Capítulo 12
Quando Don acorda, e se apercebe onde está, todos os acontecimentos do dia anterior vêm à sua memória. Ele bateu numa das suas filhas. Algo que ele jurou nunca fazer, afinal o que mais temia aconteceu: ele era igual ao pai. Quando estava para se levantar ouviu alguém bater à porta. Mas em vez de esperar que ele falasse, abriu-a bem devagar e espretou, tal como fazia quando era pequena.
- Podes entrar Coqui...- e assim que ela ouviu o pai autorizar a sua entrada, ela correu para cima dele, tal como fazia há muitos anos atrás...- Ai! Sabes que agora estás um pouco mais pesada para te atirares dessa forma...e eu estou velho.
- Tu nunca serás velho Papi...e eu não estou assim tão pesada.
- Onde está o Jamie? Ele sabe que estás aqui? E que camisa é essa?
- O Jamie ainda está a dormir, e eu adoro vestir as camisas do Jamie. E ele sabe disso...e agora, podemos conversar seriamente?
- Dakota, não me leves a mal, mas contigo vestida com essa camisa, não sei se consigo...
- Pai! Podes parar de inventar desculpas, vais falar sim.- Dak olha para o pai, respira fundo...- a culpa foi minha.
- Tua? Coqui, quem nos mentiu foi a Rita. ela sabe muito bem que a música era e sempre foi um hobbie. Ela ia fazer aquela audição sem nos dizer nada...
- Porque eu lhe disse, porque eu a incentivei.- Don olha para Dak, e levanta-se furioso.- Pai...
- Tu incentivaste? Então eu fui enganado por duas filhas em vez de uma? É isso...
- Pai...
- NÃO. EU NÃO QUERO OUVIR MAIS NADA. DA RITA EU ATÉ PODIA ESPERAR, MAS DE TI? EU NÃO ESPERAVA ISTO VINDO DE TI.
- PODES PARAR DE GRITAR.- Don, aproxima-se de Dak...- O QUE É? VAIS BATER-ME?
Jamie acordou sobressaltado com os gritos, levantou-se vestiu umas calças e dirigiu-se a caminho dos gritos. Assim que chegou à porta do quarto onde o sogro dormiu ouviu Dak perguntar "Vais bater-me?", e sem nem pedir licença entrou pelo quarto.
- O que é que se passa aqui? Dak?- e ignorando a presença de Don, foi ter com a esposa e abraçou-a.
- Jamie, está tudo bem, não te preocupes. Pai, por favor senta-te e vamos conversar.
- Desculpem. Porquê Dak? eu só quero perceber porque é que tu deste assas a essa maluquice da tua irmã?- Don caminha até ao maple que existe no quarto e senta-se cabisbaixo.
- Porque é o sonho da Rita.- Dak vai até ao pai, coloca-se de joelhos junto dele...- Tu sempre nos ensinaste a perseguir os nossos sonhos, que nada nem ninguém nos poderia impedir de os concretizar.
- E que futuro terá a tua irmã com este sonho? Eu só estou preocupado com o futuro dela Dak?
- Pai, eu vou-te contar exactamente o que a Rita me disse quando soube da audição.
"Faz hoje 7 meses que me casei, já passámos por momentos felizes, outros tristes. Mas ser um casal é isso: rimos juntos, chorarmos juntos, apoiar-nos um ao outro. Afinal é isso que prometemos no casamento "...prometo ser-te fiel, amar-te erespeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias danossa vida.". É uma promessa feita perante familiares, amigos e a Igreja.
Hoje, depois de algumas discussões com o meu esposo, vou recomeçar a trabalhar. Pelo Jamie eu não trabalhava, porém, sempre me habituei a trabalhar para ter as poucas extravagancias que desejava: uma mala de marca, uma roupa mais chique para alguma festa. E não é porque casei com ele que vou deixar de trabalhar. Eu amo o que faço, amo ler, amo assistir à transformação de um conjunto de folhas, escritas num qualquer computador, num magnifico livro todo encadernado para que milhares de pessoas possam folhear e ler.
Assim que chego à editora, vou para o meu gabinete de Editora-Chefe da secção de Romance. Algo cliché talvez, mas um bom romance, uma boa história de amor pode ter de tudo um pouco: drama, comédia, etc. São cerca das 9h00 da manhã, e o meu telemóvel toca. Quando vejo quem é assusto-me por variadíssimas razões.
- Rita!? O que aconteceu? É o pai? A mãe? Meu Deus foi a Elô?
- Podes parar de fazer perguntas todas de seguida. E a família está toda de boa saúde, pelo menos por enquanto.
- Como assim por enquanto? Rita, importas-te de me explicar porque é que me estás a ligar às nove da manhã? Aliás não devias estar nas aulas?
- Devia, mas eu precisava de falar com alguém. E embora a Elô esteja mais perto, acho que tu me percebes melhor...
- O que é que aconteceu Ritinha? Discutiste com o pai de novo?
- Não. Quer dizer por enquanto, porque acho que ele se vai passar...mas eu não tive culpa, não fui eu que me inscrevi...
- Inscreveste? Do que é que tu estás a falar?
- Todos os anos a escola entra em contacto com o Conservatório de Dublin, e eles escolhem 6 alunas para ir com uma bolsa integral estudar música.
- Rita! O pai vai te matar, sabes o que ele pensa sobre isso...
- Dak, as alunas são escolhidas pelos professores. E...eu soube hoje que fui uma das escolhida. Não sei o que fazer, por um lado sei que o pai nunca me vai apoiar. Mas eu gostava de pelo menos tentar, saber se realmente tenho o que é preciso.
- Faz a audição.- Percebo que a Rita se silencia...- O pai não precisa de saber, ou precisa?
- Bem, na verdade não. Só se nós passarmos, porque eles têm que autorizar a nossa ida para lá.
- Então faz, não digas nada ao pai. Depois de fazeres a audição nós vemos o que faremos.
- Dak, eu sempre sonhei com isto. Ir para o conservatório é tudo o que mais quero. Mas eu sei que o pai nunca me vai deixar.
- Então não queres sequer tentar? Eu sei que o pai sempre te disse que a música seria uma ocupação, nunca poderia ser algo sério. Mas ele também nos ensinou a lutar pelos nossos sonhos.
- Eu nunca conseguiria ir contra o que ele quer. Por muito que vocês achem que sou rebelde, que sou senhora do meu nariz...eu respeito muito o pai e a mãe.
- Ritinha, todos nós sabemos que por debaixo desse teu ar de rebelde existe uma alma pura e linda. E se me ligaste foi para me pedires um conselho então: faz a audição.
- Obrigado. Vou falar com a professora e Dak, posso pedir-te uma coisa?
- Diz...
- Nós podemos ter a família a assistir, mas eu...
- Vou falar com o Jamie, quando souberes o dia avisa para nos organizarmos, não vou perder isso por nada.
- Obrigada. Eu adoro-Te.
- Também te adoro minha amorinha...cuida-te."
- Como vês pai, fui eu que insisti para ela fazer a audição. A Rita sabia que nunca irias deixar se soubesses, mas ela só queria saber se era boa, se valeria a pena continuar a sonhar. Pai, por favor, não lhe cortes as assas. Deixa-a voar...
- Dak...Eu não sei, eu tenho medo...e se nada disso der em nada. E se ela perder anos da vida dela num curso que...
- Don. Desculpe intrometer-me, mas isso está a parecer mais preconceito que medo. Nenhuma profissão é segura, a não ser que seja o dono da própria empresa, e mesmo assim pode perder tudo com um mau investimento.
- Mas...- Jamie não o deixa continuar...
- Como diz a Dak, deixe a Rita voar. Se ela cair e não se levantar sozinha esteja ao lado dela para a ajudar a reerguer-se. Mesmo não a conhecendo como vocês, eu acho que ela só precisa de saber que tem a família ao seu lado, principalmente o pai. Apenas esteja perto para ser o porto seguro.
- Pai, que tal irmos os três ao Conservatório? Talvez se vires de perto o que eles fazem lá, percebas que o que a Rita quer não é nada do outro mundo. Ela ficava connosco aqui, e podia até fazer um outro curso dentro dos seus horários.
- Tudo bem, não custa ir ver não é?
- Então vamos nos arranjar e vamos.- Dak não podia estar mais feliz, talvez fosse mais fácil convencer o pai do que ela pensava.
Depois de um pequeno-almoço maravilhoso preparado por Bela, a governanta da casa e uma segundo mãe para Jamie, saíram os três para o centro de Dublin. Ao chegarem, foi preciso que Jamie usasse a sua influência para conseguirem uma visita sem marcação. E apesar de não gostar de "usar" o nome do marido para ter privilégios, desta vez Dak pela irmã faria o que fosse preciso.
No final da visita, ficaram ainda a saber que o Conservatório tinha uma parceria com a Faculdade de Dublin, caso os alunos quisessem fazer um outro curso, como segurança. Don, ficou surpreso com toda a organização e com a possibilidade de Rita poder ter um plano B para o seu futuro.
E assim com um Don, talvez um pouco mais convencido voltaram para casa. A semana foi correndo e Dak percebeu que o pai estava um pouco mais aberto para a possibilidade de deixar Rita seguir o seu caminho.
Filhos são como águias, ensinas a voar mas não voarão o teu voo; ensinas a sonhar, mas não sonharão os teus sonhos; ensinas a viver, mas não viverão a tua vida. Contudo em cada voo, em cada sonho, em cada vida permanecerá para sempre a marca dos ensinamento que lhes demos. Eles são como navios. A maior segurança para os navios pode estar no porto, mas eles foram construídos para singrar os mares. Assim é com os filhos, o seu porto são os pais, mas eles foram educados para perseguirem os seus sonhos.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro