Memórias 13
O voo logo decolou. Dak logo adormeceu, contudo, eu não consegui. A notícia de que Jess estava no hospital deixou-me sem chão. Eu amo as minhas irmãs, mas apesar de Liesa ser a mais velha, Jess sempre foi a mais racional. Ela era a que nos dava os melhores conselhos, era sempre a ela que nós confidenciávamos os nossos segredos. A possibilidade de Jess ter algo grave assustava-me.
Eu não podia perder o meu porto seguro. Não podia.
Pov Dak
Nervosa era pouco, para explicar o que estava a sentir.
No momento em que entrei no avião, arrependi-me em dizer que vinha com Jamie. Não era o momento para apresentações. Bolas, onde é que eu estava com a cabeça. Jamie não estava na melhor das relações como pai, a mãe devia estar mais preocupada com a filha do que estar a conhecer a suposta namorada do filho, e ainda havia a ex-noiva.
De repente algo surgiu na minha mente, onde raio é que eu iria ficar? O Jamie não podia estar a pensar em me enfiar em casa dos pais, certo? Por que é que eu disse que sim.
- Dak, estás a fazer cara estranhas. O que é que se passa? Estás arrependida por teres vindo?
- Sinceramente, estou.- Jamie fica a olhar para mim surpreso, sem saber o que dizer...- Não é o momento ideal para apresentares a nova "namorada".
- Dak, já te disse que...
- A tua irmã está num hospital nem sabes como, a tua mãe deve estar assustada e conhecer-me deve ser a ultima coisa que...
- Ela está ansiosa por te conhecer...
- Claro, deve ser a primeira coisa que está na cabeça dela neste momento: conhecer a nova namorada do filho, enquanto a filha está no hospital.- reviro os olhos, desvio o meu olhar para a janela durante alguns segundos, suspiro e volto a encarar Jamie...- Onde vou ficar? Pensaste nisso? Eu não posso simplesmente ir para casa dos teus pais, onde provavelmente, a "outra" vai estar.
- Ok, eu confesso que não me lembrei dos pormenores todos. Só pensei em voltar para junto da Jess. Mas, ficar longe de ti, seria...difícil. Desculpa, eu não pensei em mais nada. Perdoa-me...
- Não é uma questão de perdoar Jamie. Mas, temos que pensar melhor no que vamos fazer assim que chegarmos a Dublin. Eu não vou conhecer a tua família num hospital, enquanto a tua irmã está não sabemos como.
- Quem me vai buscar ao aeroporto é a Liesa. Eu não quero dar de caras com o meu pai, neste momento, o Jonny disse-me que a Jess estava no hospital depois de uma discussão com o meu pai.
- Achas que o teu pai...lhe...bateu?
- Não sei. E pelo bem dele, eu espero que não. Porque não o vou perdoar, a Jess é...importante para mim. É o meu porto seguro...- as lágrimas correm pelo seu rosto.
- Jamie.
- Podemos ir para casa do Luke.
- O Luke, teu primo?
- Sim. Vocês já se conhecem, então fica mais fácil.
- Não vai ser estranho para ele?
- Não. Tenho a certeza que ele nem se vai importar. Eu ligo-lhe assim que possarmos e deixamos-te lá antes de ir para o hospital, pode ser?
- Sim. E desculpa, mas tudo isto me assusta. Foi tudo muito depressa, nós nem pensámos e...
Jamie não me deixa terminar a frase, puxa-me para um beijo, e abraça-me. E assim ficámos durante o voo. Eu a pensar no possível encontro com os pais do Jamie, e ele a pensar na irmã. Pelo pouco que percebi, Jess teve uma discussão com o pai e algo se passou que a levou ao hospital. O estranho é que o marido estava há mais de três horas no hospital, pelo que ele disse ao Jamie, e ninguém lhe dava notícias da Jess. Não sou médica, contudo, sei que três horas sem notícias é porque algo grave se passava.
Ao fim de quase quatro horas de voo, finalmente chegámos. Saímos do avião, e Jamie começa a enviar mensagens para Luke e para a irmã Liesa. Quando chegámos ao local de desembarque, seguimos todos os procedimentos legais de controle de fronteiras. No caso de Jamie é mais rápido já que ele é residente, o meu é um pouco mais demorado, seguindo para a sala de bagagem, esperando pelas nossas malas.
- O Luke vai estar à tua espera em casa dele. Durante o tempo que ficarmos ele diz que vai para casa dos pais, então vamos ficar sozinhos...
- O Luke não precisa de sair de casa dele, Jamie, não quero ser um peso para ele.
- Eu disse-lhe o mesmo, mas ele diz que nós precisamos de "espaço para se amarem sem restrições.", e isto foram palavras dele, não minhas.
- Não que eu não me agrade ter um tempo sozinha contigo, mas...
- Não precisas de me dizer, até porque se eu fizer alguma coisa contigo, vou ter que me ver com o teu pai, e dele eu tenho medo.- de repente o telefone de Jamie toca.- Lis...estamos à espera das malas...sim, já falei com o Luke...vamos para lá primeiro e depois seguimos para o hospital...- e enquanto ele fala com a irmã, as malas começam a sair pela esteira, e assim que vejo a minha, e Jamie consegue retirar a dele...- Estamos a sair agora, já temos as malas, até já...- desliga o o telemóvel, dá-me a mão...- Vamos?!
- Vamos.
E assim seguimos para a porta de desembarque. Tenho o estômago às voltas. Sei que Jess nunca gostou da "outra", que sempre apoiou Jamie a vir procurar-me, porém nunca soube o que Liesa achava de toda esta história. Jamie, nunca me falou muito sobre a irmã mais velha. A não ser que era casada e tinha dois filhos e estava grávida do terceiro. Saímos, e logo vejo alguém acenar para o Jamie. Era parecida com Jamie, cabelo negro, olhos dentro do mesmo tom, talvez um pouco mais escuros.
- Jamie, que bom que chegaste. A mãe está a ligar-me de dois a dois minutos.
- Lis. Esta é a Dakota.
- Olá. Vamos, a mãe e o Jonny estão quase a subir paredes.- deu um sorriso, agarrou o braço de Jamie, e ignorou-me. Ela ignorou-me completamente. Fiquei parada, sem conseguir reagir. Eu sabia que não devia ter vindo, onde é que eu estava com a cabeça.
- Dakota..- Acordo do meu estado de choque, e olho para Jamie, que está parado ainda abraçado à irmã.- Dakota, passa-se alguma coisa?
- Não.- respondo no automático...- Não. Desculpa, apenas...- percebo que tenho o telemóvel na mão...- Estava só a mandar mensagem ao meu pai, a dizer que já chegámos.
- Ainda bem que te lembraste, senão era bem capaz do Sr. Don me bater a sério com o taco de golf preferido dele.- dou um sorriso, e saímos a caminho do carro.
Jamie entra na frente, Liesa conduz, e eu sento-me na parte de trás do carro. Sinto-me a mais neste carro. Aliás sinto-me a mais na vida do Jamie. Onde é que eu estava com a cabeça para me envolver com ele. Nós não temos nada a ver um com o outro, como diz o Jake, somos de ligas diferentes. A dele está na primeira divisão, e a minha deve estar mais para distrital. O que é eu estou aqui a fazer meu Deus. Quero voltar para casa neste momento. Quero abraçar o meu pai, e me sentir segura, em casa. Poder gritar, chorar.
- Dak. Chegámos...- Jamie diz, virando-se para trás para olhar para mim...- O Luke está à tua espera, é só tocares à campainha.- espera, mas ele nem vai entrar comigo?
- Claro. Até logo...espero que a Jess não tenha nada demais. Dás-me notícias?
- Não sei se vais conseguir sair assim tão depressa, sabes como é a mãe. E com a Jess no hospital...- Liesa diz sem nem olhar para mim. Vejo Jamie a olhar torto para ela.
- Volto assim que puder. E assim que souber alguma coisa ligo-te. Até logo, amor.
- Até logo. Prazer em conhecer-te Liesa, tenho pena que as circunstâncias não tenham sido as máis favoráveis. Talvez quando a Jess estiver melhor possamos...
- Claro. Temos que ir, a mãe está a ligar de novo.- ela nem me deixa terminar de falar...e como é que ela sabe que a mãe lhe está a ligar? Ela nem tem o telemóvel com ela...
- Desculpem, até logo Jamie.- despeço-me e saio do carro, com a minha mala e do Jamie. Mal eu fecho a porta, ela arranca com o mesmo.
Com a minha mochila nas costas, o saco do Jamie numa mão e o telemóvel na outra, não consigo segurar mais o choro. Caio de joelhos no chão, sabendo que tudo isto foi um erro. Olho para o telemóvel, e quando estou a ponto de telefonar ao meu pai sinto alguém tocar o meu ombro. Olho para trás e vejo o Luke. Ele abaixa-se e abraça-me.
- Não te deixes abater.- fico por segundos fixada no seu olhar...- Bem-vinda ao mundo orgulhoso da família Dornan. Anda, vamos para dentro.
- Eu...eu devia ir...
- Não. Não te vou deixar fazer isso. Anda falamos lá dentro.
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