Memórias 7
"Até já princesa...", confesso que me arrepiei toda com aquele voz ao dizer isto. Será que é mesmo possível eu me apaixonar assim tão depressa? Não sei responder a esta pergunta que não se cala na minha cabeça, mas o coração...esse já me diz que sim. Porque ele já está marcado e completamente apaixonado por Jamie Dornan.
Um pouco antes da hora, Jamie mandou-me uma mensagem dizendo que estava a sair de casa. respondo que estou quase pronta e continuo a maquilhar-me. Nada de muito pesado, apenas uma sombra bem clara e um pouco de blush. Decidi vestir algo básico e confortável, então optei por um vestido cor de vinho um pouco acima do joelho.
Pego no meu casaco, na mala e pronto. Agora é só descer e ficar à espera de Jamie. Quando chego à sala o meu pai olha para mim para logo a seguir virar a sua atenção de novo para a TV. A minha mãe levanta-se, vem até mim e sussurra: "Aquilo ali é só ciumes, não ligues.". Sorrio e caminho até ele, sento-me ao seu colo, e o Senhor Don faz logo um bico, como Stella faz quando não fazemos o que ela quer.
- Já alguma vez te disseram que o teu Bico é igual ao da Estrelinha?
- Primeiro eu não faço bico, segundo se por acaso fizesse um bico a tua irmã é que faria um igual ao meu. Afinal eu é que sou o pai...
- Bem, então devo te dizer que a Estrelinha tem um bico igual ao teu.- sorrio, enquanto ele continua com um bico enorme.
- Ri-te, quando saíres magoada dessa tua "amizade" não venhas chorar para o colo do teu pai.
- Pai, por favor. O Jamie é só um amigo...- ele ia falar mas eu nem o deixo começar...- ou alguém que pode muito bem começar a ser um amigo. Mas para isso eu tenho que o conhecer. Vamos só jantar, eu prometo que volto cedo...- ele olha para mim...- Estou cá antes das 23h00 eu prometo.
- Credo Dak, até parece que és uma colegial que precisa de hora para estar em casa. Pai, a Dakota já é maior e vacinada, por favor.
- Onze horas, nem um segundo a mais, ouviste Dakota. Se cumprires, vou repensar nessa tua amizade esquisita.
- Mãe....Mãe...por favor salva a Dak...- grita Eloise.
- Elô, podes parar. Onze horas, eu prometo nem um segundo a mais.- digo para o meu pai, e neste momento o telemóvel apita, vejo quem é...- Bom o Jamie chegou.- dou um beijo repenicado na bochecha do meu pai...- Adoro-te meu velho. Xau mulheres da minha vida.
Assim que fecho a porta, vejo o carro de Jamie, e que carro. Um Audi R8 cinza, modelo super desportivo de dois lugares. Quando me vê, Jamie sai do carro e abre a porta do lado do passageiro. Assim que entro ele caminha de volta para o lugar do condutor e seguimos caminho.
- Bom eu não conheço muito aqui de Belfast, então vou levar-te a um restaurante que o Dr. Smith me recomendou.
- O Tio Colin!? Amanhã já estamos a namorar, e daqui a uma semana já casámos.- disse a gargalhar.
- O quê!?-Jamie olhou para mim com um olhar de pânico.
- Calma, não precisa de ter um enfarte. É que o Dr. Smith, ou Tio Colin para nós que trabalhamos lá no abrigo, é nosso casamenteiro de serviço. Ele adora fazer de Anjo Cupido.
- Ahhh...mas...
- Se tu lhe foste perguntar onde me poderias levar a jantar, amanhã já vai começar a querer juntar-nos. E se foi ele que recomendou, até já sei onde vamos. E vais adorar, porque a comida é óptima.
- Era para ser surpresa, e em relação ao restante...
- Vamos primeiro ver no que este jantar dá, o amanhã logo vemos. E outra coisa, tenho que estar em casa às onze.
- O quê?- olho para ele bem séria...- Isso é real? Ainda tens hora marcada para chegar a casa?
- Bem, vamos apenas dizer, que mesmo de longe, estás a ser avaliado por um pai muito ciumento e possessivo.
- Bem, não posso chumbar nesta prova. Porque eu quero muito poder sair contigo outras vezes.
Quando chegámos ao "Lucky Charming", Jamie estaciona o carro, tira o seu cinto, sai do carro e vem abrir-me a porta. Quando eu saio, ele fecha o carro e puxa a minha mão para a sua. Entramos e ele diz que tinha uma reserva em nome de Jamie Dornan. Logo o empregado de mesa nos leva a uma mesa mesmo junto da janela com vista para o Rio Logan.
Depois de fazermos os nossos pedidos, começámos numa conversa bem agradável. Era tão fácil falar com o Jamie. Ele era divertido, e simples, nada daquilo que eu pensei que ele fosse: um riquinho egoísta e metido a superior.
— Então como começaste a trabalhar no abrigo? Quer dizer pelo que me disseste trabalhas com livros.
— Eu sou editora, não trabalho com livros físicos. Antes de os ter nas mãos há longo processo de leitura de páginas e páginas, de reuniões para aprovar ou não a publicação de apenas metade daquilo que leio. Não é fácil ler um livro bom, mas por razões superiores a ti vê-lo ir parar a um monte de folhas.
— E quais são essa razões superiores? Eles não justificam?
— Claro que sim, a maioria das vezes apenas recusam porque acham os romances muito cliché, ou apenas porque as histórias abordam assuntos que são ainda considerados tabus na nossa sociedade.
— Então não és tu que decides quem editas ou não?
— Infelizmente não. Eu leio, escolho uns dois ou três no máximo e depois temos a reunião de todos os sectores da editora.- Jamie fica a olhar para mim...- tipo o sector dos romances, do suspense, dos criminais, etc. Como vez não é assim tão linear.
— Já percebi, e não acho justo passares horas e horas a ler algo, para depois não o publicares.
- Bem, pagam-me para isso. E depois há sempre aqueles que eu leio duas páginas e a vontade é mesmo queimá-lo. Leio com cada coisa má, tu nem imaginas. Mas esses representam apenas uns 5% do que me chega às mãos, então...
- Já vi que não é assim tão fácil. Então e o abrigo?
- Bem eu conheço o Tio Colin desde pequena, ele foi o nosso pediatra. E quando estas pessoas foram enviadas para cá, ele viu uma mulher agarrada a uma menina a chorar à porta do hospital. Ele perguntou o que se passava, ela falava pouco o inglês, mas o tio percebeu que se passava algo com a criança. Pegou nela e entrou pelo hospital dentro, tratou da menina que estava muito mal.
- O Dr. Smith parece ser alguém com um bom coração.
- O Tio Colin é a pessoa mais coração mole que eu conheço. Ele perdeu o emprego no hospital por ajudar aquela menina.
- Como assim? É o dever de um médico...
- Salvar vidas!? Tens razão, mas para o hospital o que interessava é que a mulher não tinha seguro, nem era coberta pelo sistema de saúde. O Tio Colin disse que assumiria o pagamento de tudo, e pagou. Porém, para além da conta recebeu a ordem de despedimento.
- Deixa-me adivinhar: foi por isso que criou o abrigo!?
- Sim. Ele tinha o consultório dele, mas as pessoas começaram a ficar incomodadas. Então a minha mãe e outras senhoras ajudaram-no a criar o Abrigo. No início era apenas uma meia dúzia de carros onde se guardavam o material médico, a roupa e a comida. Aos poucos fomos conseguindo erguer o que viste. Não foi fácil, tivemos que passar por muitas sessões na assembleia da cidade. Mas conseguimos aquele espaço, e com a ajuda de todos foi-se construindo o que temos hoje.
- Um trabalho de todos. Eu admiro a vossa união, eu cresci com outros ideais, que era melhor que os outros porque tinha poder e dinheiro. De facto foi preciso esbarrar numa menina-mulher, com uns olhos azuis que parecem o mar, para perceber que estava cego.
- Sabes, o Tio Colin era como tu. Ele nasceu com posses, com esse poder todo. Mas talvez ao contrário de ti, o pai dele ensinou-lhe que ele não era mais que os outros. Ele deixou Dublin, por não conseguir mais viver com a madrasta e a meia irmã.
- Sim, ele já me contou a vida dele hoje à tarde. E percebi como ele conhece o meu pai...e essa meia irmã dele é a minha Tia Helena.
- Sério!? Como o mundo é pequeno, e tu...quer dizer...
- Se eu me dou bem com ela? Eu dava, até há uns meses para cá...
- Quando esbarraste comigo?- ele acena...- Afinal o que é que eu fiz para te fazer mudar tanto? Se bem me lembro tratei-te super mal...
- Tu enfrentaste-me, de igual para igual. Eu estava habituado a que todos se baixassem perante a minha presença, talvez por medo porque nunca fiz mal a ninguém...
- Talvez pelo teu ar arrogante e preconceituoso?
- Talvez. Mas tu não baixaste a cabeça, e depois os teus olhos...eles enfeitiçaram-me.
- É...bem...então pretendes ficar aqui por muito tempo?
- Sinceramente, não planeei nada. Eu saí de casa, tive uma discussão com o Sr. Jim Dornan. Queria trabalhar por aqui, mas o grande Dr. Dornan ligou a tudo o que é hospital e clínica ameaçando fechar os mesmos se me admitissem.
- Que espécie de pai é o teu? Como é que ele espera que te mantenhas?
- Bem, ele achava que fazendo isso me levaria a desistir e a voltar para casa e...- olho para ele que está com um ar de quem está a pensar se continua ou não a frase...- Desde pequeno o meu pai e a minha Tia combinaram o meu casamento com a minha prima Amélia. Nós sempre nos demos bem, e eu acabei por concordar mesmo com a minha irmã Jess e a minha mãe a dizer que...
- Espera tu estás noivo? Eu sou mesmo burra...- levanto-me sem nem esperar que ele me responda, pego no casaco e na mala e saio porta fora.
Burra!!Burra!!!Burra. Como é que alguém como o Dr. Jamie Dornan poderia querer alguma coisa comigo uma simples editora de Belfast. O meu pai tinha razão, tudo isto foi um erro, nunca deveria ter vindo, nunca deveria ter aberto a porta do meu coração a um desconhecido. Quando vou virar a esquina, ouço-o a gritas o meu nome. Olhos para trás, mas não vou ceder, tenho que acabar com isto tudo antes que me magoe mais do que já estou.
A pior coisa do mundo é quando alguém te faz sentir bem ao seu lado, te faz sentir especial, te faz sentir o coração a bater mais depressa...e de repente te deixa de lado. Ele está noivo. Sinto o meu coração partido, por algo que nem começou. Como é que o meu coração pode sentir saudade de algo que nunca teve?
Como é que pode bater por um amor que sempre este longe de o ser? como pode estar triste e a sofrer? Como pode sentir-se a amar se nunca foi amado por esse alguém? Por quanto tempo vou consegue fingir? Fingir que está tudo bem com ele, se ele já está a começar a partir-se? Quanta dor um coração precisa, para simplesmente desistir de bater?
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