☠ XI - Laço quebrado ☠
Na manhã seguinte, a perna de Elisa já não doía mais, o ferimento quase completamente curado graças aos cuidados de Makanda. No entanto, ainda não tinha conseguido agradecê-la apropriadamente, uma vez que a mulher insistia para que retornassem à vila de piratas de Skyller, ideia que lhe dava calafrios. Como poderia voltar de bom grado para o mesmo lugar em que quase fora executada no dia anterior? Mesmo para os padrões de bizarrice de Libertália, aquilo era uma loucura.
Enquanto caminhava sozinha pela orla da praia, a maresia suave acariciando seu rosto para lembrar-lhe que nem tudo sobre aquele lugar era estranho e anti-familiar, ela deparou-se com a figura séria e concentrada de Nadine. A garota olhava para baixo, para as próprias mãos, de cenho franzido e lábios apertados. Sua expressão era de profunda derrota, o que fez Elisa hesitar em abordá-la.
— Ah, é você — disse ela sem emoção alguma ao notar a aproximação, endireitando o corpo e frustrando as intenções de Elisa de dar a meia volta e sair sem ser notada. — Eric me disse que já estão se preparando para voltar à vila.
Elisa demorou um segundo para compreender o significado implícito de sua fala.
— Você não virá conosco?
— Não... — ela disse, a voz distante. — Ontem à noite eu tentei fazer contato com o meu pai com a ajuda de Zaki, mas como sempre, tudo o que recebi foi o seu silêncio. Makanda acha que devo tentar de novo, que algo grande está para acontecer e que ele pode querer falar comigo a qualquer momento.
— Você deve estar ansiosa por isso, afinal é o seu pai.
As íris azuis de Nadine tornaram-se mais frias.
— Não por isso. Se ele realmente fizer contato, não será por mim. Nunca houve qualquer sentimento de paternidade de sua parte.
— Eu sinto muito...
Elisa refreou o instinto de querer falar sobre seu próprio pai ausente. Em pouco tempo de convivência, aprendera que o humor de Nadine podia ser muito instável, e não estava a fim de testá-lo tão cedo.
— E você? Preocupada com o retorno à vila?
— Por mim não voltaríamos lá — ela torceu o nariz. — Nada pessoal, mas não curto muito voltar a lugares onde tentaram me matar.
Nadine abriu um sorriso divertido, relaxando pela primeira vez.
— Confie em Makanda, ela deve ter um bom motivo. Além do mais, Skyller é durão, mas também é um líder sensato. Quando vocês lhe entregarem o diário, ele ficará grato, e em troca desistirá de sua execução. Com a guerra se aproximando, ele terá coisas mais importantes com o que se preocupar.
— Henrique é contra entregar o diário, e eu também não sei se é o certo dá-lo a Skyller assim, de mão beijada...
— Vocês não têm escolha. Mesmo com a intervenção de Haya, se quiserem sobreviver, terão que provar lealdade à Libertália, e essa é a melhor forma.
Elisa a encarou por um instante. Realmente não havia nenhuma escolha, uma vez que o diário encontrava-se muito bem guardado com Eric, e ele não o daria a ninguém exceto a seu próprio pai.
— Pronta? — inquiriu uma terceira voz à distância.
Elisa virou-se para se deparar com o estranho grupo formado por Eric, Henrique, Makanda, Zaki e dois malgaxes que dançavam à fogueira na noite anterior. Henrique carregava um saco de couro preparado por Makanda, mas sua fisionomia estava um caco. Parecia não ter pregado os olhos a noite toda. Em contrapartida, Eric vinha com a expressão relaxada. Tinha colocado uns óculos escuros que encontrara na mochila de Henrique, o que o fazia parecer uma mistura de cowboy com piloto da segunda guerra mundial.
Zaki parecia exatamente o mesmo do dia anterior, e sem esperar por qualquer resposta, caminhou até Nadine, com quem trocou um olhar aflito. A tentativa de contactar o pai de Nadine devia ter-lhe sugado as energias, mas ele se esforçava em não demonstrar fraqueza.
— Se temos mesmo que ir, que seja logo — disse Elisa por fim, tentando parecer segura de si.
— Eu preparei uma chalupa — explicou Makanda. — Vocês farão uma viagem tranquila por mar até a vila, é mais seguro do que ir pela floresta.
Henrique bufou, inconformado.
— Não é o caminho que me preocupa, mas o destino. Estamos indo direto para a toca do lobo.
Makanda o olhou com curiosidade.
— No entanto, o Lobo já se encontra em sua família há alguns séculos.
Elisa observou enquanto a cor do rosto de Henrique o abandonava.
— Não me lembro de ter falado o meu sobrenome — disse ele, engolindo em seco.
— Não era necessário — tornou ela calmamente, com um sorriso brando. — Você anseia encontrar o seu destino. Ir até Skyller é o meio mais rápido e curto de chegar até ele.
— Mas...
Henrique parecia ter perdido a fala, lançando um olhar nervoso a Elisa. O que mais ele poderia estar escondendo?
— Estamos perdendo tempo — observou Eric. — Elisa tem razão, é melhor ir logo.
Makanda assentiu gravemente, virando-se para os malgaxes que a acompanhavam.
— Ajudem-os a içar o navio — e voltando-se para Eric. — Você sabe o que tem que fazer.
Enquanto se preparavam para subir a bordo, o garoto aproximou-se da prima.
— Sarah não ficará feliz em saber que você ficou aqui.
Nadine fez uma careta.
— Ela não manda em mim.
Foi tudo o que disseram como despedida.
A chalupa era uma embarcação pequena, com apenas um mastro, mas ainda assim impressionava. Elisa nunca tinha visto um barco daqueles de perto e não fazia ideia do que fazer para mantê-lo navegando, o que era assustador, uma vez que somente os três viajariam nele.
— Não se preocupe — disse Eric, lendo seus pensamentos. — Não sou um grande navegador, mas sei como nos manter em movimento até o nosso destino, então é só seguir as minhas instruções.
Apesar do sorriso tranquilizador, Elisa não se convenceu daquilo. Os dois homens malgaxes andavam apressados de um lado a outro, cortando cordas e içando velas com uma habilidade de que ela jamais seria capaz.
— Estamos juntos nessa — ela ouviu a voz séria de Henrique ao seu lado, tirando-a de seu transe. — Vamos lá!
O processo de embarque não demorou muito, e logo os três tinham zarpado, deixando Nadine e os malgaxe para trás. Tendo apenas as águas infinitas do mar como companhia, estavam lançados à própria sorte.
☠☠☠
Após a longa jornada embrenhada na floresta, sem dormir e sem comer, Haya finalmente chegara à vila de piratas. Tinha sido uma noite exaustiva e sua aparência devia estar horrível, mas ela não se importava com isso no momento. Tivera muito tempo sozinha para pensar em sua situação em Libertália, e quanto mais raciocinava sobre as palavras de James e as atitudes de Skyller, mais revoltada ficava. Agora que finalmente estava ali, sua vontade de encontrar-se com o líder dos piratas para avisá-lo sobre a ameaça de Fox desaparecera. Antes de qualquer coisa, precisava tirar a história de James a limpo.
Por esse motivo, esgueirou-se por entre a vegetação, deslocando-se discretamente em direção à taverna de Thomas para não ser vista. Há uma distância segura, espreitou sobre uma mureta, e ao certificar-se que Sarah não estava por perto, nem ninguém para atrapalhá-la, adentrou ao local como um furacão, quase causando um ataque cardíaco em Thomas.
— O QUE? — gritou o homem espantado, deixando uma panela cair ao chão enquanto corria para se esconder atrás do balcão. — Eu não fiz nada. Sou inocente, eu juro!
Haya revirou os olhos.
— Thomas, sou eu. Saia daí!
Ainda tremendo, o homem engatinhou o suficiente para que apenas sua cabeça aparecesse por detrás do balcão. Ao ver o estado de Haya, seus olhos arregalaram-se, parecendo ainda mais assustado do que antes.
— O q-que... o que houve com você? Mais invasores surgiram?
— Não, seu cabeça de sardinha, eu só quero falar com você — explicou ela, arrastando uma das cadeiras e sentando-se de forma rígida. — Mas aproveite que está aí atrás para me servir uma caneca de rum com um pouco de pão. Estou seca!
Thomas apressou-se em atender o pedido, quase caindo durante o processo. Ainda tremendo, depositou a caneca na mesa à frente de Haya. Por sua vez, ela o agarrou pelo braço antes que ele pudesse raciocinar.
— O que sabe sobre um pirata chamado James Blythe? — inquiriu em tom baixo, porém urgente.
À menção daquele nome, a expressão de Thomas mudou completamente, endireitando os ombros e enrijecendo os músculos. Seu rosto endureceu, tornando-o sério e quase fazendo-o parecer novamente um bravo oficial da marinha.
— Pirata? — repetiu com desprezo. — Quando o conheci, pensei que fosse um homem decente.
Haya levou o rum até a boca, bebendo a metade de uma golada só, sem desgrudar os olhos de Thomas.
— Ele tem esse efeito nas pessoas — ironizou, limpando a boca com as costas das mãos. — Nunca é quem diz ser.
Thomas a encarou de volta.
— Ele a enganou também?
— Mais do que gostaria de admitir — disse, revirando os olhos em seguida. — Mas isso não vem ao caso. Ele era seu superior, não era? Por acaso o mandou em alguma missão suicida ou algo do tipo e por isso você acabou em Libertália?
— Bem, sim... — suspirou ele, abandonando qualquer resquício de sua máscara de taverneiro para sentar-se à frente de Haya. Era estranho voltar a falar sobre sua antiga vida depois de tanto tempo. — Eu estava em uma missão em que tinha que encontrar Skyller em seu esconderijo, mas não para prendê-lo, como era de se esperar, e sim para entregar-lhe algo.
— Sim, o que era? — pressionou Haya.
O olhar de Thomas vacilou.
— Acho que não devia estar falando sobre isso. Se Skyller não te contou, é porque não queria que você soubesse, e se descobrir que eu contei... pode querer me matar de novo. Veja, tenho conseguido viver em paz até hoje, não quero arranjar confusão...
Haya bateu com a mão sobre a mesa com força, derramando o restante do rum e assustando Thomas.
— Você vai arranjar confusão se não me disser o resto! Além do mais, James está de volta, ele mesmo me contou sobre a missão, eu apenas vim confirmar a história.
A expressão de Thomas tornou-se uma salada mista de emoções: raiva, ressentimento, medo, insegurança, dentre outros que Haya não conseguiu identificar.
— E-ele está de volta? Como é possível...?
— Já faz algum tempo que parei de questionar a lógica deste lugar. Agora pare de enrolar e diga logo o que era essa encomenda antes que eu perca a paciência.
Thomas lutou para se recompor. Não era fácil saber que seu antigo chefe - a pessoa que o condenara a uma vida de prisioneiro em Libertália - estava de volta e continuar conversando como se nada tivesse acontecido.
— Era um mapa... — conseguiu dizer por fim. — Um mapa da sua prisão, indicando os pontos vulneráveis. Acho que Blythe queria que Skyller a salvasse da forca, e por esse motivo estou condenado a passar o resto dos meus dias nesta ilha, escravo dos caprichos de Sarah.
— Pensei que você gostasse dela.
Thomas bufou, de mau humor.
— Eu não tenho alternativa.
— Pois bem, obrigada pelo esclarecimento — concluiu ela, batendo os dedos sobre a mesa e levantando-se em seguida. — Agora tenho outro assunto para resolver.
— Por favor, não conte a Skyller...
— Fique tranquilo, ele não saberá — disse, encarando-o seriamente antes de partir. — Ao contrário de James Blythe, sou uma pirata de palavra.
☠☠☠
A chalupa encontrou as docas da vila antes que Elisa percebesse. Esperava que fosse uma viagem longa, mas quando deu-se por si, Eric já os instruía para que pudessem atracar.
— Recolher vela, soltar âncora — dizia ele firmemente, entre outras coisas que Elisa entendia vagamente.
No entanto, contra todos os prognósticos, a embarcação conseguiu alcançar o ancoradouro, e após realizarem todas as amarrações que Eric recomendara, os três desembarcaram.
— Eric! — gritou um dos homens do cais, correndo até eles. — O capitão estava doido a sua procura.
— Pois diga a ele que trago novidades.
O sujeito assentiu, lançando um olhar atravessado para Elisa e Henrique.
— Trouxe os fugitivos de volta, hein? — disse ele com um sorriso seboso. — Prepararemos uma festa ainda maior que a primeira para recebê-los.
Os músculos de Henrique enrijeceram, já preparando-se para o ataque. Porém, Eric cortou o homem, assumindo o controle da situação.
— Ninguém fará nada enquanto eu não falar com o meu pai. Temos assuntos urgentes para tratar, a segurança da ilha está em risco.
O homem torceu o rosto em desgosto, mas assentiu. Ainda que Eric detestasse aquilo, parecia haver um entendimento tácito de que sua sub-liderança deveria ser respeitada em Libertália.
Um segundo sujeito aproximou-se, ainda mais sujo que o primeiro, e os piratas trocaram algumas palavras antes que ele se afastasse novamente, não sem antes encarar os forasteiros com um brilho de cobiça. Elisa sentiu um calafrio com a ameaça velada, mas logo a ilha toda parecia saber de seu regresso, tornando seu arrependimento inútil.
Ignorando os olhares hostis, Eric guiou-os para o interior da vila, encontrando Skyller na mesma praça em que Sarah os capturara no dia anterior. Encarar de novo aquele homem imponente não ajudava muito o estômago de Elisa, mas ela lutou para se manter firme. Os piratas ao redor haviam formado um círculo fechado sobre eles. Não havia escapatória.
— Eric! Por onde esteve esse tempo todo? — repreendeu ele, afastando os pés. — Já estava formando uma equipe para rastreá-los. E que merda é essa no seu rosto?
Percebendo que ainda estava com os óculos de Henrique, Eric passou a mão no rosto, arrancando o acessório.
— Pai, é uma longa história — começou ele, aproximando-se do pirata para encará-lo nos olhos. — Fizemos uma longa jornada até aqui, mas no caminho encontramos Makanda, e ela teve uma visão de que uma grande guerra está a caminho.
— Uma guerra? — repetiu ele, os piratas todos alvoroçando-se ao seu redor. — Então Sarah estava certa, esses dois vieram antes para preparar o terreno. Mais deles estão por vir?
Henrique controlou sua vontade de dar um soco na cara de Skyller. Além de ser inútil e perigoso, o gesto poderia ser encarado como uma confirmação do que ele acabava de dizer. Mais uma vez, Eric salvou o dia.
— Não, pai! — cortou ele, batendo com as costas do diário de Kidd no peito do pirata. — Henrique nos entregou isso, veja! O diário é a prova de que vieram em paz. Se existe alguma ameaça, ela já está aqui na ilha.
Skyller o encarou, confuso, pegando a encadernação nas mãos e a estudando com cautela.
— O diário de William Kidd? Mas o que isso significa?
— Significa que merecemos viver — arriscou-se Henrique, apertando a mão de Elisa para passar-lhe confiança. — Estamos dispostos a colaborar na sua guerra.
O pirata coçou a barba, passando os olhos pela multidão faminta e voltando-os em seguida para as páginas do diário. Se aquilo fosse mesmo verdade, eles ainda teriam o sangue que tanto queriam.
— Skyller! — gritou alguém da multidão, precipitando-se para o centro do círculo em meio aos protestos dos outros piratas. — Você não pode acreditar neles! Eric, onde está Nadine?
Sarah o encarava enfurecida, exigindo uma resposta rápida.
— Pai, é verdade — insistiu Eric, ignorando Sarah. — A própria Makanda insistiu que viéssemos alertá-lo, e isso não é tudo: a ampulheta do tempo está danificada, eu a vi com meus próprios olhos. Ela tem recebido uma carga muito grande de magia e pode romper-se a qualquer momento. Nadine ficou com Zaki e Makanda para tentar entrar em contato com o espírito do pai. Makanda acha que só ele pode responder algumas perguntas sobre o futuro da ilha.
O rosto de Sarah contorceu-se de espanto e raiva.
— O que? — indignou-se ela. — Vocês... Vocês e esses dois! Vocês foram até a gruta sem permissão? E Nadine ousa a entrar em contato com o pai sem me consultar?
— Bem, ela disse que você não manda nela. Veja, foram as palavras dela.
— Pois ela vai se ver comigo quando voltar!
— Basta! — gritou Skyller, retomando o controle da situação. — Sarah, temos assuntos mais urgentes para tratar. Se a visão de Makanda estiver certa, temos que nos preparar para a guerra imediatamente.
— E quanto a nós? — quis saber Henrique.
Skyller lançou-lhes um olhar sombrio, fazendo Elisa engolir em seco com a apreensão.
— Vocês podem ficar. Aceitarei o diário como uma oferta de paz.
Elisa respirou fundo, relaxando pela primeira vez desde que chegaram.
— Obrigada... — disse com um fio de voz.
Ignorando os protestos de Sarah, Skyller começou a proferir palavras de ordem para organizar a defesa, quando uma nova interrupção se fez ouvir:
— Skyller, estou de volta — anunciou a figura esfarrapada de Haya, quando avistou Elisa e mudou de direção, apertando-a em um abraço de quebrar os ossos. — Minha querida, folgo em vê-la bem e com saúde. Mal tivemos tempo de nos conhecermos.
Elisa tossiu ao finalmente ser largada, lutando para voltar a respirar normalmente.
— Não tenho tanta certeza quanto à saúde.
— Haya, não temos tempo para sentimentalismos — cortou Skyller. — Precisamos nos preparar para uma guerra.
— Sim, a guerra — repetiu ela, afastando-se de Elisa e marchando em direção a Skyller. — É sobre isso que vim alertá-lo. Eu estive do outro lado da ilha e descobri que nunca estivemos sozinhos, como imaginávamos.
Ao ouvi-la, Skyller congelou no lugar, encarando-a em choque.
— O que quer dizer?
— Existe uma outra comunidade pirata vivendo do outro lado da ilha, nós nunca os encontramos porque havia uma espécie de barreira invisível na floresta separando os dois lados. Mas por algum motivo, ela não existe mais.
— Essa outra comunidade pirata — disse ele, encarando-a fixamente com assombro. — De quem se trata? Quem...?
— John Fox — anunciou Haya antes que ele acabasse de formular a pergunta. Ao som daquele nome, todas as conversas se cessaram, o tempo parecendo congelar no suspense daquele momento.
— O que? — surpreendeu-se Henrique ao lado de Elisa, e por algum motivo suas pernas começaram a tremer.
— E James Blythe está com ele — continuou ela, sem se abalar. — Esse tempo todo os dois têm planejado atacar a vila. Fox está decidido em tomar o poder da ilha, ele lhe deu vinte e quatro horas para se preparar. Agora restam apenas doze...
— Isso não pode ser — disse Skyller por fim. — Por que ele faria isso?
— Fox está convencido de que você o traiu ao não revelar-lhe seus planos com Libertália. É melhor apressar-se, seus homens já devem estar a caminho.
— Era o que eu já estava fazendo antes de você chegar — trincou ele, voltando-se novamente para seus homens. — Jacob, prepare as defesas do Forte. Sarah, cuide para que ninguém se aproxime do caminho da gruta. Nicolas, avise Louise para que prepare a evacuação da vila. Haya, você ficará na frente de batalha.
— Desculpe — contrapôs ela. — Eu não lutarei mais as suas guerras. Era meu dever alertá-lo sobre o ataque em respeito a nossa antiga parceria, mas ela acaba aqui.
— Mas o que está dizendo agora, ficou louca? Ou James já a enfeitiçou de novo com suas mentiras?
— Não acho que o que ele me revelou seja mentira. Ou será capaz de negar que James enviou-lhe um mapa da minha prisão, e que somente por isso você conseguiu me salvar da forca?
Skyller bufou, por um momento desviando os olhos para a taverna de Thomas. Em seguida voltou a encarar Haya, a face coberta pela fúria.
— Sim, de fato ele enviou um mapa — confirmou ele a contragosto. — Mas certamente havia algum interesse escuso por trás do gesto, James sempre foi um homem de duas caras.
— Esse julgamento não cabia a você, Skyller. Eu tinha o direito de saber todos os termos da minha libertação.
— Para que? Que diferença faria?
— Faria diferença para mim. Sempre pensei que você fosse um homem confiável, que nunca esconderia algo importante de mim.
Sarah fez menção de sacar sua espada, mas Skyller a impediu, segurando seu braço. Não havia motivos para antecipar a guerra.
— Haya, ouça: se você for embora agora, eu não terei como garantir a sua segurança quando nos encontrarmos novamente em batalha.
Ela deu de ombros para a ameaça velada.
— Isso nunca foi um problema para mim. Faça o que tiver que ser feito.
— Pois bem, ninguém a impedirá de partir. — garantiu ele, lançando um olhar severo para Sarah. — Imagino que queira levar sua descendente e o amigo dela com você.
Haya assentiu, dirigindo-se a eles.
— Estarão mais seguros comigo. Acreditem, uma guerra entre piratas não é algo que queiram presenciar.
Elisa concordou de bom grado. O quanto antes saísse da vila, melhor.
— Sim, nós iremos. Certo?
Ela virou-se para Henrique esperando sua concordância, mas o olhar do garoto estava distante, no diário de Kidd colocado de forma displicente no bolso frontal de Skyller, que continuava a organizar seu plano de defesa, esquecido do artefato.
— Sim, mas antes preciso recuperar algo que me pertence.
Elisa o observou com receio, e estava prestes a dizer-lhe que aquilo era uma loucura, quando seus olhos encontraram-se com os de Eric, olhando-a com tristeza. Ao aceitar a oferta de Haya de deixar a vila, ela esqueceu-se completamente do laço de amizade que havia formado com o garoto, e de como ele poderia sentir-se se ambos ficassem em lados opostos da guerra. Encolhendo os ombros, ela lançou-lhe o que julgava ser sua melhor expressão de pesar.
"Eu sinto muito", disse apenas com os lábios.
Bom dia, queridos!
O que acharam do capítulo de hoje?
Qual será o destino dessa turma que agora se separou com uma guerra prestes a explodir?
Não deixem de votar e comentar na história!
Bons ventos e até semana que vem ;)
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