Capítulo 47
Pov Jamie
Nada correu como esperávamos, e as últimas semanas têm sido complicadas.
Dakota, apesar de já estar em casa, ainda está com dores. E se uma grávida já é complicada pela variação de humor, imaginem uma grávida com as hormonas aos saltos e com dores, sem poder tomar nada mais que um paracetamol, que pouco ou nada lhe alivia as dores.
Falei com a Mel, e acabamos por adiar um pouco a compra da casa. Dak precisava de apoio, de ter alguém que pudesse cuidar dela, e mesmo eu já tendo a Bela conosco, sabia que para Dak ter a mãe por perto seria melhor. Ainda havia o facto, de ter que estar fora de casa muito tempo, uma vez que, começamos o tratamento intensivo em Don.
As visitas agora, apenas podiam ser feitas através de uma janela. Todo o seu sistema imunitário estava debilitado, e não podíamos correr riscos. E esse era outro ponto que fazia Dak ficar fora de orbita. Não poder estar com pai naquele momento, era difícil. Don continuava sem saber o que tinha acontecido com a filha, e assim continuaria.
Hoje, iremos começar o tratamento. Antes de o operar, tentaremos controlar o tumor. Todos os médicos envolvidos sabem que é um tiro no escuro. Não sabemos se vai resultar, não sabemos se tudo o que Don vai passar com a quimio e a radio terapia irá resultar. Contudo, temos que tentar.
- Bom Dia.- digo ao entrar no quarto de Don, onde já está Mel.- Pronto?
- Não sei.
- O Don, está a reconsiderar todo o tratamento...- diz a Mel com lágrimas nos olhos.
- Entendi.- sento-me num canto da cama, e olho para os dois...- Eu não vou mentir para nenhum dos dois. O tratamento é apenas uma tentativa para tentar conseguir enfrentar o tumor. Não sei se vai resultar, não sei se quer se depois do tratamento, se estará apto para ser operado, e muito menos se o operar conseguirei retirar o tumor. E esta, é a verdade. Por isso, a decisão é sempre sua.
- Eu...eu não quero morrer Jamie. Eu tenho três filhas que ainda precisam de mim. Tenho dois netos que quero conhecer, mimar e ver crescer. Mas...será que não é melhor aproveitar apenas o tempo que tenho com as minhas mulheres bem? Sem dores? Consciente?
- Eu percebo. Don, se não fizermos nada, o tumor vai espalhar-se ainda mais. E o pior não é esse, o tumor em si, vai acabar por aumentar. E...pode acabar por entrar num coma do qual não vai voltar.
- Quanto tempo? Quanto tempo tenho?
- Não sei, ninguém lhe pode dar um tempo certo. Podem ser dias, meses, anos. Podemos dar remédios para as dores, para o deixar mais confortável, mas Don, aos poucos vai deixar de fazer coisas que está habituado a fazer, como falar, ver, até mesmo andar. É como se o cérebro aos pouco fosse apagado por completo por uma borracha, e tudo o que ele controla é apagado.
- Don.
- Mel, e se nada resultar? E se eu passar por tudo isto, e o resultado for o mesmo?
- Podemos tentar um ciclo de tratamentos, se não virmos resultados cancelamos o segundo. Que tal?
- Isso quer dizer o quê?
- Que depois do primeiro ciclo de tratamento, avaliamos os resultados. E nessa altura decides se queres continuar, ou parar.
- Tudo bem. Mel, se eu decidir parar, não quero que as meninas saibam a gravidade do que me vai acontecer. Vamos apenas deixar as coisas acontecerem...por favor?
- Não. Podemos até não contar nada às mais novas, mas a Elô e a Dak, vão ter que saber, não posso esconder tudo isto delas, não posso.- Don acena com a cabeça e sorri.
- Bem, vamos então. Mel, se quiseres podes ir com ele.- eles sorriem a acenam os dois.- Então, vamos lá enfrentar esse boi pelos chifres, e ganhar a primeira batalha.
Sorrimos os três e seguimos para o primeiro ciclo de quimio, que Don vai enfrentar. Tem que resultar, todo este plano tem que resultar. Não posso falhar. Não posso.
POV DAK
Mais um dia. 24 horas que estou confinada nesta cama, nestas quatro paredes, do quarto onde eu e Jamie temos dormido em casa da minha mãe. Depois de ter saído do hospital, a minha mãe fez questão de tratar de mim. Jamie não iria poder ficar sempre comigo, já que iria começar os tratamentos ao meu pai.
Estava há 15 dias enviada neste quarto, ainda tinha algumas dores, e por isso mantinham-me deitada. 15 dias sem ver o meu herói. Dias intermináveis, que custavam a passar, uma hora pareciam três horas.
A meu pedido, pedi que não contassem ao meu pai sobre o que se passou comigo. Então apenas lhe disseram que estava a passar algo mal com os enjoos da gravidez, e que por isso não o ia ver. Como a Elô também estava a passar pelo mesmo, ele nem desconfiou. Como não me vou poder levantar, pois não me vão deixar, começo a pensar na Arielle/Sienna. O facto da minha mãe querer agora fazer alguma coisa, assusta-me. Ela passou a vida toda a viver um meia mentira, e se ela não quiser nada conosco? E se...
- Bom Dia, minha menina.
- Bom Dia Bela. A minha mãe?
- Foi pôr as suas irmãs à escola.
- E a avó Tippi?
- Ver a sua irmã Eloise. Parece que ela não estava bem...
- Não está bem!? É o bebé? O que é que se passa? Ai...bolas...
- A menina sabe que não pode fazer esses movimentos.
- É, o meu corpo sabe, mas a minha mente às vezes esquece-se. O que é que aconteceu com a Elô?
- Mal estar característico da gravidez, nada de mais. Mas como o menino Luke tinha que ir trabalhar, e não a queria deixar sozinha, pediu ajuda...
- E a Tippi foi para lá?- Bela acena...- Então estamos sozinhas?
- Sim. A sua mãe depois de deixar as suas irmãs ia ver o seu pai.
- Sinto-me uma inútil deitada nesta cama. Queria tanto ir ver o meu pai...ele...ele pode...
- Sei o que está a pensar, porém, lembre-se que o seu pai tem muito pelo que lutar para viver.
- A Bela está certa Dak.- olho para a porta do meu quarto e vejo as outras três mulheres da vida do Jamie: Lorna, Liesa e Jess.- Bom Dia minha querida.
- Lorna.- a minha sogra vem para perto de mim e abraça-me devagar para não me magoar.
- Bom Dia Coqui.- Diz Jess, que sem nem pedir, deita-se ao meu lado na cama.
- Jess.- Lorna repreende Jess, que apenas lhe sorri, depois de me cumprimentar a mim e ao meu bebé.
- Que foi? Só vim cumprimentar o meu afilhado.
- E quem te disse que eles te iam escolher, ó maluca?- pergunta Liesa.
- Porque sou a irmã preferida do Jay, e a cunhada preferida da Coqui. Certo?- Ela pergunta-me com um olhar de gato das botas.
- Eu...eu não sei...nós ainda nem...- não quero magoar nenhuma das duas, e pior é que a concorrência é feroz, porque a Rita, a Estrelinha e até a Grace já entraram nesta mesma disputa.
- Deixem a Dakota em paz, credo. O meu neto ainda nem nasceu e já estão nesta disputa doida.
- O pior é que até as minhas irmãs já começaram com a mesma a história.- e olhando para a Jess...- e vou dizer-te o que lhes disse a elas: os padrinhos do meu bebé só vamos escolher no dia que ele nascer.
- Meu Deus, isso é uma eternidade. Ter que esperar durante meses...vai ser uma agonia.
- Deixa-te de drama Jess. E como é que estás minha querida?
- A sentir-me uma inútil aqui deitada.- as lágrimas começam a cair, sem que eu perceba...
- Essas tuas hormonas andam aos saltos...- diz a Liesa sorrindo para mim...
- Nem na gravidez do Peter eu estive assim, quer dizer, não até sabermos o que ele tinha.
- Todas as gravidezes são diferentes Dak. Tive quatro, e nenhuma foi igual...
- Eu...eu queria ir ver o meu pai...queria...vê-lo...antes...antes...
- Sabes que o Jamie está a fazer tudo para o salvar não sabes?- Lorna diz pegando nas minhas mãos. Eu apenas assinto, eu sei que Jamie fará tudo para o salvar, mesmo que a hipótese disso seja muito reduzida...- Mas, o tumor do teu pai...
- Eu sei. O Jamie não me escondeu nada. Eu sei que a probabilidade de tudo correr bem é mínima.
- Então sabes que se fosse outro doente qualquer, o Jay já o tinha mandado para casa, para...
- Morrer...eu sei. E o meu medo é esse, que depois de tudo...o resultado seja o mesmo.- respiro fundo...- Fui eu que pedi ao meu pai que tentasse, eu convenci-o a arriscar a operação...
- O teu pai sabia os riscos, ele não o fez apenas porque tu lhe pediste. Ele fê-lo por vocês, pela família. Não te culpes, não por pedir ao teu pai que lutasse.- diz Lorna sorrindo para mim, com aquele sorriso que uma mãe sempre tem para nos animar num momento de tristeza.
- Bem que tal mudarmos de assunto. Li, porque é não contas à Dak o que falaste com a Sienna, ou Ariel.
- Falaste com a Ariel?
- Eu estive a falar com ela, sim. Como sabes ela é professora na escola do Patrick, e é minha amiga desde o colegial, mesmo sendo mais nova.
- A Sienna sempre foi uma menina muito introvertida. Lembro-me quando o Craig e a Lonnie apareceram com aquele bebé.— diz Lorna
- A senhora nunca desconfiou...quer dizer que ela não fosse filha deles.
- Não. A Lonnie engravidou, ou pelo menos eu achei que sim. Eu vi a barriga dela crescer...
- A minha mãe...contou-me que ainda foi ver a Ari de longe, ela estava grávida de mim. Mas o Craig, ele...— digo com uma lágrima nos olhos...— Nunca percebi o porquê dos meus pais não terem lutado pela Ariel.
- Eu acho que percebo...o Craig é assustador...sempre foi.— diz Jess, que até aí tinha estado calada.
— A Sienna sempre foi meio "bicho do mato", mas sempre nos mandavam brincar juntas, muitas vezes acabava por ser eu a brincar e ela encolhida num canto.- diz Liesa...
- eu nunca percebi o que aconteceu, mas um dia aquela menina doce, deixou de ser a bebé risonha que sempre conhecemos. Parece que havia algo que não encaixava.
- Será que a "mãe" da Sienna não sabia da verdadeira história? Que ela tinha sido roubada à família?— pergunta Jess
- Talvez, mas não explica a mudança na atitude.
- Não acredito que o Tio...que o Craig não tenha contado alguma coisa à mulher. Ela tinha que saber que ele era o pai. Só gostava de entender como é que ele fez para mudar a certidão de nascimento.
— Com contactos dentro do hospital e algum dinheiro à mistura...
— Achas que o pai ajudou nisto tudo?1 Liessa olha para a mãe incrédula, apesar de tudo, Jim sempre fora um bom pai para ela. E agora perceber que afinal talvez o herói não fosse assim tão herói, era difícil
— Mãe, não conheces ninguém do hospital desse tempo. Sei lá uma enfermeira, ou uma médica?— Jess olha com esperança para a Lorna.
- Sim. A Colleen, ela era a enfermeira chefe. E sempre detestou o Craig, aliás ela sempre odiou o vosso pai também. Ela foi minha colega no colégio, separamo-nos quando eu fui para medicina e ela para enfermagem.
- Tens o contacto dela? Podias tentar ver se ela sabe de alguma coisa?
- Eu tenho o numero dela, porém, eu nem sei se o número se mantém o mesmo...
- Mas, eu não percebo, porque é que falar com essa enfermeira irá mudar alguma coisa?- pergunto.
- Se alguma coisa aconteceu com a certidão da tua irmã, a Connie sempre soube de tudo. Para nós, para o mundo, a Sienna era filha dos dois.
- E se estiverem os dois envolvidos, então...então nunca conseguiremos ter a Ariel conosco.
- Vamos com calma, ok. Primeiro eu vou entrar em contacto coma Connie, depois nós decidimos como prosseguir. Dak, eu quero ajudar-vos, a vocês, mas também à Sienna. Ela merece conhecer a verdade.
- Obrigada Lorna. Obrigada mesmo...
— Sou só eu, ou esta coisa de nós chamarmos Sienna à Sienna, e a Dak chamar Ariel à Sienna, é meio confuso.— Jess afirma, gerando uma forte gargalhada de nós quatro.
Acabámos por começar a falar da gravidez, e do meu Pete. Lorna, ainda não sabia do que aconteceu, nem a Liesa. Jess já sabia, pois o Jamie contou-lhe quando eu fui parar ao hospital. Claro que ouvi um sermão por escondemos tudo, mas principalmente porque sofremos sozinhos, quando podíamos ter a nossa família conosco. Porém, acho que o que ninguém percebe, é que esta dor é nossa, é uma dor que apenas os pais conseguem sentir.
Não dá para partilhar, não dá para explicar. É todo um luto solitário. Até mesmo eu e o Christian fizemos o nosso luto de forma diferente. Nada nos prepara para a morte de um filho, não é "natural" morrerem antes de nós. Dói. É uma dor que nos corrói, porque sentimos de certa forma que não os soubemos defender, proteger. Que talvez a culpa, de certa forma, é nossa. O nosso pequeno Pete, foi amado, muito amado. Desde o momento que soubemos da sua existência, e sempre será amado. E sei que ele irá proteger para sempre este pequeno bebé que cresce dentro de mim, será o seu anjinho da guarda.
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