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Capítulo 44

— Papi, promete-me que vais tentar, que vais lutar, por favor...

— Eu não sei meu amor, será que vale a pena sofrer para depois o fim ser igual. Será que não e melhor apenas aproveitar os últimos cartuchos com vocês mas sem dores? Sem estar demasiado fraco para alguma coisa?

— Mas existe a possibilidade de conseguires ficar bem. Pai, por favor. Será que não vale a pena correres esse risco para ficares conosco?

— Não sei Dak. Não sei...

POV Dakota

Finalmente a Rita teve alta do hospital, e eu também. O meu pai infelizmente teria que ficar no hospital, o estado dele assim o exigia, os médicos tinham medo que ele tivesse outro episódio como o de há dias atrás, então decidiram que o melhor para ele era ficar num local onde pudesse estar vigiado.

Hoje era o Poppi que iria ficar com ele. A minha mãe decidiram que as meninas tinham que saber o que se passava com o nosso pai, apesar de eu não concordar, para quê dizer às três que o nosso pai poderia morrer? Ou que muito provavelmente iria morrer?

— Mãe para quê contar? Elas não precisam de saber de tudo, conta-lhes apenas que o pai está doente, mas...

— Coqui, nunca tive segredos com vocês e não vou começar agora.

— A sério?! Não tens segredos? E a Ariel? Não é segredo? Talvez o maior segredo desta família...

— Dakota. Não te admito que...

— Então não me digas que não há segredos. Mãe, por favor...

— Coqui, eu sei que vai ser difícil, que elas vão sofrer. Mas para que o teu pai consiga ter uma hipótese de sobreviver, ele precisa de todos nós junto dele. Ele vai precisar da nossa força...da nossa esperança.

Apesar de não estar convencida, a decisão seria sempre da minha mãe. Saímos do hospital em dois carros: com a minha mãe ia a Rita, a Elô e o Lucas. Eu ia no carro com o Jamie, Lorna e Jess. O  combinado era irmos para casa da minha irmã, já que as meninas estavam lá.

— Dak...Dakota?!

— O que foi?— perguntei irritada. Será que até de Jamie eu ia ouvir sermão.

— Coqui, sei que queres proteger as tuas irmãs, mas, a tua mãe tem razão. O teu pai vai precisar de todas vocês.

— Elas não precisam de saber de tudo...não precisam de saber que...que...ele...pode...

— Dakota, sei que não me devia meter, afinal  não sou da família, mas esconder, mentir, é sempre pior.— dou uma gargalhada depois de ouvir Lorena dizer o mesmo que a minha mãe. Porém, ela não sabe que essa é a especialidade da minha família.

— Coqui...

— Mentir e esconder é algo inato na minha família. Começo a ser da mesma opinião da Tippi, alguém tem que acabar com toda esta farsa que é a minha família.

— Dak, os teus pais têm as suas razões para nunca ter feito nada...— diz Jamie.

— Sim. Medo...medo de alguém nojento e cobarde. E por esse medo, nós vivemos durante anos como uma família incompleta. Chega...estou cansada de mentiras. Se ela quer contar sobre o meu pai, então que abra o jogo sobre tudo.

Percebi que já estávamos em frente da casa da Elô, e saí. Não aguentava mais. Se ficasse ali iria rebentar. Stella e Gracie abraçam-se à Rita, assim que está sai do carro, e eu passo por elas. Apesar desta não ser de muitos afectos, desta vez até ela se deixou levar pela emoção.

— Meninas, vamos deixar a Ritinha entrar, por favor. Ela precisa de descansar.— ouço a minha mãe dizer.

— Mãe, é só um abraço...— Stella fala como se fosse algo tão óbvio como 1 mais 1 serem 2.

— Que podem continuar depois de entrarem em casa e a Rita estar sentada confortavelmente na cama.

— Cama não...por favor.— Rita diz entrando com ajuda da minha mãe em casa.— Deixa-me ficar na sala, eu prometo que não me levanto do sofá.

— Rita, o médico mandou-te descansar.

— E eu posso descansar sentada no sofá. Por favor mãe, estou cansada de ficar na cama. Jamie, por favor diz à mãe que eu posso ficar na sala a descansar?— Jamie sorri, com os olhinhos que Rita faz.

— Ela sempre fez estes olhos quando queria alguma coisa?— pergunta-me nos meus ouvidos, já que assim que entrou em casa veio ter comigo ao sofá o de me sentei. Apenas aceno que sim...— Mel, ela pode ficar por um tempo na sala.

— Vês mãe. É bom ter um médico na família...

— Rita, é um bocadinho. Tens que descansar, até porque os medicamentos vão te dar sono, então é melhor estares na tua cama para dormires melhor.— diz Jamie agora com uma voz de médico a descansar com a paciente rebelde.

— Tenho mesmo que tomar aquilo tudo?

— Rita, isso nem se discute.— responde-lhe a minha mãe...— Agora vê se ficas quieta aí, que eu vou tratar do almoço. 

Lorna e Jess, acabam por ir com a minha mãe e a minha avó para a cozinha. Jamie vai com Lucas para o jardim, enquanto nós cinco ficamos na sala. Confesso que estou bem longe da conversa que as minhas irmãs estão a ter.

Penso no meu pai, e na possibilidade de nós o perdermos. Penso em Ariel, no que Jamie me contou sobre ela, em como não é feliz. Penso em Liam, não o conhecia bem, mas pelo que Rita me contou dele, não é nada parecido com o pai e os irmãos.

Levanto-me, dizendo que vou à casa de banho. E sigo para a mesma, contudo, assim que percebo que ninguém me vê, pego nas chaves do carro da minha mãe, que as largou no armário da entrada, e saio fechando a porta da casa bem devagar, de forma a não perceberem que saí. Vou até ao carro, e devagar fecho a porta do mesmo e dou à ignição.

O trânsito não estava mau hoje, consegui chegar em 20 minutos. Não era um lugar onde vinha muita vez, mas lembro-me de uma vez que cá estive: no dia em que recebemos a notícia que a Rita estava com leucemia. O meu pai quis vir cá, rezar ao meu avô, pedir-lhe que intercedesse lá em cima pela filha. Hoje vim para fazer o mesmo que o meu pai, mas desta vez sou eu a pedir ajuda.

Saio do carro, fechando-o e sigo para a entrada do cemitério local de Belfast. Já não venho há muito tempo aqui, mas sempre me vou recordar onde estão eles. Chegando lá, sento-me junto à campa.

— Sei que devem estar meio zangados comigo. Nunca mais vim cá. Sei que o pai vem muitas vezes, ele sempre vem. Eu nunca te conheci avô, mas sei que foste um pai maravilhoso, e quero que saibas que podes ter orgulho no teu filho. Ele foi...ele é um óptimo pai, o melhor que eu poderia escolher. Estarias orgulhoso.— suspiro...— Avó...sei que te prometi tomar conta dele, mas...eu não...consigo...eu não...perdoa-me...não o leves de mim. Não assim, ele...eu preciso dele. Nós precisamos...

— Dakota. Estás cada vez mais parecida com a tua avó.

— Tio Craig?!

— Tio!? É bom saber que ainda me consideras família...

— A única coisa que temos em comum é o facto de seres pai da minha irmã.

— O quê? Como?

— Achas que o meu pai um dia não nos contaria? Eu sei que tenho uma irmã. E sei que a "raptaste", que a tiraste do colo da nossa mãe, sem dó nem piedade. Sei que ela se sente infeliz, sem perceber o porquê de não se conseguir encaixar na família...eu sei tudo.

— Não sejas impertinente. Bem que o Jim tem razão, és apenas uma coisinha a aproveitar-se do estatuto de Jamie.

— Eu amo o Jamie. Eu não estou com ele pelo dinheiro, ou posição. Até porque, verdade seja dita, tenho mais que ele.

— Tu? Mais dinheiro que os Dornan? É para me fazer rir? Porque está a dar resultado...— e começa a rir-se.

— Podes rir, mas como dizia a avó: quem se ri por último, ri melhor.

— Ouve bem menina...— diz pegando em mim pelo pescoço, apertando-o. Sinto-me a ficar sem ar...— Eu posso acabar com todos vocês num pestanejar, não o faço, porque apesar de tudo a tua avó era alguém especial para mim.— Ele solta-me, e caio no chão.

— Ela era tão especial que deixaste o meu pai, o filho dela, quase ir para a prisão, era tão especial que o deixaste sem nada, era tão especial que roubaste a minha irmã...

— A Sienna, não é tua irmã.— ele diz dando-me um pontapé, atingindo a minha barriga...— Ela é minha filha, minha e da minha esposa. Ela não é nada vosso...— e cada frase que ele diz, um pontapé é me dado.

— Não...por favor...para...para...— ele ri-se...e olha para mim...

— Agora estás mansinha.— Baixa-se...pega no meu cabelo, puxando-o para cima, e olha nos meus olhos. Está com um olhar de ódio...— Ouve com atenção, porque se não quem vai sofrer não são vocês, mas ela...esqueçam que alguma vez a vossa mãe teve outra filha.

Solta a minha cabeça com força, fazendo com que eu bata com ela no chão. Sinto-me tonta, e com dores por todo o corpo. Estou com medo...o meu bebé...ele...eu não o posso perder. Ouço ele dizer algo virado para o túmulo da minha avó, mas estou tão dorida que parece que ele está bem longe. Passa por mim, e despede-se, dando-me um novo pontapé, forte, bem forte. Sinto uma dor absurda no abdômen. 

— Vó, ajuda-me. Por favor...eu não posso...voltar...a perder...o meu bebé...eu não...vou...suportar...— digo já quase sem forças...— Jamie...preciso...de...ti...perdoa-me...— e sou levada para a escuridão.

Pov Jamie

Depois de instalarmos Rita no sofá, as cinco irmãs Johnson começaram a falar. Era notório o amor que existia entre as cinco. Olhei para Dak, e ela está longe dali. Sorri, acena, mas no fundo sei que a cabeça dela não está neste momento naquela sala.

A minha mãe e Jess foram com Mel e Tippi para a cozinha. Eu fui com Luke para o jardim, tinha muita coisa para lhe contar: a doença do Don, a história da Sienna e a escolha que o meu pai me fez tomar.

— Então o tio despediu-te?

— Ele não me despediu apenas, ele deserdou-me. Para ele eu morri, simples e cruelmente morto.

— Jamie, eu...nem sei o que te diga. O que vais fazer?

— Neste momento? Nada, a não ser tentar encontrar uma casa onde possa viver com a DaK.

— Vais te mudar para cá?

— A Dak não vai querer sair daqui agora, e eu não tenho nada para onde voltar. Então, por enquanto sim, vamo-nos mudar.

— O caso do Don, é assim tão grave?

— Se não fosse meu sogro, eu tinha mandado para casa aproveitar os últimos dias de vida.

— Jamie!? Então por que é que...

— Porque eu não suporto pensar na hipótese de ter que dizer à Dak que o seu herói vai morrer, sem pelo menos tentar algo.

— E será que não é pior? Estás a dar uma esperança, que muito provavelmente não...

— Elas sabem. Não escondi nada, nem da Mel, nem da Dak. Só não sei o que contaram à Elô.

— O que nos contaram foi que ele estava com um tumor, que era grave, e que iriam tentar operar.

— Isso resume um pouco as coisas.— sento-me numa cadeira que existe no pequeno jardim, e suspiro...— Eu sei que eticamente fiz tudo errado Lucas, mas, como é que eu podia olhar para a Coqui e dizer que estava tudo acabado, que apesar de eu ser médico, eu não o podia salvar, que eu não o posso salvar.

— Jamie, há mesmo alguma hipótese de...

— Verdade nua e crua?— levanto o meu olhar para o Lucas...— Se te falar em percentagem, existe cerca de 2% de probabilidade de conseguir no mínimo dar uma chance ao Don. A verdade é que só vou conseguir avaliar tudo, quando estivermos na cirurgia. Eu sei que o tumor está num local difícil, porém o que mais me preocupa não é a massa cancerígena, e sim as ramificações que possam existir.

— Já percebi. Quando vais operar?

— No máximo daqui a duas semanas. Não quero esperar muito...— levanto-me...— Vamos, não quero deixar a Dak sozinha muito tempo.

Quando entro, não vejo a Dak. Pergunto à Elô onde ela está, que me diz que ela foi à casa de banho. Começo a pensar que talvez esteja com enjoos e decido ir ver dela. Quando chego à porta, bato. Como não tenho resposta, chamo por ela. Nenhuma resposta. E agora sim começo a assustar-me, rodo a maçaneta e abro a porta. Nada. Não está ninguém.

— Elô, tens a certeza que a Dak disse que foi à casa de banho?— pergunto assim que volto à sala.

— Sim. Eu vi-a a entrar.

— Ela não está lá.— Pego no telemóvel e ligo-lhe. Ouço o toque dela, bolas ela não o levou.

— Jamie, querido o que se passa?— pergunta a minha mãe que entra na sala com Mel, Tippi e Jess.

— A Dak sumiu...— Elô que entretanto saíra da sala sem eu nem ter reparado, volta à sala

— Lá em cima ela também não está.

— A Dak não está em casa.— diz Tippi que vem do lado de fora da casa...— O teu carro não está lá fora Mel. A Dak deve ter saído com ele.

— Para onde é que ela foi? Onde está a minha mulher?— de repente o meu telemóvel toca...não reconheço o numero...— Estou?...Sim sou eu...O quê? Eu vou já para aí. Obrigada.

— Jamie.

— A Coqui...ela foi encontrada desmaiada...no cemitério...alguém...a espancou.

E saio, não espero ninguém...apenas quero ir para o hospital. Quando de repente sinto alguém atrás de mim.

— Dá-me essas chaves. Eu levo-te, estás nervoso...não vais a conduzir.— Jess olha para mim com aqueles olhos de obedece-me senão não sais daqui.

Dou-lhe as chaves e vou para o lugar do pendura. E ali naquele momento eu desabo...quem é que lhe fez mal? O Bebé? Será que ela o perdeu?

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