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Capítulo 22

Na manhã seguinte, em casa dos Johnson ninguém dava uma palavra. Don, ainda estava furioso por tudo o que tinha acontecido e queria logo resolver a transferência de Rita para Dublin. Stella e Gracie sentindo o clima pesado e de cortar à faca, preferiram manter-se caladas e de cabeça baixa durante o pequeno-almoço.

Já Rita, acordara tristonha e assim que viu a mãe junto dela as lágrimas de novo começaram a rolar. Mel estava preocupada com a filha, Rita para além de ter nascido prematura e ter problemas respiratórios, aos dois anos foi diagnosticada com uma leucemia. Foi uma luta dura e muito mas muito complicada, mas ela foi uma guerreira e venceu todas as batalhas até vencer a guerra.

Melanie e Don tinham discutido na noite anterior, levando a que Mel saísse do quarto, deixando o esposo surpreso, irritado e sozinho. Mas ele não iria mudar de ideia: Rita ia para Dublin. Talvez Mel tivesse razão e estivesse a afastar Rita de si, mas ele preferia isso do que ver a filha envolvida com um Hermsworth.

"Depois de Rita subir para o quarto Melanie olhou para Don, ela percebera pelo pouco que tinha falado com a filha que o que ela sentia por Liam era amor, daqueles que pensamos que existem apenas nos livros. Olhou para o marido...

- Don!? Por favor, vamos resolver isto de outra forma, eu não quero...

- Melanie está resolvido. Eu vou acabar com isto de uma vez por todas.- de repente ouve-se barulho de coisas a caírem e partirem-se...

- Eu vou lá, e Don...- levanta-se e antes de subir olha de novo para Don...-..eu espero que um dia não te arrependas de estares a afastar a Rita de Ti.

Subiu e viu Rita com Stella e Gracie, as três abraçadas, e juntou-se ao mesmo. Ficaram ali até perceberem que Rita se tinha acalmado um pouco.

Mel mandou a filha ir tomar um banho e depois dormir um pouco, ela precisava de descansar. E enquanto ela tomava banho, Mel com a ajuda de Stella e Gracie, tentou arrumar como pode o quarto, que estava totalmente revirado do avesso.

No fim de arrumarem tudo, estranhou o facto de Rita estar a demorar-se tanto e decidiu entrar na casa de banho. E foi quando viu o que nunca pensou ver: Rita estava sentada, toda encolhida na banheira, a água caía-lhe pelo corpo e ela chorava, soluçava. O desespero era de cortar o coração, e o ar começava a falhar-lhe.

Pediu a Stella que fosse buscar a bomba da asma de Rita, e a Gracie que fosse buscar um calmante que estava no seu quarto. Depois de duas inalações, Rita começou a respirar com mais facilidade, Mel retirou-a do chuveiro, sentou-a na cama, secou-a e vestiu-a.

Assim que Gracie entrou com o remédio e o copo de água, Mel ajudou-a a tomar e deitou-se junto de Rita, passando-lhe a mão no cabelo, como fazia quando esta era pequena. E assim aos poucos adormeceu.

Assim que percebeu que esta tinha adormecido, levantou-se e com cuidado foi saindo do quarto. Foi para a cozinha e começou com a ajuda de Grace fez o jantar.

Ao sentarem-se à mesa Don pergunta por Rita, ao que a esposa apenas lhe responde que está a dormir depois de uma crise de asma, e que não a vai acordar.

Após o jantar, Mel sobe para ver da filha, esta dormia tão calmamente que ela decidiu apenas deixá-la dormir. Foi ao quarto de Stella e Grace dar as boas noites, e seguiu para o seu quarto.

Quando lá chegou viu Don já deitado, Mel caminhou para o closet e depois para a casa de banho, e fez tudo sem nem se dirigir a Don.

- Vais ficar a ignorar-me?- Mel nem se virou e continuou com o que estava a fazer...- O que querias que eu fizesse? Que deixasse que tudo aquilo continuasse?- Mel olha para ele e continua muda sem lhe responder...- Mel olha para mim? Por favor diz o que queres que eu faça?

- Quero que ouças a tua filha, que a percebas, que acabes com esse ódio...- ela diz isto com lágrimas na cara...- Passou-se mais de uma década e tu ainda...

- Não. Sobre esse assunto já falámos.- Don levanta-se e dirige-se até à varanda que têm no quarto...- Sabes eu não percebo. Ele tirou-te a tua filha, ela chama mãe a uma outra mulher que não tu. E...

- Eu sei. E doi-me todos os dias, mas eu não posso fazer nada. Não o enfrentei na altura com medo, e agora sofro em silêncio...

- Mel, eles não podem fazer o que querem e ficar só por isso. O Craig, ele roubou-te a tua filha, fez-me passar por corrupto, fez o filho enganar a Elô...eu não posso deixar a Rita envolver-se com o Liam, não posso.

- Don...- Mel aproxima-se e calmamente abraça-o...- Não percebes que essa tua raiva, esse ódio todo já não está só a prejudicar-te a ti a ele. Sim eu sofro todos os dias, acredito que a Elô sofra todos os dias ao relembrar o que se passou, mas...

- O Chris foi igual ao pai, e tu bem sabes que lhe dei o benefício da duvida, pela nossa filha. E o que é que aquele filho de um...fez? Ele enganou a nossa filha, ele iludiu-a com falsas promessas, e quando teve o que queria deixou-a sozinha naquele...

- O Chris apenas ouviu o que o Craig lhe disse, ele aprendeu com o pai a odiar-te. É isso que queres que a Rita sinte de ti? Queres que a tua filha te odeie? Don, vocês estão a passar essa raiva para os nossos filhos.

- Ele nem abriu a boca, deixou aquela mulher falar o que quisesse. Nem para me defender ele abriu a boca. Eu o considerava um irmão, mas hoje quero é distancia dele e de toda a descendência dele.

- Sabes, ainda bem que a tua mãe não está cá para ver ao ponto a que vocês chegaram. Porque ela ia com certeza ficar decepcionada com vocês.

- -Se a minha cá estivesse iria ficar decepcionada com ele, eu não fiz nada.

- Ela ia ficar triste com essa tua atitude...

- Bolas Mel, eu só quero proteger a Rita, como não consegui fazer com a Elô.

- Eu não quero a Rita longe de nós, ouviste...não quero...eu não vou aceitar...

- Sinto muito Mel, mas já está tudo tratado com a Dak, assim que ela tiver os papeis da transferência, que vou pedir amanhã, ela entra com eles num colégio lá em Dublin.

- Don por favor, não faças isto...

-Mel, eu não vou mudar de ideia...

Melanie olha para Don, e percebe que o marido não está a brincar, ele está a falar a sério e não conseguindo suportar a ideia de ver Rita afastar-se de casa, e muito menos olhar para Don naquele momento, que nitidamente se está a deixar seguir pelo ódio e pela mágoa, levanta-se e segue até à porta.

- Posso saber onde vais? Não vens dormir?

- Tu não mereces, mas se queres tanto saber vou dormir com a minha filha, vou aproveitar o pouco tempo que tenho com ela. Já que tu a queres mandar para longe de nós.

Mel sai do quarto e direcciona-se até ao quarto de Rita, que dorme tranquilamente, fecha a porta bem devagar, e deita-se ao lado da filha, passando-lhe as mãos pelo cabelo, e chora. Ela nem sabe porque chora: se pelo facto de ver a filha a sofrer, se por ir ficar sem ela, se pela briga que teve com Don. O facto é que as lágrimas lhe caiem...sem cessar...até que acaba por adormecer chorando."

Quando finalmente todos estavam à mesa para tomar o pequeno almoço, Melanie reparou no quanto aquela casa se tinha transformado: não havia risos, não havia gargalhadas, não havia alegria. O que era antes uma família unida e feliz, hoje era uma amostra do que um ódio descabido podia fazer.

Stella e Gracie comiam em silêncio olhando para ela, para o pai e até para Rita, porém não se atreviam a dizer nem uma palavra. Don comia e nem olhava nos olhos de ninguém. E a sua Tita, mexia a comida no prato com o talher, tentando talvez fazer um desenho abstracto com ela.

- Rita, come alguma coisa por favor. Não podes estar sem comer, o remédio que te dei ainda é forte, tens que ter alguma coisa no estômago senão....

- Que remédio? O que é que ela tem? Nem invente de ficar doente, porque eu mando-te para Dublin nem que estejas a morrer...- diz Don olhando para Rita com raiva.

- DON CHEGA.- Melanie dá um grito, e todos se assustam na mesa.- Meninas vão buscar as vossas coisas por favor.- diz Mel para as três, e assim que elas saiem...- É a ultima vez que falas assim com alguma das minhas filhas. Chega Don, estou cansada, eu não vou perder as minhas filhas por causa desse vosso ódio sem sentido.

- Ódio sem sentido? Tu lembras-te que ficámos sem nada, com quatro filhas para cuidar e uma para nascer? Lembras-te como sobrevivemos durante três anos? Lembras-te do que le te tirou dos braços sem nem pestanejar?

- Lembro-me de tudo sim. E sim foram situações complicadas, mas eu não vou viver agarrada ao passado...

- Mel, tu por acaso alguma vez pensaste o que eu senti nessa altura? Foi a tua mãe que nos estendeu o braço. Sabes o quanto isso me magoou aqui dentro? Eu era o homem da casa, o marido, o pai que devia conseguir providenciar tudo em casa. E de repente porque ele me abandonou à sorte deixei de poder fazer o que me competia.

- Don. Para, por favor. Ouve o que estás a dizer, um casamento não é isso. Eu não casei contigo para viver às tuas custas. Um casamento é precisamente o oposto, é a partilha das coisas boas e principalmente das más. E depois que tivemos que ter a ajuda da minha mãe durante uns tempos? Mães e pais estão lá para isso, se a Elô ou a Dak precisassem nós também estaríamos ao lado delas para as ajudar...

- Tudo bem tens razão. Mas isso não invalida que eu me tivesse sentido um lixo na altura. E a culpa de me ter sentido assim foi dele, então não me venhas dizer que é um ódio sem sentido. Ele era meu irmão...ele traiu-me.

- E estás a prejudicar a tua relação com as tuas filhas por causa de um ódio que nada tem a ver com elas. Eu vou ficar sem a Rita porque tu estás cego nesse teu ódio.

- É para o bem dela. Por favor vê se entendes, estou a fazê-lo para o bem dela.

- O bem dela é ficar junto dos pais, é ser feliz. Não ficar à base de calmantes porque não consegue parar de chorar, ou porque não consegue dormir.

- Chama as meninas eu vou para o carro. Estou lá à espera delas.- Don diz e sai porta fora, sem nem responder a mais nada.

Assim que as três descem, Mel despede-se e decide ligar a Dak, pode ser que ela possa colocar algum juízo na cabeça do pai. Eles sempre se deram bem, e normalmente a única que conseguia convencer Don a repensar as suas decisões era ela.


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