☂︎Eᴍᴍᴀ☂︎

Meus pés estavam tão inchados que eu mal conseguia pisar no chão sem sentir dor.

Por isso meu cunhado perfeito me carregou até entramos em casa, Lívia veio logo atrás.

Samuel estava passando o final de tarde com Leonel, logo estaria de volta, e Logan descansando no quarto depois que Julian o buscou no hospital, enquanto eu estava na audiência. Quem dera fosse só os pés que estivessem doendo... Meu interior sangrava mais que qualquer ferida externa que existisse em minha pele... Insuportável dor.

— Obrigada, Ju. — Agradeci quando ele me colocou no sofá com muito cuidado.

Lívia sorriu de forma carinhosa a ele e sentou na poltrona do outro canto da sala.

— Você deve se cuidar hein mocinha, não esqueça de beber muita água. — Alertou a doutora dos cabelos ruivos encaracolados.

Estiquei as pernas no sofá, sentindo alívio da cãibra que estava começando a surgir.

— Vou preparar um café para nós. — Avisou o rapaz de camisa polo preta.

Liv assentiu em aceitação e cruzou as pernas sob a poltrona preta que estava.

— Com toda correria, nem lembrei de comer... Tem sido tão difícil. — Limpei as lágrimas que escorriam em meu rosto, me encontrava nervosa, angustiada, acabada.

Tentei segurar o choro, porém não consegui. Falhei em tentar suportar tudo aquilo e me manter de pé... Era em vão.

— Eu sinto muito que tenha que passar por tudo isso, amiga. — Lívia saiu da poltrona e veio até mim, me abraçando, retribui seu abraço e desabei no choro até soluçar.

— Não quero que Julian saiba... Mas, Logan não caiu na piscina. — Falei entre soluços.

Lívia afastou o rosto do meu no abraço, horrorizada com o que eu havia contado.

— O que quer dizer com isso, Emma? — Lívia mal conseguia falar em tom alto.

Sequei o rosto novamente e respirei fundo, olhando por cima do ombro afim de verificar se meu cunhado não estava escutando... Não queria contar ainda.

Seria um baque muito grande para ele, descarregar esta informação seria muito fardo... Mesmo que eu estivesse sobrecarregada demais já. Preferi esconder esta confirmação que tive da polícia.

— Logan não caiu na piscina Lívia, ele foi empurrado, me disseram isso depois de examinar ele e fazer tudo o que era necessário... Eu disse como tinha achado o corpo dele, aos policiais, e foi essa dedução que eles tiveram... Tentaram matar o Logan. — Falei em sussurro falho, chorando feito uma criança, arrasada demais. Estava tão cansada, exausta de não ter um minuto só de paz, desde que aquele maldito homem entrou na minha vida e destruiu tudo... Era tudo culpa dele. Desgraçado.

— Você precisa tentar descansar, não acumule tanto peso em sua mente Emma, se não, se tornará prisioneira dela. — Lívia disse esfregando sutilmente minhas costas, fazendo substituição por segundos, da figura da minha irmã, que eu sentia tanta falta de abraçar, de pedir consolo quando tudo saía do meu controle e ficava péssimo.

— Mocinha, tome suas vitaminas, mastiga alguma coisa e fica bem quietinha. — Julian me entregou água e meus medicamentos, sendo o irmão de coração que eu tinha conseguido naqueles meses, um coruja muito carinhoso e fofo, meu filho adotivo, embora tivesse pouco menos da minha idade. Lívia sorriu tímida quando a mão dela tocou a dele sem querer, eu achei fofo.

— Por que não me acordou? Não sabia que você tinha voltado, Ma. — Logan surgiu no corredor, bocejando e descalço, abatido.

Julian não respondeu, apenas suspirou.

Logan cumprimentou Lívia e ela lhe deu o espaço que ocupava no sofá que eu estava, para que ele se sentasse comigo, sua esposa.

Logan sentou-se no sofá e pegou minha mão, lhe dando um beijo no dorso, os olhos cansados queria transmitir uma mensagem, eu não tinha como decifrar naquele momento... Estava muito exausta.

Lo pegou meu pé esquerdo e colocou em cima da própria perna, o massageando com sutileza, afim de diminuir a dor e inchaço.

— Aquele escroto falou tanta asneira que eu tive vontade de levantar e socar ele. — Murmurou Julian irritado, do outro lado.

Lívia concordou em resmungo.

— Aquele homem não tem um pingo de empatia por ninguém, que monstro. — Ela estava horrorizada com a personalidade de Ricardo, tanto que mal olhou para ele durante as horas que passamos no tribunal.

Logan bocejou antes de dizer:

— Eu nem sei o que teria feito se estivesse lá... Acho que tentaria arrebentar a cara daquele desgraçado... Você foi incrível, Ma. — Ele dizia aquilo pela minha força em enfrentar Ricardo durante horas em uma sala, se na praia já tinha sido terrível...

Logan agia pela impulsividade quando se tratava de quem ele amava, quem protegeria com sangue, caso necessário.

— Não, não, me dá isso aqui. — Impedi Julian de entregar o cigarro que Logan havia gesticulado que lhe entregasse.

Lívia e Julian se encararam em silêncio.

— Emma? — Logan estranhou minha reação, tirei o pé de cima da coxa dele e fiquei em pé diante dele, já estressada.

— Precisa parar com isso, toda vez que tem um problema, você não conversa comigo, você apenas se tranca no quarto e fuma! — Perdi a paciência de uma vez, indicando o cigarro como culpado dessa distância entre nós... Mas pelo visto, não era o cigarro.

Logan arregalou os olhos, incrédulo, e se levantou, não abaixei a cabeça, mesmo que ele fosse mais alto que eu, pouca coisa, mas suficiente para que eu tivesse que erguer o queixo para conversamos frente a frente.

— Eu não quero descontar em você, todos os meus problemas, Emma, você já passou por tanta coisa... O que aconteceu comigo... Será que você não vê o tanto que isso está te destruindo? É a realidade dolorosa que temos que enfrentar. — Ele passou as mãos nos cabelos escuros e bagunçado.

Julian e Lívia se olharam com a mesma tensão acumulada na sala e saíram dali.

— Em primeiro lugar; não eleva o tom de voz, e em segundo; eu sei sim o quanto isso me magoa, me destrói por dentro... Não foi nada fácil ver você naquela festa, não respirando... Você não respirava, não respirava, Logan. — Fui perdendo minha voz a medida que o choro chegou para mim. Logan bufou estressado, tentando entender tudo aquilo para podermos conversar civilizadamente e entrar em acordo com diversas questões entre nós.

— Eu me senti a pior pessoa do mundo, quando acordei naquele hospital e soube que você tinha me salvado... Eu não posso medir a carga que isso deixou em você, entende? Você está grávida, tem que lidar com Ricardo e ainda me salvar de um afogamento porra! — Ele andava de um lado para o outro, gesticulando ansioso.

Eu não tinha me dado conta do quão pesado era amar, em certos momentos.

— Eu realmente não estou conseguindo digerir tudo isso, e você devia ser sincero comigo cacete! Quando eu entreguei tudo, você prometeu também entregar, e não é isso que está fazendo! — Explodi de raiva.

Havia encontrado cigarros improvisados com os medicamentos que ele usava para ficar dopado e era viciado, aquilo doeu.

— Logan Pierce! — Bati o pé, indignada pelo fato dele ter escondido de mim.

Logan voltou sua atenção para mim, quase chorando já, a pele das maçãs do rosto, tão avermelhada quanto um pimentão, mostrei o cigarro a qual ele tinha usado para se drogar, Logan ficou mais pálido neste momento. Aquilo não devia ser assim.

— Estou cansada, sinceramente, estou muito cansada de você se negar a confiar em mim... Isso tudo está acabando comigo. — Eu confessei já tremendo muito, deixei o cigarro sob a mesinha de centro e o encarei, os olhos marejados demais.

Logan tentou colocar a respiração nos eixos.

— Acha que eu não confio em você? Como eu poderia não confiar, Emma! Você é minha esposa, a mãe do meu filho! — Logan tentou remodelar a situação.

Quando ele avançou, recuei um passo.

Já estava ficando zonza e com náusea.

— Não confia! Se confiasse, me contaria que tem se drogado, que não está nada bem e mesmo assim prefere se esconder. — Falei com minha voz falha, comprometida pelo choro e pelos soluços, Logan secou minhas bochechas com seus polegares e encostou sua testa na minha de maneira carinhosa.

Envolvi os dedos em seu cotovelo esquerdo, precisávamos resolver aquilo para que não se tornasse algo tóxico e irrevogável mais tarde. Podíamos nos resolver.

— Perdão, perdão... Eu não faço de propósito, eu juro por tudo que mais amo, que nunca quis te machucar, te magoar, você é minha vida, Emma. — Logan realmente estava arrependido e se culpava por ter sido tão imparcial comigo. Eu sabia que enquanto Ricardo estivesse vivo, também não poderíamos pedir o preço algo da felicidade... Ele era a pedra no caminho, uma das pedras na verdade... Uma das outras, era o casulo que Logan construiu.

— Estou aqui por você, para o que der e vier, enfrentaremos juntos, enfrentaremos por nós, pelo nosso bebê. — Ele colocou a mão larga sob minha barriga e olhou para ela de maneira carinhosa, como o pai do bebê. Sequei o rosto e tentei respirar fundo.

— Então me conte as coisas, me deixa te ajudar, lembra... Nós temos cicatrizes iguais. — O lembrei do dia em que estivemos juntos na praia e confessamos nosso amor, selamos nossa paixão.

Logan assentiu com a cabeça, chorando descontroladamente, encostando a testa em minha clavícula, acariciei cabelos que entraram no espaço dos meus dedos.

— Prometo que não vou mais esconder as coisas de você, tem razão em estar zangada e magoada, eu só não quero mais te ver sofrendo, amor. — Logan falou entre soluços intensos, me abraçando forte, tirando meus pés inchados do chão.

Ele sabia reconhecer quando havia errado, e pedir perdão sinceramente já ajudava muito o processo de compreensão entre nós. Tinha tanta coisa mal resolvida.

— Não vamos mais discutir agora, por favor, estou cansada e enjoada, quando passei no hospital para ver como você estava antes da audiência, o médico que me atendeu disse que eu deveria marcar consultas, pois minha gestação aparentemente é de risco, Logan. — Falei querendo apenas dormir e acordar em outra dimensão, Logan apenas engoliu o choro e me deu um beijo na testa.

— É claro, você precisa de sossego, de paz, eu vou cuidar das coisas com Charles e depois, quando se sentir melhor, vamos conversar mais profundamente. — Logan afastou meus fios escuros da bochecha e sorriu abalado, senti minha carne ser dilacerada mais ainda naquela discussão.

— Não estou me sentindo bem. — Falei quando ânsia subiu a minha garganta e minhas pernas falharam, Logan me segurou antes que eu atingisse o chão.

Vi uma silhueta feminina cruzar a porta, os cabelos azuis levemente encaracolados balançando conforme andava... Desmaiei.