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Capítulo 33 - Como se fosse a primeira vez

Camila Hayes

Sorri simpaticamente para o porteiro que abriu a enorme porta de vidro. Andei em passos leves até o elevador, indo em direção a minha sala. Parando no meu andar, alguns funcionários e colegas me cumprimentaram, aparentemente animados com a minha presença. Em minha sala, tirei meu sobretudo e colocando a bolsa sobre a mesa. Sentada em minha poltrona, liguei o MacBook para iniciar mais um dia.

Aquela era minha manhã de trabalho na Vogue, uma das partes da minha semana que mais amava porque tudo o que fazia era extremamente prazeroso. Porém, hoje eu estava ansiosa. Aconteceria nessa noite o NYC for Humanity, o evento tão aguardado e na qual eu comandaria a equipe jornalística do NYT.

― Bom dia, Camila. ― Lynn, a secretária do meu andar, cumprimentou ao abrir a porta da minha sala e entrar. ― Trouxe seu café. Com leite e bem doce.

Suspirei, aliviada, quando ela colocou o Starbucks em minha mesa. Havia saído de casa tão apressada que acabei sem tempo de comprar.

― Você é um anjo, Lynn. ― Falei, bebericando a bebida.

― Tudo por você, Goodwyn. ― Riu leve. ― Olha, nós te enviamos alguns e-mails que foram selecionados para irem para a revista, mas você ainda tem tempo para responde-los. O outro arquivo enviado é para os e-mails da Teen Vogue, ou seja, você precisa responder hoje mesmo.

― Tudo bem. Já vou começar.

― Ansiosa para hoje? Holly disse que você vai cobrir o NYC for Humanity.

― Muito. Quase não dormi na noite passada de tanta ansiedade.

― Vai dar tudo certo, você sempre se sai bem. Não é à toa que é uma das melhores jornalistas da cidade... até mesmo do país.

― Não exagere, Lynn. ― Ri leve.

― É verdade, Camila, você só está sendo modesta. Estou ansiosa para te ver arrasando hoje. Nos vemos mais tarde?

― Com certeza. ― Acenei enquanto ela saía da sala.

Depois de beber meu café e responder alguns e-mails pessoais, comecei a olhar os e-mails dos leitores selecionados para o Teen Vogue do dia. Era hora de Goodwyn Lessons entrar em ação novamente.

Histórias sobre traições, corações partidos, problemas familiares, primeiras vezes... tudo na visão – em sua maioria – de jovens. Eu já sabia a linguagem que deveria usar, como me portar em cada situação. Funcionava de forma automática. Adorava o suspense que corria sobre a identidade de Goodwyn; a maioria fazia teorias, alguns adivinhavam de primeira, mas nunca houve nenhuma confirmação. Holly costuma dizer que essa era a graça de tudo, o mistério e as suposições, mas eu honestamente não me importava, já estava até acostumada com a atenção que normalmente recebia.

Depois de responder o penúltimo e-mail e enviar para os responsáveis pela publicação do Teen Vogue, comecei a sentir meus dedos doerem. Estava tensa demais. Suspirei, frustrada, quando meu celular começou a tocar e o nome de Viktor apareceu na tela.

― Oi, querido. ― Falei ao atender, enquanto massageava as têmporas.

― Ei. Onde está?

― Ainda na Vogue.

― O que? Você não tinha aquele evento ou algo assim?

― Sim, mas é somente a noite.

― Tive que dar uma passada em casa, acabei esquecendo uma papelada, daí vou almoçar. Te liguei para saber se quer ir comigo, podemos ir para onde quiser.

― Você sabe que isso é impossível. Não tenho como sair daqui, tenho ainda e-mails para responder, depois vou pegar o meu vestido e uma equipe de cabelereiros e maquiadores vai para nossa casa.

Ele deu uma risada cheia de escárnio. Aquilo me incomodou profundamente.

― Vamos lá, Camila, é só um almoço, tenho certeza de que isso não vai atrapalhar o seu precioso dia.

― Eu já disse que hoje não posso. Você teve vários dias na semana para isso, mas resolve me convidar no dia em que mais tenho coisas para fazer?

― A pergunta é: quando você não tem? Não importa qual dia eu te chame para sair ou para passar um tempo comigo, você nunca está disponível!

Respirei fundo. Passei os dedos por entre os meus cabelos, apertando-os.

― Você não vai fazer isso comigo, Viktor. Não hoje... e muito menos pelo telefone.

― Tanto faz, Camila. Você faz o que achar melhor. Já que o seu trabalho e as pessoas daí são tão importantes para você, por que não pergunta a elas o que acham de você não tocar no seu noivo por, não sei, cerca de uma semana?

― O que isso tem a ver?! Eu ando tensa, você sabe disso.

― E eu te deixo mais tenso por acaso?

― Eu não consigo pensar em sexo quando estou ansiosa! ― Exclamei, mais alto do que queria. Viktor ficou em silêncio por alguns segundos.

― Essa é a primeira vez que escuto uma merda dessas. Tchau, Camila.

― Viktor, por favor ― Apertei a pele entre as sobrancelhas, fechando os olhos. ― É um dos dias mais importantes para minha carreira, será que... será que pelo menos hoje você poderia me apoiar?

― Claro que sim. Te darei meu apoio completo desligando o telefone e deixando que trabalhe o quanto quiser. Até mais tarde, Camila.

― Viktor... ― Tentei argumentar, mas ele já tinha desligado. Joguei o celular sobre a mesa, estressada.

Não era a primeira vez que discussões como aquelas aconteciam. Desde que a minha vida e a dele se tornaram conturbadas por conta dos nossos trabalhos, o tempo que passávamos juntos diminuiu. Para mim aquilo era algo normal, afinal era só o resultado das nossas qualificações, estávamos fazendo o que amávamos. Mas para Viktor não. Ele se incomodava pelo fato de eu ter dois empregos, de estar na maioria das vezes trabalhando – incluindo nos fins de semana, em casa –, e quase nunca ter tempo de estar com ele.

É fato de que as coisas muitas vezes me deixavam ansiosas, mas nunca reclamei do meu trabalho, estava fazendo tudo o que sempre sonhei na vida, ou melhor, nunca em meus melhores sonhos imaginei as coisas assim.

Às vezes eu sentia que Viktor queria que meu emprego fosse ele, que fosse sua noiva integralmente e sem direito a salário. Deveria estar ali ao seu dispor, sempre com um sorriso no rosto, na hora que ele precisasse.

Mas não, eu jamais faria isso, nem que ele me implorasse de joelhos, porque uma coisa que aprendi com a vida é que homens nunca podem estar acima dos seus sonhos. Por mais que eu amasse Viktor, ele não iria acabar com o que eu tinha.

Respirei fundo por alguns minutos, tentando pensar em coisas boas, colocando em minha cabeça que precisava estar bem para hoje, que tudo iria ficar bem. Quando me senti melhor, voltei a olhar para a tela do meu computador, pronta para responder mais um e-mail.

― Ok, eu consigo fazer isso. ― Falei comigo mesma, abrindo a mensagem e começando a ler.

"Querida Goodwyn,

Sou Avery Thomas, tenho dezenove anos e sou de Nova York. Se meus cálculos estiverem certos, e você estiver respondendo meu e-mail direto da Vogue, nós estamos bem próximas. Não quero mais esconder a minha história, já tentei de todas as formas encontrar uma solução, saber se estou fazendo a coisa certa, mas nada me vem à mente. Sinto que você é a única capaz de me ajudar. Os nomes que usarei são fictícios, menos o meu.

Me apaixonei pela primeira vez no verão, há dois anos, pelo garoto mais babaca e sem noção da escola, Hayde Matthews, o capitão do time de basquete. Foi em uma noite em Coney Island, quando saí com minha melhor amiga e irmã, em um luau promovido por uma galera da minha escola, que ele me provocou e me fez sentir algo que jamais senti antes. Ele era irritante... mas não saiu de minha cabeça por um bom tempo.

Nos encontrávamos pela cidade, tínhamos amigos em comum, e não demorou muito até nos envolvermos. Foi contra a minha razão, mas não consegui evitar. Hayden era tão magnético, tão charmoso... era impossível não olhar para ele, não reparar em sua beleza, mas ele era um idiota, sempre gostava de me irritar. Porém quando passei a conhece-lo melhor vi que as coisas não eram assim. Hayden tinha problemas com a família, sua mãe morreu em seu nascimento, seu pai tem sérios problemas com álcool e seu irmão o espancava. Mas Hayden sempre estava disposto a colocar um sorriso em meu rosto, mesmo com tudo dando errado em sua vida, e sinto que isso em fez amá-lo mais e mais.

Fui dele durante o verão. Nosso verão do amor. Nunca vivi algo como aquele e acho que nunca vou viver. Me entreguei de corpo e alma, permiti que Hayden me amasse e me fizesse sua... para sempre.

Fomos felizes por um bom tempo, o amei com todo meu coração, passamos por dificuldades, provações, mas sempre estávamos juntos no fim de tudo. Acontece que Hayden tinha dificuldades bem maiores, maiores do que a sua família, dificuldades essas que sempre tentaram me alertar, mas eu estava cega demais para notar. Hayden era viciado em drogas. Eu nunca vi ou percebi algo, só descobri realmente quando em uma madrugada recebi uma ligação do seu melhor amigo dizendo que ele havia tido uma overdose de heroína. Perdi todo e qualquer controle que tinha naquela noite ao ver o amor da minha vida em coma.

Quando ele acordou e sorriu para mim, tudo parecia ter sido um sonho. O fiz prometer que lutaria contra isso, que me deixaria ajuda-lo, e ele me garantiu. Ficamos bem assim por cerca de um ano, com Hayden limpo, em uma clínica de reabilitação... tudo parecia perfeito. Mas eu tinha que seguir com a minha vida também. A notícia da minha ida à faculdade não o agradou. Aquilo causou um surto em Hayden e o fez voltar às drogas. Eu tentei salvá-lo, tentei com todas as minhas forças, mas ele não aceitou.

Faz alguns meses que não tenho notícias dele e sinto que meu coração está despedaçado. Quero voltar para ele, mas também não quero desistir do meu sonho; quero que ele me garanta que tudo vai ficar bem, que ficará comigo, mas também sei que consigo fazer isso. Queria fazer mais por ele, queria... não sei. Eu vim para a universidade, mas não sei se fiz a escolha certa.

Me diga, Goodwyn, é possível escolher entre o amor da sua vida e seus sonhos? O que faria se soubesse que o amor da sua vida escapou pelos seus dedos? Que você fez tudo o que podia para salvar vocês dois, mas mesmo assim o perdeu? Eu preciso me encontrar... e quem sabe ajude outras pessoas a se encontrarem também

Com amor,
Avery"

Eu me levantei da cadeira, chorando descontroladamente. Meu peito parecia arder cada vez que eu suspirava e a respiração já não tinha controle algum. Nem percebi quando comecei a chorar, mas sabia bem qual motivo era. Avery, Hayden, sua história... eu parecia estar lendo uma outra versão da minha vida. Pensei ser uma brincadeira de muito mau-gosto a princípio, mas perto do final foi impossível não perceber que era real.

Como eu a responderia se nem eu mesma tinha a resposta para mim mesma? Pela primeira vez em todos esses anos do Lições de Uma Boa Garota, senti que talvez não poderia responder um e-mail, não porque não queria, mas porque eu era incapaz.

Pensei por alguns minutos, querendo me esforçar para conseguir, até que lembrei do conselho que Holly havia me dado uma vez quando isso me ocorresse.

"Sei que isso não vai acontecer com você, Camila, mas se caso algum dia se deparar com uma situação que se pareça com a sua e você não tem como ajudar ou então nunca se ajudou, pense em qual conselho gostaria que tivessem lhe dado e que teria mudado sua vida", ela me disse. Era aquilo.

Me sentei novamente, pronta para responder à Avery. Ela definitivamente poderia ser ajudada e ajudar outras pessoas.

Depois de terminar de escrever, apertei para enviar para a revisão sem reler, porque sabia que tinham coisas ali que me fariam ficar arrependida e que provavelmente eu apagaria tudo, chegando até a dar uma resposta que não queria.

Era mais um e-mail, e mais do que ajudar uma jovem, eu esperava também me ajudar.

...

― Estou prestes a te mostrar a maior obra prima que irá usar. ― Vicenzo disse, assim que eu e Meghan sentamos no sofá. ― Está preparada?

― Estou com medo. Você disse que o orçamento era bem alto, mas confio de olhos fechados nos seus gostos, V.

Grazie, amore. Você não vai se decepcionar, eu garanto.

Eu e Meghan nos entreolhamos, nervosas, enquanto Vicenzo entrou para a parte privada do estúdio para pegar o tão sonhado vestido. Vicenzo Salzillo era o meu personal stylist fazia um ano. Ele quem era responsável por escolher todas as minhas para os eventos e trabalhos que participaria. Confiava nele de olhos fechados, porque se alguém conhecia bem o meu gosto para roupas de gala e sofisticadas, esse alguém era Vicenzo.

Acabei encontrando-o graças à Meghan, já que ele era cliente do seu pai. Vicenzo era stylist de outras famosas, mas sempre estava disponível para mim, especialmente em momentos como esses. Quando nos conhecemos nos gostamos na mesma hora. Vicenzo era alegre, me tratou bem antes mesmo de saber quem eu era e aceitou trabalhar comigo na mesma hora. Por sorte seu estúdio ficava aqui mesmo em Manhattan, o que era bem mais acessível para mim.

Olhei para as ruas através das grandes janelas que cobriam as paredes. O lugar era agradabilíssimo. Vários vestidos e outros looks escolhidos a dedo estavam em cabides, cobrindo boa parte do lado direito da parede branca. No centro, havia uma espécie de palco para que as clientes pudessem subir e as roupas pudessem ser reguladas, e um espelho gigantesco cobria a parede. As luzes brancas de led davam um toque especial ao lugar, mostrando bem as cores de cada peça.

Fiquei de pé, caminhando de um lado para o outro, fazendo barulho com o salto no chão de madeira.

― Relaxe, Camz. Vicenzo sabe o que faz. ― Garantiu Meghan, comendo do biscoitinho servido sobre a mesa de centro.

Abri a boca para responder, mas fui interrompida por Vicenzo voltando para a sala, segurando em um cabide um vestido. Não, ele vinha segurando uma obra de arte.

Meghan rapidamente se levantou, ficando ao meu lado, tão boquiaberta quanto eu.

― Meu Deus... ― Suspirei, olhando para o vestido. Meu stylist apenas sorriu, orgulhoso.

― Eu encomendei para você um legítimo, e único, Valdrin Sahiti. Ele é meu amigo e se sentiu muito feliz em fazer esse vestido. Nós o planejamos juntos. O que achou?

O vestido era de deixar qualquer um boquiaberto. Era verde esmeralda, coberto por pequenas pedras que brilhavam cada vez que o vestido se movia, em cada centímetro do tecido. Suas alças eram um pouco mais grossas, ficando quase sobre os ombros, mas com certeza mantendo a firmeza precisa. Seu busto cobria os seios com um decote arredondado, sexy mas respeitando os limites do que eu desejava. Do lado direito, uma fenda descia a partir do começo da coxa, estendendo-se até o fim da saia.

Quando toquei nele, suspirei, ainda desacreditada. Cada centavo havia valido a pena.

― Eu amei, V. Você... meu Deus. ― Ele riu.

― O que acha de provar? Eu acho que não precisa de retoques, sei suas medidas de cabeça, mas nunca se sabe.

― Sim, vamos provar.

― Por que você nunca providenciou um desses para mim? ― Meghan perguntou, cerrando os olhos para Vicenzo.

― Desde que você saiu do seu mundo fashion e passou a viver uma vida desnorteada, sinto que esses vestidos não fazem mais seu estilo. ― Provocou-a.

― Ei, eu posso sim usar um vestido desse, independente do que fiz. Além do mais, esse estilo de vida não combina mais comigo.

― Pode ser. Mas andar na garupa de uma moto usando um Valdrin Sahiti? Ah, não mesmo, mia cara.

― Você não achava isso da última vez que me encomendou um vestido.

― A situação era especial, ok? ― Vicenzo negou com a cabeça, revirando os olhos. ― Vamos, Camila?

Assenti, dando risadas enquanto seguia Vicenzo para o provador. Ele me ajudou a vestir o vestido sem me deixar ver nada no espelho, nem ao menos baixar meu rosto para ver como a peça se modelava ao meu corpo. Mas era confortável, felizmente.

Quando saí do provador e subi na plataforma de frente ao espelho, fiquei petrificada. Meghan se aproximou, perplexa, me olhando através do meu reflexo.

― Uau. ― Suspirei, passando a mão pelo vestido. Estava perfeitamente modelado, exatamente como Vicenzo havia garantido. Feito para mim.

― Ela será a maior atração da noite. ― Meghan comentou, sorrindo.

― Eu trabalho para ser o centro das atenções. Dê uma volta, Camila. ― Eu o obedeci, recebendo um aceno de confirmação do meu stylist, como se estivesse extremamente satisfeito com o resultado. ― Você é uma obra de arte, mulher. Vou pegar apenas seus Louboutins pretos de bico fino e em breve irei para sua casa. A equipe de beleza chega que horas?

― As três.

― Ótimo. Você ainda terá tempo de comer algo. Volto já.

Quando Vicenzo saiu, Meghan admirou um pouco mais o meu vestido, então me encarou, daquela forma como que estivesse tentando ler cada traço meu.

― O que? ― Perguntei. Ela deu de ombros.

― Você está tensa. É sobre o evento ou tem outra coisa por trás? ― Suspirei. ― Sabia. Foi ele? Novamente a história idiota de nunca terem tempo um para o outro?

― Meg... é complicado.

― Não, Camila, é bem simples. Viktor não aceita o fato de você ser mais bem-sucedida do que ele.

― Que horror. É claro que não. Ele só quer... atenção.

― Ele quer que você seja uma mulher pacata que está sempre ali para realizar os desejos dele.

― Então ele vai ficar querendo. ― Me virei para o espelho, tentando acabar com a conversa.

― Você só está na sua zona de conforto, Camz. Viktor pode te trazer estabilidade, mesmo sendo um babaca que não quer apoiar suas conquistas, mas você não pode continuar assim. Arriscou tanto sua vida inteira para terminar noiva de um cara desses?

Olhei para minha amiga através do reflexo.

― Por favor, Meghan, eu não quero falar sobre isso. Não hoje. É o meu dia especial, é mais uma oportunidade única na minha vida e eu preciso do seu apoio.

Ela levantou as mãos em rendição.

― Farei o que for preciso para te manter tranquila, é que... precisava apenas desabafar. Falo isso porque não é a primeira vez que acontece, você sempre reclamou sobre o quanto ele te cobrou em relação a isso, e a última coisa que eu quero é um homem babaca tentando atrapalhar a sua vida.

Sorri para ela, assentindo. Eu tinha tanta sorte de ter Meghan como minha amiga.

― Viktor e eu nos entendemos. É sempre assim.

― Enquanto você continuar dizendo isso, a situação vai continuar a se repetir. Não jogue fora todo o futuro que lutou para construir, Camz, por favor.

Antes que eu pudesse responder, Vicenzo voltou, carregando algumas caixas.

― Ainda está vestida? Andiamo, Camila!

Depois de me trocar, saí para comer rapidamente com Meghan e fui direto para casa, depois de me despedir de minha amiga. Ela me desejou muita sorte, dizendo estar extremamente orgulhosa e garantindo que eu me sairia muito bem, como sempre.

Em casa, consegui um tempinho livre antes da equipe de maquiagem e cabelo chegarem, correndo para o andar de cima para tomar um banho rápido. Assim que entrei no quarto, vi Viktor vestindo uma camisa.

― Ei. Chegou cedo. ― Falei, parando a porta.

Ele me deu olhar de indiferença, voltando a abotoar sua camisa. Eu engoli em seco.

― Vai sair?

― Sim.

― Para onde? Vai voltar a tempo de se arrumar para o evento?

Ele entrou no closet, sem me responder, e eu o acompanhei. Não estava nada contente com aquilo.

― Não sei. Nem sei se irei, na verdade. ― Disse, me respondendo. Eu franzi a testa.

― Como é que é? Você não vai comigo? É isso mesmo, Viktor?

Ele suspirou, cansado. Quem estava cansada era eu, e nunca quis tanto dar um soco em seu rosto.

― Acabei de dizer que não sei, Camila. — Disse, firme.

― Você é o meu noivo, porra! ― Esbravejei, sem conseguir me conter. Ele me olhou nos olhos.

― Ah, agora você se lembra disso?

― Isso não é justo. Você não pode me tratar como uma merda só porque eu trabalho!

Ele se aproximou de mim, ficando há poucos centímetros do meu rosto. Era extremamente presente a tensão e eu não ousei em nenhum momento desviar meu olhar do dele.

― É isso que pensa, Camila? Que te trato mal porque você trabalha?

― Não é o que eu penso, é o que você faz. Me ligar e de repente dizer certas coisas apenas porque não pude sair do meu trabalho para almoçar com você?

― Não é a primeira vez que você faz isso!

― Nem você!

― O que custa ser uma parceira normal, merda? O que custa aceitar sair com o seu noivo e se divertir como um casal normal faz? Você não tem mais vida, Camila. Tudo gira em torno do NYT, Vogue, NYT, Vogue... mas que merda! E eu? Onde entro nisso?

Ele andava de um lado para o outro, passando a mão pelos cabelos, estressado.

― É injusto o que faz comigo, Viktor. Eu sempre tento dar o meu melhor nesse relacionamento, mas você precisa entender que eu tenho o meu trabalho, que tenho obrigações a cumprir, assim como você. Como se sentiria se eu te culpasse por não me dar atenção só porque trabalha? O que acharia se eu te pedisse para abrir mão de tudo o que sempre sonhou para ser apenas o meu noivo?

Viktor me olhou por alguns segundos, afetado por minha voz embargada. Eu não iria mais insistir nisso.

― Hoje é o meu dia importante. E sim, merda, eu vou trabalhar novamente, com muita alegria porque isso é muito melhor do que sempre sonhei. Se quiser ser um parceiro normal e me apoiar, então sinta-se convidado para ir, mas se for para jogar isso na minha cara depois, então não vá.

Ele pensou por um longo minuto, olhando em meus olhos, então saiu do closet e então do quarto. Quando ouvi a porta bater com força, comecei a chorar em silêncio, sentindo minha garganta doer. Raiva, frustração, dor... não sabia dizer o que era. Amava Viktor, isso era fato, mas cada vez que ele fazia isso comigo eu me questionava se estarmos juntos era realmente a escolha certa. Eu não merecia passar por isso com frequência.

Fui até o banheiro, encarando meu reflexo pelo espelho, com o lápis de olho manchado pelas lágrimas. Tirei minhas roupas e entrei no box, tomando um banho quente, lavando tudo em meu corpo, inclusive as mágoas recentes. Quando vesti minha roupa íntima e um roupão, pronta para me preparar para o evento, prometi a mim mesma que nada me abalaria mais naquela noite. Não permitiria isso.

Pouco tempo depois Vicenzo e uma equipe grande chegaram em meu apartamento. Nós transformamos um dos dois quartos de hóspedes em um estúdio de beleza. Consegui dar risadas, me divertindo a cada momento, sendo maquiada, cuidada, amada... aquilo estava me ajudando aos poucos a retomar minha animação. As horas passaram voando e quando me dei conta – finalmente – estava pronta.

No espelho do meu closet, olhei toda a minha produção. O vestido brilhava a cada movimento meu, realçando bem com minha pele brilhosa por um produto, meu cabelo estava solto com os cachos tão bem definidos que cheguei a cogitar se aquilo não era uma peruca. Tinha uma maquiagem leve na pele, mas bem iluminada, e na boca um batom vermelho marcante. As joias, providenciadas por Vicenzo da Tiffany & Co, ornamentavam perfeitamente bem com cada peça, desde os brincos de diamante branco, ao colar e a pulseira. Tudo era lindo.

No andar de baixo, acompanhada por Vicenzo e Agatha, minha agente, tirei algumas fotos com o fotógrafo contratado. Com certeza essas fotos estariam nas minhas redes sociais, levando os fãs à loucura. A maioria me acompanhava com fervor por desconfiarem que eu era a verdadeira Goodwyn Lessons.

Saímos no meu carro com o motorista, enfrentando o trânsito caótico de Nova York, mas sabendo que chegaria em uma hora perfeita. Na rua do prédio onde aconteceria o evento, já conseguia ver os flashes dos paparazzi iluminar as ruas. Parando de frente a entrada, em um tapete vermelho, Agatha saiu primeiro, Vicenzo em seguida, então eu. As câmeras se viraram para mim e começaram a tirar várias fotos. Os fotógrafos, repórteres e fãs, gritavam pelo meu nome e eu acenava, alegre, sempre tentando ser legal.

Entrei no local, caminhando sozinha pelo tapete vermelho. Parei alguns minutos para tirar as fotos oficiais, fazendo o carão característicos das celebridades. O meu carão que Vicenzo dizia ser de uma latina extremamente sexy, que conquistava todos apenas com o olhar. No começo eu era péssima nisso, mas hoje tirava de letra. Antes de entrar no salão, fui dar algumas entrevistas.

― Camila, oi ― A entrevistadora me cumprimentou quando me aproximei. ― Ai, meu Deus, você está magnífica, é sem dúvida uma das mulheres mais lindas da noite.

― Ah, muito obrigada. Você está linda também.

― Isso vindo de você é um elogio e tanto. Tem noção da sua influência no mundo da moda? Sabemos que é uma das jornalistas cultural do New York Times e que vai cobrir o evento juntamente a uma grande equipe, mas além disso você é uma grande ditadora de moda. Não é à toa que trabalha na Vogue. Acha que isso influenciou no seu emprego lá de alguma forma?

― Obrigada novamente pelo elogio ― Ri. ― Bem, não sei, na verdade. Pode ser que Anna tenha gostado do meu estilo, talvez? Quem sabe. Na verdade, eu não me importo muito com isso de moda, o trato que eu tenho com o meu stylist é que devo me vestir apropriadamente para cada ocasião, claro, mas também devo estar confortável comigo mesma. Roupa é parte da nossa identidade, então devemos usar aquilo que gostamos.

― Fala perfeita. Além de tudo isso você faz história porque é a primeira latina-brasileira a comandar uma equipe tão grande como essa do NYT, como se sente?

― Muito feliz. Apesar de não ter nascido no Brasil, eu me sinto brasileira, como se tivesse morado minha vida inteira lá. Costumo pensar que falo melhor português do que inglês. — Ri. — Tenho muito apreço à cultura da minha mãe, sempre tento estar próxima das minhas raízes e é uma grande alegria pra mim saber que os represento de alguma forma.

― Isso é ótimo. Os brasileiros devem estar muito felizes, eu aposto. Agora, me diga, cadê o seu noivo, o advogado Viktor Fitzgerald? Ele não costuma frequentar muitos eventos com você. Ele é bem reservado ou simplesmente não quis vir?

― Hum... ― Pensei um pouco, procurando as palavras certas. ― Viktor é um pouco dos dois, na verdade. Nossos trabalhos acabam exigindo certos sacrifícios, mas eu entendo.

Antes que a repórter pudesse perguntar outra coisa, Agatha me arrastou para os outros entrevistadores, graças a Deus. Eu sinceramente não sei o que iria responder se ela me perguntasse novamente por Viktor.

Depois de todas as entrevistas, finalmente entrei no salão repleto de figuras famosas e uma equipe grande à minha espera. Sorri ao ver Stella, Nick e Savannah. Era muito bom trabalhar com os meus amigos. Nick, também trabalhando no NYT, entrando na empresa poucos meses depois de mim, ficava no setor do jornalismo político, mas apesar disso fez questão de vir para me dar apoio. Savannah, como namorada de Nick e jornalista do The Wall Street Journal, também veio.

O namoro deles havia caído como uma bomba. Pensei que as coisas iriam ficar esquisitas entre nós, mas felizmente tudo continuou o mesmo. Eles ficaram cada vez mais próximos depois do fim da faculdade e há cerca de dois anos assumiram o namoro. A verdade é que os dois eram perfeitos juntos.

― Oi, pessoal.

Wow. Alguém está querendo ser a rainha da noite. ― Nick elogiou, me olhando dos pés à cabeça.

― Camila, você... Meu Deus. ― Savannah suspirou, abismada.

― Você está maravilhosa, Srta. Hayes. ― Stella disse.

― Obrigada, gente. Eu queria muito passar mais tempo aqui com vocês, mas tenho trabalho para fazer. Vamos, Stella? Nick, você vai?

― Ficarei andando pelo evento com Savie, qualquer coisa importante que vocês deixarem escapar eu anotarei, vim preparado. ― Disse, apontando para o bolso do terno onde provavelmente tinha uma caderneta e caneta.

― Ótimo. Nos vemos por aí. Amo vocês. ― Abracei os dois.

― Também te amamos. ― Savannah disse.

Saí rapidamente com Stella, indo direto para minha equipe que já se concentrava do lado direito do salão. Uma equipe de mais ou menos seis fotógrafos, oito repórteres e oito redatores, prontos para as minhas ordens. Cumprimentei todos, agradecendo a presença de cada um, e então comecei a orientá-los antes do evento oficial começar. Eles começaram a circular pelo salão, já sabendo com quais pessoas deveriam falar – priorizando os curadores do evento que já estavam presentes – e quais momentos da cerimônia cobrirem.

Eu também participei dos momentos, conheci pessoas influentes – impressionada pela maioria me conhecer –, entrevistei, dei entrevistas e anotei quais momentos precisavam entrar na matéria. Quando um dos cerimonialistas subiu ao púlpito para dar início ao evento, todas as atenções se voltaram para lá. Minha equipe estava ligada, constantemente anotando e fotografando tudo. Daria um belo conteúdo.

Quando a apresentação musical do cantor The Weeknd começou, aproveitei para curtir um pouco com os meus amigos. Provei dos drinques, comi do buffet e cantei as músicas que mais gostava, era muito fã.

Perto do final da apresentação, prestes a voltar as minhas obrigações de trabalho, avistei Viktor. Ele usava um terno preto que caia perfeitamente em seu corpo, seu cabelo estava penteado, como alguém que tivesse realmente se preparado para vir. Parei, encarando-o sem desviar enquanto ele caminhava até mim.

― Oi ― Ele disse, ficando a minha frente.

― Oi.

― Desculpa pela babaquice de hoje. Não sei o que vem acontecendo comigo, Camila, não tem nada a ver com você. Pensei um pouco, conversei com minha mãe e entendi que o melhor a se fazer era vir para te acompanhar.

― Mas você não me acompanhou.

― Eu sei. ― Respirou fundo. ― Mas estou aqui, não estou? Antes tarde do que nunca. Podemos fingir que nada aconteceu pelo menos por algumas horas? Conversaremos sobre isso depois.

A verdade é que eu estava cansada. Cansada dessa ladainha, cansada das mesmas desculpas e cansada de brigar com Viktor. Por mais que estivesse odiando toda aquela situação, não iria argumentar nem rebater, queria apenas terminar minha noite da melhor forma possível.

― Tudo bem. Não poderei ficar com você a todo momento, estou correndo de um lado para o outro para auxiliar a equipe. Nick e Savannah estão por aí, pode ficar com eles se quiser.

― Ok, vou procura-los. Nos vemos depois? ― Assenti, sorrindo leve. Viktor se aproximou de mim, beijando o canto da minha boca. ― Eu estou feliz por você.

― Obrigada. — Sorri leve, mas ainda me sentindo desconfortável com a situação.

Ele se afastou, andando por entre as pessoas, e eu assisti sumir da minha vista. Queria realmente entender o que se passava em sua cabeça. Talvez fosse a dependência emocional causada pelos pais e que agora era toda depositada em mim ou talvez Viktor fosse apenas mesquinho mesmo. Fazia um tempo que isso não em agradava, mas algo em mim não queria mudar as coisas, não queria passar por todo o processo de superação e apaixonar-se novamente. Era simplesmente cansativo.

Depois das apresentações musicais de Jennifer Lopez, Bebe Rexha e Sam Smith – as quais aproveitei todas, gravando vídeos e cantando como uma verdadeira fã –, o cerimonialista voltou a apresentar, agora anunciando os curadores do evento. Os primeiros, atores famosos de Hollywood, Leonardo Di Caprio e Emma Watson, depois cantores, Lady Gaga e Shawn Mendes, a modelo Gisele Bündchen e Gigi Hadid. Todos falaram um pouco sobre o projeto, animados e orgulhosos de fazerem parte.

Por fim, ainda faltando alguns curadores, o cerimonialista chamou os jogadores de basquete convidados e os da NFL, que pelo o que ouvi dizer seriam os mais influentes.

― Agora, os jogadores da NFL que abraçaram a causa ― Disse. Mais ou menos próxima ao palco, assisti tudo com atenção, sem anotar porque tinha certeza que o resto da equipe já fazia isso. ― Convidamos para o palco Tom Brady, quarterback representando o Tampa Bay Buccanneers, Aaron Rodgers quarterback representando o Green Bay Packers, Patrick Mahomes, quarterback representando o Kansas City Chiefs e, para dar algumas palavras em nome da NFL, Alex Lawson, quarterback representando o New York Giants.

Eu ajeitei minha postura na mesma hora. Que porra era aquela?!

Minhas pernas começaram a tremer, minhas mãos a soarem e todo o ar que eu respirava pareceu sumir. Isso tudo por ouvir o nome dele. Não, não, não, não podia ser. Ele poderia sim ser um jogador da NFL, mas não poderia estar naquele evento, naquela cidade. Não, porra, mil vezes não.

Eu assisti os jogadores entrarem no palco... e lá estava ele, de terno azul marinho, sorriso sedutor nos lábios e um olhar capaz de petrificar qualquer um. Ele caminhou até o púlpito, sendo cumprimentado pelo cerimonialista, então se aproximou do microfone.

― Boa noite. É um imenso prazer estar aqui. ― Alex disse, passando seu olhar pelo público.

Eu não conseguia tirar meus olhos dele, por mais que eu tentasse, por mais que meu corpo gritasse "fuja!", eu não conseguia sair do lugar. Era um ímã, uma força estranha que me arrastava e que me prendia nele. Faziam tantos anos. Tantos malditos anos.

Como se sentisse que eu o olhava, seus olhos pararam sobre mim, descendo desde os meus pés até chegar ao meu rosto. Nossa feição de choque e dor eram as mesmas, eu tinha certeza. Quando nós nos encaramos, só então a ficha caiu.

Alex Lawson estava de volta e a poucos metros de distância de mim.

Eu não tenho nada a declarar, deixo a palavra pra vocês...

Instagram: @sweetwriter8

Vejo vocês em breve! ♥️

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