Capítulo 33
Pov Dak
Depois de uma tarde de jogos e filmes, deixámos as minhas irmãs em casa com Tippi e seguimos para o hospital. Jamie não nos contou nada sobre Rita ou sobre o meu pai, e eu estava a saltar na pipoca para saber o que ele me estava a esconder. Então antes que o carro iniciasse a sua marcha, não aguentei mais...
— Jamie, podes começar a falar.
— A falar sobre o quê?
— Sério que vais desconversar!? Jamie Peter Maxwell Dornan, se não queres ficar a dormir no carro esta noite é melhor começares a abrir essa boca.
— AHHH!!! Já abri...— eu não posso acreditar no que ele acabou de fazer...ele está literalmente a fazer pouco de mim...— Desculpa, foi mais forte que eu...— dou-lhe um murro no braço que com a força que tenho não deve nem ter sentido dor...— AI...
— Nem te dever ter doído. Agora diz-me lá já sabem o que se passa com a Rita e com o meu pai?— e depois de um beijo daqueles de molhar tudo e de eu me sentar de novo no meu lugar...Jamie arrancou com o carro.
— O teu pai dever ter estado a fazer alguns exames, mas outros eles só podem fazer quando ele acordar. Então mesmo eu sendo da área de Neurologia, não te posso adiantar nada sem os resultados.
— E a Rita? Já sabem alguma coisa?
— Bem pelo que percebi hoje, eles estão a pontar para uma doença cardíaca. Mas ainda não sabem o porquê de só agora se ter manifestado. O médico que a está a acompanhar acha que pode ter a ver com os tratamentos que ela fez em mais nova...
— Contra a Leucemia!?— Jamie apenas assente...— Mas como é que nunca perceberam isso?
— Dak, a quimioterapia ataca não só as células más, como as boas. Por vezes a perda de células boas é grande o suficiente para conseguirmos ver os sintomas de algo que esteja errado. Mas muitas vezes não há sintomas imediatos. É algo que eles estão a investigar.
— E o que é que tu achas? Como médico...e não me mintas...
— Pelo que a tua mãe me disse a asma da Rita piorou depois da Leucemia...— assinto, porque de facto olhando para trás, as crises ficaram piores e mais frequentes depois da Leucemia...— Na minha opinião esse pode ter sido o primeiro sintoma de que algo não estaria bem...
— E porque é que na altura, os médicos não...
— Porque a Rita já era asmática, para eles talvez fosse apenas algo que ela já tinha e não algo que pudesse ter sido consequência da Quimio.
— Tudo bem, e o o que tem a Asma da Rita a ver com a possibilidade de uma doença cardíaca?
— O facto da Rita te sofrido crises mais fortes e mais frequentes depois da Leucemia, forçou o coração a compensar o esforço, e muito provavelmente este também ficou comprometido com a quimio mas ninguém se apercebeu.
— Jamie, a Rita ela vai...nós podemos perdê-la?
— Eu prometi não te mentir, então neste momento eu não te vou conseguir responder a essa pergunta. Não vi os exames, neste momento é tudo ainda muito hipotético.
— E o meu pai? Já sabes de alguma coisa? A minha mãe já sabe que ele teve aquele "ataque"?
— Sim a tua mãe já sabe que o teu pai está internato. Nós não lhe escondemos nada. Aliás ela até já o foi ver.
— Ele está acordado? Eu posso vê-lo?
— Não amor, ele ainda está sedado. Ele precisa disso, e alguns dos exames que ele tem que fazer tornam-se mais fáceis se ele estiver...
— Dopado!?
— Sedado. Dopado, é um termo muito errado para descrever algo que os médicos usam para salvar vidas.
— Mas vais dar à mesma coisa. E já sabem o que se passa?
— Já há algumas suspeitas, mas nada de concreto. A única coisa que te posso dizer é que seja o que for eu estou ao vosso lado.
— Jamie...— olho para o meu marido, que apenas me sorri, não sei explicar mas senti que nada de bom estaria para acontecer.
— Falei com a minha mãe hoje.— e eis que como ninguém ele consegue desviar o assunto...— Ela soube da Rita e do teu pai pelas minhas irmãs.— como me mantive calada ele continuou...— Ela perguntou se vocês não queriam transferir os dois para o hospital...
— NÃO.— Grito...— Desculpa, mas sabes o que o teu acha de mim e da minha família, eu não quero...
— Calma, eu disse o mesmo à minha mãe. Se bem que ela avisou-me que o meu pai ia ligar-me assim que soubesse e insistir.
— Ele até pode fazer isso, mas nunca que eu vou deixar que eles vão para aquele lugar.— assim que me apercebo do que disse, um sentimento de culpa me arrebate.
Não é justo para Jamie o que acabei de dizer, afinal ele trabalha lá. O Peter nasceu lá, e mesmo com toda a situação que era péssima sempre tive apoio de todos os médicos e enfermeiros. Claro que a questão da Maternidade ser um mundo à parte do Hospital também ajudou. Porque apesar de pertencer ao hospital tinha uma direcção própria que respondia ao meu sogro e aos seus sócios, mas onde ele não tinha qualquer influência no funcionamento. E só por isso eu permiti ser acompanhada lá.
— Desculpa. Eu sei que ele é teu pai, que aquele hospital é também teu. Desculpa, eu não queria...
— Calma, eu percebo-te. E eu nunca vos iria fazer isso. Mas algo me diz que o meu pai não vai sossegar e vai usar tudo o que se está a passar para...
— Nos afastar!?
— Sim. Mas não precisas de te preocupar, eu nunca me vou afastar de ti.
Finalmente chegámos ao hospital, e antes de entrarmos, peço a Jamie para me deixar ver o meu pai. Eu preciso de o ver, de o sentir, mesmo que ele esteja sedado e nem saiba que eu estou ali, ao seu lado. E é claro que Jamie moveu mundos e fundos , mas conseguiu que o médico me autorizasse a ver o meu herói durante alguns minutos.
— Meu Herói. Sei que talvez nem me ouças, mas apenas quero que saibas que vamos todas estar aqui contigo. Lutaremos todos juntos, nós os oito. Um dia seremos oito, porque eu acredito que ela um dia fará parte da família.
— Amor, temos que ir. Não podemos ficar muito tempo.— diz Jamie, abraçando-me por trás.
Assinto, e antes de sairmos dou um breve beijo no meu primeiro herói. Seguimos para o quarto de Rita, onde finalmente me encontro com a minha mãe, Elô e Luke.
— Coqui...— e sem pensar sequer em outra coisa, vou a correr para os braços abertos da minha mãe. E ali choro. Choro por culpa, por medo, por não saber o que nos espera o futuro.— Está tudo bem princesa, vamos superar mais esta provação.
— Eu sei. Mas...já passámos por tanto. Acho que agora merecíamos ser felizes.
— E somos meu amor, mas mesmo as pessoas mais felizes têm pedras no caminho que precisam de ser ultrapassadas.
— Oi Elô.— cumprimento a minha irmã com um sorriso, e ela logo se junta ao nosso abraço.
— Como estão as meninas?— pergunta a Dona Mel, a mãe mais coruja que conheço.
— Estão bem, na medida do possível. Mas estão a precisar de se sentirem seguras nas assas quentinhas da nossa mãe coruja.
— Tens a certeza que ficas bem? Eu posso sempre voltar depois delas dormirem.
— Não é preciso, e elas precisam de ti. Por isso esta noite ficas com elas, e a Elô também precisa de descanso e de comer.
— Como assim? Desde quando é que mandas em mim? Eu ainda sou a mais velha...
— Desde que eu soube que aqui dentro tem um bebé e que preciso de cuidar.
— Quem...— olho de lado para Jamie, que apenas dá um sorriso de quem foi apanhado.
— Confesso, eu contei. Mas eu sabia que vocês não se iriam importar...
— Por mim, já tinha contado ao mundo inteiro. Mas Elô decidiu esperar...
— Porque nos primeiros meses tudo pode acontecer, e eu queria ter a certeza que estava tudo bem. Desculpa por não ter sido eu a contar-te.
— Ei!!! Eu também não contei sobre o Peter, então acho que estamos empatadas.
—Não querendo despachar ninguém, mas há duas meninas que estavam ansiosas por estar com a mãe.
— Querem mesmo despachar o pessoal, vejam lá o que fazem apesar de tudo não estão sozinhos...
— Vê lá se te cai um dente, seu palhaço.— diz Jamie a Luke.
— Eloise, vamos. Coqui, liga-me se houver alguma alteração por favor...qualquer que seja.
— Eu ligo. Vai mimar as duas pequenas e deixa que eu e o Jamie tratamos da Rita e do pai.
— Foste vê-lo, não foi?— apenas assinto, e ela sorri...— Jamie, obrigada por tudo.
— Vocês agora, também são minha família. E família cuida.
Depois de saírem, sentei-me na poltrona perto da cama da Rita. Pensar que há umas semanas atrás o maior problema dela seria saber se seguia o seu sonho da música ou se seguia o seu coração. Neste momento ela irá enfrentar algo que a poderá quem sabe limitar.
— Agora que estamos sozinhos, vamos conversar.
— Sobre o quê?
— Já por duas vezes fiquei com a ideia que vocês têm alguma coisa a ver com os Hermsworth. E por mais de duas vezes a conversa ficou pelo início.
— Jamie, essa conversa é mais complicada do que tu pensas. E não é minha, ou melhor, não é só minha.
— Coqui, eu já percebi que tem a ver com o passado dos teus pais, e juro que não queria meter-me. Porém, também já percebi que é algo que vos magoa.
— É algo que dói à minha mãe e até ao meu pai. A mim e à Elô apenas nos faz confusão. Não conseguimos perceber do porquê nunca se ter feito nada para mudar a situação.
— Então as mais novas não sabem do "segredo"?
— Não. Mas não será por muito tempo. A minha avó está decidida a acabar com toda este segredo.
— Ela ia-me contar, mas aí...
— Eu apareci...
— Por favor, eu quero tanto ajudar. Mas só posso se vocês me deixarem.
— Quão bem conheces o Tio Craig?
— Para ser sincero, conheço-o apenas como advogado do hospital. Mas ele é presença assídua lá de casa. A minha mãe e a esposa dele são amigas de infância.
— E como é a esposa do Tio Craig?— Jamie arqueia a sobrancelha...
— Espera estás a dizer-me que não a conheces? Mas se o chamas de Tio, pensei que...
— Sempre que estive com "ele", a mulher nunca estava. Acho que por tudo o que aconteceu. E apenas nos juntávamos quando estávamos em casa da minha avó. Nesses dias, eles tentavam dar-se bem, pela minha avó.
— Cada vez estou mais confuso com toda esta história...podes começar do início por favor.
— Tudo bem. Como te contei já a minha avó e a mãe do Tio Craig cresceram juntas, e o meu pai e o Tio Craig nasceram com uma diferença de meses. Infelizmente a mãe do Tio Craig morreu anos mais tarde, deixando-o ao cuidado da minha avó. Ele tinha cerca de 11 ou 12 anos. Eles cresceram quase como irmãos. Até ao dia...
— Em que a tua mãe entra na história? O teu pai apaixonou-se por ela e o teu "tio" por sei lá despeito decide "roubar" o amor do teu pai...
— Mais ou menos. Ele apenas se aproveitou do facto da minha mãe gostar dele e não do meu pai, que apenas os via de longe e contentava-se ao ver a felicidade da minha mãe.
— Mas então o que aconteceu para a tua mãe acabar por casar com o teu pai?
— Bem aconteceu que a minha mãe engravidou...
— Espera, a Eloise não é filha do Don!?
— Deixa-me continuar por favor...— Jamie assente e eu continuo...— Quando a minha mãe descobriu a gravidez apesar de tudo ficou feliz, e pensou que o meu "tio" também ficaria. No entanto, quando chegou a casa dele para lhe contar, descobriu que este havia uma festa...uma festa de noivado.
— Do Whermsworth com a esposa de hoje?
— Sim. Eles tinham acabado de ficar noivos. E só para teres uma ideia da crueldade do meu "tio" ele nem convidou a minha mãe, nem o meu pai. A desculpa foi que era apenas um pro-forma que não era necessário estarem as duas famílias, até porque a minha avó era apenas madrinha dele e não a mãe.
— Sempre o achei um homem meio ríspido, mas nunca desumano...
— Custou um pouco à minha avó ouvir aquilo, mas ela era a pessoa melhor do mundo. Sempre desculpava tudo. Bom, a minha mãe mesmo com a festa a decorrer pediu para falar com ele. Afinal o filho era de ambos, e ela achou que no mínimo devia isso ao bebé.
— Até já sei o que aconteceu...ele negou!?
— Sim. Ofereceu até dinheiro para a minha mãe abortar. O que claro a minha mãe nunca faria. A minha mãe em choque começou a gritar com ele, e em resposta foi colocada na rua por seguranças. Antes de sair porta fora, ela acabou por gritar para todos ouvirem sobre a gravidez.
— E onde é que entra o teu pai? E onde está essa criança?
— O meu pai foi o apoio da minha mãe durante toda a gravidez. A minha avó nunca soube que aquele bebé era do meu "Tio", mas sempre soube que o meu pai iria assumi-lo se a minha mãe o permitisse.
— E...
— Calma Jamie, eu disse-te que era uma história complicada e comprida. À medida que o tempo foi passando o meu pai conseguiu aproximar-se da minha mãe. E apesar dela nunca querer algo sério, mantiveram-se bons amigos. Quando finalmente Arielle nasceu, ele ficaram os dois encantados com a bebé. Mas infelizmente o meu "Tio" chegou ao hospital no dia em que ambas teriam alta, com uma ordem do tribunal onde a guarda da bebé era totalmente dele. E assim, ele simplesmente pegou no bebé conforto e saiu do quarto deixando a minha mãe em choque.
— Espera mas como é que ele conseguiu uma ordem do tribunal, com que fundamentos?
— Sinceramente não sei. A minha mãe e o meu pai tentaram tudo: guarda partilhada, visitas aos fins de semana, tudo. Mas parecia que cada vez que eles iam a tribunal ficavam mais longe dela. Nós nunca estivemos com ela, aliás para ela os pais são o "Tio Craig" e a esposa dele.
Jamie fica um pouco a pensar no que ouvira. A sua esposa tinha outra irmã que não conhecia. E Sienna era afinal filha Mel. Ela era sua cunhada. E de repente relembra todos os momentos que esteve com ela: em festas ou reuniões. Sempre lhe parecera que ela não se sentia à vontade naqueles ambientes.
— Sienna! A Sienna é tua irmã.
— Para nós ela é e sempre será Arielle. Foi esse o nome que a minha mãe lhe deu e com o qual a registou, outra coisa que o "Tio Craig" conseguiu mudar.
— E aquela história da empresa foi depois disso?
— Sim. Já eu e a Elô éramos nascidas, se não me engano foi um pouco depois da Gracie ter nascido.
— E o teu Tio? Ele era sócio do teu pai certo?
— Sim, mas ele foi ilibado, então conseguiu ficar com o que tinha na altura. Foi a minha avó Tippi que nos ajudou nessa altura. O tempo passou, e o meu pai com alguma ajuda da minha avó paterna conseguiu um emprego e com esforço e dedicação conseguiu ir subindo na carreira. O chefe dele na altura gostava tanto do meu pai que o "adoptou" como filho.
— Poppi!?
— É assim que nós o chamávamos. Ele é viúvo e nunca teve filhos, então um Natal o meu pai convidou-o para passar a noite lá em casa. Na altura a minha mãe estava grávida da Stella...e bem ele e a minha avó acabaram por se apaixonar. Não quiseram casar, mas viviam como se o fossem. Ele acabou por deixar a empresa nas mãos do meu pai, e decidiu passar o resto da sua vida com a minha avó numa das suas casas.
— Espera...disseste "uma das suas casas..." então ele era alguém com poder?
— O Poppi tinha muito dinheiro sim, se é isso que queres saber. E sim, quando morrer ele vai deixar tudo para o meu pai...
— Espera ele está vivo!? Então e a tua avó ela....
— Infelizmente a Vovó morreu há anos atrás. As únicas que ainda se lembram dela sou eu, a Elô e a Rita. A Gracie e a Stella eram ainda bem pequenas quando ela morreu. E o Poppi...está bem vivo sim...o Poppi é...
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