2 - LONELY
E se você tivesse tudo
Mas ninguém para ligar?
Talvez então você me conheceria
Porque eu já tive de tudo
Mas ninguém está me ouvindo
E isso é solitário pra caralho
Estou tão solitário
— Lonely, Justin Bieber feat Benny Blanco
A turnê já foi anunciada, mas ainda não conseguimos uma equipe para me acompanhar no Brasil, já que a tal da Babi recusa antes mesmo de ouvir a proposta do Chan. Parece que a sua impressionante persuasão não foi o suficiente para convencer a brasileira, que deixou bem claro que não se envolve mais com K-pop.
Bang Chan tentou umas cinco vezes até perceber que teria que procurar outra pessoa e aqui estamos, na sala de reunião, observando vários perfis de produtores do mundo da música:
— Eu gosto desse aqui. E olha, ele luta Muay Thai. Se o Bin encher o saco demais, um soco coloca ele no lugar. — Haein diz e eu a observo.
— Você ainda se diz minha amiga? — A olho de cara fechada.
Ela ri e continuamos a mexer no notebook. Bang Chan está contrariado, já passamos por vários perfis de pessoas interessantes e ele só aponta defeito e pula para o próximo. Afinal, o que tem essa Babi? Ou será que é algo com o Jungkook? Chan pode ser extremamente leal aos seus, então, se o Kookie o persuadiu sobre essa garota, dificilmente ele mudará de ideia.
— Olha, esse aqui trabalha com a Anitta. — Haein diz, observando a tela.
— Aaah Anira... Não posso mentir que a acho muito, muito... como posso dizer para não ser vulgar... atraente?
— Salta, já vemos que o interesse do Changbin não é na equipe, mas em outra pessoa. — Bang Chan diz, lendo meus pensamentos sobre poder ter a oportunidade de encontrá-la.
— Você é muito asqueroso às vezes, sabia? — Haein diz, e eu reviro os olhos.
— Agora é crime achar alguém bonito? — Digo, irritado.
— Foque na turnê. — Bang Chan diz, encerrando o assunto.
Ele já deixou claro que não quer saber de escândalos amorosos envolvendo o meu nome. Tem sido cada vez mais difícil evitá-los. Perdi muito apoio dos fãs orientais, que acham um absurdo eu, um homem adulto e solteiro, ter uma vida pessoal. Mas, em contrapartida, recebo o triplo de apoio dos ocidentais, que acham engraçado, sem falar nos memes. Eu nem ligo mais para esses comentários. É a minha vida, e eu decido o que fazer com ela.
Passamos um bom tempo ali, olhando aqueles perfis, mas ninguém agradou ao Bang Chan e, no fim, volto para casa cansado de apenas olhar para a tela do computador e não resolver nada. Mando uma mensagem para o I.N, querendo saber se ele está bem e se já comeu. Todos os dias, desde que o conheci, faço isso. O maknae chegou aqui em Seul sozinho, tão jovem, e eu automaticamente me senti na obrigação de cuidar dele. Ele pode negar para as câmeras, mas sei que ele gosta desse cuidado, e acredito que foi isso que o fez se adaptar tão bem à mudança de Busan para Seul.
Tomo um banho e pego meu celular, já selecionando o Tik Tok. Para minha infelicidade, aparece um vídeo dela, Chaewon. Ela está sorrindo e fazendo gracinha para a câmera junto com Sakura. Ah, sinto falta dela, mas a falta que sinto traz de volta os sentimentos antigos de abandono. Acho que, mesmo que eu diga que estou bem sozinho, eu não quero realmente estar sozinho.
Mas o problema é que eu não dou certo com ninguém e cheguei a falar disso na terapia, sobre como me sinto frustrado. O terapeuta apenas disse 'tudo ao seu tempo, não se cobre demais'. Fiquei tão irritado com a fala dele que nunca mais voltei. Sinto-me sozinho, e estou me tornando cada vez mais solitário.
Todos conhecem meu nome, todos veem meus feitos no showbusiness. Sou conhecido como um dos melhores rappers da indústria e tenho reconhecimento pelas minhas composições. Mas tudo ainda parece tão errado, é como se nada me levasse à satisfação. Quando estreante, fiz vários planos e sonhos, e agora, que já passei dos vinte e cinco, à beira do serviço militar, questiono o que estou realmente fazendo da vida.
Eu tenho tudo, mas sinto que não tenho nada.
Eu já estava cansado de esperar pela boa vontade do Chan. Ele encontra problemas em todas as pessoas, mesmo que alguns cotados poderiam ser ótimos trabalhando comigo. No entanto, sua expressão facial revela sempre a sua falta de convicção. Sinceramente, só quero resolver isso e começar a turnê.
Chego à sala dele e me sento em uma das cadeiras, aguardando sua chegada. O tempo vai passando e ele não aparece. Isso começa a me irritar, então decido levantar e esticar o corpo. Enquanto ando pela sala, sinto uma mistura de orgulho e nostalgia. Quem diria que aqueles jovens que ficavam no dormitório, brigando com um computador velho que ainda usava o sistema Windows XP para criar músicas, ou até mesmo gravando alguns MVs com nossos celulares, teriam tudo isso? É impressionante como chegamos até aqui.
Distraído, acabei esbarrando em uma prateleira e percebi algo curioso: uma pequena caixa azul aveludada, com o logotipo de uma famosa marca de diamantes. Olho para aquilo com um misto de curiosidade e apreensão, e decido abri-la. Para minha surpresa, encontro um par de alianças e um anel com um belíssimo diamante solitário. Embaixo da caixa, há um recibo em nome de Christopher Bahng com o valor do anel. Fico olhando para aquilo, desacreditado, enquanto um péssimo pressentimento toma conta de mim. Nesse momento, a porta se abre e lá está ele. Seus olhos desviam para as minhas mãos e depois voltam-se para mim enquanto ele se aproxima.
— Não te ensinaram que é falta de educação mexer nas coisas dos outros? — Ele diz, puxando a caixa da minha mão e verificando se estava tudo bem com ela.
— Você vai pedir a Yun em casamento?
— Isso é segredo. — ele responde, guardando a caixa em suas coisas e indo para a mesa.
— Ah... Meus parabéns? — digo, confuso.
Observo meu melhor amigo ali em minha frente, sem acreditar que ele estava mesmo prestes a tomar essa decisão.
— Você não fica feliz por mim? — Ele pergunta ao notar como fiquei sem palavras.
— Não é isso, é que... Chan, a Yun tem apenas vinte e quatro anos e está no auge da carreira... Você não acha que está precipitando as coisas? — Não fazia sentido para mim que ele estivesse pedindo Yun em casamento agora, especialmente porque nós, idols, nos casamos depois dos trinta, o que é completamente normal.
Yunjin está vivendo uma fase incrível em sua carreira, suas músicas estão fazendo sucesso a nível mundial e até ganharam um VMA na categoria 'melhor música de KPOP'. Onde o casamento está embutido? Tanta coisa pode dar errado nisso, não que minha opinião valha de alguma coisa, pois no quesito amor, eu sou um perdedor. Mas eles estão em fases diferentes nas carreiras e é algo que ele precisa considerar.
— Ai meu Deus, ela está grávida? — pergunto rapidamente, me sentindo um tanto nervoso, imaginando o escândalo.
— Não, quer dizer... Passamos por um susto recentemente, ela ficou muito tempo sem... Você sabe, fico sem jeito de falar essas coisas. Mas essa situação me fez perceber que eu mal tenho tempo com ela, sabe? Nossas carreiras nos obrigam a passar muito tempo separados e eu quero poder vê-la todos os dias. Isso me deu coragem para tomar essa decisão.
— Mas, como pode ter certeza que está tomando a decisão certa?
Ele parou e sorriu, observando o chão, revivendo talvez sua história ao lado da garota. Eles não seriam o Feliz Casal à toa, todo mundo, até os fãs sempre comentam o quão perfeito eles são, o quanto suas energias são parecidas e o quanto eles se fazem felizes. É claro que nem tudo são flores, eles já terminaram duas vezes mas nunca ficavam mais de 24h separados. Os dois são tão perfeitinhos que chega até ser irritante. Bang Chan olhou em meus olhos e sua expressão está em paz:
— Ela é o amor da minha vida... Ela me entende e me completa, ela me faz rir e me sentir apaixonado todos os dias... Simplesmente é ela.
Pisco algumas vezes um tanto incrédulo que ele mandou mesmo essa:
— Mas isso não é motivo suficiente para querer casar com alguém, bobão.
— Olha quem chegou! — Bang Chan diz, me ignorando, e vejo que a porta foi aberta.
Ali, em nossa frente, está Jungkook, vestido com uma calça jeans escura, uma camisa de algodão e seus cabelos raspados cobertos por seu famoso chapéu balde. Bang Chan vai até ele e o abraça, agradecendo a visita em sua folga do serviço militar. Ele me cumprimenta rapidamente:
— Olha, vocês não vão acreditar... A Babi voltou atrás e aceitou falar sobre o assunto. — disse, apontando para mim com a cabeça.
— O quê? Mentira! Ela estava irredutível... — Bang Chan diz surpreso.
— Bom... Eu tive que negociar um pouco, mas... Ela topou!
Os dois se abraçam comemorando e, no meio dos saltos, Jungkook solta a bomba.
— Pelo triplo do cachê!
— Quê!? — Eu e Bang Chan falamos juntos.
— Ela vai abdicar de trabalhos na Europa e estender a estadia no Brasil para trabalhar com você.
Jungkook sorri de orelha a orelha, enquando Bang Chan lhe dá tapinhas nas costas, o encorajando.
— Ficaram malucos de vez. — Digo.
— Bom... Parece que não há outro jeito. — Bang Chan suspira e se vira para Kookie. — Iremos pagar.
— Você só pode ter enlouquecido... Pagar o triplo? Sério? — Não era necessário um cachê tão alto assim.
— Hey, não seja chato, você vai gostar da Barbie. — Kookie diz e eu dou um meio sorriso forçado.
Jungkook tem um brilho irritante nos olhos, quando põe a mão sobre o meu ombro e insiste.
— Confia em mim.
Ainda estou inconformado, mas, apenas assinto, sem entender o que esses dois esperam de mim. Só quero começar a me apresentar logo.
A turnê finalmente começou e, como se esperava, está sendo um enorme sucesso desde o primeiro show. Nos últimos dias, tenho me divertido muito nos países que tenho visitado e respeitando todas as restrições impostas por Bang Chan. Passei um mês viajando pela Ásia, visitando países como China, Tailândia e Filipinas, além dos shows que aconteceram na Coreia do Sul e no Japão. Tive a oportunidade de conhecer pessoas interessantes, aproveitar alguns momentos de lazer e também realizar trabalhos de marketing.
Durante as pausas entre os shows, Bang Chan sempre me arruma algo para fazer. Assim, vou explorando diferentes trabalhos e projetos, mantendo-me envolvido e ocupado com alguma coisa.
A seguir, passei mais um mês nos Estados Unidos, onde uma nova bailarina entrou para o nosso time de dançarinos. Fiquei fascinado pela sua beleza, porém, assim que Bang Chan soube disso, ele decidiu substituí-la. Confesso que fiquei chateado com a situação e discordei dessa intervenção dele, mas preferi não confrontá-lo.
E agora, estou prestes a desembarcar no Brasil. Decidimos não divulgar nossa chegada nas redes sociais para evitar aglomerações no aeroporto. Mal posso esperar para passar os próximos dias aqui, tenho certeza que será uma experiência divertida.
Assim que o avião pousa, Haein me ajuda com as malas de mão e caminhamos pacientemente em direção ao desembarque. Ao chegar lá, deparo-me com uma multidão animada e diversificada, composta por pessoas de diferentes raças e tamanhos. O calor característico do Rio de Janeiro é perceptível. Estico as costas e digo já me soltando:
— Ah, o Rio de Janeiro continua lindo...
Haein, um pouco apreensiva, responde:
— Eu não sou muito fã do Brasil, é muito quente aqui e tive experiências desagradáveis durante nossas turnês anteriores.
Tentei acalmá-la, dizendo:
— Vamos superar, o Brasil é incrível.
Após passarmos pelo portão de desembarque, as pessoas nos olham e murmuram entre si, alguns até apontam seus dedos em minha direção. Deveríamos encontrar a Babi, que estava responsável pela segurança, mas não a avistámos em meio à multidão. Haein começa a ficar ansiosa:
— As pessoas podem começar a querer se aproximar.
— São apenas fãs, não seja tão exagerada. — Digo, tentando tranquilizá-la e sorrio para um grupo de garotas que soltam gritinhos ao serem notadas.
Continuamos a caminhar pelo aeroporto, até que Haein suspira aliviada e diz:
— Ali está ela, vamos!
Sigo o direcionamento de seu olhar e vejo uma garota usando um short jeans com barras desfiadas, uma regata branca e uma camisa de mangas xadrez desabotoada. Seus cabelos castanhos ondulados caem na altura do busto, com mechas loiras. Ela está usando um all star vermelho. Não parece em nada ser uma staff renomada, mas sim uma adolescente. Ela está acompanhada por quatro homens bem vestidos e, de momento, está brigando com um desses sorvetes expressos, fazendo uma grande bagunça nas próprias mãos. Haein se aproxima e ela dá um pulo de susto:
— Você é a Bárbara Sampaio? — pergunta Haein e a garota sorri.
— Olá, prazer em conhecê-los. — Ela se curva em um cumprimento e eu apenas faço um movimento breve com a cabeça enquanto a avalio — Desculpe a bagunça, aqui é tão quente que mal dá tempo de tomar o sorvete sem que ele derreta. — Ela diz em coreano, com um sotaque engraçado. Um dos seguranças lhe oferece um lenço para limpar as mãos.
— Então, você é a Barbie? — Comento de forma presunçosa e ela me olha de lado, um tanto séria. Percebo que ela não gosta de ser chamada assim.
— É melhor me chamar de Babi. É mais fácil pra todos. — Ela diz com um sorriso quase automático.
— Mas eu prefiro Barbie. — Insisto, percebendo que isso a incomoda.
— Mas eu não.
— Não é isso que os tabloides diziam. — Revido, sentindo-me vitorioso.
— Se formos jogar o jogo de quem tem os piores apelidos nos tabloides, acho que você leva a vantagem. — Babi diz de forma irônica e minha vitória ganha um sabor amargo de derrota.
— Ignore-o, Changbin é um idiota. — Haein me repreende com o olhar, mas eu não me importo.
— Já vou logo avisando que não me envolvo com funcionárias.
—Changbin! Pare já com isso! Desculpe, Babi.
A staff tenta disfarçar, mas percebo como ela segura uma risada de escárnio.
— Você não precisa se preocupar com isso. Foque apenas na sua apresentação e eu cuido do resto. — ela conclui, e sua expressão demonstra seu descontentamento por estar ali. Que ela saiba que eu também estou descontente.
Essa garota ficou conhecida por um escândalo enorme com o BTS. Na época, ninguém soube direito o que aconteceu, nem se ela teria tido algo com algum deles, mas os rumores dos bastidores diziam que sim. Agora, com toda a insistência do Jungkook, já não sei o que pensar. Ela veio a público negar tudo, mas nós sabemos como essas coisas são. No mínimo, deve ter um interesse especial por coreanos. Mas isso não me importa. Como ela disse, só preciso me concentrar nas minhas apresentações, o resto é problema dela. Ajeito meus óculos escuros e a encaro com desdém:
— Então, vamos passear pelo Rio de Janeiro. — Digo, enquanto começo a andar, fazendo com que alguns fãs percam a timidez e se aproximem. Rapidamente, distribuo autógrafos e hi fives. Os seguranças logo se juntam a mim a fim de me manter seguro.
Outro otário presunçoso, lá vamos nós de novo! Para variar, começo com o pé esquerdo com esses caras. Será que por ser baixinha, eles acham que podem pisar em mim? Pois está muito enganado, meu bem. Pena que não consegui terminar meu sorvete, meu último vestígio de paz antes desta jornada tripla — e imprevista — de trabalho começar.
Mas tudo bem, essa turnê e os outros trabalhos que arranjei no final do ano — obrigada, shows de Réveillon! —vão salvar a minha família do vermelho e só tenho que repetir isso feito um mantra toda vez que esse Changbingulinho arrotar idiotices.
Haein revira os olhos vendo ele distribuir autógrafos como se estivesse em uma cena em câmera lenta de um dorama qualquer e entrega um envelope para mim com recomendações.
— Mesmo que você já tenha sido orientada, aqui está um dossiê completo feito pelo Bang Chan sobre as limitações do idiota ali. Pelo que entendi o restante da equipe de produção já está no hotel, correto? — confirmo com a cabeça e ela continua. — Perfeito, ele não é esse completo babaca aí, só está agindo assim porque quer implicar com você.
Esforço-me ao máximo para não demonstrar a surpresa que aquilo me causa. O que eu fiz para esse aí antes mesmo de o conhecer? Tenho que recompor os pensamentos para continuar acompanhando o que Haein diz:
— Se ele começar a te encher demais pode ligar para o Bang Chan que ele resolve. É aqui que nos despedimos. — ela me estende a mão e o chama mais alto. — Changbin, Fighting em sua turnê!
Changbin se despede com a mão, dando um tchau e ela se volta para mim.
— Boa sorte, Babi.
Que os jogos comecem, penso comigo, folheando o dossiê. Faço sinal para os seguranças guiarem Changbin para o carro e, ao passar por mim, ele pergunta pelas malas dele.
— Já estão guardadas no bagageiro. Você precisa de alguma coisa de lá? — pergunto tentando acompanhar o ritmo rápido de seus passos.
— Só queria guardar isso.
Ele atira o casaco de marca sobre mim e eu respiro fundo, repetindo comigo mesma "cachê triplo, cachê triplo, cachê triplo". Este promete ser um mês daqueles.
Seguimos para o hotel em três carros, com os seguranças se distribuindo entre o carro da frente e o de trás para levar o artista seguro no centro. Eu vou ao lado dele para repassar informações sobre os compromissos dos próximos dias, mas tendo em conta que ele não tira os olhos da janela, parece que não está assim muito interessado em saber que tem uma entrevista para o jornal agendada para daqui a duas horas.
— O hotel é muito longe? — ele pergunta do nada, interrompendo a minha linha de raciocínio.
Transmito a dúvida em português para o motorista e me esforço ao máximo para lembrar como se diz "engarrafamento" em coreano, sem precisar recorrer ao Duolingo.
— Não é longe, mas tem um engarrafamento mais à frente.
— Hum.
Ele volta a olhar pela janela e me pergunto como essa criatura pode fazer parte do mesmo grupo que o fofurinha do Felix e o sempre tão cuidadoso Bang Chan. Vejo-o fechar a cara momentaneamente, enquanto tenta esticar a perna, demonstrando estar com dores e me recordo como tragédias podem mudar uma pessoa. Quase sem perceber acaricio os meus cabelos e dirijo também o olhar para a janela.
— É a sua primeira vez no Rio? — pergunto, puxando papo.
— Não...
— Mas o calçadão nunca perde a beleza, né?
— Jamais. — responde com um sorrisinho safado.
Acompanho seu olhar e vejo uma morena torneada passeando com três cachorros, com jeito de passista de carnaval e capaz de fazer todo mundo babar, inclusive eu.
— Vamos fazer uma pausa aqui? — ele sugere mordiscando a ponta dos óculos escuros.
— Nem pensar. Já estamos correndo risco de nos atrasar e...
Changbin não me ouve mais, pois aproveitou o carro parado para sair. Da próxima, tenho que dizer para o motorista usar a trava de segurança infantil, porque é justamente com isso que estamos lidando, uma criança. Sigo-o em direção ao calçadão, mas ao invés de persegui-lo feito uma maluca, correndo o risco de chamar atenção para nós, resolvo ver até onde ele consegue ir.
Vejo-o pôr os óculos de novo, sacudir o cabelo, enquanto cerca a morena e me contorço de vergonha alheia. Um, os conhecimentos de português do dito cujo não devem passar muito de "bom dia", "obrigado" e "por favor". Dois, os de inglês também não são assim tão avançados e, até onde eu saiba, se ele tiver sorte que a morena saiba inglês, nada indica que ele seja bom de cantada em línguas estrangeiras. Três, ele não parece fazer o tipo dela, mas isso já sou eu pondo a minha opinião.
Resolvo fazer algo por mim e me dirijo à barraquinha de água de coco mais próxima, sentando estrategicamente para assistir de camarote ao fora bem dado que ele estava prestes a levar. Dito e feito, assim que pago e recebo o primeiro dos cocos encomendados, a garota vira a cara com uma expressão de desgosto, enquanto ele se encolhe quando um dos cachorros late. Dessa vez, não me contenho. Gargalho ao ponto de quase cair do banco de madeira e ainda estou enxugando as lágrimas quando ele se aproxima.
— O que ela disse? — pergunto.
— Não faço ideia. Não entendi nenhuma palavra. — ele dá de ombros.
Gargalho mais ainda, enquanto sugo a água e ele me olha com nojo.
— Você quer um? — ofereço.
— Hum-rum. — responde com um bico.
Nem é preciso dizer nada, o vendedor já serve o coco que eu tinha encomendado antes e aproveita para levar os outros para os seguranças nos carros. Changbin observa a movimentação com um ar surpreso.
— Achei que você ia estar pirando agora. — ele comenta.
— Uns tempos atrás eu estaria, mas aprendi que momentos como este são oportunidades de passear um pouco e, de que adiantaria ficar toda estressada, se eu sabia que você ia voltar?
Ele dá um gole na água de coco e observa o mar mais ao longe, pensativo.
— É, talvez você tenha razão.
— Hum-rum... E você tem uma entrevista em uma hora e meia no hotel. — digo voltando a verificar o cronograma no meu celular.
— E você só me avisa agora? — ele pergunta com os olhos arregalados.
— Eu tentei, mas você tava mais interessado na garota de Ipanema ali. — comento, apontando para os lados que a morena foi.
Ele se levanta apressado, começando a bufar.
— Ei, calma! Acaba o seu coco. Vai dar tudo certo. — aponto para ele voltar a se sentar no banco e me dirijo ao vendedor. — Você pode recolher os cocos do pessoal nos carros, por favor? Não precisa partir, não. Obrigada!
Espero ouvir o barulhinho familiar do líquido chegando ao fim no canudinho de Changbin e, aí sim, me levanto para partir e enfrentar o outro barulho — bem menos agradável — de buzinas irritadas com os nossos carros parados em fila dupla, mas pelo menos desta vez, vinha acompanhada pela estrela.
Oi gente!!
Feliz Páscoa meus amores, comam muito chocolate e aproveitem o domingo. 🥰
O que acharam deste primeiro encontro entre o Changbin e a Babi, hein?
Nosso pequeno grande homem já demonstrou que não vai facilitar em nada pra Babi né? Hahaha
Mas que graça seria se fosse fácil?
Se está gostando, não se esqueça de deixar a sua estrelinha e comentar! Eu vou adorar saber sua opinião, palpites e etc.
BIG HUG e até o próximo capítulo.
Annelizzy e Ana Laura Cruz
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