Despedida
𝐄𝐦𝐦𝐚.
Novamente, Liv e o armário ambulante da barba rala discutiam feito dois irracionais de forma agressiva, se estivessem em outro ambiente usariam palavras bem piores do que as proferidas naquela discussão que dava para ouvir de longe.
Minha cabeça e meus tímpanos agradeceriam se parassem.
Lívia tinha muita raiva para uma pessoa do tamanho dela, chegava a ser engraçado.
— Babaca! Tira a porcaria da sua fuça daqui antes que eu perca o pouco de respeito que ainda tenho por você! — Vociferou Liv toda avermelhada da cabeça ao pescoço, batendo o pé e cerrando o punho prestes a socar Enzo.
Mantive distância por segurança, observando de longe como a boa Maria fifi que eu era né.
— O que foi doutora? Está de TPM por acaso? Abaixe o tom de voz para falar comigo ruivinha! — Enzo a confrontou exaltando a voz, Lívia paralisou por alguns segundos pasma, em seguida acertou o rosto do agente com um belo tapa.
O tapa foi tão intenso que emitiu estalo e fez o belo rosto do homem jovem virar pelo impacto da bofetada.
Lívia respirava ofegante, os fios ruivos até desprenderam do coque que fizera e agora caiam sob os cílios.
Enzo moveu o maxilar de lado para o outro piscando forte, era nítido que doeu muito —, em seguida suspirou risonho desacreditado que a doutora fizera aquilo.
Lívia manteve a cabeça erguida e a fúria.
— Só não te prendo agora mesmo porque tenho assuntos mais relevantes para tratar. — Proferiu em tom baixo, revoltado.
As íris castanhas dela fuzilaram o moreno.
— Volte para o bueiro de onde você saiu seu rato de shopping! — Xingou Lívia mais uma vez, sem se intimidar pela arma ou algemas, tampouco pelos braços musculosos do bombado.
Enzo sorriu provocativo e teve a coragem de se aproximar a medida que quase os narizes se encostaram, para falar:
— Ainda vou conseguir um mandado e te prender estressadinha. — Liv ficou inexpressiva, mas ainda soltando vento pelos ouvidos por tanto ódio.
— Enfiei. Este. Mandato. No. Seu. Cu. — Proferiu pausadamente sem tirar os olhos dele, Enzo passou a língua pelo lábio inferior e sorriu sutilmente de canto, provocando o vulcão em erupção em sua frente...corajoso, admito.
— Muito bem senhorita Myers, preciso que compareça a base o mais rápido possível, iremos estar preparados caso Ricardo tente fugir ou causar algum alvoroço. — Comunicou o comandante da vigilância por questão de segurança, ainda mantendo os olhos verdes em Lívia que pôs a expressão enjoada no belo rosto, em relação a ele.
Enzo iria ficar do lado de fora junto da sua equipe, na tenda —, exigência do juiz em conversa com Charles que zelava por nossa segurança —, apenas colocaria um colete para entrar lá dentro do tribunal, assim como Lo também.
Nem sabia porque Lívia e Enzo discutiam tanto, por que se odiavam como o diabo odeia um anjo...apenas queriam esculachar um ao outro toda vez que davam de frente.
— E você doutora, tome cuidado com a língua. — Enzo proferiu bem sério, colocando a mão na arma na lateral da sua cintura, Lívia permaneceu incontornável.
— Vai se foder seu trouxa. — Xingou novamente já cansada da presença dele.
Enzo não respondeu, apenas saiu inexpressivo, até um pouco apressado de mais, talvez o rádio comunicador em seu peito tivesse emitido algum chamado ou coisa do tipo...não escutei.
— Os meninos chegaram para te buscar. — Avisou suavizando a expressão, como se estivesse em um arco íris após Enzo sair.
— Meninos? Pensei que só o Logan viria. — Proferi curiosa, escovei o cabelo e amarrei o cadarço da minha bota cano curto.
— Bom, lá fora tem ele e mais dois, um deles é o seu advogado, o outro não sei quem é... — Lívia puxou os lábios lamentando não saber dizer quem era.
Respirei fundo e fechei minha bolsa dada pelo hospital a qual guardei as roupas que Logan havia trazido naqueles meses.
— Lo é cheio de segredos...vou só passar um batom e já estou indo. — Informei sorrindo para Liv que sorriu de volta, parecendo meio chateada, uma pontada fria atingiu meu coração ao ver sua expressão.
Passei o batom, me olhando atentamente no espelho, infelizmente eu agora sentia que parecia com Helena de alguma forma.
Mesmo sendo a mesma em aparência, algo lá dentro havia rompido, sido reformulado...e não era muito bom.
O gosto amargo dos traumas, da saudades, das cicatrizes invadiu minha garganta.
Observei a cicatriz não tão espessa, mas ainda sim visível — da operação que removeu aquela bala do meu pulmão.
Terminei de me arrumar e saí do banheiro disposta a reerguer minha vida.
Fazer tudo novo, começar do zero.
Por mim mesma, não iria mais buscar refúgio em outro alguém, eu seria meu próprio refúgio, a própria base.
Movi os pés até a cama afim de organizar minhas últimas coisas e quando meus olhos pararam naquelas três figuras paradas em frente a porta, meu coração aqueceu, bombeando o sangue mais rápido.
Julian, Logan e Charles sorriam para mim do outro canto do quarto.
Vieram me buscar.
— Você tem um trio babão ali fora te esperando. — Brincou Lívia apontando os três que me esperavam feito seguranças.
Dei risada da sua frase, me sentia mais renovada, mais livre.
Porém, senti por ter que deixá-la, minha amiga tão amorosa e bondosa.
Lívia fez um biquinho de canto desanimada, abaixando o olhar triste.
Me aproximei e lhe abracei, tão forte que acredito ter esmagado sua pele por baixo do macacão hospitalar branco.
Lívia caiu no choro, afundando o rostinho em meu ombro, tínhamos altura diferente, porém não foi impedimento para que a ruiva me abraçasse como se fosse sua irmã mais velha —, fraterno e puro.
— Boa sorte, espero que você fique muito bem, viva feliz e continue sendo a Emma que eu conheço. — Desejou baixinho com a voz trêmula, quando nos soltamos, os olhos marejados não conseguiram sustentar muito tempo a conexão visual.
As conversas, as risadas, os doces que trazia escondido para mim, o carinho, a confiança, tudo que havia sido construído em nossa amizade acabou perdendo um pedaço da estrutura, porque eu teria que partir...Lívia não tinha irmãos, ou mantinha muita proximidade com os pais, os poucos amigos que conhecia eram bem frios com ela —, por isto se apegou muito a mim naqueles meses que estive ali.
Não éramos mais paciente e médica, e sim irmãs de consideração.
Segurei seu rostinho e afastei um fio travesso da pálpebra dela.
— Nos vemos depois, eu prometo que não será a última vez amiga. — Tentei manter o tom alto suficiente para não virar um chiado em meio aquele momento emocionante que guardaria na memória.
Lívia balançou a cabeça ainda chorando sensível por tal despedida.
— Tem minha gratidão eterna, meu número quando quiser ligar...adeus baixinha. — Me despedi pela última vez e tentando conter as lágrimas que molhavam meus lábios, mantendo olhar fixo nela.
Lívia diminuiu o choro, e quando inclinei o rosto para lhe dar um beijo na bochecha, por brincadeira do universo acabei beijando o canto dos seus lábios, porque ela virou o rosto por coincidência neste momento. Fiquei tímida, abrindo um sorriso para não rir.
— Eu sinto muito. — Proferi envergonhada tirando as mãos do seu rosto, sentindo seu perfume doce invadir meu nariz.
— Eu não. — Replicou confiante, abrindo um sorriso implícito para mim.
Logan não pareceu ter visto, nem os meninos, porque conversavam entre si.
Sai acenando para ela após pegar minha bolsa, meu corpo parecia leve demais em comparação a primeira semana que passei naquele hospital deprimente.
— Eu acho que ela quer disputar comigo. — Murmurou Logan com a pose séria após pegar minha bolsa para carregar, aquela carinha brava transpareceu suficiente.
Julian e Charles deram risada baixinho.
— Não seja ciumento amor. — Repliquei vendo como estava enciumado.
Cumprimentei Julian e Charles enquanto caminhávamos para fora do hospital.
Passei o brado por trás da cintura do meu namorado que também colocou a mão em minhas costas como meu segurança particular.
— Não estou com ciúmes. — Resmungou orgulhoso enquanto guardava minha bolsa no porta-malas do carro, Charles e Julian haviam ocupados o bando de trás já.
Foi a primeira vez que o vi ter ciúmes de mim, talvez porquê não tivéssemos tido tempo para tais interações de casal —, mas uma coisa era certa; Logan Pierce ficava ainda mais lindo quando estava bravo.
Quando Logan fechou a porta do porta malas com seu braço longo, o puxei para mim sutilmente fazendo nossos corpos colarem —, aquela expressão aliviada e maliciosa estampou o rosto mais corado agora, os olhos me devoravam — deslizei a mão por sua cintura e apalpei sua nádega o fazendo dar um leve espasmo, quando sua mão parou em minha nuca, iniciamos um beijo cheio de desejo, cheio de ternura e euforia — queria senti-lo sem peso, como na noite em que dançamos.
Brinquei com sua língua por incontáveis minutos, enquanto sua outra mão permanecia meu quadril.
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