Primeira Senha
Quartel-general do Movimento das Forças Armadas, quartel da Pontinha, Lisboa, 24/4/1974, 22:50...
Os mandatários do movimento revolucionário juntam-se num pequeno barracão, preparando as movimentações militares da madrugada seguinte. O major Otelo Saraiva de Carvalho entra pela porta, preparado para a operação.
Major Otelo Saraiva de Carvalho: Então, companheiros, o que temos?
Tenente Coronel Miguel Costa Santos: Olha, recebemos agora a notícia, o Regimento de Infantaria I, da Amadora, não sai.
Otelo: Foda-se! Eles decidiram não ir mesmo!
Tenente Coronel Luís Bernardes: Oh, Otelo, não seja por isso. Ainda temos uma cambada de regimentos que juram a pés juntos que vão, o Salgueiro Maia, em Santarém, garante que vai, o Teixeira da Fonseca, de Estremoz, diz que deve chegar atrasado, mas vai, o Andrade Tancadas, do CICA, também vai, o resto, como o Canto Tomás, o Costa Novo, o Bicho Beatriz e o Infante Soares, prometem que saem, mais a malta que diz que talvez saia, devemos ter entre dez e trinta mil homens na rua.
Otelo: Porreiro, pá! E a malta da Escola Prática de Artilharia?
Miguel: Esses e os da Escola Prática de Infantaria também vão, podes ficar descansado, Otelo.
Major Joaquim Pina Rato: Malta, está na hora!
Todos os chefes do MFA se juntam à volta do rádio, entre eles o comandante Vítor Crespo, da Marinha, que tinha acabado de entrar. No aparelho, começava a tocar, entretanto, a música "E Depois do Adeus", de Paulo de Carvalho, esta tinha sido a escolha para a senha do movimento.
Otelo: Vamos lá, agora os oficiais que estão do nosso lado vão começar a mexer-se para prender os que são fiéis ao Estado.
Vítor: Se eles acabarem por não desistir.
Otelo: Tenha calma, meu comandante. Eles estão todos de palavra de honra.
Joaquim: É só terem calma, que vamos receber informações dos regimentos que se comprometeram conosco, eles têm ordens para nos atualizar de cada vez que houver novidades.
Coronel Pedro Cunha Machado: E como é que isso acontecerá?
Miguel: Há uma linha direta entre as unidades ativas e este quartel, Cunha Machado, para evitar que haja um corte de comunicações, por parte dos militares leais ao regime.
Vítor: E o pessoal da Força Aérea? Não ouvi nada sobre eles.
Otelo: O Lopes Taveira e o Barros Sintra já disseram que dos aeródromos deles não sai ninguém, nem do lado do MFA, nem do lado do regime, temos de esperar que eles cumpram a promessa. O problema é mesmo a Marinha, além das unidades do senhor comandante, não temos ninguém! Mas o Pedro Tomás já disse que o Escola Sagres não vai a lado nenhum, nem com ordens do ministério. Na Gago Coutinho, no entanto, temos lá malta, mas nenhum deles é oficial, portanto, está complicado. O Fernando Dinis diz que pode vir com a fragata dele, a Pereira da Silva, e posicionar-se na costa portuense, para ajudar o pessoal do Andrade Tancadas, com o quartel-general do Porto. E ainda conseguimos várias baterias de artilharia para ajudar o Maia e a malta da Escola Prática de Cavalaria.
Vítor: Bom, vamos esperar que corra tudo bem e hoje caia o governo.
Luís: Tenha fé, comandante, devagar se vai ao longe.
Vítor: Quem são as cabeças da nossa oposição?
Otelo: Bom, o brigadeiro Pais e o brigadeiro Junqueira dos Reis, obviamente, o Pato Anselmo está do lado deles, também, e o Romeiras Júnior, tudo malta que está do lado dos fascistas, cá para os lados da capital. O Bernardo Navalheira e o Delgado Rita vão ser o pessoal que os gajos do CICA vão encontrar lá no Porto.
Vítor: Com que então, o pessoal do regime ainda é bastante.
Otelo: Sim, mas a nossa malta vai conseguir lidar com eles! Estamos organizados e foi tudo feito com o maior sigilo, meu comandante. O problema, é que não há ninguém que vá para Caxias soltar os presos, nem há ninguém que vá montar o cerco à PIDE. A malta do Regimento de Infantaria I, da Amadora, borregou, eram eles que iam para Caxias, a malta do Caetano da Paz, do Regimento de Infantaria XI, de Setúbal, ficou trancada no quartel, porque o tenente coronel teve um mau pressentimento, eles iam para a PIDE.
Vítor: Essa parte é complicada, são objetivos de máxima importância.
Otelo: Vai ser difícil, porque, se não formos libertar os presos políticos com a máxima urgência, vão pensar que é um golpe de direita. Mas bom, logo se vê quando é que se lá vai e quem é que lá vai.
Miguel: Com esta merda toda, já é quase meia noite e a segunda senha vai ser tocada não tarda nada.
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