Memórias 3
O meu nome é Jamie Dornan. Nascido e criado em Dublin, numa família em que sempre tivemos tudo. Sim, temos posses e gostamos do melhor. O meu pai é um médico de grande nome, conhecido por suas novas metodologias nas intervenções cirúrgicas, a minha mãe é pediatra e herdeira por direito do hospital onde trabalha, embora quem comande o mesmo seja o meu pai.
Eu, segui a mesma carreira que os meus pais, no entanto, decidi ir para uma especialidade um pouco diferente: Oncologia. É uma área complicada, pois nem sempre temos boas notícias a dar, nem sempre conseguimos salvar todos os pacientes. Porém, o meu pai sempre me ensinou que os "Homens não choram, Homens são mais fortes. Somos nós Homens que comandamos uma casa", e talvez por isso eu seja visto como alguém frio e arrogante.
A minha mãe sempre tentou, às escondidas do meu pai fazer-nos "um pouco mais humanos", porém e apesar de com ela eu conseguir mostrar o meu lado mais carinhoso é o lado arrogante e frio que sempre vence no meu dia a dia.
As minhas irmãs são um caso à parte. Liesa é a mais velha, e de certa forma a menina do papá. Se bem que o meu pai queria muito um rapaz, para que pudesse continuar o seu nome para a prosperidade, foi recebida com ansiedade e alegria. Já Jessica foi, não a renegada pois o meu pai nunca o faria, porém, o desejo de ter um rapaz fez com que a minha irmã fosse talvez um pouco deixada de lado.
Quando finalmente eu nasci, o tão sonhado rapaz, toda a família ficou radiante. Se fui mimado? Fui, não só pela minha mãe, mas também pelas minhas irmãs. Já a relação com o meu pai era cordial, ele nunca foi alguém que mostrasse afecto, mesmo assim comigo havia talvez uma atenção maior. A parte do carinho, das festas na cabeça, era a minha mãe que nos dava.
Eu e as minhas irmãs sempre fomos muito ligados, costumo dizer que a Liesa é a minha parte racional, enquanto a Jess é a minha parte emocional. Sempre que preciso de uma opinião sobre algo mais "intelectual" sei que posso contar com a minha irmã mais velha e a sua forma de racionalizar tudo. Já a "Essie" é aquela com quem falo das coisas mais do coração.
Como por exemplo, quando soube pelo meu pai que assim que acabasse a minha especialização me casaria com a minha prima Amélia. Claro que ouvi e interiorizei, não fiz escândalo. Com o meu pai sempre foi assim. Mas também nunca fui romântico como a a Jess.
Amélia era do mesmo estrato social que o nosso, fomos criados juntos, seguindo os mesmos valores e ensinamentos, muitas vezes vistos pela restante sociedade como apenas pessoas superficiais. Mas como poderiam as restantes pessoas nos entender? Nós somos o que somos educados para ser: pessoas privilegiadas que seguem um sem número de regras, vivendo apenas dessa aparência para além dos sentimentos, pois os sentimentos apenas nos enfraquece. Pelo menos é isto que o meu pai nos ensinava.
Hoje teríamos mais um dos almoços de família que o meu pai tanto gostava, no entanto, de família tinha pouco. Pois basicamente quem vinha eram amigos de longa data do meu pai, e da família apenas as minhas avós e o Tio Alun.
Alun era meio-irmão da minha mãe , filho do meu avô de um relacionamento fugaz que ele teve. A minha avó ciou-o como se fosse seu filho, nunca fazendo distinção com a filha (minha mãe). E assim como a minha avó fez, Alun também adoptou Amélia como filha, quando se casou com a Tia Helena.
Quando finalmente olho para o espelho, sinto-me meio desanimado. Estou noivo há cerca de 6 meses e em vez de me sentir feliz por poder estar com Amélia, sinto vontade de sair de casa e ir para bem longe. Amélia é bonita, carismática, tem uma personalidade forte e bastante vincada. è vaidosa, extremamente vaidosa, porém acho que todas as mulheres o são.
Mas, nos últimos tempos falta-me qualquer coisa. Desde aquele dia, em Belfast, não consigo tirar aqueles olhos azuis da minha cabeça. E por mais que eu tenha ficado furioso com a petulância daquela miúda, aqueles olhos...não me saem da mente.
Eram os olhos mais azuis que jamais tinha visto, não eram aquele azul normal. Eles cintilavam, brilhavam de uma forma especial. Mas a petulância daquela mulher!? Ela que veio contra mim, e ainda me acusou de ter arruinado com os livros que carregava. Mas aqueles olhos...
- Filho, estás pronto? Já chegaram todos, a Amélia já perguntou por ti.
- Ela não perguntou mãe, ela exigiu a presença do Jamie na sala.- Jess riu-se e caminhou até mim dando-me aquele abraço que sempre dávamos quando acordávamos.- Não sei porque ainda insistes em manter esta palhaçada.
- Jessica. A vida é do teu irmão, e o teu pai faz muito gosto neste casamento. E depois Amélia é da família, conhecemo-la desde pequena.
- Aí está, a vida é do Jamie ,mas o pai está a impingir um casamento onde ele não será feliz. Mas este otário não consegue ir contra o que o Senhor Jim Connor Dornan manda.
- "Essie"...- eu sei que para a minha irmã super romântica este noivado é uma "palhaçada" como ela diz...- Casar com Amélia ou com outra "menina do papá" será a mesma coisa, pelo menos Amélia eu já lhe conheço todas as manias.
- Queres saber, se queres enterrar-te nesse casamento força. Mas, não venhas daqui a uns anos chorar no meu ombro...- e sai porta fora.
- Jamie. Sabes que sempre apoiei o teu pai em tudo o que se referia a vocês os três, apesar de saber que a parte emocional seria mais difícil ele conseguir dar. Não que ele não vos ame, simplesmente porque ele foi criado para ser aquele homem rígido e racional.
- Mãe...
- Não, vais ouvir-me.- E quando a Dona Lorna fala assim melhor ouvir...- A Amélia não é filha de sangue de Alun, mas sei que foi criada com os mesmos valores que eu e o teu Tio. Ela é linda, tem estatuto, é vaidosa, talvez um pouco demais para o meu gosto.- e faz uma careta que não tem como não sorrir...- Só quero que sejas feliz, e se a Amélia não for a "mulher" que faz este coração bater mais forte, então não vás na conversa do teu pai.
- Mãe. Eu não acredito em romance ou em amor à primeira vista como a "Essie". Eu sou mais racional tal como a..
- Até a Liesa teve que dar o braço a torcer quando encontrou o amor filho. Promete-me que vais pensar no que te disse: se o teu coração não bater forte...
- Tudo bem mãe, eu vou pensar. Agora vamos porque a minha noiva deve estar a a subir paredes e o pai também.
Descemos os dois, claro que levei uma bronca de Amélia por não estar á espera dela, e porque a deixei sozinha durante mais de uma hora, que devíamos estar juntos quando os convidados chegaram. Até parece que estamos na festa de noivado, que nem houve ainda porque eu nunca quis.
O meu pai também não estava muito contente, contudo a minha mãe acalmou a fera. O Senhor Jim pode ser severo e rígido connosco e com todos no hospital, mas se há quem o faz amolecer é a minha mãe.
O dia foi correndo, com algumas cenas de Amélia que sinceramente eu já não aguento. Tudo é motivo de ciúmes ou de birra. No final da noite, pedi licença, despedi-me com a desculpa de ter que me levantar bem cedo amanhã e fui para o quarto. Assim que entro, vou para a casa de banho para tomar um duche bem frio.
E de repente lá estão aqueles olhos azuis a povoar a minha mente, porque é que aquela mulher não me sai da cabeça? Tenho que acabar com isto, tenho que fazer alguma coisa, não posso ficar a pensar nela. Estou noivo, vou casar com Amélia. Saio do banho, vou ao closet e visto-me, quando saio vejo Jess, sentada na minha cama.
- Desculpa. Sei que não devia ter dito tudo aquilo, mas eu...só quero que sejas feliz.
Vou até ela, e deito-me na cama colocando a minha cabeça sobre o seu regaço. Logo ela faz-me carinhos, ficamos ali durante algum tempo. Até que eu tomo, talvez a melhor ou pior decisão da minha vida.
- Tu tens razão. "Essie" acho que estou maluco...- ela olha para mim, e eu continuo...- Por continuar com este noivado que nunca irá passar disto, e...por não conseguir esquecer os olhos azuis mais lindos que já vi.
- Que olhos azuis? Jamie Peter Maxwell Dornan, o que é que me andas a esconder?
- Nada. Não comeces a pensar em coisas. Posso não amar a Amélia, mas eu nunca iria trair ninguém, mesmo que...
- Eu sei disso, adianta a coisa. Quem é ela?
- Deus "Essie"...e eu nem sei quem é ela. Eu esbarrei-me, ou ela esbarrou-se em mim. Foi em Belfast, quando fui àquela conferência sobre o Cancro do Pâncreas.
- Ai! Não me digas que ela está com cancro!?
- Não. Credo Jessica. Eu tinha ido buscar nem sei o quê para a Liesa numa loja lá em Belfast, e quando estava a sair do carro ela literalmente veio contra mim. Estava a chover, ela deixou cair os livros todos, acho que estava a sair da biblioteca que havia ali em frente.
- E....
- E...eu não consigo esquecer aqueles olhos azuis lindos, de um azul que nem o céu tem.
- Jamie, tu estás apaixonado!?
- Não. Só a vi uma vez, como é que me posso apaixonar assim? Só que aqueles olhos, não me saem da cabeça, pareço um adolescente...
- Apaixonado!?- completa Jess, antes de eu falar alguma coisa...- Mano, tu estás apanhado por essa miúda, completamente apanhado.
- Eu...não posso. Ela é arrogante, petulante, mal educada, linda, e com uns olhos...
- Jayjay.- ela agora está com uma cara que apenas faz quando o assunto é sério.- Eu sei que não queres ir contra o pai. Mas ele não pode obrigar-te a casar com alguém que tu não amas. Sim, o casamento dos nossos pais foi "arranjado" entre os nossos avós. E correu bem, eles até se apaixonaram. Mas casamentos desses são do século passado, e 99% das vezes dão em divórcios ou casamentos infelizes.
- Eu sei isso tudo, mas não percebo onde queres chegar?
- Tu estás com medo. Medo de fazer, o que sabes que é, o correcto para não desiludires o pai. Este noivado dura à seis meses, se vocês se amassem, já estariam casados. Nem a Liesa demorou tanto a casar, e aquela ali é talvez a mulher menos romântica que eu conheço.
- Nós só estamos à espera que eu acabe a especialização, a Amélia quer tudo super organizado e isso leva tempo.
- Doce ilusão!? Se tu a amasses nem que fosse um pouco, não ficarias desta forma por outra mulher. Não falarias dessa mulher como um adolescente apaixonado. Acorda mano, antes que seja tarde demais. Vou andando que os meus filhos já devem estar a dormir ao colo de alguém.
Assim que ela sai, fico a pensar em tudo o que ouvi. Estou noivo há 6 meses, e de facto por mim esperava mais uns 6 meses, não tenho pressa em casar com Amélia. Sempre pensei que a demora fosse apenas porque é um casamento arranjado, não existe amor, apenas respeito. Bem pelo menos pela minha parte.
A imagem daquela menina-mulher veio-me de novo à cabeça, aqueles olhos que definitivamente mexeram comigo, como nunca nada mexeu. Será que Jess tem razão? Será que me apaixonei assim, apenas pelo seu olhar? Será possível apaixonar-nos ao primeiro olhar?
Tenho que tirar estas dúvidas, tenho que a ver de novo...sim, tenho que a ver.
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