Capítulo 6
E assim fica combinado, que assim que conseguisse falar com as professoras de Stella, lhes ligaria. Mel e Don agradeceram e aproveitando estar na escola, foram perguntando sobre Rita e o seu futuro.
Don ouviu talvez o que não queria: Rita estava inscrita para a prova de música para o conservatório. O que logo ele proibiu, avisando que Rita não iria fazer essa prova.
Mel tentou acalmá-lo, mas de nada adiantou. Ela sabia que à tarde iria haver uma nova discussão entre pai e filha. E desta vez Don não a teria do seu lado.
Quando chegaram ao carro, Don ia furioso. Mel mantinha-se calada, ela sabia que o esposo precisava de tempo para digerir o que havia escutado, ou melhor até onde havia escutado. Porque se ele tivesse ouvido atentamente, percebera que para estas audições eram os professores que indicavam os alunos. Assim não foi Rita que se inscrevera, mas sim a professora que a indicara.
- Eu não acredito que a Rita ia fazer a audição sem nos pedir autorização. Ela ia esconder-nos Mel, ia mentir...
- Podes aclamar-te um pouco, não foi nada disso que a Ana nos dissse...
- Eu ouvi muito bem Melanie. Posso estar velho, mas não estou surdo. E ela hoje vai ouvir-me, ai vai.
- Podes parar de gritar, eu não sou uma das miúdas, e mesmo que fosse não te admito que levantes a voz a nenhuma de nós.- entretanto já tinham chegado a casa, Mel sai do mesmo e entra em casa...
- MELANIE. Mel...- mas ela simplesmente o ignora e continua o seu caminho para a cozinha...- Amor...
- Agora é amor!? Não Don, agora quem está chateada sou eu. Tu mal ouves falar do sonho da tua filha viras bicho, quando a culpa é tua e só tua. Foste TU que a colocaste para tocar piano, foste TU que a colocastes no coro da Igreja. FOSTE TU QUE ALIMENTASTE O SONHO DA RITA.
- Aprender a tocar um instrumento, ou cantar nunca fez mal a ninguem. Mas apenas como um hobbie. Que futuro é que ela tem com a música?
- E o que é que interessa? O importante para ti deveria ser a felicidade da tua filha.
- Que felicidade? O que é que vamos responder quando nos perguntarem em que é que a Rita trabalha?
- Então tudo isto tem haver com o preconceito? Com o que os outros podem achar? E ainda criticas tu os pais do Jamie! Tu és igual, ou pior. Chega Don. E sabes uma coisa, acabou-se a ideia de ir visitar a Dak.
O dia foi passando, e quer um quer outro ficaram no seu canto. Um pouco antes de saírem para ir buscar as meninas, Ana ligou-lhes avisando que já estava tudo combinado com os professores, contudo pediu que esta situação não se repetisse muitas vezes. Mel assegurou-lhe que não iria acontecer mais, e que iram começar a organizar estas viagens durante as férias escolares.
O ambiente no carro na volta a casa era de cortar à faca, nem Mel nem Don falavam, aliás eles evitavam até olhar-se. Qualquer uma das meninas percebeu que tinha havido alguma coisa. Rita decidiu não dizer nada, sabia que o pai ainda estava zangado por esta manhã, e depois de saber pela professora de música que o pai tinha proibido a sua inscrição na audição para o conservatório, sabia que se abrisse a boca sobraria para ela.
Stella sabia que não conseguiria falar sem uma brincadeira, e pelo ar do pai não era o momento para um dos seus rasgos de comédia. Apenas Grace teve coragem de dizer alguma coisa.
- Mãe, pai...o que é que se passa? Aconteceu alguma coisa com as manas?
- Não, meu amor.- diz Mel olhando para as filhas que nesta altura estavam as três com uma lágrima no canto do olho...- Elô e Dak estão bem, não se preocupem.
- Então porque é que vocês estão assim? Mãe vocês vão-se separar?
- Meu Deus Stella, de onde tu tiras tanta imaginação. Eu e o pai estamos zangados sim, mas logo vamos resolver as coisas não se preocupem.
- Eu não estou zangado com ninguém, bem estou furioso com a Rita.
- Pronto eu sabia que ia sobrar para cima de mim. Posso saber o que eu fiz agora?
- Rita querida falamos amanhã por favor, já tive a minha dose de gritos por hoje.
- Amanhã!? A conversa que essa menina vai ter será hoje e comigo. E se o que eu achar for verdade podes começar a preparar-te porque o meu chinelo vai ficar marcado nesse teu rabo.
- Don, tu não vais...- Mel agora olhava para o marido assutada. Don por muito que as meninas aprontassem nunca lhes tinha levantado a mão, quanto mais o chinelo.
- Se ela me provocar podes ter a certeza disso. O mal da Rita foi não ter levado umas boas palmadas quando foi preciso.
- Pai. Eu...não...fiz...nada...por favor...mãe...
Don para o carro e sai. Abre a porta de Rita e puxa-a para fora arrastando-a com ele para dentro de casa e para o escritório. Enquanto isso, Mel pede às outras duas que subissem e se mantivessem no quarto até ela as chamar.
No escritório ouvia-se apenas os gritos de Don e o choro de Rita. Quando Mel entrou encontrou Don sentado na cadeira com Rita no colo e por cada "Eu odeio-te" que Rita dizia era uma palmada de Don. Mel não perdeu tempo e aproximou-se dos dois impedindo mais uma palmada.
- CHEGA. CHEGA...- Mel chorava pela filha e por ela. Nunca deveria ter permitido aquilo, nunca deveria ter deixado as coisas chegarem àquele ponto.
- Mamã...eu...não...fiz...eu...não me...inscrevi. Eu...juro...mamã.
- Eu sei amor, eu sei. A Ana explicou-nos isso, mas o teu pai como sempre só ouve o que quer.
- Não, eu ouvi muito bem. Pergunta-lhe...pergunta-lhe se ela ia fazer a audição mesmo sem a nossa autorização.- Mel olhou de Don para a filha...
- Eu só queria tentar, eu só queria saber se...se eu era mesmo boa...nunca o faria para te desafiar pai. Apesar de ser o meu sonho, eu abdicaria por ti.
- Rita, sobe minha princesa. Toma uma banho e descansa um pouco, já te levo algo para tu comeres.
Assim que Rita saiu do escritório, Don sentou-se na cadeira por trás da sua secretária e chora. Melanie apenas o observa, à espera que ele se acalme. Ao longo de quase 30 anos de casados muitas foram as discussões, a maioria das vezes por não concordarem com coisas tão insignificantes como onde passar férias.
Em relação às filhas, mesmo antes de Eloise nascer conversaram muito como gostariam de educar os seus filhos. Os pais de Mel sempre foram um pouco liberais, já os de Don muitas vezes eram rigidos demais. Concordaram que sempre estariam presentes na vida dos filhos, apoiando-os, ajudando-os nas suas dificuldades, amando-os sempre mesmo que eles errassem.
Havia uma coisa que ambos acordaram em mutuo acordo: nunca levantar a mão a nenhum dos filhos. Bater nunca seria a solução, uma palmada aqui e ali nunca faria mal. Mas bater de tareia, nunca.
- O que foi que eu fiz...eu nunca lhe bati. Eu nunca levantei a mão a nenhuma delas, mesmo à Rita eu...mas ela...
- Ouve o que te vou dizer Don. Tens 10 minutos para ires fazer uma mala e saíres desta casa.- Don olhou para Mel sem acreditar no que estava a ouvir...- Eu não quero saber para onde vais, mas quero que saias.
- Mel...
- NÃO. Tens dez minutos.
- Estás a acabar com o nosso casamento? É isso? Estás a acabar com tudo só porque eu perdi a cabeça?
- Perdeste a cabeça? Tu nem ouviste a tua filha Don, tu simplesmente saltaste para o castigo, um castigo que nós jurámos nunca dar. Ou esqueceste o que me contaste? O que o teu pai te fazia?
- Não. Mas...
- Não há mas...eu preciso de ficar sozinha. Preciso de ficar longe de ti, porque a minha vontade Don...eu nem sei qual é. Se me dás licença vou ver da "Minha" filha...- e caminhando até à porta e antes de sair...- E respondendo à tua pergunta, eu não vou pedir o divórcio. Porque apesar de tudo eu ainda te amo.
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