Love letter
|I'm really, really lonely
Linger on my lips
Love me, love me
— Love Letter, Jinsoul&Kim Lip
O avião de Jinsoul estava longe de pousar quando Jungeun decidiu reler todas as cartas enviadas até o dia primeiro de dezembro, quando recebeu a última desde então. O correio estava com grandes dificuldades pois a nevasca de inverno resolveu ser adiantada, consequentemente, não sabia se teria mais alguma perdida na sede da organização, no entanto, também não tinha coragem de sair no frio que estava fazendo naquela linda véspera de Natal.
Passou o dia olhando pela janela, admirando a coragem e animação das crianças de saírem pelas ruas da cidade grande, cantarolando suas canções natalinas favoritas e vestidas com roupinhas aquecidas, mesmo que, longe da vista dos responsáveis, tirassem as luvas para sentirem um pouco do gelo caindo quando, no meio da tarde, mais um pouco de neve resolveu cair. Desejou voltar para sua infância, assim, aproveitaria melhor do que sozinha em uma casa gelada e repleta pela cor bege, com certeza estaria ao lado de sua mãe, tomando uma xícara de um adocicado chocolate quente.
Pegou a primeira carta, datada de vinte e três de abril daquele mesmo ano, quando Jinsoul endereçou a primeira carta a ela, que recebeu o envelope sorrindo pelo jeito retrô de comunicação escolhido por sua amiga.
"Seul, Coreia do Sul - 23/04/2020, 3:45 p.m.
Querida Jungeun,
Você está feliz aí? Faz tanta falta passar pela casa da frente e ter sua mãe sorrindo na varanda, mais ainda não ver você pela janela sem cortinas do seu quarto. Não sabia que ia sentir tantas saudades, poxa. Assim teria te impedido de ir para Londres, ou iria com você. Dois meses atrás completou um ano desde que você viajou, um ano já se passou desde o nosso último abraço, lembra?
Soube que não tem comido direito, trate de se alimentar, ok? Mas coma coisas saudáveis, por favor, não quero te ver doente, dessa vez não vou poder cuidar de você. Mesmo que eu quisesse muito estar aí, não vou poder.
Chegou uma sorveteria nova aqui no bairro, parece aquela que íamos quase todos os dias depois da aula quando éramos crianças. Só fui uma vez, não tem muitas opções de sabores, mas são muito bons, acho que você iria amar o de flocos, ou baunilha.
Já preciso ir, a minha carona para o trabalho chegou. Essa carta foi mais curta do que eu gostaria, desculpa. Espero vê-la em breve.
Com amor,
Jinsoul
P.S.: Por que não avisou que ama receber cartas? Se sua mãe não me contasse, eu nunca saberia. Tem mais alguma coisa sobre você que eu não conheço?"
Colocou a carta delicadamente no tapete perto da pequena árvore de Natal, onde estava sentada e rodeada pelos tantos outros papéis. Pegou mais uma, em um envelope azul marinho e desenhos de peixes laranjas. Sorriu ao lembrar de como aquela carta alegrou o dia desesperador de prova surpresa que teve na universidade, com um conteúdo que tinha imensa dificuldade, mas quando passou pela portaria do prédio e o moço responsável pelas entregas a chamou, alegando ter mais uma carta para ela, pensou que seria apenas mais uma cobrança, contudo, ao notar o nome do remetente com a letrinha torta pela garota não ter costume de escrever em letra cursiva, um pouquinho da felicidade roubada havia retornado ao seu corpo.
"Seul, Coreia do Sul - 13/11/2020 8:27 p.m.
Querida Jungeun,
Acho que eu nunca contei, mas desde o início das aulas de natação, alguma coisa no ambiente me lembra você. Cheguei há pouco tempo em casa, apenas tomei um banho e pedi comida, fui direto pegar o papel de carta para escrever, senti saudades.
Você ainda gosta de comer fora nas sextas-feiras? Hoje é uma sexta-feira, mas também não sei se quando a carta vai chegar, então talvez não seja aí. Sinto falta de ouvir você gritando na frente de casa me chamando para sair, mesmo que você pudesse simplesmente me enviar uma mensagem. É estranho todo esse silêncio e pensar que há meses desde o último dia que ouvi você gritar da forma mais melódica o meu nome enquanto balançava o vestido vermelho de tanta animação. Eu esperava todos os dias escondida entre o tecido da cortina, apenas para te esperar.
Estou sentindo tanta melancolia nestes últimos dias, aquela mesma que sempre me deixa inquieta nos finais de ano, mas dessa vez, não tenho você aqui. Novamente percebo o motivo para que eu tenha odiado tanto as mudanças. Antes que eu chore, acho melhor guardar essa carta e começar a escrever o que quero de presente para o Papai Noel. Claramente não farei isso, mas sei o que amaria receber de Natal esse ano.
Com muito amor,
Jung Jinsoul.
P.S.: Estou com os dedos quase congelando só de ter ficado dez minutos fora da coberta. Você acha que esse ano o inverno chegou muito adiantado?"
Jungeun passou os dedos pelo cabelo loiro e desejou ter um pouco mais de tempo, gostaria de sentar e escrever cada palavrinha em uma caligrafia caprichada ao máximo nos papéis de carta que comprou apenas na intenção de responder Jinsoul com mais do que um áudio simplório de poucos segundos. Mal sabia que a garota ficava incrivelmente feliz ouvindo cada sílaba pronunciada na gravação, como se fosse a mais bela música tocada no rádio, daquelas que procuramos depois na internet e queremos comemorar de tanta felicidade quando finalmente achamos.
Pegou uma que tinha a história mais curiosa entre todas, havia sido enviada por engano em um lote de cartas que Jinsoul enviou. Sorriu ao reparar que ela era a única sem endereço, remete ou destinatário, a loira estava realmente disposta a não enviá-la.
"Seul, Coreia do Sul - 25/11/2020, 1:53 a.m.
Querida Jungeun,
Você lerá muitas cartas com essa data, provavelmente, essa não é a primeira que escrevo, talvez a terceira, durante uma madrugada. Estou tão ansiosa que consigo sentir que a noite será tomada pela insônia e pensamentos confusos, então para me distrair um pouco decidi escrever.
Hoje eu briguei com minha mãe, odeio o fato de isso ter acontecido justamente um mês antes do Natal. Sua mãe me acolheu, deixou ficar na casa dela por um tempinho até as coisas esfriarem, mas temo ficar muitos dias aqui, então já estou tentando me organizar e seguir meus planos. Mas me sinto confortável aqui, como se minhas memórias com você estivesse pintadas junto da tinta na parede, consigo claramente ouvir sua voz dizendo que ama e ficará comigo quando voltar. Isso aconteceria mesmo? É nisso que estou me pendurando para ter esperança.
Lembro de um dia muito específico, poucos dias depois de você se mudar para frente da minha casa, quando eu ralei o joelho enquanto andava de patins. Você estava usando um vestido florido verde e o cabelo em um coque, brincando de boneca na calçada, lembro que queria muito me aproximar e fazer amizade, mas não sabia como, então peguei meus patins e saí, mas não sabia que chamaria sua atenção de um jeito tão ruim. Você foi tão calma diante da situação, mesmo que eu estivesse chorando como uma condenada, primeiramente pensei que apenas era grata pela ajuda, no entanto, agora entendo tudo melhor.
Jungeun, não tenho certeza de que você lerá essa carta, provavelmente não, mas eu te amo tanto que até dói. Deveria ter seguido o conselho de minha avó, não amar alguém tão imensamente de forma que a saudade seja o próprio inferno, mas gosto de você mais do que deveria, então estou disposta a enfrentar quem quer que seja contra meu amor, até mesmo se for o destino.
Com muito carinho e saudade,
Jinsoul.
P.S.: Estou me sentindo tão estúpida, metade das palavras foram bordadas com as lágrimas, ainda não acredito que escrevi essas coisas."
No avião, faltando pouco mais de meia hora para pousar, Jinsoul já havia chorado de tanta emoção e ansiedade, não entendia nenhum pouco dos seus sentimentos pela vizinha de cabelos loiros e amante de corujas até alguns dias atrás, apenas sabia gostar muito mais de Jungeun do que amava as luzes coloridas de pisca-pisca pendurados nas janelas no Natal, mais do que descansar depois de um dia exaustivo tomando uma xícara de chá de camomila. Pegou um papel de carta natalino vermelho, com luzinhas e flocos de neve desenhados nas extremidades pontudas, junto da caneta preta que tipicamente usou todos os dias até então para escrever tudo que foi endereçado e enviado à Jungeun.
Pensou amavelmente em cada substantivo, verbo e adjetivo, apesar da dor nas costas e pernas pelo assento apertado, estava muito mais do que feliz, em um estado próximo da euforia. O tempo havia sido sua maior punição, um dos maiores castigos de qualquer pessoa entregue à paixão, no entanto, enquanto voava no céu azulado preenchido pelas nuvens brancas, sentia que os momentos antecedentes valeram tanto a pena quanto poderia imaginar. Assinou a carta e a guardou, sorrindo ao ouvir que logo estariam pousando.
"Europa - 24/12/2020, 11:20 p.m.
Querida Jungeun,
Eu nem acredito que falta tão pouco tempo para te ver, te abraçar e demonstrar todo o meu amor por você..."
Jungeun recolheu todas as cartas do chão depois de ter lido cada uma, algumas inteiras, outras apenas alguns trechos que haviam sido marcados em cada partezinha de seu coração. Guardou-as no mesmo lugar de antes, fechando a gaveta quase com pena de deixar suas cartas tão preciosas, importantíssimas para matar um pouco da saudade que tinha da garota. Observou a neve que voltou a cair e passava pela janela, torcendo para um milagre acontecer e seu presente de Natal fosse aquele que mais sonhava.
"...embora eu tenha o negado tanto quanto pude, a quem iria enganar? Todos os meus olhares apaixonados foram dirigidos a ti desde que tenho consciência, meus pensamentos e sonhos mais românticos eram com você..."
Jinsoul andava pelo aeroporto agitado, esbarrando em pessoas e tropeçando nos próprios pés cobertos pelas botas pretas de cano alto, apenas queria encontrar algum lugar onde poderia pegar um táxi para a casa de Jungeun. Encolheu-se contra o casaco de veludo azul marinho quando foi para fora, sentindo o vento congelante característico do inverno. Havia começado a nevar depois do pouso de seu avião, por muita sorte, agradeceu aos céus por isso e continuava a sentir a felicidade que surgia cada vez mais seguida por uma ansiedade incontrolável embora tentasse se acalmar pensando que o pior já passou.
"...Sente o mesmo por mim? Imagino que sim, mas quero ouvir da sua boca enquanto sinto você contra meu corpo, nos esquentando do frio e matando toda a saudade dos últimos meses..."
Um arrepio tomou conta do corpo de Jungeun, tão repentino quanto a sensação boa que fez presença em seu coração apertado pela saudade, como se estivesse preso em uma corda no último limite, passando perto da dor física chegando de mansinho para lhe gerar um desconforto no estômago e falta de apetite. Lembrou-se da voz adocicada de Jinsoul e teve certeza de que a garota era o melhor dos vícios, seu vício próprio e o único que poderia fazer com que implorasse ao universo ou qualquer divindade superior para tê-la novamente junto de si, com gosto de brilho labial de morango e cheiro de perfume mais calmante que camomila, daria de tudo para ter um pouquinho da sensação de seu carinho novamente.
"...Agora, nesse avião tão silencioso, o que realmente me surpreende, sinto mais vontade de chorar ainda, e também me acho dramática demais por isso, então não o faço..."
Jinsoul observava cada detalhe que podia da cidade, aflita e tentando não ser negativa, pois estava com medo de Jungeun não gostar da surpresa, ou não sentir o mesmo. Embolada nos pensamentos como um gato em algum novelo de lã, saiu do táxi depois de o pagar, sorrindo igual uma boba apaixonada e, na verdade, realmente é.
"...Você vai gostar de mim tanto quanto eu te amo? Espero tanto que sim, Jungeun, mais até do que consegue imaginar. Minha paixão por ti alcançaria a Lua se fosse isso que eu precisasse fazer para ter você comigo nesse Natal de uma outra forma..."
Jungeun ouviu as batidas aceleradas na porta da frente e saiu de seu quarto correndo, mesmo imaginando se tratar de alguma criança querendo cantar alguma música natalina. Pegou a chave na mesinha de centro da sala, feliz por ter visto no relógio digital que já era meia-noite, portanto, finalmente era Natal. Quando destrancou a porta, teve a impressão de estar em um sonho bom demais, sentindo-se além da definição de euforia, porque a alegria que sentia ultrapassava qualquer outro momento.
"...E mesmo que não seja eterno, seria meu próprio paraíso estar atrelada aos lençóis de sua cama enquanto ouço-te dizendo que me ama..."
Apenas puxou Jinsoul para um abraço, sem conseguir conter a emoção de finalmente matar a saudade de sua amada garota. Foi ali, inalando o perfume adocicado e sentindo muito pouco do corpo da outra pelo casaco grosso, teve o melhor presente que uma amante poderia ganhar: estar nos braços de quem é apaixonada.
"...No fim, seja de nossas vidas ou do amor, poderei agradecer pelas sensações que experimentei contigo. Mesmo que esteja ardendendo no fogo do inferno como dizem por aí, o céu é algo que abdico e aceito chorando a punição pelo sentimento mais puro já sentido por mim..."
Jinsoul, sem conter a vontade de saciar toda a sede de tanto tempo, desde a primeira vez quando viu Jungeun usando o batom vermelho que deu de presente em seu aniversário até aquele instante, juntou seus lábios rachados com os da loira no beijo mais sentimental e amoroso que ambas tiveram em toda a vida.
— Feliz Natal — Jinsoul disse sorrindo ainda nos braços de Jungeun.
— Feliz Natal.
"...Com amor,
Jinsoul."
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