Memórias 11
Olho para Jamie e vejo que ele está todo corado, e encabulado. Nunca vi um homem ficar assim. Acho que esta vertente do Jamie me deixou ainda mais fascinada por ele. Sorrio, e faço-lhe um carinho na cara.
— Que tal irmos para o Jardim público? Há locais bem reservados, e podemos conversar sem medo.
Ele concordou, eu coloquei a morada no GPS do carro e seguimos, para a conversa mais importante das nossas vidas.
Assim que chegamos Jamie sai do carro e antes que eu consiga sair ele abre-me a porta tal e qual um cavalheiro.
— Cavalheirismo!?
— Sempre...— ele dá-me a mão para me ajudar a sair do carro. Sorrio e olho para aqueles olhos cinza que me encantam.
— Gostei. Um ponto a teu favor.
— Ponto?! E quantos pontos preciso para conseguir o teu perdão?
— Não sei, ainda estou a pensar...talvez uns cem.
— Cem????
— Hmmm, tudo bem talvez seja demais. Que tal uns 50...— ele olha para mim com um bico lindo...— Deixa de fazer esse bico. Vamos?!
Caminhamos pelo parque até encontrarmos um local com sombra e bem aconchegante. Jamie retira uma toalha de dentro do cesto que trazia na mão e estende-o.
— Senta-se.— Assim faço...— Queres comer alguma coisa...ou...beber talvez?
— Jamie.— chamo-o suavemente.— Eu não quero comer, nem beber... só quero que...
— Eu estou com sede. Está calor hoje...— Não sei onde ele acha que está calor.
A Irlanda é um país de clima bastante imprevisível no quesito das variações diárias, independente da estação em que se encontre.
Pode parecer estranho, mas é totalmente normal um dia de sol intenso e quente ser interrompido por uma nuvem carregada com chuva igualmente intensa. Por conta dessas mudanças bruscas, muitos dizem que é possível vivenciar as 4 estações em apenas um dia.
E hoje está naqueles dias que eu amo. Não está frio, nem calor e corre uma brisa reconfortante.
— Ei!— olho para ele, e seguro com as minhas mãos as suas, que estão suadas.— Não precisas ficar nervoso.
— Nervoso?! Eu?! Imagina...— sorrio das suas palavras...— Eu estou apavorado.— e agora sou eu que fico sem palavras...— Dakota, eu estou apavorado em te perder.
— Perder? Mas...
— Eu...— Jamie respira fundo...olha para os meus olhos, e dá me um carinho na minha bochecha com a sua mão.— Eu estou completamente apaixonado por ti. Desde aquele dia em que nos esperamos á chuva. Nunca mais consegui tirar te da minha mente.
— Eu...eu não sei o que te dizer.
— Não digas nada. Deixa-me contar tudo, depois decides o que fazer, sim?— aceno com a cabeça e Jamie começa...— Eu sou o filho mais novo dos meus pais, o filho homem que o meu pai sempre quis, mas que demorou para chegar. A minha mãe sofreu muito para me ter. Depois da Jess, ela teve dois abortos, os médicos aconselharam-na a não ter mais nenhum. Ela ia morrendo...mas
— A tua mãe queria dar um filho homem ao teu pai.
— Sim. Ela ama demais o meu pai, e mesmo hoje depois de tudo o que o meu pai me fez...
— Estás a falar de te ter fechado as portas para outro emprego, para te obrigar a voltar?
— Sim...eu acho que depois de tudo isso, e depois do que ele fez á Jess, finalmente ela abriu os olhos.
— "O amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente..." já escrevia o Camões. A tua mãe ama o marido. Talvez ele tenha sido sempre assim, talvez ele tenha mudado ao longo dos anos.
— Será? Eu sempre vi o meu pai como alguém autoritário, era sempre ele que mandava. Mesmo com a minha mãe.
— Jamie, ao fim de anos de casamento eu acho que a tua mãe conhecia o teu pai o suficiente. Talvez achasse que podia, com o amor que ela sentia e sente por ele, tentar acalmar os ânimos se fosse necessário.
— Talvez. Mas, continuando. Eu cresci sendo mimado pelo meu pai, mesmo sendo autoritário. Era sempre a minha mãe que colocava alguns limites. O meu pai ensinou-me que pela nossa posição social nós éramos melhores que os outros. Que ninguém nos superava... já a minha mãe dizia-me que por muito que tenhamos, nada é certo. Que um dia o que era nosso podia muito bem nos ser tirado. E que por isso devíamos tratar todos da mesma forma, porque nunca saberíamos quando iríamos precisar da sua ajuda.
— Já gosto da tua mãe.
— Infelizmente a minha mãe teve uma depressão quando eu era novo. Lembro-me de a ver chorar, de a ver sempre triste, era como se ela estivesse ali perto de nós apenas em corpo. A minha Tia, para ajudar o meu pai sugeriu que eu fosse morar com ela durante algum tempo. E assim aos 8 anos fui morar com os meus tios e a minha "prima" Amélia.
- Por quê "Prima"? Não gostavas dela?
— Não gostava nem deixava de gostar. Amélia não é minha prima de sangue. O meu tio adoptou-a como filha quando se casou com a minha Tia. Continuando, os anos passaram e só voltei para casa já tinha 16 anos. Vivi 8 anos longe dos meus pais, ou melhor da minha mãe. O meu pai ia-me buscar algumas vezes para jantarmos ou conversarmos, as minhas irmãs apenas Liessa o acompanhava. Jess dizia sempre que preferia ficar com a minha mãe.
— E foi nessa altura que soubeste desse noivado?
— Bem na verdade o noivado estava combinado desde que nasci, e acho que foi por isso que a minha mãe teve a depressão, ela nunca concordou com aquilo. Eu soube no dia em que fiz 18 anos. Nessa altura já tinha rolado um beijo ou outro entre nós, mas eu nunca avancei mais, havia algo que me fazia retrair e nunca percebi porquê.
— Mas deixaste andar...deixaste criarem espectativas!?
— Naquela altura para mim o casamento, ou o amor, a paixão era algo que eu não via ser possível para mim. Então casar com Amélia ou com qualquer outra mulher era-me completamente indiferente...
— Até...
— Até eu te conhecer. Tu mudaste a forma como via as mulheres, como via o amor, a paixão. E quando a minha mãe me disse "Só quero que sejas feliz, e se a Amélia não for a "mulher" que faz este coração bater mais forte, então não vás na conversa do teu pai."
— E...
— E eu arrumei as malas, acabei com o noivado, casamento fosse o que fosse que eu tinha com a Amélia e vim para Belfast para te encontrar.
— Eu...eu não sei o que te dizer...eu estou confusa.
— Eu não estou à espera de uma resposta hoje. So quero que saibas que eu te amo, como nunca amei ninguém antes.—olhei para os seus olhos. Aqueles olhos cinza que me fascinam, me prendem.
— Eu...eu queria dizer te o mesmo...queria dizer te que te...
— Dak, eu não quero...
— Deixa me falar por favor. Se eu dissesse que não sinto nada por ti, estava a mentir. Mas...
— Mas...
— Jamie, se eu seguir para a frente com o que sentimos, eu tenho que ter a certeza que nada nem ninguém se intromete entre nós.
— Eu prometo que ninguém...
— Jamie. Tu estás a dizer isso agora, se bem me lembro tu próprio me disseste que o teu pai te fechou portas em vários hospitais, e quando precisares de dinheiro? Quem me diz que não voltas...— Jamie levanta-se e fica de costas para mim.
— É isso que pensas de mim? Achas mesmo que eu viria para cá se...— Levanto-me e caminho até ele.
— Eu...só tenho medo de me deixar levar, e no fim...— de repente só sinto o Jamie puxar-me para mais perto. Os seu lábios chocam com os meus, não agressivamente, mas apaixonadamente. Somos uma mistura beijos, abraços, de sentimentos que sufocam e se libertam. Quando por fim nos soltamos, estamos ambos sôfregos.
— Diz-me que não sentes o que eu senti? Dakota, isto que se passou entre nós é algo tão forte que nenhum dos dois pode negar.
— Eu nunca o neguei.— digo enfiando-me no calor do seu abraço, sentindo o seu cheiro...
— Por favor, eu nunca...eu jamais faria ou farei algo que te faça sofrer. Eu amo-te Dakota Mayi Johnson.
— Eu...eu acho que também te amo Jamie. E posso estar a fazer a pior asneira da minha vida...eu vou-nos dar uma chance, e por favor a única coisa que te peço é que não me magoes.
— Nunca.
E ficamos ali naquele jardim durante mais algumas horas. Chegámos á minha casa já passava da hora do jantar. Depois deste dia, Jamie falou com o Sr. Don Johnson e pediu-lhe oficialmente autorização para namorar comigo. A minha mãe só soube rir, o meu pai estava nas sete quintas...e as minhas irmãs estavam incrédulas ao ouvir o meu pai no dia seguinte dizer "Quem quiser namorar, o dito tem que vir aqui pedir autorização, tal como o Jamie fez."
Não sei como será o futuro, não sei qual a reação dos pais e irmãs do Jamie quando souberem. O que me importa neste momento é que estou feliz, sinto cada vez mais que o meu coração está entregue a este amor e vou aproveitar cada minuto, cada segundo ao lado do Jamie.
Parecíamos dois adolescentes a namorar escondido, no início. Sim,decidimos que apenas a minha família saberia. Porém, a necessidade de estarmos juntos de nos sentirmos de nós tocarmos era demasiado forte, e uma tarde no abrigo fomos "apanhados" na despensa pelo Dr. Smith.
Ele no início não disse nada, apenas olhou para nós. Achámos que ele ia "cair" em cima de nós, dar-nos uma bela de uma bronca. Mas, ele apenas olhou para nós durante segundos, que pareceram horas e começou a gargalhar.
Ele diz que somos dois loucos apaixonados. E desde esse dia, que descobriu que estávamos juntos, não para de dizer que foi ele que nos juntou. Que ele era o nosso cupido. Bem,surgiu depois uma guerra entre ele e o meu pai que também se achava o cupido da nossa relação.
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