Capítulo 30
Em casa de Elô, Tippi tentava acalmar as netas. Estavam as três num dos quartos de hóspedes, onde as duas dormiriam. Gracie apenas olhava para a avó e para Stella, enquanto a mais nova chorava agarrada à avó. Aos poucos, e com o mimo da avó, a pequena foi parando de soluçar e adormeceu. Tippi fez então sinal a Gracie, para que saísse do quarto sem barulho, enquanto esta deitava Stella confortavelmente e a tapava.
Gracie, assim fez e seguiu para o outro quarto de hóspedes que seria o da avó. Decidiu que talvez um banho lhe fizesse bem, talvez lhe tirasse toda aquela sensação de sufoco que sentia. Assim, seguiu para a casa de banho, despiu-se e entrou na banheira. Ali, finalmente sozinha, desmoronou. As lágrimas escorregam-lhe pela cara misturando-se com as gotas de água que caiam sobre a sua face. Tudo o que viveu naquela tarde lhe veio á mente, e já sem forças deixou se ir pelas emoções que estavam presas dentro de si, e que naquele momento conseguiu finalmente soltar.
Ao final de uns minutos que mais pareceram horas, ela saiu do banho, e deu de caras com Tippi sentada no sofá que ali havia. A senhora nada disse, ficou apenas a olhar para mais nova, à espera. Gracie vestiu-se e virando-se de novo para a avó, tentou que as lágrimas não mais caíssem, ela esforçou-se o máximo que conseguiu. Porém, assim que viu os braços estendidos da avó, deixou-se levar de novo pelas lágrimas, correu para o seu colo e abraçou-a.
— Eu sabia que esse coração não ia aguentar. Eu sabia que alguma hora iria deitar tudo cá para fora. Só não sabia quando isso iria acontecer.— Gracie chora no ombro de Tipi, soluça...— Chora minha princesa, deita tudo cá para fora. Eu estou aqui minha querida, e vou sempre estar aqui para vocês.
— Vó...— Diz Gracie meio que ainda soluçando...— O que é que o pai tem? Ele está doente? Ele vai...
— Shiu. Eu não sei o que ele tem minha querida. Só sei que aquele homem, hoje na vossa casa, não é o Don Johnson que casou com a minha filha.
— Eu não quero perder o meu pai, vó eu não quero que ele...
— Olha para mim Gracie.— Tippi pediu...— Ninguém aqui vai perder ninguém, a Coqui daqui a pouco está aí, falei com o Jamie eles vinham para Belfast assim que desse. Então que tal irmos dormir um pouco, quando acordares vais ver que nada mais vai ser assim tão preto.
— Ficas comigo até eu dormir, como fizeste com a Stella?
— Fico minha princesa, claro que fico. Agora anda, vamos para a cama.
Gracie levanta-se e vão as duas para o quarto onde Stella dorme. Depois de ser aconchegada pela avó, esta senta-se ao seu lado e começa a fazer-lhe festas. Aos poucos a pequena vai fechando os olhos, todo o cansaço emocional pelo qual passou vai mostrando o ar da sua graça e Gracie simplesmente adormece.
Tippi levanta-se e sai do quarto sem fazer barulho. Caminha até à varanda da sala, e deixa-se ficar ali, a pensar em Don, em Mel, em Rita. Como é que tudo isto pode acontecer, assim tão de repente. Quando está a pensar em tudo isso, o seu telemóvel toca...
"— Avó..."
"— Elô, minha querida, como está a tua irmã? E a tua mãe?"— Pergunta, caminhando para dentro de casa a caminho do seu quarto.
"— A Tita está estável, está a dormir. Os médicos mantém-na sedada, amanhã vai fazer mais alguns exames. A mãe está...a aguentar-se. Como estão as meninas?"
"— A Stella está muito assustada, só chorava, acho que adormeceu de tanto chorar".
"— Queres que vá para aí? Ou posso pedir a Luke que vá? E a Gracie como é que ela está?"
"— Não Elô, fica com a tua mãe. A Stella está a dormir só deve a acordar amanhã. E a Gracie esteve este tempo todo a tentar ser a força da irmã, mas assim que a nossa sapeca adormeceu ela cedeu e quebrou por inteiro. Está com medo, confusa.". E a Dak também está a chegar...
"— A nossa valente Gracie, sempre sendo o nosso anjo da guarda. Bem, mas eu liguei porque a mãe disse-me que a Dak iria para aí? Ela já chegou?"
"— Não, mas acredito que deve estar a chegar. Elô não saias daí, a tua mãe precisa de ti, por favor."
"— Eu não vou. Pensei em ir ver das meninas, mas se como a Dak está a chegar fico mais descansada. O Luke também está aqui conosco. Diz à Dak que falamos amanhã. Avó, obrigado por estares sempre ao nosso lado."
"—;Onde querias que eu estivesse, vocês são a minha família. E eu faço tudo pela minha família."
"— Eu sei..."
"— Aliás tu chegaste a contar?"
"— Eu ia contar hoje, mas com tudo isto acho que não estamos em clima de festejar."
"— Muito pelo contrário Elô, mais uma razão para contares. A tua mãe precisa de algo a que se agarrar. E sei que ela vai ficar feliz no meio de tanta coisa que aconteceu hoje."
"— Eu não sei avó..."
"— Conta, confia em mim. Até Amanhã minha querida."
"— Se precisares de alguma coisa diz, eu peço ao Luke para ir aí. Até amanhã."
Tippi desliga a chamada e procura algo no seu telemóvel: uma foto das sete mulheres da família: Mel e Dak com o seu ar determinado, Rita com o seu sorriso maravilhoso, Eloise com o seu ar sereno, Gracie com o seu ar amável e Stella o anjo rebelde da família. Tippi sempre achou que não era por acaso que elas eram sete. Sim sete, e ela nem estava a contar com a própria e sim com a outra neta que nem sabia que tinha cinco irmãs mais novas.
O número 7 (sete) representa a totalidade, a perfeição, a consciência, a intuição, a espiritualidade e a vontade; simboliza também conclusão cíclica e a renovação. Mas, justamente por representar o fim de um ciclo e o começo de um novo, é um número que traz a ansiedade pelo desconhecido.
Sete são os dias da semana, os graus da perfeição, as esferas celestes, as pétalas de rosas e os ramos da árvore cósmica. Muitos desses símbolos evocam outros símbolos que também remetem ao número sete. A rosa de sete pétalas, por exemplo, evoca os sete céus, as setes hierarquias angélicas, além de todos os conjuntos perfeitos.
Segundo a Bíblia, Deus criou o mundo em seis dias e descansou no sétimo, fazendo dele um dia santo. Por isso, o sabbat, o sétimo dia, não é um dia que está exterior à criação do mundo. Na verdade, ele é o dia de coroamento da criação, o dia em que o ciclo se encerra em sua perfeição.
O número 7 designa também a totalidade das ordens planetárias, as moradas celestes, a totalidade da ordem moral, das energias e principalmente da ordem espiritual. Tem o significado de ciclo completo e de perfeição dinâmica. Cada período lunar dura sete dias, remetendo também para uma mudança depois de um ciclo concluído e de uma renovação positiva.
De acordo com a numerologia, o número 7 indica a busca pela aprendizagem e pela perfeição. O seu bloqueio pode levar as pessoas influenciadas por ele a apresentar um comportamento bastante discreto. Segundo o grego Hipócrates, "o número sete, pelas suas virtudes escondidas, mantém no ser todas as coisas, dá vida e movimento e influencia até os seres celestes". O número 7 é também um regulador de vibrações, como se pode notar nas sete cores e nas sete notas musicais.
A tradição hindu atribui ao Sol sete raios, sendo que seis correspondem às direcções do espaço e o sétimo corresponde ao centro. Ou seja, o número é a síntese, assim como no arco-íris a sétima cor é o branco, que também é a síntese das demais cores.
Universalmente, o 7 é o número da dinâmica e do movimento. Assim, é também a chave do Apocalipse (sete igrejas, sete estrelas, sete trombetas, sete espíritos de Deus, sete trovões, sete cabeças). O número 7 é muito frequentemente utilizado na Bíblia. Ele é mencionado 77 vezes no Velho Testamento, sendo para muitos um número de azar.
Todos estes simbolismos do número sete faz Tippi acreditar que a sua família é sem dúvida abençoada. Olhando para a foto onde se encontram as seis mulheres (sendo que falta sempre alguém...), ela tem a certeza que este elo entre elas é muito mais forte que o sangue, os genes...é algo muito mais além...é algo que não se consegue explicar apenas por palavras, vai muito mais do qualquer palavra possa explicar...
Família, é muito mais que uma sentimento, é algo que se vive no dia a dia, é algo que vem de fora para dentro e não o contrario. E assim, sem se dar conta, ela adormece no sofá sabendo que apesar de todas as dificuldades que poderão estar por vir, elas iram ultrapassar todas. Simplesmente, porque é isso que as famílias fazem unem-se nos bons, mas principalmente nos maus momentos, tornando-se, se necessário, a fortaleza umas das outras.
Tippi acorda com alguém a bater na porta. E é assim que percebe que tudo o que se passou naquele dia teve também um efeito exaustivo nela. Levanta-se ainda meio a dormir e vai à porta.
- Vó.- Dak diz ao vê-la, abraçando-a. Jamie fica apenas a olhar para as duas. Ele percebe que a relação de Tippi com as netas é muito semelhante com a que ele tinha com o avô.
- Coqui...- nesta altura já choram as duas agarradas uma à outra...- Ei! Calma, vai ficar tudo bem. Seja o que for que aconteça, nós vamos ficar bem: Todas Juntas...
- As meninas? Como é que elas estão? Onde é que elas estão?
- Estão a dormir...- e neste momento ouvem um grito, seguido de outro...- É a Stella.
Dak solta a avó e corre para o piso de cima, e segue os gritos. Quando entra no quarto, o que vê assusta-a: Stella está num canto do quarto, toda encolhida, a chorar e a gritar ao mesmo tempo. Gracie, apenas chora sentada no chão perto da mesma.
- Stella...- Dak aproxima-se da mais nova, que continua no seu mundo...- Estrelinha...
- Dak...- Jamie tenta aproximar-se, mas ela apenas com um olhar fá-lo entender que ela consegue sozinha.
- Estrelinha, sou eu. Sou a Coqui, eu estou aqui, eu não vou deixar-te sozinha...
- Co...qui...Coqui...- Stella parece finalmente acordar do seu sonho, do pesadelo, ou do mundo em que estava...- Coqui, não me deixes, não deixes que o pai me faça mal...não deixes.
- Anda cá princesa.- a pequena levanta-se um pouco e senta-se ao colo de Dak, que estava no chão também. Abraçam-se as duas, com uma Stella a chorar convulsivamente até se acalmar de novo com os mimos e palavras de Dak.
- Fica comigo, dorme comigo...não me deixes. Por favor...
- Eu fico, vamos dormir bem agarradinhas sim...- ela diz dando-lhe alguns mimos, como se Stella fosse ainda um bebé.- Vamos deitar-nos, nós as três bem juntinhas sim.
- Coqui...eu fico com elas, tu tens o Jamie.
- Não se preocupe Tippi, nós arranjamo-nos os quatro por aqui.- Dak apenas sorri.
Só depois da avó mencionar Jamie é que ela se lembrou que talvez ele não quisesse que ela ficasse com as irmãs. Mas Jamie todos os dias a surpreendia mais e mais. E cada dia ela o amava mais. Sim ela tinha a certeza que fizera o certo em não tomar há um mês atrás a injecção. Jamie seria um óptimo pai. Aliás ele já o era, mesmo que o pequeno Pete, não estivesse mais com eles, seria sempre o filho deles.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro