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☠ XXXII - A profecia se cumpre ☠

Quando percebeu o que estava acontecendo, Henrique correu para segurar Elisa, que tombava para trás com todo o poder liberado. Haya e Omar a soltaram ao mesmo tempo e a magia cessou. Por um momento, tudo ficou em silêncio. Então a coisa mais extraordinária aconteceu: o céu se abriu, as nuvens carregadas dissiparam-se e um novo espírito ergueu-se no céu. Tinha uma expressão mais amena e levava um manto brilhante às costas. Sumé.

Do outro lado do convés e já recuperada, Nadine o olhava boquiaberta:

— Pai?

O espírito não respondeu, mas à medida que sua forma aumentava, cobrindo metade do céu, o grande vórtice criado por Zumé começou a desacelerar, e tudo que antes era tragado para o olho do furacão voltava a se estabilizar. O Revenge deu um tranco para trás, sua quilha batendo no mar com um grande estrondo, fazendo a proa sair do vórtice quase intacta, o que era um milagre. Seus tripulantes — ou o que restavam deles — caíram uns por cima dos outros, sãos e salvos. Do alto de sua prancha, Skyller observava tudo com espanto e admiração. Ainda não fazia ideia de como sairia de lá de cima, mas seria eternamente grato por ter suas preces atendidas.

Somente quando o redemoinho cessou por completo é que puderam ver o estado de Libertália: uma ilha devastada, repleta de escombros e corpos por toda parte. Várias árvores haviam sido arrancadas e jaziam na praia como um lembrete funesto. A própria forma da ilha parecia distorcida, mas a questão é que ela continuava ali, mais firme do que nunca. No fim, estavam salvos.

Lentamente, o espírito fundiu-se às nuvens brancas, desaparecendo por completo. Passado aquele momento de letargia e estupefação, os piratas começaram a se levantar, checando as condições de suas embarcações para retornarem à costa da ilha. Uma corda foi lançada ao alto do mastro para que Skyller pudesse descer em segurança.

Nadine ainda encarava o céu, muito abalada com a aparição.

— Ele não disse nada... — articulou ela, sem saber se sentia-se grata ou frustrada por mais uma vez ter sido abandonada pelo pai. — Ele foi embora sem dizer nada...

Sarah a encarou com uma expressão impassível.

— Acho que foi o melhor que ele poderia ter feito.

Nadine resignou-se a aceitar o fato incontestável. Estava viva, ao lado das pessoas que mais amava, e isso era o máximo que poderia querer naquele momento. Ela olhou para a mãe, depois para Zaki e Eric, e os quatro se dirigiram para o fundo do convés, onde Elisa permanecia desacordada, a cabeça apoiada no colo de Henrique.

— Elisa, Elisa! — ele a chamava repetidamente, o semblante transtornado pelo medo, dando leves tapinhas em seu rosto. — Por favor, acorde!

Haya encontrava-se agachada ao seu lado, segurando um dos pulsos da garota com uma expressão desolada. Omar andava de um lado a outro da amurada, agitado demais para ficar parado.

— Ela conseguiu — disse Nadine, olhando para o bracelete aberto e caído aos seus pés. — O bracelete era a chave, afinal.

— O que isso importa se ela morrer? — tornou Henrique, com mais animosidade do que pretendia.

Nadine aproximou-se com cautela. Fez um gesto pedindo licença para examiná-la e abaixou-se para medir o pulso da garota. Era quase imperceptível, mas sua energia vital ainda estava ali.

— Ela ficará bem, só precisa de descanso.

Antes que Henrique pudesse responder, Omar voltou correndo do compartimento de carga:

— Vocês não vão acreditar! O tesouro desapareceu. Nem uma única moeda!

— O que? — grunhiu Sarah com raiva, indo verificar com os próprios olhos.

— Acho que isso significa que a profecia se cumpriu — sentenciou Haya com pesar, acariciando a face molhada de Elisa. — Sem tesouro, sem maldição.

Henrique verificou seu próprio pulso. A tatuagem com as coordenadas da ilha também havia sumido.

Uma linha dourada de sol cruzou o horizonte enquanto os barcos navegavam vagarosamente de volta para Libertália. Depois do que testemunharam, todos sabiam que nada mais seria como antes.

☠☠☠

Um mar de rostos ansiosos a olhavam de cima quando Elisa finalmente acordou. Ela ainda estava tonta e demorou um tempo para entender que tudo o que havia passado não era um sonho. Aquilo realmente aconteceu.

— Você está bem? — uma voz distante e vagamente familiar perguntou.

Elisa forçou o tronco para frente, mas assim que se sentou, suas vistas embaçaram. Mãos suaves a guiaram de volta para a cama, e só então ela reparou que não estava deitada em uma cama propriamente dita. Era mais uma maca improvisada feita com folhas de palmeiras que alguém conseguira reunir às pressas. Estavam na praia, ela podia distinguir o barulho das ondas se quebrando há poucos metros. O sol estava forte e esquentava sua pele, deixando uma poça de suor sobre a maca.

— Vá com calma — disse uma voz feminina próxima ao seu ouvido. — Tente sentar-se devagar.

Elisa acolheu o conselho e tentou novamente. Quando conseguiu encontrar uma posição minimamente confortável, ficou assustada com a quantidade de pessoas que a observava. Não fazia a mínima ideia do que estava acontecendo ali.

— Obrigado! — exclamou um dos homens sem o menor motivo.

— Você nos salvou! — disse outro com um sorriso desdentado e a cara suja.

Outros disseram o mesmo, com palavras gentis de agradecimento, e Elisa olhou ao redor, confusa, porque tudo o que recebera daqueles piratas desde que chegou à Libertália foram ameaças de morte e agressividade gratuita. Mas então seus olhos encontraram os de Henrique e seu coração imediatamente se acalmou.

— Você está bem? — repetiu ele, e desta vez ela conseguiu identificar a voz.

— Estou, acho que sim... — Elisa pressionou a testa com as mãos. — Do que eles estão falando? O que aconteceu?

Henrique abriu a boca para responder, mas nesse instante Skyller abriu passagem entre os piratas, chegando até Elisa com um semblante esgotado, mas muito mais suave do que ela se lembrava. Ele a cumprimentou com uma reverência exagerada que ela não sabia como retribuir. Trocou um olhar nervoso com Henrique, que apenas deu de ombros.

— Eu, em nome de todo o povo de Libertália, a cumprimento por ter tido a bravura e coragem necessárias para confrontar nosso inimigo mais antigo. Por salvar nosso lar e nossas vidas, lhes seremos eternamente gratos. Tenham a certeza de que sempre serão bem-vindos à Libertália e que poderão contar conosco como seus mais sinceros amigos.

Elisa ficou paralisada com aquela cena improvável, encarando-o em choque.

— Você tentou me matar — foi tudo o que conseguiu pensar como resposta.

Por um instante um silêncio constrangedor instalou-se entre eles. Henrique viu-se na obrigação de amenizar o clima:

— Elisa ainda está muito abalada com tudo isso, não se recuperou de todo do desmaio. Se puder dar um tempo a ela...

Ele assentiu gravemente.

— É claro! Apenas peço que nos perdoem pela forma como os tratamos quando chegaram aqui. Não fazíamos ideia de que estávamos diante da pessoa que nos libertaria da maldição do tesouro de Eldorado.

Ao mencionar o tesouro, o coração de Eisa disparou.

— O tesouro! — Ela apertou a mão de Henrique, subitamente desperta. — Onde está? Precisamos pegá-lo!

Skyller franziu o cenho, sem entender o motivo de tanto alarde. Mas Henrique, que sabia de toda a história, a fitou com tristeza.

— Eu sinto muito, Elisa. O tesouro se foi assim que você liberou todo o poder do bracelete. Nadine e Zaki acham que os espíritos o reclamaram de volta para reequilibrar as forças da natureza e colocar um fim a todo o mal causado.

— Mas... esse tesouro era... minha única esperança de acabar com a maldição da minha família.

Elisa deixou-se afundar em um choro profundo. Talvez seu irmão já estivesse morto àquela altura e somente a possibilidade de nunca mais poder vê-lo sadio e saltitante a despedaçava por dentro.

— Isso não é justo! Ele é só uma criança inocente, não pode pagar pelos erros dos outros.

— Eu sei... — Henrique tentou consolá-la, mas não sabia o que dizer.

Nesse instante, uma brisa soprou do mar e os piratas que estavam próximos afastaram-se, formando um corredor por onde um homem de meia idade coberto por um manto que arrastava-se pela areia aproximou-se de Elisa. Ele carregava um cajado, o mesmo que ela vira em sua visão, e por mais que ele parecesse um homem comum, logo ficou claro que se tratava do espírito Zumé/Sumé, pois uma aura de poder pairava ao seu redor. Talvez aquela fosse a mesma forma que ele havia assumido quando concebera Nadine.

— Fique tranquila — ele disse em uma voz potente e carregada. — Os deuses ouviram suas súplicas e resolveram aceitar o tesouro como forma de reparar a maldição. As duas maldições. Quando você usou o poder do bracelete, a intenção de sua alma ficou clara. Assim como você pôde ver o mal causado séculos atrás através de nossos olhos, nós também enxergamos como a maldição de William Kidd têm causado grande sofrimento para a sua família, geração após geração. O tesouro não existe mais, o equilíbrio foi restaurado.

— Isso quer dizer que meu irmão vai viver? — disse Elisa, hesitante.

— Isso você terá de descobrir por si própria — o espírito virou-se, fazendo um gesto amplo com as mãos. — Por ora, desfrutem da segunda chance que vocês conseguiram. A ilha está livre das energias malignas, vivam com sabedoria.

— Obrigado — agradeceu Skyller e o espírito voltou-se para ele.

— Espero não me arrepender de minha escolha.

— Eu garanto que não irá — tornou Skyller, fazendo uma reverência exagerada.

Sumé/Zumé começou a caminhar para longe, mas antes que sumisse para sempre, acenou com as mãos para cima.

— Essa magia malgaxe é realmente interessante. Preciso dar uma palavra com a minha filha antes de retornar para o plano espiritual.

Com essa deixa, sua forma oscilou até desaparecer, deixando todos os presentes de boca aberta. Elisa conseguiu levantar-se com a ajuda de Henrique e aproximou-se de Skyller. Suas mãos suavam de ansiedade.

— Precisamos de um barco para voltar ao nosso mundo.

— Esperem só mais um pouco, vocês não podem partir assim — pediu ele em um tom que pretendia ser gentil, mas sem de fato abandonar sua autoridade de capitão pirata. — Vamos preparar uma despedida adequada e amanhã ao nascer do sol vocês estarão prontos para nos deixar.

— Não é necessário — precipitou-se Henrique, porque era uma insensatez fazer uma festa quando havia se perdido tantas vidas e a ilha havia se transformado em uma montanha de escombros.

— Não me ofenda, rapaz. Nossos amigos irão querer se despedir de forma adequada e vocês não podem recusar nossa hospitalidade pirata.

Henrique olhou para Elisa, cauteloso. A garota sabia que ele estava preocupado com ela, mas não havia nada mais a ser feito. Ela podia esperar mais um pouco até reencontrar sua família, por mais que a ideia agora lhe causasse um medo descabido.

— Tudo bem, nós podemos ficar.

☠☠☠

Com a magia da ilha extinta, Libertália seria só mais uma ilha comum no meio do oceano, o que a deixaria vulnerável para possíveis exploradores e governos de territórios próximos. Por esse motivo, Henrique e Elisa passaram o resto do dia em reunião com Skyller, Sarah, Nadine e Zaki para discutir sobre a segurança de Libertália. Os celulares que Skyller havia confiscado agora tinham sinal, mas para poderem estabelecer uma comunicação entre eles era preciso mais que a instalação de uma rede de energia elétrica, o que foi bem difícil de explicar, mas no fim o chefe pirata ficou bem animado com a inovação tecnológica. Zaki garantiu que com a ajuda da magia de Nadine poderiam criar um novo feitiço protetor ao redor da ilha, para que ela permanecesse oculta dos curiosos. Reconstruiriam Libertália como uma nova ilha, mais moderna e segura para todos. Teriam muito trabalho e eles precisariam da ajuda de Henrique e Elisa para muita coisa, mas no fim valeria a pena.

Durante a tarde foi organizada uma homenagem fúnebre aos mortos, e Skyller fez questão de destacar John Fox e Louise entre eles. Os piratas do bando de Fox ficaram muito revoltados quando souberam da traição de James e aceitaram a oferta de Skyller para se juntar a eles. Agora todos faziam parte da mesma comunidade.

Antes do pôr-do-sol, uma tenda improvisada tinha sido erguida na praia, logo abaixo da colina onde antes ficava o forte. Os piratas espalharam tochas ao longo de toda a sua extensão, produzindo uma iluminação alaranjada ao ambiente. Uma bancada de madeira havia sido posicionada estrategicamente ao centro da tenda, com tudo o que conseguiram encontrar de comida e bebida: algumas velhas garrafas de rum que haviam sido resgatadas dos navios, peixes frescos grelhados (Elisa não fazia ideia de como tiveram tempo de pescar), muitas frutas recolhidas das árvores que por um milagre não haviam sido arrebatadas pela tempestade, uma garrafa de vinho da reserva especial de Skyller.

Elisa olhava tudo com admiração e uma pontada no peito. Quando chegou à Libertália, tudo o que queria era ir embora o mais rápido possível. Agora que finalmente sentia-se como parte daquela estranha comunidade, custava-lhe deixar todos para trás. Pensando em sua escola e em tudo o que lhe aguardava quando chegasse em casa, ela pensou que, não fosse por sua família, poderia passar o resto da vida naquela ilha com Haya, Henrique, e todos os amigos que tinha feito até então.

Com isso em mente, Elisa decidiu aproveitar ao máximo o tempo que lhe restava em Libertália. Ela olhou ao redor, localizando Haya a um canto afastado do grupo e aproximou-se para trocar algumas palavras. Quando chegou perto, no entanto, julgou que poderia ter cometido um erro, porque Haya conversava com Skyller, que parecia desconsolado. Elisa conseguiu ouvir o fim da conversa:

— ...Louise morreu sem me perdoar, Haya. Jamais esquecerei o olhar de decepção no rosto dela.

— Ela sabia que você a amava, Skyller. Tenho certeza de que iriam se acertar se tivessem tido tempo.

Ele abriu a boca para respondê-la, quando viu Elisa ali parada, olhando para eles, e imediatamente saiu para o outro lado com a expressão sombria.

— Sinto muito, não queria atrapalhar.

Haya abriu um sorriso.

— Minha querida, você nunca atrapalha. Skyller ficará bem — ela disse a última parte mais para si mesma do que para Elisa.

Apesar das palavras de Haya, o clima pesou sobre elas. Elisa tirou a adaga que ainda carregava consigo, estendendo-a a Haya. A pirata balançou a cabeça, recusando-se a aceitá-la de volta.

— Ah, não. Eu a dei de coração, é sua.

— Eu agradeço, e ela me foi bem útil esse tempo todo, mas não posso aceitá-la. É sua, sempre foi. Além disso, já fiquei com o bracelete malgaxe — Ela sacudiu o braço para mostrá-lo. — Me lembrarei de você sempre que olhá-lo.

Haya encarou o objeto cortante com tristeza, enfim pegando-o de Elisa.

— Como fará para se defender sem uma arma?

Elisa abriu um largo sorriso.

— Eu aprendi muitas coisas enquanto estive aqui, mas não vou precisar de uma arma no meu mundo. Sei me defender sozinha.

Haya a olhou com um orgulho mal disfarçado. Então uma risada alta as despertou e elas viraram-se para encontrar um grupo bem animado ao redor da mesa: Henrique, Thomas, Sarah, Simon, Nadine, Zaki, Eric, Oliver, até mesmo Omar, todos confraternizando juntos. Haya segurou Elisa pelo braço, puxando-a em direção a eles.

— Venha, vamos nos juntar à festa.

Elisa nunca se sentiu tão à vontade na vida. Comeu e ouviu todo o tipo de histórias possíveis. Até mesmo arriscou-se em gole de rum que Henrique lhe ofereceu. A bebida desceu queimando em sua garganta e ela fez uma careta que rendeu boas gargalhadas dos piratas. Em algum momento ela se aproximou de Thomas e eles riram ao se lembrar da maneira como se conheceram. Elisa confessou que desejava voltar pelo mesmo portal em sua taverna, assim poderia voltar quando quisesse. Mas quando o ex-oficial começou a ficar melancólico, ela lhe prometeu que faria o possível para voltar em breve.

— Posso ajudá-lo a se livrar de Sarah, se quiser — confidenciou ela, após certificar-se de que a pirata não estava por perto.

— Ah, não, está tudo bem — Ele balançou as mãos para frente, em um gesto tranquilizador. — Sarah não é tão ruim assim.

Só então Elisa percebeu, pelo olhar embriagado que Thomas lançava à mulher e seu sorriso lânguido, que ele na verdade gostava dela.

O resto da noite seguiu-se com cantigas piratas cantadas em torno de uma grande fogueira improvisada às pressas. Elisa arranjou um lugar para se sentar com Henrique na areia e apoiou a cabeça em seu ombro, sorrindo e relaxando enquanto apreciava o show. E pela primeira vez desde que chegara à Libertália, ela sentiu-se em casa.

☠☠☠

Os primeiros raios de sol já tocavam o mar quando eles se encontraram para a última despedida no píer (ou o que conseguiram reconstruir de um píer em um dia). Skyller tinha concedido um dos barcos de porte menor para levar Henrique e Elisa de volta, de modo que não fosse muito difícil manejá-lo com apenas duas pessoas a bordo. Skyller os havia ensinado as regras básicas de navegação, como se orientar pela bússola, manejar o leme e os diferentes tipos de vela e o que fazer com elas dependendo da intensidade do vento.

Assim, eles reuniram o que restava de seus pertences em suas mochilas e estavam prontos para a partida. Um grupo pequeno reuniu-se em torno deles dessa vez: Haya, Simon e Omar, Nadine e Zaki e Eric e Oliver. Elisa dirigiu-se aos três primeiros.

— Fico muito feliz que tenham se reencontrado — ela sorriu, olhando para Haya e Simon. — Sei que ainda sente falta de seu filho Louis, mas agora não estará mais sozinha.

Haya e Simon trocaram um olhar entusiasmado. A mão da pirata apertou o ombro de Omar.

— Não se preocupe com isso! Resolvemos adotar Omar como nosso filho, já que ele carrega o nosso sangue nas veias. Finalmente seremos uma família!

No entanto, apesar da empolgação dos pretensos pais, Omar cruzou os braços, fazendo uma carranca feia.

— Eu não aceitei nada disso — protestou ele, muito mal-humorado. — Não sou nenhuma criança para ser o filho de alguém, já tenho setenta anos de idade!

Elisa deixou escapar uma risada pelo nariz, porque sua atitude parecia exatamente a de uma criança.

— Bem, se você já tem setenta anos, eu tenho pouco mais de trezentos — raciocinou Haya, colocando as mãos na cintura. — Acho que é idade mais que suficiente para ser sua mãe.

Exasperado, Omar puxou Elisa de lado, falando em seu ouvido:

— Essa mulher está completamente louca. Por favor, me tire daqui!

Elisa passou um braço pelos ombros do garoto, o apertando em um abraço enquanto respondia:

— Omar, eu não teria como explicar para minha mãe que deveríamos abrigar o irmão do meu avô que se parece como um menino de doze anos. Libertália é a sua casa, fique com eles e seja um garoto bonzinho.

Ela beijou sua bochecha, que Omar fez questão de limpar com as costas da mão, fingindo nojo. Mas Elisa reparou que um princípio de sorriso se formava no canto de sua boca. Ela riu, e em seguida virou-se para Nadine e Zaki.

— Vocês dois, muito obrigada por tudo. Eu não teria conseguido usar o bracelete sem aquele feitiço protetor que nos deu algum tempo extra.

Por algum motivo, suas palavras deixaram Nadine estranhamente séria. A intensidade daqueles olhos azuis ainda a assustava um pouco.

— Então é isso? Vai nos agradecer só pela magia? Onde fica a amizade nessa história?

Por um instante de tensão, Elisa congelou no lugar. Então ela olhou para Zaki, que tentava reprimir uma risada.

— Eu... me desculpe, é claro que a amizade importa! — disse Elisa, embolando as palavras. — Quer dizer, importa muito, mais que a magia até...

— Relaxe, Elisa — tornou Zaki. — Nadine está apenas sendo implicante.

Nadine revirou os olhos para o namorado, mas logo em seguida abriu um sorriso que desfez toda a sua pose de pirata-bruxa durona.

— Mas é claro — disse ela. — Até porque, depois de ontem, teremos muito o que tratar sobre magia. Meu pai me procurou, sabe? E conversamos sobre essa questão de eu agora ser uma feiticeira com magia mista. Ele não tem mais influência na ilha, mas estava muito interessado na cultura malgaxe. Zaki e eu trabalharemos juntos para mantê-la viva, como Makanda queria.

Vê-la falando com tanta empolgação e cheia de planos para o futuro enchia Elisa de felicidade pela amiga. As duas se abraçaram em uma última despedida.

— Vou sentir sua falta!

— Eu também — respondeu Nadine, e então sussurrou para que só Elisa pudesse ouvir o fim de suas palavras. — E vê se agarra logo o Henrique. Vocês dois ficam fofos juntos.

Elisa sentiu o rosto queimar de vergonha e rapidamente olhou para o lado, preocupada de que ele estivesse por perto. Henrique ainda se despedia de Haya, Simon e Omar, totalmente alheio à conversa dela com Nadine. Ela deu um sorriso amarelo, sem saber o que responder, apenas murmurando algo ininteligível para a amiga.

Antes que perdesse totalmente a capacidade de fala, ela se dirigiu à última dupla do dia: Eric e Oliver, ainda parecendo muito abalados com a perda da mãe. Ela decidiu falar primeiro com o irmão mais novo:

— Ei, mocinho, pode voltar a me visitar quando quiser. O Beto ficará feliz em ter seu companheiro de videogame de volta.

Ao falar do irmão, Elisa sentiu uma pontada no peito. Ainda não tinha certeza se estava tudo bem com ele e a incerteza a dilacerava por dentro.

— Não sou um mocinho, sou um pirata sanguinário — respondeu ele, muito indignado. — E diz pro Beto que vou acabar com ele da próxima vez.

O jeito dele, agressivo e afetuoso ao mesmo tempo, fez Elisa rir. Mas sua expressão se desfez assim que seu olhar voltou-se para Eric, encontrando um rosto destruído.

— Eric, sinto muito por não termos tido mais tempo para nos conhecer melhor. Vou sentir a sua falta também.

— Está tudo bem, é só que... isso tudo me deixa meio emotivo.

Ele forçou um sorriso que parecia mais uma careta. Elisa não tinha certeza se "isso tudo" se referia à morte da mãe, à destruição da ilha ou ao fato de ela ter frustrado suas esperanças de acontecer algo mais entre eles.

— Sua história não termina aqui. Tenho certeza de que ainda vai ser muito feliz.

— É claro, preso a uma ilha destruída e tendo que alcançar todas as expectativas de sucessão ao meu pai, serei muito feliz.

Eric tentou fazer graça, mas Elisa jamais riria do sofrimento de um amigo. Ainda mais considerando suas suspeitas de que tinha uma parcela de culpa naquele sofrimento.

— Eric, você não precisa passar o resto da vida em Libertália. O mundo é muito grande para você se prender às expectativas do seu pai. Além disso, sabe que meu convite a Oliver também se estende a você. Ficarei muito feliz em receber os dois na minha casa. Posso te mostrar a cidade e então vamos nos divertir muito.

Eric sorriu com gratidão, e pela primeira vez Elisa sentiu que era sincero.

— Eu agradeço pelo convite, embora seja muito improvável que isso venha a acontecer algum dia. — Elisa abriu a boca para protestar, mas Eric a cortou com um gesto de mão. — Eu também vou sentir a sua falta, então trate de ser feliz. Agora vamos parar com essa sessão de melancolia que isso já se estendeu demais.

Elisa o envolveu em um abraço apertado, que foi correspondido com a mesma intensidade. Ela beijou sua bochecha, desejando que ele ficasse bem, e isso foi tudo.

Dez minutos depois, ela embarcava com Henrique no que esperava que fosse sua última viagem marítima pelos próximos seis meses. Depois de acenar para todos, o barco começou a se afastar da orla da praia para ganhar o mar aberto. O calor do sol e a brisa agradável indicavam um bom dia para a navegação.

Em algum ponto da viagem, com o curso estabelecido e as velas aprumadas, Elisa notou o olhar de Henrique sobre ela e imediatamente sentiu uma agitação gostosa na barriga. Corou ao pensar nas últimas palavras de Nadine, mas achava que ainda não estava pronta para dar esse passo.

— Sinto muito pelo tesouro — ela acabou dizendo, como desculpa para quebrar o clima entre os dois. — Sei que ele era importante para você. Seu passaporte para a faculdade.

— Elisa — Ele sorriu gentilmente. — Existem outras formas de ingressar em uma faculdade de medicina. Posso fazer cursinho no ano que vem e tentar uma pública. E quanto a esse tesouro, ele nem era tão grande coisa assim.

E dando de ombros, Henrique aproximou-se da amurada, apreciando a vista. A viagem seguiu tranquila, sem grandes acontecimentos. Sentada no convés, Elisa relaxou, pensando no quanto apenas a presença física de Henrique ali era capaz de acalmá-la.

Ahoy, marujos! Como passaram esse fim de ano? Espero que bem!

O que acharam do capítulo de hoje? Gostaram ou esperavam algo diferente para o desfecho? Me contem nos comentários!

Semana que vem eu volto com o último capítulo e o epílogo da história. Aproveitem que está acabando ;-;

Antes de me despedir, quero compartilhar com vocês essa ilustração que meu irmão fez para a história:

Que tal??

Antes de sair, não se esqueçam de votar!

Bons ventos e até a próxima ;)

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