Capítulo 27
Christian coloca a chamada de Gracie em espera e liga para Tippi. Toda aquela atitude de Don lhe parece algo muito semelhante a algo que ele infelizmente já assistiu. Não foi fácil para Jamie assistir ao avô que ele amava aos poucos deixar de ser quem ele era. Não ia ser fácil para Mel, nem para Dak que idolatrava o pai, caso o que Jamie estava a desconfiar fosse mesmo verdade.
No momento em que coloca a chamada de Gracie em espera, ele lembra-se que não tem o número de Tippi no seu telemóvel. Entra de novo no quarto, Dak continua a dormir, pega no telemóvel da esposa. Graças a Deus ele sabe o código de desbloqueio. Procura o número de Tippi e liga.
— Dak? Eu não posso falar contigo agora.
— Tippi, não é a Dak, é o Jamie.
— Jamie. Querido não é o momento ideal para falarmos, estou...
— Eu sei de tudo, onde está? Já está perto da casa da Mel?
— Sim, estou quase a chegar, mas Jamie o que é que se passa?
— Corra para lá. Coloque os quatro piscas, transforme esse carro em avião, mas por favor corra.
— O que aconteceu? Gracie e Stella? O Don fez mais alguma coisa? Eu vou matar aquele homem.
— Tippi eu desconfio de algo, e se for o que estou a pensar o Don não está bem, e pode tornar-se violento.
— Como assim? Jamie, o que se passa com o Don?
— Agora não temos tempo para esta conversa. Corra para lá, a Gracie e a Stella estão com medo, o Don está furioso. Eu mandei-as fecharem-se na casa de banho do quarto de Gracie.
— Estou quase a chegar.
— Tippi, está sozinha?
— Não, o Boris está comigo. O que é que se está a passar, o Don não é assim.
— Tippi, eu falo consigo depois de estar com as meninas, mas agora não temos tempo.
— Eu não percebo, o Don sempre foi amoroso com as meninas. Nunca levantou a mão pra nenhuma, sempre foi a Mel que lhes teve que travar as rebeldias.
— Eu suspeito de algo, mas não é o momento de falarmos. Vou desligar a chamada, tenho a Gracie à espera em linha.
— Nós estamos quase a chegar, mais uns minutos e estamos lá.
— Vou ficar ao telefone com a Gracie e a Stella até chegar.— Desliga a chamada de Tippi e pega no seu próprio telemóvel...— Gracie?
— Jamie...ele está no quarto, ele entrou...
— GRACE SAI IMEDIATAMENTE DAÍ. NÃO BRINQUES COMIGO. A TUA IRMÃ ESPETOU-ME UMA FACA NAS COSTAS, E AGORA ESTÁ A ENCENAR AQUELA CENA DE CRISE, MAS DESTA VEZ NÃO PEGA. A RITA VAI OBEDECER NA MARRA SE FOR PRECISO. SAI DAÍ GRACE.
— Calma a tua avó está quase a chegar.- Jamie decide sair do quarto, antes que Dak acorde...—Gracie eu estou aqui, eu não vou desligar até a Tippi chegar.
— "ABRAM ESTA PORTA AGORA."— Jamie podia ouvir os gritos de Don. E ao mesmo tempo que tentava acalmar as duas meninas ligava a Tippi do telemóvel de Dak. No meio de toda esta confusão Liesa aparece de novo, e ao ver o irmão com os dois telemóveis percebe que a coisa é grave.
— Jamie? Jamie o que é que se passa? O que é que está a acontecer?
— Liesa agora não.
— Jamie.
— Tippi onde está? Ele conseguiu entrar no quarto, as meninas estão aterrorizadas.
— Estou mesmo a chegar. Achas que ele pode fazer alguma coisa? Jamie...
— JAMIE...— um grito do outro telemóvel assusta Jamie, tira um do ouvido e coloca o outro...— O papá está louco...ele...— Diz Gracie aterrorizada, e por trás consegue ouvir Stella a gritar.
— Calma Gracie. És capaz de colocar o telemóvel em alta voz?— Gracie responde que sim, e faz o que Jamie pede.— Stella, estás a ouvir-me?
— Jamie...Ele...ele...estou...com...medo...tira...me...daqui...TIRA...ME...DAQUI...— Stella já não chora, ela soluça. A respiração dela parece de alguém que está a entrar num ataque de pânico.
— Stella, a Tippi está mesmo a chegar. Eu vou ficar a falar com vocês, não vou desligar a chamada até ela vos ter no carro.— Os gritos de Don continuam, os murros na porta também.
— ELE VAI ENTRAR....ELE VAI ENTRAR...— Stella não se consegue acalmar...
— JAMIE...JAMIE...— Sem tirar o seu telemóvel do ouvido, coloca o de Dak onde Tippi grita por ele...
— Tippi, diga-me que já está dentro daquela casa? A Stella está em entrar em pânico, eu não sei se a Gracie consegue acalmar a irmã.
— Sim, estou agora a entrar em casa.— De repente os gritos de Don nos dois telemóveis fazem com que Jamie perceba o porquê do medo das duas meninas.— Estou a subir as escadas com o Boris.
— Meninas...— Jamie fala para o seu telemóvel para falar com as duas...— A Tippi já está a subir as escadas, mantenham-se aí fechadas, não saiam daí. Ouçam o que ouvirem não saiam daí.
— JAMIE...— Stella continua assustada, Jamie percebe que Gracie se acalmou provavelmente porque viu a irmã num estado de desespero tão grande que se viu forçada a tentar ser a adulta no meio de toda aquela confusão.
De repente ouvem-se três vozes a discutir, uma é Don, a segunda é de Tippi, mas a terceira Jamie não consegue identificar. Quem será que está com Tippi? Jamie não reconhece a voz, mas lembra-se dela falar de um tal de Boris. Seja quem for , pelo menos Tippi não está sozinha a enfrentar Don. Tippi liga de novo, ele nem percebeu quando ela desligou, atende sem desligar a chamada com as meninas.
— Gracie, não desligues.- nem ouve o que ela diz, pega no telemóvel de Dak e atende...— Tippi?
— Já estou com as meninas, a Gracie desligou a chamada.— Ele olha para o seu telemóvel e percebe que já não tem chamada nenhuma e coloca-o no bolso.
— Como é que ele está? E as meninas?
— O Boris levou o Don para o quarto dele, com algum "esforço". Ele achou melhor chamar o serviço de emergência, ele disse-me que só vira uma pessoa assim: o irmão dele quando veio da guerra com um surto pós dramático. Mas Jamie, eu nem sei o que ele tem.
— Surto Psicótico. Pelo menos é o que eu acho que é, mas pode ser muita coisa: um tumor, demência.
— Então o Boris pode ter razão?
— Sim, pode. Tippi fale com os paramédicos e diga mesmo que desconfiamos disso. Apesar de terem que fazer exames, mas já ajuda.
— Tudo bem, eu falo com eles. E o que vai acontecer com ele?
— Muito provavelmente ele vai resistir em ir. Na mente dele, está tudo bem, e ele não tem nada. Os paramédicos podem fazer duas coisas: ou o sedam para que ele vá mais calmo, ou o vão levar à força. Não deixe as meninas assistir a nada disso.
— Achas mesmo que eles vão precisar de chegar a esse extremo?
— Sim. O Don não está no seu juízo, ele vai tentar fugir, pode até tentar alguma coisa com as meninas de forma a não ir. Não as deixe com ele agora, não as deixe ver o pai assim.
— Tudo bem, eu vou pedir que elas se mantenham no quarto. Pelo menos enquanto o Don não sair. Eu também não vou sair daqui, vou pedir ao Boris que fale com os paramédicos.
— Assim que der eu e a Dak vamos para Belfast.
— Eu vou levar as meninas para casa da Elô, vou lá ficar com elas. Elas até já arranjaram uma mala cada uma.
—Tudo bem. Eu vou precisar de contar à Dak o que se está a passar e também as minhas suspeitas.
— Onde é que ela está? Eu estranhei não ser ela a ligar, porque estás com o telemóvel dela?
— A Dak teve uma crise de ansiedade, ela está a descansar. Assim que ela acordar eu falo com ela.
— Tudo bem, esperamos por vocês. Obrigada por tudo. Agora percebo o que a Mel me disse, tu és um anjo mesmo.
— Eu amo a sua neta, e faço tudo por ela. Quero que ela seja feliz, porque se ela o for eu também sou, mas se ela sofre eu sofro com ela.
— Isso é amor, amor verdadeiro. Não percam nunca esse sentimento. A ambulância está a chegar vou lá falar com os paramédicos.
— Adeus Tippi, eu aviso quando estivermos a ir.
Jamie desligou a chamada de Tippi, e virou-se para Liesa que estava encostada na parede a olhar para o irmão. Ela lembrava-se bem do que passaram com o avô. Não fora fácil, a mãe sofrera muito, o pai proibira que eles se aproximassem do avô com medo do que ele pudesse fazer. A mãe, que era filha, só ia visitá-lo com o Tio Alun porque o pai não a deixava ir sozinha.
— Tu achas que o pai da Dak tem o mesmo que o avô?
— Não sei, os surtos psicóticos podem ser sinal de muita coisa. Mas não vai ser fácil, e sei que a Dak vai sofrer.
— Vão ainda hoje para Belfast?— Pergunta Liesa.
— Sim. A Dak vai querer ir ter com a mãe. Depois há Gracie e Stella, elas estavam em pânico. Vou tentar ligar para a Eloise, ou para o Luke.
— Ligar para o Luke? Mas por quê?
— Tenho que perceber como está a Rita. O Don hoje deve ser mantido sedado, e só amanhã vai ser avaliado. Até eles saberem exactamente o que ele tem, provavelmente nem vai poder receber visitas.
— Jamie. Talvez seja melhor cancelarmos o jantar. A Dak não vai ter cabeça para nada depois de saber.
— Não, nós ficamos para jantar. As meninas podem distraí-la um pouco, e sei que a Dak se vai esforçar por estar bem perto delas.
— Tens a certeza? Se vocês quiserem ir já, não vamos...
— Nós ficamos. Eu conheço a Dak, depois de saber de tudo o que se está a passar ela não vai querer nem comer. Com vocês, ela ainda faz alguma cerimónia.
— Tudo bem, vou ver com a Bibi como está o jantar. Vim cá acima para te avisar que o John e o Daniel já cá estavam.
— Vou só tentar ligar para a Mel, e acordar a minha bela adormecida. E depois de falar com ela descemos.
— Levem o tempo que precisarem. E Jamie, nós estamos aqui se for preciso.
— Eu sei Liz.— Abraça a irmã e dá-lhe um beijo na testa. Segue para o quarto onde Dak está. O caminho neste momento em casa dos Johnson vai ser duro e ele sabe que vai ter que estar ao lado de Dak.
Quando entra no quarto, caminha até à cama onde a sua princesa dormia. Estava tão serena, ele não a queria acordar para esta realidade. Contudo, ele tem que lhe contar o que se passava, mas como? Tudo o que Jamie tinha eram apenas suspeitas. Tudo o que conseguiu perceber e ouvir, o fez lembrar do que o avô passou, e do pouco que a mãe lhe explicou mais tarde. Ele não tinha certezas nenhumas, Don teria que ser avaliado.
A única certeza que tinha é que Don não era assim, algo se passava com ele. E se realmente fosse o que ele estava a pensar, Dak iria sofrer assim como todas as filhas. A Melanie iria passar por maus bocados, e teria que ter ajuda constante. Ele já vira isto acontecer, ele vira como a avó sofreu, a mãe e até o tio Alun. Restava-lhe apenas rezar para que estivesse errado, e não fosse nada do que pensava, fosse apenas da sua cabeça e que nada acontecesse.
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