Capítulo 21 - Bons amigos
Alex Lawson
Acordei com o peso de saber qual dia era aquele. Se eu pudesse simplesmente escolher pular aquele dia, pularia. Hoje, se Camila e eu ainda estivéssemos namorando, seria o nosso aniversário de um ano.
Desde o começo da semana isso martelava em minha cabeça, sobre como eu lidaria com isso da melhor forma possível. Comecei a relembrar de todos os conselhos da Dra. Martin:
1) Seja paciente. É preciso compreender que sentimentos assim precisam ser sentidos e seu tempo deve ser respeitado.
2) Canalize o que sente. Se sente raiva, tristeza, frustração ou o que quer que seja, coloque para fora de alguma forma segura.
3) Lembre-se que cada momento desse serviu para te moldar e te tornar essa pessoa forte.
Eu sabia o que tinha que fazer para me sentir melhor em momentos como aquele, mas quando envolvia Camila e o passado que tivemos, eu me tornava impotente. Parecia que precisava de todas as sessões de terapia de novo.
Depois das aulas da tarde, fui direto para o treino. Pensei nos conselhos da doutora e joguei toda minha energia no campo. Cada desvio, empurrão e roubo de bola era fruto da minha frustração. O treinador me elogiava, dizia para que eu continuasse, que estava ficando cada vez melhor. Mal sabia ele que tudo aquilo era fruto de um coração quebrado que insistia em não voltar a ser o mesmo.
No calor do jogo, focado a fazer mais um touchdown, fui derrubado por Colton com um soco no peito. Cai no chão, sem ar.
— Lembre-se da sua posição aqui, Lawson. Você pode até tentar ser o melhor, mas nunca será. — Disse, sorrindo em seguida.
Eu me levantei de uma vez, deixando a dor de lado, batendo de frente com ele. Nossos peitos se chocavam e o ódio era extremamente presente. Os garotos correram até nós, tentando nos separar.
— Cuidado com o que fala. — Alertei, enrijecendo o maxilar. Colton apenas sorriu de lado. Quis lhe dar um soco.
— Ei, se acalma. — Nate disse, me levando para longe. — Não vai querer que o treinador te expulse do campeonato, vai?
Desviei meu olhar furioso do de Colton, encarando Nate. O treinador veio correndo até nós.
— Que merda é essa? — Gritou, ficando bem no meio da movimentação.
— Alex não consegue ser corrigido, parte direto para violência.
— Ah, seu filho da puta... — Tentei avançar, pronto para quebrar seu nariz, mas Nate e VJ me seguraram.
— Ei, Lawson, nem mais um passo. — O treinador rosnou. — E você, Colton, pode ser o capitão, mas só quem tem pleno poder em corrigir sou eu. Alex não errou até o momento, então sua reclamação foi desnecessária. E você, Lawson, segure um pouco sua onda. Se quer socar algo, soque um saco de areia, porra! — Ergui os braços em rendição. — Agora vamos voltar para o treino.
Colton me lançou um último olhar de deboche antes de voltar a correr.
— Você não pode cair na pilha dele. Sabe que o que ele mais quer é te desestabilizar.
— Se você não tivesse me segurado eu teria afundado aquela cara dele.
Nate riu, negando com a cabeça.
— Eu sei. Aposto que já fez isso outras vezes.
Dei de ombros. Incontáveis, pensei.
— Apenas não caia na pilha dele, foque apenas no campeonato. Se estiver precisando extravasar, vá para a academia ou então procure sua terapeuta gostosa.
— Mais respeito com ela, seu idiota. — Falei, dando um tapa em sua cabeça. Nate riu.
— Ok, calma aí.
— Eu não posso procura-la. As consultas já terminaram.
— Tenho certeza de que ela não vai negar uma ajuda a um antigo paciente.
Assenti, pensativo. Talvez ela realmente pudesse me salvar nesse momento.
Depois do treino, tomei um banho rápido para conseguir chegar no consultório a tempo. Caminhando para fora do campus, em direção do centro, conferi as mensagens. A mensagem de Ethan havia sido a que havia chegado no momento certo, a que havia tirado o peso em meu coração.
Ethan [17:28]: Eu sei que não deveria pq isso pode te deixar mal, mas foda-se
Ethan [17:28]: A filha de Alice nasceu ontem, ela é linda. A família inteira está feliz, especialmente o Sr. Hayes, juro. Camila está bem.
Ethan [17:28]: Essa é a Margie...
Vi a foto da garotinha. Ela era realmente linda, extremamente parecida com Alice, mas com os olhos de Jordan. Na foto ela olhava para a câmera com curiosidade e um sorrisinho de lado. Foi inevitável não sorrir. Gostaria de ter a conhecido.
Alex [17:29]: Os genes da família Hayes realmente não falham, meu Deus.
Alex [17:29]: Ela é linda. Desejo a Alice uma boa recuperação.
A mensagem chegou segundos depois.
Ethan [17:29]: Obrigado, cara, mas não vou falar isso pra ela. Ela tem uma certa raiva de vc por conta daquelas coisas... mas mande energia positiva de longe.
Ri sem humor, negando com a cabeça. Me admiraria se ela gostasse de mim depois de tudo.
Passei em uma lanchonete bem perto do consultório e comprei alguns hambúrgueres. Imaginei que Madeleine estivesse em fim de expediente e morrendo de fome. Queria ser um cavalheiro, quem sabe até ganhar um pouco mais da sua simpatia. Só esperava não encontrá-la acompanhada de outra pessoa.
No seu andar, quando saí do elevador, parei na mesma hora ao ver um homem sair da sua sala e apertar sua mão.
— Nos vemos semana que vem, Sr. Braveal. — Ela disse, acenando para o homem que passou ao meu lado, me cumprimentou e entrou no elevador.
Pelo menos não era um encontro.
— Alex? O que faz aqui? — Ela perguntou, chamando minha atenção.
Linda como sempre. Seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo alto, revelando a pinta no canto esquerdo do pescoço. Usava uma camisa folgada e calça jeans. Todas as vezes que eu via a doutora fazia questão de reparar em cada detalhe seu, querendo gravar em minha memória.
— Alex?
Eu pigarreei, voltando a olhar nos olhos.
— Trouxe comida. — Ergui a sacola. Ela cruzou os braços.
— Se eu não te conhecesse bem, agradeceria pela comida e te mandaria embora, mas sei que tem algo. O que aconteceu?
Suspirei, dando de ombros.
— Acho que estou dependente de você. Todas as vezes que algo dá errado ou que volto a vacilar, penso em você... nas nossas conversas, quero dizer. — Forcei um sorriso. — Pode quebrar esse galho para mim?
— Não pode depender de mim para sempre, Alex. Nós trabalhamos isso.
— Eu sei. Podemos então, não sei, ter uma conversa entre amigos?
— Entre amigos?
— Sim. Madeleine e Alex. Não sou mais seu paciente e você não é mais minha terapeuta. — Me aproximei. Ela se manteve no mesmo lugar, olhando nos meus olhos. — Aliás agradeço por não termos mais esse tipo de relação, assim podemos nos conhecer melhor. Eu sei que pensa da mesma forma...
— Alex, isso não...
— Eu trouxe comida. — Falei, interrompendo-a. — Vamos lá, Maddie, não pode fugir de mim para sempre, sabe disso.
Ela semicerrou os olhos para mim, intrigada. Eu transparecia confiança, mas por dentro torcia para que ela não me mandasse embora e transformasse minha noite na maior humilhação da vida.
— Ok. Pode entrar. — Disse, abrindo espaço para que eu entrasse.
Me sentei no sofá de sempre, colocando a comida ao meu lado. Ela soltou um grito, me fazendo pular de susto.
— O que?!
— Não coloque essa sacola cheia de gordura aí! Vai sujar tudo! Coloque na mesa de centro.
— Vamos comer no chão?
— Alguma ideia melhor? — Ela disse, já sentando no tapete.
Você pode sentar no meu colo se quiser, pensei, negando com a cabeça para afastar o pensamento.
Coloquei a comida onde ela pediu e me sentei no chão, ficando de frente a ela, apenas com a mesa entre nós. Era algo estranho e bom ao mesmo tempo.
— Então, Alex, meu querido amigo, sobre o que quer falar? — Perguntou, abrindo a embalagem do hambúrguer.
— Senti sua falta.
Ela forçou um sorriso como se pensasse que eu estivesse brincando, mas nunca falei tão sério.
— Obrigada pela parte que me toca. — Eu ri leve. — Seja sincero.
— Poderíamos falar sobre outra coisa...
— Fale! — Disse, firme. Eu organizei minha postura, movido por suas palavras.
— Tudo bem, tudo bem. — Suspirei. — Se Camila e eu estivéssemos juntos, estaríamos completando um ano de namoro.
Ela parou de comer, assentindo.
— Entendi. Isso te deixou triste, feliz, com raiva?
— Eu não sei bem. Um pouco de tudo, acho? Triste por saber como as coisas terminaram, raiva por ter sido um babaca e feliz por saber que ela está bem, que tem feito e conhecido pessoas maravilhosas — A olhei nos olhos. — Assim como eu.
Ela engoliu com força, tentando manter a indiferença. Eu estava a afetando, ponto para você, Alex.
— É muito importante que você reconheça seus sentimentos, que reconheça seu erro e mais ainda que as coisas ruins também servem de aprendizado.
— É. Eu até que tentei extravasar hoje, mas quase briguei no treino.
— Eu disse que para extravasar esses sentimentos precisa ter cuidado, as vezes pode acabar machucando as pessoas. Não existe nenhum outro meio que possa te ajudar? Algo que você costumava fazer?
— Na verdade, tem.
— E o que é?
Sorri de lado, sem pudor algum. A parte minha sem papas na língua e inconveniente começava a despertar.
— Sexo. Depois dos treinos, fazer sexo sempre foi uma forma de aliviar a tensão do meu corpo. — Ela ergueu as sobrancelhas, atenta às minhas palavras. — É muito bom nesses momentos, sabia? Especialmente quando os dois estão estressados, com raiva, a coisa fica bem melhor.
— Então por que não saí com alguma garota interessante? Tenho certeza que não lhe faltam oportunidades.
— Por que acha isso?
— O que?
— Por que acha que não me faltam oportunidades?
— Porque... você é novo, está em boa forma, é bonito. Muitas garotas devem implorar por sua atenção.
Eu sorri, extremamente honrado pelos elogios.
— Na verdade, costumava ser assim, você sabe de toda a história. Muitas garotas ainda me convidam para sair, para sexo, coisas de uma noite só. Acontece que eu cansei desse tipo de relacionamento. Não quero garotas, quero mulheres. — Lambi os lábios, olhando-a nos olhos. — Mulheres independentes e fortes são a minha nova paixão.
— Você nunca comentou isso nas sessões. — Disse, quase em um sussurro. Eu dei de ombros.
— Esse é o tipo de conversa que costumo ter com as minhas amigas. — Sorri. — Você é a minha amiga, certo?
— Podemos dizer que sim, de certa forma. Mas quantas amigas você já teve? Amiga de ter esse tipo de conversa.
— Só uma. — Suspirei.
— Vocês ainda são amigos?
— Ela é minha ex-namorada agora.
Ela assentiu, terminando de comer e colocou o papel sobre a mesa.
— Então você está deliberadamente assumindo que não consegue manter apenas laços de amizade com uma garota? — Indagou, arqueando a sobrancelha.
— Não disse isso. — Cocei a nuca.
— Sim, você disse. Não exatamente com essas palavras, mas disse.
— Ok, talvez eu tenha dito. No que isso interfere?
Ela respirou fundo, sorrindo educadamente.
— Disse que somos amigos agora. — Falou.
Bingo.
— E daí? — Dei de ombros, despreocupado. Ela riu.
— Você sabe o que quero dizer, Alex. Seus joguinhos mentais não vão funcionar comigo.
— Droga. Eu estava indo tão bem. — Fingindo indignação.
— Não posso ser sua amiga.
Neguei com a cabeça.
— Sim, você pode. Eu quero muito que seja.
— Por que? O que te fez pensar que seremos bons amigos? Eu te dei algum sinal?
— Eu não sei. Talvez a forma como me conforta, como sempre está disposta a me ajuda — Olhei para o seu corpo. Ela estava linda apoiada na sua poltrona, ainda sentada no chão. — Como é boa... essas coisas que fazem das pessoas ótimas amigas.
— Talvez esteja confundindo as coisas. Fui apenas sua terapeuta. — Disse em um fio de voz.
— Falou bem, você foi, não é mais.
— Você é apenas um garoto, Alex.
— Isso é só o que a minha identidade diz.
Ela riu, negando com a cabeça.
— Não gosta de ter amigos mais novos? — Perguntei.
— Nunca foi algo que parei para pensar. Normalmente meus amigos têm a minha idade ou são mais velhos.
— Feliz em ser o primeiro. — Sorri.
— Você não é meu amigo.
— Essas coisas me machucam, doutora. — Ousei me aproximar de onde ela estava. A mulher se manteve estática, apenas me encarando. Estávamos a poucos centímetros de distância. — Eu quero muito ser o seu amigo.
— Não.
— Me dê um bom motivo.
— Eu te dou vários. Vamos ver, eu fui sua terapeuta, mesmo que eu não seja mais isso não apaga a relação profissional que tivemos. Segundo, você é sete anos mais novo que eu, enquanto você está começando a vida adulta, a vida profissional, eu já estou quase no fim, estabilizada. Terceiro, o conselho de psicologia odiaria saber da nossa amizade.
— Tudo besteira. Posso refutar tudo. — Ela ergueu as sobrancelhas, surpresa. — Primeiro, você foi minha terapeuta, definitivamente a pessoa que mais tem me ajudado nesses últimos meses e eu serei eternamente grato por isso, mas não é mais, mesmo que não apague a relação que nós tivemos, não significa que podemos ser amigos. Segundo, idade é só um número, garanto que serei um amigo muito melhor do que os que já teve na sua vida. Além do mais, sou atleta, terei resistência para fazer qualquer atividade que queira. — Brinquei. Ela riu, divertida. — Terceiro, eu estou pouco me fodendo para o conselho, diga-me onde é que eu direi isso na cara deles.
— Você é louco, Alex.
— Vê? Nós nos daríamos muito bem. — Ela me olhou nos olhos. — Sempre nos demos, na verdade. Fomos bons como paciente e terapeuta, não é?
— Sim, nós fomos.
— O que te faz pensar que não nos daremos bem como amigos?
— Aí é que está. Acho que nós nos daríamos muito, muito bem, mais do que eu gostaria de admitir.
Ousei me aproximar mais. Conseguia sentir o cheiro do seu perfume, Chanel N° 5, o inebriante e mais famoso cheiro das mulheres que nela parecia ser muito melhor. Seus lábios estavam entreabertos, sua respiração descompassada. Revirei minha mente para saber se aquilo era sonho ou realidade. Quando toquei sua coxa, olhei para sua boca, e senti que aos poucos sua guarda baixava, soube que aquilo era deliciosamente real.
— Eu também acho que nós daríamos muito bem, doutora. — Sussurrei com minha boca a pouco centímetros da sua.
— Alex... — Ela disse, com receio, mas sem se afastar.
— Você quer isso, Madeleine?
Toquei seu pescoço, passando o dedo sobre sua pinta e fui descendo até sua clavícula. Ela arfava, encarando-me. Aquela cena havia sido a mais sexy que havia visto nos últimos tempos, meu corpo inteiro arrepiava só de pensar o quão linda aquela mulher deveria ficar enquanto estava tendo um orgasmo. Nunca desejei tanto lhe proporcionar aquilo e assistir bem de perto.
Três batidas leves na porta fizeram com que ela se afastasse de mim em um supetão, como se estivesse cometendo um crime. Eu continuei no mesmo lugar, furioso com a maldita pessoa que havia atrapalhado o momento.
— Srta. Martin? Sou eu Walter. Só queria saber se a senhorita precisa de algo. — Era o zelador. Madeleine pigarreou, ajeitando os cabelos.
— Não, Walter, está tudo bem. Eu já estou de saída. Obrigada.
Quando o homem saiu, ela continuou em silêncio, sem olhar para mim.
— Não tem nada de errado no que estávamos fazendo, doutora.
— Claro que tem. Você não percebe, Alex? Isso é loucura. Eu não deveria ter permitido que chegasse tão perto. — Ela tentou se afastar, mas eu segurei sua mão.
— Se não me quisesse aqui, se não sentisse por mim o mesmo que sinto por você, as coisas não teriam tomado essa proporção. — Ela me olhou, arfando. — Você é inteligente demais para se proibir de sentir algumas coisas.
— Não é sobre o que eu quero sentir ou não, é sobre como devemos nos portar um com o outro. Você foi meu paciente.
— E serei sempre grato por isso, já disse.
— Você toma isso como uma piada. — Ela se soltou, levantando-se e começando a andar de um lado para o outro.
— Está se prendendo por causa do tal cara que estava com você no jogo?
— Quem? Andrew? — Ela parou de caminhar, voltando a me encarar, agora confusa. Eu assenti, enrijecendo o maxilar. — Claro que não. Andrew e eu já ficamos, mas hoje somos apenas amigos, estudamos juntos na faculdade.
— Então pare com isso. — Me levantei, indo até ela. — Tirando essa de paciente e terapeuta... você gosta de mim?
Madeleine continuou a me olhar sem dizer uma palavra. Queria beijá-la, pegá-la em meu colo e fazer com ela todas as coisas que vinha imaginando ultimamente, mas jamais invadiria seu espaço, a esperaria o tempo que fosse. Aquela mulher estava me deixando louco.
— Saia comigo. Vamos comer, vamos dançar, vamos para onde você quiser. Deixa eu provar que posso ser um amigo incrível.
Ela tentou não sorrir, mas foi em vão. Quando abriu um belo sorriso, negando com a cabeça, eu também sorri.
— Vá para casa, Alex. Tenha uma boa noite. — Disse.
— Isso foi um sim?
— Isso foi um tchau, pode ir embora.
— Ok. — Assenti. — Entendi. Voltarei em breve, não vou tomar sua resposta como algo definitivo. — Beijei sua bochecha lentamente, aproximando minha boca de seu ouvido, sussurrando: — Boa noite para você também, doutora.
Sorri quando vi seu rosto, sua confusão, e sai do consultório me sentindo vitorioso por ter avançado nossa relação exatamente como queria.
Nada disso é culpa minha, lembrem-se que nada depende de mim... hahahaha. O que acham que vem por aí?!?!
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Vejo vocês em breve! ♥️
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