Ministério
Terreiro do Paço, Lisboa...
Athreus sai do jipe com o telefone portátil da unidade, para se poderem manter em contacto com o posto de comando. Maia dava instruções aos cadetes.
Salgueiro Maia: Quero duas Chaimites junto à porta do edifício, com as autometralhadoras apontadas à janela do Ministério da Administração Interna, para, no caso de precisarmos de disparar, as balas entrarem num ângulo em que acerta só numa parede ou num armário, no máximo. Não pode haver baixas desnecessárias.
Um homem vestido à general aproxima-se de Maia. Era o brigadeiro Jorge de Cunha Castanho.
Brigadeiro Cunha Castanho: Meu capitão, o senhor ministro Andrade e Silva deseja uma audição consigo. O senhor ministro gostaria de agradecer a celeridade do processo da montagem da defesa que o senhor fez, para proteger os ministros dos revolucionários.
O capitão sorri e Athreus vai para trás de um jipe e quase fica sem ar, da tamanha gargalhada silenciosa que soltou.
Salgueiro Maia: Peço desculpa, meu brigadeiro, mas não vou.
Cunha Castanho: Perdão? Meu capitão, você não compreende, o senhor ministro deseja falar-lhe!
Salgueiro Maia: Eu compreendo muito bem, meu brigadeiro, mas nós estamos aqui para prender os ministros. Obrigado e bom dia.
O brigadeiro fica especado e incrédulo com a resposta de Maia, que lhe sorri.
Salgueiro Maia: Meu brigadeiro, se continuar aí parado, vou ser obrigado a prendê-lo, não seria do seu interesse. Para além do mais, não tenho homens para guardar prisioneiros e temos mais que fazer.
Cunha Castanho vira as costas a Maia, decepcionado com a reação do capitão. Athreus, finalmente, deixa a gargalhada ouvir-se.
Athreus: Bon voyage! Não deixes a porta bater-te na peida!
Paulo olha para o aspirante, repreensivamente.
Paulo: Ele pode ser um facho enorme, mas ainda é teu superior, lembra-te disso!
Athreus para, progressivamente, o riso. Do nada, um soldado começa a correr na direção do campo que os militares da EPC tinham montado.
André: Ataque! Meu capitão! Ataque! Meu capitão!
Roberto ouve o soldado a anunciar o ataque a gritos e começa a correr na direção de Maia.
Roberto: Maia!
O capitão vira-se para os gritos. Quando o furriel lhe chega perto, o cadete já o acompanha.
André: Estão a atacar-nos! Na Rua do Arsenal.
Salgueiro Maia: Quem é que comanda as forças?
André: O brigadeiro Junqueira dos Reis.
Maia fica pensativo.
Salgueiro Maia: Roberto, levas o Costa, tenta parlamentar com o Junqueira. Vais acompanhado com duas Chaimites.
Roberto entra no jipe, acompanhado do cabo Costa e seguem para a Rua do Arsenal, onde dois tanques e um esquadrão, comandado pelo brigadeiro Junqueira dos Reis, os esperava. O furriel e o cabo deixam o jipe, começando a dirigir-se para terreno neutro.
Roberto: Furriel Roberto Santos, do Movimento das Forças Armadas, fui destacado para parlamentar com o brigadeiro Junqueira dos Reis, peço, respeitosamente, que se dirija para terreno neutro, para iniciar a discussão.
Junqueira: Vem cá tu! Cabrão!
O brigadeiro dispara dois tiros para o ar, enquanto Roberto e Diogo se aproximam.
Roberto: Devo informar, meu brigadeiro, que os ministros estão presos, à ordem do Movimento.
Junqueira: Está calado! Filho da puta mentiroso!
Finalmente, Roberto e Diogo chegam à frente de Junqueira.
Roberto: O governo caiu.
Junqueira: Vai-te fuder!
O brigadeiro dá um murro a Roberto, derrubando-o, e começa a espancar o cabo Costa, também o derrubando e começando a pontapear a cara de Diogo, tendo de ser afastado pelo comandante Duarte Castro. Quando o furriel e o cabo se levantam, têm ambos feridas nas caras.
Castro: Acalme-se, meu brigadeiro!
Junqueira lá se acalma, respirando.
Junqueira: Peço desculpa, pelo meu comportamento.
Roberto: Peço que, o meu brigadeiro, retire as tropas da rua, não precisa de haver baixas nesta revolução.
Junqueira: Isso não vai acontecer, não vou trair o meu país, tenho ordens para disparar.
O furriel e o cabo voltam ao jipe, regressando ao perímetro do Terreiro do Paço.
Roberto: Nada feito, Maia. O Junqueira diz que não recua.
Salgueiro Maia: Merda! Bom, eu vou lá.
Maia vai até a um dos autocarros militares e pega numa granada.
Roberto: Estás parvo? Ele é maluco!
Salgueiro Maia: Se eles tentarem alguma coisa, tiro a cavilha à granada e levo os gajos comigo! Cabo Filipe Santos! Leva-me até à Rua do Arsenal! O cabo Costa não está em condições de ir lá de novo.
O cabo entra no jipe, seguido do capitão. Assim que o jipe para, Maia, desembarca do carro e começa a dirigir-se a terreno neutro.
Salgueiro Maia: Capitão Fernando Salgueiro Maia, do Movimento das Forças Armadas, estou aqui para iniciar discussões de paz. Peço ao meu brigadeiro para se dirigir a terreno neutro, para iniciar a conversa.
Junqueira: Vem cá tu!
Salgueiro Maia: Não! Venha cá o senhor.
Junqueira: Vire as costas e vá-se embora, que vai ver!
Salgueiro Maia: Não! Esperarei aqui, meu brigadeiro.
O brigadeiro tenta disparar com a sua pistola, mas não tem munição, aí, vira-se para um dos carros de combate.
Junqueira: Você! Abra fogo!
O capitão fica à espera dos disparos da autometralhadora, que o matariam, porém, eles nunca chegam.
Junqueira: Você é surdo?! Dispare antes que eu pegue noutra pistola e lhe dê um tiro na cabeça!
O soldado tranca-se no carro de combate, sem disparar, nem deixando Junqueira entrar. O brigadeiro vira-se para outro carro de combate.
Junqueira: Então, dispare você!
O segundo soldado também se recusa a disparar. E assim aconteceu com todos os soldados que estavam dentro das Chaimites. Do nada, um milagre, todos os soldados que estavam dentro dos blindados, os que pertenciam à força de suporte e a Polícia Militar, que os acompanhava, começam a sair das viaturas e a dirigir-se a Maia, deixando Junqueira dos Reis e Duarte Castro sozinhos e incrédulos.
Alferes David e Silva: Estamos convosco, capitão. Estamos contigo.
O alívio lavava a cara de Maia, quase caindo em lágrimas, mas sem o fazer.
Salgueiro Maia: Obrigado.
David e Silva: O que é que querem que nós façamos?
Salgueiro Maia: Vão buscar as sucatas.
O alferes assente e faz sinal para os soldados irem buscar as viaturas.
David e Silva: Então, o que é que fazemos com o macaco e o gorila?
Salgueiro Maia: Deixa-os estar, sem tropas, eles são tão inofensivos quanto um porquinho da Índia. Já para não falar, mesmo com a malta da Cavalaria IV, não temos soldados para guardar presos.
Maia e David e Silva embarcam no jipe e vão para o Terreiro do Paço, onde são chamados por Santos Lopes.
Paulo: Más notícias, o ministro da Marinha pôs a Gago Coutinho no Tejo, com as baterias viradas para nós. Um passo em falso, e vamos todos pelos ares. É uma merda, porque acabaste de lidar com o Junqueira e o Athreus tratou do Pato Anselmo.
Salgueiro Maia: O Pato Anselmo esteve cá?
Athreus: Veio pelo Campo das Cebolas e montou a guarda na Ribeira das Naus, tivemos de mandar o Santana Martins, à civil, prender o homem, porque ele não queria ceder. Quanto à Gago Coutinho, não se preocupem, temos a EPA no Cristo Rei, tenho lá primos, estão com a artilharia toda apontada à fragata, também tenho família dentro da Gago. Eu não me preocuparia muito.
Fragata Almirante Gago Coutinho, estacionada no Rio Tejo, Lisboa...
O tenente Oceanus Janadakis estava a preparar as munições da artilharia pesada da embarcação.
Oceanus: Então, quem é que é o alvo?
Sérgio: Acho que é uma unidade da Escola Prática de Cavalaria. São comandados pelo capitão Salgueiro Maia e pelo aspirante Migropoliphos.
A cara do tenente fica branca, como se tivesse visto um fantasma.
Oceanus: Ninguém toca na merda de nenhuma munição, nenhum canhão do barco vai ser disparado.
Sérgio: Como? Isso... seria traição à pátria!
Os olhos de Oceanus soltam um brilho azul e o rio Tejo fica extremamente agitado, empurrando a embarcação de um lado para o outro.
Oceanus: Soldado, eu vou dizer isto uma vez, e só uma vez. Nem uma única bala de canhão vai sair daquelas bocas de artilharia, nem que o almirante dê ordem, nem que Jesus Cristo volte à Terra. Agora, estamos ou não estamos entendidos, soldado Freitas? Se isso acontecer, eu posso garantir que o Tejo manda esta merda toda ao fundo.
O tenente dirige-se à sala de rádio.
Oceanus: Vou fazer uma chamada, entretanto, preparem um motim, soldados.
Terreiro do Paço, Lisboa...
Athreus desliga o telefone e volta para perto da companhia, com um sorriso na cara.
Athreus: Maia, ao que parece, a malta da fragata vai fazer um motim, ainda nos temos de preocupar menos do que pensamos.
Salgueiro Maia: Boa! Estamos a receber notícias cada vez melhores! A Polícia Militar diz que nos consegue por dentro do Ministério. Nos próximos cinco minutos devemos conseguir prender os ministros.
A Polícia Militar faz sinal a Roberto, dizendo que porta do Ministério já está aberta.
Roberto: Maia! Estamos dentro!
O capitão sorri.
Salgueiro Maia: Athreus, Paulo! Vamos prender uns ministros?
Os três armam-se, cada um com uma M4 e seguem para dentro do edifício do Ministério. Eles sobem as escadas e posicionam-se junto à porta do Ministério do Exército.
Athreus: Ouvi dizer que são portas blindadas, Maia.
Salgueiro Maia: Não te preocupes com isso, tenho bombas para mandar esta merda toda pelos ares.
Ouve-se um riso que seria considerado adorável.
Margot: O meu primo favorito, a dizer coisas tão idiotas como essas. A sério, Athreus, portas blindadas? São portas de madeira reforçada, um pontapé teu chega para tirar a porta das dobradiças.
Athreus: Minha linda prima, só tu é que poderias saber isso.
O aspirante vai abraçar a prima.
Athreus: A escumalha? Ainda está cá?
Margot: Abriram um buraco no escritório do Andrade e Silva, saíram pela biblioteca do Ministério da Marinha. Já cá não estão há mais ou menos uma hora.
Athreus: Merda!
Athreus volta para junto de Maia e de Santos Lopes.
Athreus: Piraram-se, há uma hora. Abriram um buraco na parede do Ministério do Exército e saíram pela biblioteca do Ministério da Marinha.
Salgueiro Maia: Foda-se, só cá faltava esta!
Margot: Eles foram para o Quartel da GNR, no Largo do Carmo. Ouvi-os falar nisso, está lá a cambada inteira, o Ferreira Luís, o Tavares Leite, o Bessa da Cunha, o Andrade e Silva e, como cereja no topo do bolo, o velhadas também está lá.
Salgueiro Maia: O Marcelo foi para o Carmo?
Margot: É que podes ter bem a certeza. Juro pela existência da Brites de Almeida.
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