Capítulo 10
Capítulo 10
"Estebán Zayas mandou um recado me chamando. Parece que Alana me deixou alguma coisa em testamento. E Danilo queria que eu estivesse lá na leitura e tal. É raro essas coisas acontecerem no Brasil. Muita burocracia e pouca eficácia". – Maurício pensava nisso e outras coisas – "Eu e Danilo conhecemos profundamente um ao outro. Acho que somos amigos desde a maternidade. Sabemos o que deixa o outro feliz, ou triste. Só pelo jeito de puxar o ar antes de uma conversa já sei o que pode vir pela frente. Até tentamos namorar no ensino médio. Mas, somos mais irmãos do que amantes. E eu o amo muito. Tanto que estou nessa situação maluca por causa desse amor".
Mesmo depois de todos esses anos, Mau ainda se lembrava de seu pai gritando sobre como era vergonhoso ter um filho gay, e como eu correu pra casa de Danilo, seu porto seguro. E depois Alana o mandando embora e deixando o cartão de Madame Dalila no seu bolso. Quando se estabeleceu no Jardins Suspensos ligou para o Dan e teve que implorar para ele não brigar com a mãe. Ele ficou puto por saber que a própria mãe mandou seu melhor amigo para um prostíbulo de criaturas sobrenaturais.
Não que sua vida tenha sido um mar de rosas. Mas, Maurício entendia o que Alana fez por ele. Deu a chance de sempre estar na vida de Danilo. Entender o que ele via e, mesmo não sendo o sonho de toda mãe, ele tinha um ofício, que lhe forneceu uma casa, dinheiro e dignidade. Esse era o jeito de Alana expressar amor. E Danilo nunca entendeu isso.
‒ Você mandou meu melhor amigo pra um puteiro! ‒ Maurício podia ouvir Danilo gritar. ‒ Mau é só um menino assustado como eu, mamãe!
Danilo não falou mais com a mãe. E fazia um pouco mais de um ano que retomou o contato com o irmão. Pelo menos era isso que Maurício sabia. Alana morreu sem dar tempo para que ela e os filhos pudessem limpar o relacionamento deles. E ele sabia o quão culpados os meninos deviam estar se sentindo.
A última vez que Mau viu seu melhor amigo foi na festa de boas-vindas do Zeca na matilha Zayas, dois dias antes de Caio aparecer no loft. E só deu uma passada rápida para dar seu apoio. Ele estava uma bagunça emocional e seu amigo veria isso como uma coisa física. Maurício não estava preparado para falar sobre suas paixonites com clientes. Essa era uma fraqueza que preferia deixar enterrada no fundo. Mesmo que fosse tão óbvia.
O carro parou na frente do edifício da matilha, Mau pagou e desceu. Respirou fundo e subiu as escadas da frente entrando no prédio. Pronto para enfrentar o que quer que a vida jogasse nele. De novo.
Ele nem entrou na sala e Danilo já lançou um olhar bravo ‒ Você tem muito o que me explicar, Mau. Você está bem, certo? Estebán me contou, mais ou menos, como sabia onde eu estava e qual foi sua participação nisso. Precisamos conversar em algum momento, tá bom?
‒ Eu tenho um compromisso e preciso estar em casa até as quatro da tarde. ‒ Maurício sussurrou.
‒ Não. ‒ Danilo grunhiu. ‒ Eu preciso ter certeza de que você está bem mesmo com toda essa merda que você fez. Porque se põe sempre em perigo para me salvar, Mau? Você faz essa merda desde que éramos pequenos. E eu te amo, e estou morrendo. E você vai ficar e me falar tudo o que está acontecendo.
O coração de Maurício se quebrou diante da fragilidade de seu melhor amigo. Ele só podia balançar a cabeça concordando. E esperar que desse tempo de fazer tudo.
No instante seguinte a sala lotou. Zeca sentou do lado do Danilo. Zayas conversava com o advogado que arrumava a papelada na mesa de jantar. Alessandro correu para o quarto e uivou seu desconforto por ter tanta gente estranha ao redor. Pablo e Vítor ficaram na cozinha dando privacidade para nós.
**
A coisa toda foi até rápida. Algumas orientações do que fazer com a casa. Desbloqueio de contas. Danilo abriu mão de tudo para o Zeca. E Alana deixou uma caixa para Maurício. Abrindo viram um colar e um anel pendurado. Um papel com instruções de usá-lo assim. Pendurado no pescoço. Logo que o recebesse. Apesar de Alana fazer muitas cagadas, ela sempre priorizou a segurança de quem amava. E foi com essa convicção que Maurício passou a corrente pela cabeça sentindo o anel bater no peito.
‒ Então, Mau ‒ Danilo disse com um sorriso assim que Maurício se sentou ao lado dele no sofá. Todos tinham saído alegando alguma tarefa e os deixando a sós. ‒ Estava começando a ficar preocupado, não via você há algum tempo.
‒ As coisas estão meio corridas ‒ disse Maurício, com a mão brincando com a corrente recém colocada. ‒ Não queria trazer meus problemas pra você, mas está tudo bem! Tudo está melhorando agora.
Dan olhou de soslaio. ‒ Mau, isso é... isso é um chupão?
Os olhos de Maurício se arregalaram, corando instantaneamente quando bateu a mão no pescoço. ‒ Uhhh...
Danilo caiu na gargalhada, provocando ‒ Oh, bem, acho que as coisas estão realmente melhorando, não é? Aposto que seu coração já está batendo por ele. Você é um mole, Maurício.
‒ Uh, bem, sim, é meio complicado. ‒ Mau gaguejou.
‒ Os relacionamentos sempre são. ‒ Assegurou Danilo.
‒ Não é um relacionamento, nem um cliente comum. É um acordo diferente e específico ‒ disse Maurício, tentando justificar o que .... realmente? ‒ Mas acho que você pode deduzir só de olhar pra mim, né ...
‒ Mau... ‒ Danilo cortou suavemente, seus dedos entrelaçando com os do seu amigo ‒ ... não espere estar morrendo para encontrar o amor da sua vida, ok?
‒ Dan, não fala assim. Eu não te dou permissão pra morrer. Nós vamos ficar velhos juntos, criando gatos e falando mal dos falecidos ...
‒ Esse é o plano ‒ Danilo falou com um sorriso.
‒ Você ainda acredita no negócio da mordida ... ‒ disse Maurício lentamente. ‒ ... mas tem riscos ... você confia mesmo na teoria da doutora Raquel?
‒ Não sei se poderia confiar em qualquer outra coisa ‒ disse Dan, obviamente cansado. ‒ Os tratamentos que existem não curam, só prolongam o sofrimento e dor ... Mas chega de falar de tristezas. Não te vejo desde que se esgueirou de mim na festa do Zeca.
‒ Bem, eu assinei um contrato de sangue, como você deve saber! ‒ Mau respondeu apressadamente. ‒ Eu precisava pensar rápido. Sei que você tem essa merda fatalista dramática e tal. Mas, estamos no meio deu um guerra entre cachorros grandes...
Danilo inclinou a cabeça, estreitou os olhos e começou a gargalhar e a tossir. ‒ Que merda de trocadilho é esse? – A tosse virou uma crise e ele inclinou-se e puxou uma máscara acoplada em um cilindro de oxigênio apoiado na lateral do sofá. – Não acredito que vou morrer assim – disse ele recuperando o fôlego. – por causa de um trocadilho bosta.
‒ Sim! ‒ Mau continuava rindo. ‒ Concorde que é mais digno do que morrer como um lobisomem enlouquecido.
Um silêncio caiu na sala. Só o barulho da respiração difícil de Danilo soava, opressora.
Maurício arregalou os olhos percebendo a merda que tinha falado – Desculpa, cara. Foi um ato falho. Eu te amo e estou com medo de te perder.
Danilo sorriu infeliz, assentindo. ‒ É uma possibilidade. Chega de coisas tristes e me fale do cara que te marcou no pescoço. Bem visível, hmmm. Possessivo, ele.
‒ Sim. ‒ Maurício sabia que seu rosto estava todo vermelho, era capaz de sentir o calor irradiando de sua pele. Ele não pôde deixar de sorrir quando pensou em Caio, suspirando quando acrescentou ‒ Mas acho que não vai durar.
‒ Por que não?
‒ Acho que ele não está procurando nada sério. ‒ Respondeu Maurício depois de alguns instantes, escolhendo suas palavras com cuidado.
‒ Ele é um idiota então... ‒ disse Danilo, bufando bruscamente. ‒ ... porque você é incrível. Alguém teria sorte em ter você. ‒ Parecia que ele podia sentir o quão desconfortável Mau estava se sentindo ao discutir sua vida amorosa, barra, profissional. ‒ Idiotas... todos eles. – Dan apertou a mão do amigo. – Mas, me diga quem é o imbecil da vez.
‒ Caio Marchetti ‒ Maurício cuspiu antes que perdesse a coragem. ‒ Mas ele é bom. Ele me amarra, bate na minha bunda, me fode como se não houvesse amanhã. Mas ... eu não sei explicar ... tem momentos que ele deixa escapara uma certa ternura. Eu sei que não é intencional, porque sempre que isso acontece ele esfria instantaneamente, como se eu não pudesse perceber esse lado dele.
‒ Ei, espera, volta a ficha. Você tá apaixonado por Caio Marchetti? O Sacarafaggio? O chefe do crime organizado do centro?
‒ O próprio.
‒ Deusa! Mau, você não tem senso de autopreservação?
‒ Está tudo bem. ‒ Mau mentiu inocentemente, forçando um sorriso tenso. Tanto quanto Danilo sabia, Maurício era um profissional treinado. Que já trabalhava no meio e para essas pessoas há anos. Formado na melhor casa do submundo.
‒ Bem? ‒ Danilo sondou.
‒ Sim! Estou, hum, é só temporário, ok? ‒ Mau gaguejou. Ele era um péssimo mentiroso, mas não queria que o amigo se preocupasse com ele. ‒ Provavelmente voltou ao meu contrato regular daqui seis meses.
Sobrancelhas franzidas, Danilo suspirou. ‒ Maurício, eu deixei um fundo pra você no meu testamento.
‒ O que? Testamento? Mas, você disse que não estava em seus planos morrer.
‒ Sim. ‒ Dan assentiu. ‒ Só que pode dar errado, né. Eu tento ser realista e com a sorte que eu tenho, penso sempre no pior resultado.
‒ Eu não quero seu dinheiro. Eu posso cuidar de mim mesmo. Eu sempre fiz.
‒ Sério. ‒ disse Danilo. ‒ Quero que seja feliz. Você não precisa parar de fazer o que faz se é o que gosta, mas terá a escolha que você não teve antes.
‒ Certo ‒ respondeu Maurício. Eu não vou nem discutir isso agora. Vou esperar essa mordida dar certo e você voltar todo lobo mal e aí sim te dar uns sopapos.
‒ Tem mais coisa que você quer contar? Sobre essa coisa com Caio?
‒ O quê? Não! O que mais teria? ‒ Mau gaguejou, esfregando a mão no rosto.
‒ Porque eu posso ler você como um livro. ‒ Dan disse com um pequeno sorriso.
‒ Alexandre Duarte me assediou. Querendo que bancasse o informante.
‒ Merda ‒ disse Danilo com um encolher de ombros. ‒ Ele sempre jogou sujo com você. Manda ele à merda.
‒ Eu mandei ‒ comentou Maurício, inclinando-se a frente nos cotovelos, segurando o queixo na mão.
‒ Sabe, estou muito feliz que você veio hoje. Eu te amo muito, Mau. Espero sobreviver à essa transformação e ter você mais presente na minha vida, ok?
‒ Eu não vou desistir de você. ‒ Mau insistiu em lágrimas, apertando os dedos de Danilo. ‒ Eu nunca vou desistir de você. – Ele repetiu.
‒ Eu espero que não, porque eu também não vou desistir de você, Maurício dos Santos.
Maurício engoliu em seco, enxugou as lágrimas e sorriu. – Isso. Só temos que trocar os gatos por cachorrinhos.
‒ Você é um idiota.
‒ Que te ama.
Os dois amigos de infância se abraçaram. E sentaram de novo.
Maurício puxou o telefone e viu que tinha tempo para almoçar e tomar um banho antes de Roberta chegar em seu apartamento. – Dan, eu vou indo.
Danilo respirou fundo, sorrindo fracamente. ‒ Vou dar um jeito de te manter em dia com as notícias sobre mim.
Fizeram as últimas despedidas e Maurício saiu pedindo um carro pelo celular. O Alfa Zayas deu um olhar de gratidão. Ele nunca se acostumaria a ver a fragilidade nesses homens duros. Tanto em Estebán como em Caio. Sacudiu a cabeça. De onde veio esse pensamento?
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Olá lobinhes,
já estava com saudades do Danilo. aaaaaaaaaa. lembrando que as histórias do Danilo e do Maurício são paralelas. então leia Morda-me para saber mais coisas sobre o Dan e o Estebán.
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bjokas e até a próxima att.
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