung. Parecia uma cena de outra vida, como se ele estivesse assistindo tudo numa tela de cinema. Tae ele esfregava o pescoço e tossia, os olhos lacrimejando. Parecia tão frágil ali, tentando sentar e sendo amparando por Jungkook, os cabelos arrepiados caindo lisos em volta do rosto afogueado.
Ele...
O que ele tinha feito?
"Taehyung, eu não...", tentou falar, mas sua voz travou. Um bolo se formou em sua garganta e ele sentia que podia vomitar. Os olhos embaçaram. Namjoon o arrastou para a sala e o fez sentar no chão. Jimin nem tentou relutar.
Hoseok e Jin estavam pasmos. Olhavam de Jimin para Taehyung como que se perguntando como diabos aquilo tinha acontecido.
"Jimin, isso tem que parar", Namjoon sentenciou. Alguém enfiou um copo com água no rosto de Jimin. Ele piscou e o pegou automaticamente. "Eu não sei o que está havendo, mas essa raiva toda não tem fundamento. Se você precisa extravasar, soque um saco de areia, quebre pratos, faça terapia, tanto faz. Mas isso vai arruinar sua vida se continuar assim."
"Taehyung", ele murmurou.
"Ele vai ficar bem."
"Taehyung", tentou levantar, mas Namjoon o segurou.
"Jimin, agora não. Ele está assustado. Todo mundo está."
Jimin forçou o bolo na garganta para baixo. Aquela imagem ia persegui-lo pelo resto da vida, Taehyung apavorado. Ele tinha machucado seu amigo. O garoto de sorriso franco e olhar inocente e risada tilintante. Tinha machucado Taehyung.
"Você... será que pode dormir aqui na sala esta noite?", Namjoon pediu. "Só essa noite."
Jimin assentiu sem pensar. Hoseok trouxe colchonetes e travesseiros.
"Eu durmo aqui com ele", anunciou.
Jimin ergueu o olhar para o vão negro da porta do quarto, onde Jin estava parado em pé, o olhar alternando de Taehyung e Jungkook lá dentro para Jimin na sala. Ele parecia puto. E preocupado.
"Taehyung", Jimin repetiu tolamente e foi quando se deu conta de que estava chorando. As lágrimas quentes queimavam seus olhos antes de rolarem livremente por seu rosto.
"Ele vai ficar bem", Namjoon disse mais uma vez, afagando os cabelos de Jimin antes de levantar e ir para o quarto. Jin esperou que ele passasse e fechou a porta.
Hoseok suspirou.
"Caramba, que noite esquisita. Jiminie, acontece, você teve um surto. Estamos todos estressados, não pense nisso mais. Venha, vamos dormir."
Jimin dormiu pouco ou quase nada. No dia seguinte, o alojamento amanheceu tão agitado que mal tiveram tempo de falar sobre o incidente da noite anterior. Taehyung foi para a empresa com Jin e Jungkook, Jimin foi com Hoseok. Namjoon lançava olhares tensos para os dois garotos durante a desorganização costumeira do café da manhã, mas não disse nada.
Na empresa, Jimin sentiu-se mal. Tentou conversar com outros trainees, ensaiou, foi à aula de canto, mas Taehyung não saia de sua cabeça. Ele precisava se desculpar. Fora mais do que errado o que lhe fizera – fora monstruoso.
Jimin não era assim. Namjoon estava certo. Tinha que parar com essa agressividade incontida, percebia isso claro como cristal agora.
Encontrou Taehyung no corredor no final do dia, a mochila nas costas, pronto para ir embora. Jimin se aproximou, então viu que ele conversava com o manager. O homem tinha uma expressão rígida que dava medo nos garotos, Jimin não gostava dele, sobretudo pela forma como olhava para Jungkook, com raiva. Viu os dedos do manager irem para a gola da camisa de Taehyung e a afastando.
Todas as esperanças de Jimin morreram ali.
Estava acabado.
Um filme passou por sua mente como se estivesse vivendo os últimos segundos de sua vida – as aulas de dança que fizera em Busan, ele se despedindo de seus pais na estação de trem a caminho de Seoul, a primeira audição na Big Hit, os garotos, os dias felizes no alojamento: tudo evaporando como uma nuvem.
O sonho terminando antes de sequer ter chance de existir.
Mesmo de longe, podia ver os vergões arroxeados na pele castanha do pescoço de Taehyung onde Jimin torcera o tecido da camiseta até rasgá-la. O garoto recuou um passo do manager, balançando a cabeça ansiosamente e cobrindo o pescoço novamente com a gola. O manager disse algo que fez Taehyung negar com mais veemência ainda. Jimin mal piscava olhando a cena.
Taehyung então foi se afastando, forçando o manager a encerrar a conversa. Seu olhar cruzou com o de Jimin quando teve que atravessar o corredor quase correndo em direção aos elevadores. Jimin o encarou sem entender nada, e em seguida encontrou a expressão dura do manager. Os olhos escuros e estreitados do homem o encararam com desconfiança, olhos estreitados de raposa.
"Taehyung!", Jimin gritou, mas Taehyung atravessou as portas duplas e sumiu no hall dos elevadores.
Jimin foi atrás dele. Socou os botões do elevador quando as portas começaram a fechar, mas não teve jeito. Elas travaram com um baque seco, encerrando Taehyung lá dentro, e o visor do elevador acusou que estava descendo. Jimin pegou as escadas de incêndio e saiu na garagem. Viu Taehyung montando desajeitadamente em sua bicicleta verde néon.
"Taehyung!", Jimin se colocou na frente da bicicleta, sem fôlego. Arrancou o boné da cabeça e passou a mão pelos cabelos, arrumando-os. Os olhos castanhos de Taehyung o fitavam numa mistura de choque e medo.
Medo.
Taehyung estava com medo dele.
Jimin sentia um aperto terrível no peito, culpa e dor. Nunca ia se perdoar por ter causado isso. Ele queria o olhar inocente e infantil de Taehyung de volta para si. Nunca tinha se dado conta do quanto isso era precioso até perdê-lo.
Taehyung apoiou um pé no pedal e fez menção de avançar; Jimin agarrou o guidão da bicicleta, travando-a.
"Espera! Taehyung, eu sinto muito", podia ver o choque paralisando Taehyung. A boca dele estava entreaberta, uma camada fina de suor cobria as laterais de seu pescoço, fazendo com que as marcas arroxeadas ficassem ainda mais gritantes, oleosas sobre a pele dourada. Jimin as olhou e sentiu vontade de chorar. "Tae... me desculpa, por favor."
"Você estava dizendo a verdade?", a voz de Taehyung era clara apesar do medo.
"O quê?", Jimin piscou.
"Sobre me odiar. Você quis mesmo dizer aquilo?", a dor nos olhos de Taehyung era real. Aqueles machucados em volta de seu pescoço deviam incomodar, mas ele estava falando do que Jimin tinha gritado na noite anterior. Jimin sequer lembrava do que tinha falado, só conseguia pensar naquelas marcas e na força descomunal com a qual empurrara o amigo.
"Por Deus, não!", Jimin agarrou os ombros de Taehyung, apertando-os. Sentiu os ossos frágeis dele, a magreza vulnerável de Taehyung. "Tae, eu estava fora de mim. Não acredite nem por um segundo nas coisas que eu falei, nada daquilo era verdade, eu... você é meu amigo. Meu melhor amigo!"
O olhar de Taehyung mudou. O medo neles oscilou, dissolvendo inteiro em lágrimas cristalinas que acumularam no canto dos olhos quando ele piscou, perplexo.
"Então porque fez aquilo? Eu não entendo, eu fiz algo errado?"
"Ah, Tae...", Jimin não suportou mais. Puxou Taehyung contra si, enterrando o rosto naquele pescoço que tinha agredido. Reprimiu o impulso de beijar as marcas, como sua mãe fazia quando era criança, dizendo que assim sararia mais rápido. Isso certamente assustaria Taehyung ainda mais; já era assustador que tivesse essa vontade, embora Jimin não conseguisse concluir nada sobre isso agora.
Sentiu o coração de Taehyung disparando no peito. O corpo inteiro dele ficou tenso em seu abraço e ele não correspondeu, mas também não o afastou. Céus, nunca tinha abraçado Taehyung dessa forma antes, tão apertado. Ele parecia tão, tão frágil quanto um passarinho assustado, Jimin sentia que podia quebrá-lo no meio se o apertasse com muita força.
"Você não fez nada errado, TaeTae", Jimin murmurou. Apoiou o queixo na curva do pescoço de Taehyung com cuidado para não pressionar a pele ferida. "Você nunca faz. Foi culpa minha, ok?", afastou-se do amigo e segurou-a à distância de um braço. "Escute, eu preciso falar, porque não sei quando nos veremos outra vez. Eu quero que você consiga, Tae. Não tenha medo, lute por isso. Você é bom, não deixe que digam o contrário. E... e sobre os seus pesadelos..."
"Do que está falando? Porque está dizendo que não sabe quando vamos nos ver? Você não vai voltar para casa com a gente hoje?"
"O manager", Jimin engoliu em seco. "Ele viu as marcas, não viu? Ele sabe, eu sei que sabe. Já tenho advertências demais, Tae, só faltava mais uma. Ele disse que eu deixaria o grupo e a empresa se arrumasse mais uma advertência, e eu estraguei tudo, não foi?"
Tentou sorrir, apesar da vontade de esmurrar alguma coisa. Já tinha aprendido que isso só o levaria para caminhos sem volta e o pior deles fora ter perdido a amizade de Taehyung.
Taehyung negou com a cabeça, os olhos se arregalando de surpresa.
"Jiminie, eu não deixei!"
"Não deixou o quê?"
"Que ele acreditasse que tinha sido você. Eu jurei que não. Ele não pode fazer nada, não pode te dar uma advertência se eu não acusei você."
Jimin encarou Taehyung, incrédulo.
"Ele não pode, Jiminie!", Tae repetiu, como se Jimin ainda não tivesse processado.
Voltaram para casa juntos. Jimin montou na garupa da bicicleta de Taehyung e atravessaram os quarteirões em silêncio. O peito de Jimin estava cheio. Não mais de culpa e amargura e raiva, mas de coisas que ele não sabia identificar. Sensações estranhas. Nem boas nem ruins, só... intensas e confusas.
Naquela noite, ficou acordado esperando Taehyung dormir. Quando o quarto estava silencioso e todos ficaram imóveis debaixo das cobertas, Jimin migrou para a cama de Taehyung e ajeitou-se com cuidado ao lado do amigo. As sensações em seu peito borbulhavam misturadas à ansiedade.
"Taehyungie", sussurrou para um Taehyung adormecido. "Se você me der mais uma chance, se confiar em mim outra vez, eu vou te proteger para sempre. Está ouvindo? Tae?"
"Hm."
"Vai me dar mais uma chance?"
Para surpresa de Jimin, Taehyung disse num suspiro quase manhoso:
"Jeongguk?"
Jimin recuou. Seu o olhar atravessou o quarto até a cama de Jungkook, que dormia tranquilamente debaixo de um montinho de cobertas.
"Jiminie", Jimin soletrou devagar. "Ji.mi.nie."
"...minie."
"Sim. Taehyungie, eu vou proteger você para sempre, está bem?"
Taehyung revirou na cama, ficando de bruços e enfiando a cara no travesseiro num gesto claro de que não queria conversa. Jimin riu. Ajeitou a coberta em cima do amigo, passou uma perna por cima dele, repousando-a na base da coluna de Taehyung.
"Boa noite, TaeTae."
Não conseguia lembrar da última vez que dormira tão bem, porque nessa noite Taehyung não teve nenhum pesadelo.
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