• VINTE E UM • RAMON
Eu não acordei muito bem. Tosse e febre eram o que me assolavam. Mas não podia faltar no café da manhã corporativo que já estava marcado tem quase dois meses. Eu tinha que estar lá ajudando, por isso juntamente com meu violão, embarquei no ônibus e fui. Tremendo muito mas fui. Mas eu estava pior do que imaginava pois mal cheguei, e Nana com seu jeito de ser já foi me enviando para casa.
Não tive como negar. Não poderia arriscar tossir sobre os alimentos ou cair no chão por causa da fraqueza. Com sorte, embarquei no mesmo ônibus e voltei para casa. Não vi minha avó enquanto nme arrastava e deitava de qualquer jeito no sofá, após colocar o violão e mochila no chão ao lado de onde estava deitado. Ali fiquei não sei por quanto tempo, alterando entre dormir e olhar para o teto.
Não sabia que eras eram quando bateram na porta levemente. Não deu tempo de me mexer tão rápido quanto deveria, por isso as batidas ficaram mais brutas e insistentes. A pessoa do outro lado parecia realmente ansioso para ser atendida. Só não esperava que fosse meu namorado vestido com seu terno alinhado. Eu jurava que ele iria trabalhar hoje. E mesmo com os olhos irritados, o deixei entrar. Me lembro de algumas coisas mas principalmente de cuidando de mim. E foi tão maravilhoso. Ficar doente não é meu sonho diário, ninguém quer ficar tossindo e tremendo o tempo todo. Mas o cuidado com que fui tratado por ele, o homem que amo com tudo de mim, foi especial. O homem ousou se enfiar na cozinha de minha avó para que eu pudesse bter algo leve para comer quando meu corpo cooperasse. Se eu não soubesse que ele me ama, saberia com esse gesto. Vovó é um amor, mas não entre em sua cozinha, seu espaço particular sem o convite dela.
O homem controlado simplesmente se despiu de sua couraça de irmão mais velho super protetor e segurança rígido para cuidar de mim e isso não tem preço.
Mas no momento que ele abriu a porta, seu corpo inteiro se tornou rígido feito uma madeira. Tentei colocar de lado todo o restante do meu mal estar de lado para que pudesse estar ao seu lado, quando uma mulher surgiu do outro lado da porta.
Era como se uma eternidade inteira tivesse passado, depois do questionamento dele, que bufou novamente repetindo a pergunta.
- Te perguntei, o que está fazendo aqui? Ficou surda agora? - me arrepiei todinho e não foi do jeito bom. Arthur com todo o seu tamanho, bloqueava a porta com a intenção dela não ver nada dentro do apartamento. Ela recua mediante o tom frio da voz dele.
- Eu te liguei semana passada Arthur. - se recupera e tenta manter a pose de estar inabalável diante do homem ao meu lado, empinando o nariz.
- Acredite, não me esqueci que ligou! - soa sarcástico. Engulo em seco, olhando de um para o outro.
- Então sabe para o que vim.
Arthur simplesmente se mantém quieto por um segundo para então rir. Rir rigidamente, com uma ironia que você poderia sentir por metros.
- Me diz, você usa algum tipo de droga? - se recosta contra o batente da porta de forma que para muitos poderia ser relaxada. Mas não para mim ou para ela. A mulher que é a imagem na versão feminina do meu namorado, vacila mas aperta os olhos na nossa direção. Há irritação neles.
Fico preso no lugar. Sei que eles precisam conversar mas no meu interior, sinto que tenho de estar aqui com ele e por ele.
- Não pode falar assim comigo! Sou sua mãe!
Ele ri ainda mais. Quase de forma forçada. Acredito que pela primeira vez, estou vendo - o perder o controle completamente e não gosto disso. A única capaz de fazer isso é essa mulher diante de nós. Vestida com roupas de marca, coladas ao corpo esguio, cabelos em cachos lindos que emolduram seu rosto e saltos nudes altos.
Seguro seu braço, mostrando de alguma forma que estou aqui. Me olha rapidamente, o olhar suave.
- Minha mãe! - passa o dedão pelo lábio inferior, um olhar distante que durou apenas um segundo. - Eu não te conheço, nunca a vi pessoalmente. Somente por fotos e as vezes você tinha algum lapso de consciência e ligava para saber de mim. Se lembra de nossas conversas? - a mulher abre a boca mas logo a fecha. - Frias e curtas.
- Sei que não fui a melhor mãe do mundo.
- Para! - solta em um grunhido. - Só para! Você não foi uma ótima mãe, pois você não é uma mãe! Apenas a pessoa que nos colocou no mundo.
- Está sendo injusto!
- Foda - se a minha injustiça! Injusto é ter de maquiar uma história para seu irmão de dez anos de idade. Crescer sabendo que não foi o suficiente para fazer sua mãe ficar é doloroso. Não tive essa sorte morando com vovó que não perdia a oportunidade de dizer o quanto a filha era irresponsável por ter filhos e não ser capaz de cuidar deles.
Viviane, que quando chegou tinha toda uma armadura. Agora vê - se sendo fragmentada pouco a pouco conforme o filho vai expondo o que aconteceu e o que sente.
- Eu sou a mãe de vocês, querendo ou não!
- Infelizmente não podemos escolher nossos laços sanguíneos.
- Sei que está com raiva...
- Não por mim! - respira fundo. - Mas por meu irmão! Estou puto para caralho!
- Eu...- se desencosta da porta e dá um passo grande até onde ela está no corredor. Ele é maior que ela, forçando - a a erguer o rosto para que pudesse olhar para ele.
- Você me deixou com um bebê de meses para cuidar!
- Não poderia deixa - lo com sua avó!
- Aprendi na marra quando ele chorava por estar com fome, sujo, desejando um banho ou apenas dormir no peito do irmão. Aprendi a contar histórias infantis para que ele pudesse ter um sono tranquilo. O vi perder seu primeiro dente e o ajudei a esconde - lo para que a fada do dente o visitasse de noite. O consolava quando caia, passei algumas noites no hospital quando ficava doente. O vi crescer aos poucos, sendo um garoto de coração bom. O meu garoto.
- Eu preciso conhece - lo! - se desespera.
- Você não vai! Não enquanto eu estiver respirando, então vai ter que me matar para vê - lo.
Ela ri sarcasticamente, jogando os cabelos para trás.
- Você é dramático como seu pai. - a palavra pai sai de forma ácida.
Aquilo cala meu namorado, entrelaço seus dedos nos meus. Mostrando através desse gesto que estou com ele.
- Suma de nossas vidas! - decreta.
- Não sem antes conhecer David!
Arthur praticamente enfia o dedo no rosto dela.
- Eu disse naquela ligação que não iria vê - lo.
- Estou casada agora, quero vê - lo!
- Para quê? Para mostrar para o trouxa do seu marido que é uma mãe amorosa? Qual é jogo? - ela engole em seco.
- Não é da sua conta!
- É da minha conta, quando me irmão está envolvido.
- Olha eu não estava preparada para ser mãe! Eu queria sair pelo mundo, viajar! Fazer tudo o que não pude quando morava com sua avó! - vacila ao dizer as palavras e parece que são mentiras bem treinadas.
- Ah, agora será uma mulher de família! Que bonitinho!
- Olha eu tenho advogados.
- Eu tenho também, além de amigos que são minha família. E um patrão que se dispôs a me ajudar em tudo. Conhece o juiz Sullivan? - Viviane fica pálida. - Ele pode ou não estar sabendo do meu caso e vai indicar um amigo se precisar.
- Você também tem a mim amor! - resolvo me manifestar, deixando claro que estarei ao lado dele. Parecendo finalmente me notar, recebo um olhar ácido.
- E você seria quem coisinha?
- Agora isso não é da sua conta! Se já terminou de dizer tudo o que queria, tenho mais o que fazer. E se faça um favor, só vai embora. É o que você sabe fazer de melhor não é?
Me leva para dentro do apartamento, tentando fechar a porta. Ela não deixa e impede espalmando ambas as mãos com unhas feitas na porta.
- Arthur!
- Me diz uma coisa, veio para ficar?
Estática como uma estátua de gesso, ela desvia o olhar para os sapatos.
- É disso que estou falando. Por que aparecer, bagunçar a cabeça dele se nem ao menos vai ficar?
Silêncio.
- Nos faça um favor e volte para onde estava antes de vir foder com meu dia!
Sabendo que não será ouvida, não agora. Ela enfim, parece se dar conta de que está sobrando ali. Segurando a bolsa de lado, de maneira firme, dá meia volta e se afasta de nós. Mas para no meio do caminho, sem se virar mas olhando por sobre o ombro, diz simplesmente.
- Agradeça a seu primo por me passar seu endereço por favor! - não é maldoso seu comentário apenas grato. Arthur recua como se tivesse tomado um soco.
Fica por um tempo parado no mesmo lugar, porta fechada, de costas para mim que voltei a me sentar no sofá. Se estava doente não estou mais. A briga me curou em instantes.
Devagar, retira o aparelho do bolso de sua calça.
- Só me responde uma coisa, qual direito você tem de se meter na minha vida?
Pausa.
- Viviane apareceu aqui. No condomínio porra! E no final pediu para te agradecer por ter passado o meu endereço para ela.
Ele passa a mão pelo cabelo cortado rente ao couro cabeludo.
- Eu aturei sua birrinha depois que chegou aqui. Sua falta de interesse nas coisas. Mas não vou aturar você se metendo em assuntos que não lhe desrespeitam. Foda - se! Já procurou sua mãe? - ele ri de forma ácida. - Então não se meta onde não é assunto seu. Fique onde você quiser, não quero te ver hoje mesmo!
Guarda o celular no bolso novamente.
Vou até ele, abraçando - o por trás. Enterrando meu rosto em suas costas rígidas. Pousando sua mão sobre as minhas, as aperta com força. Não falamos nada, não há o que dizer. Não agora.
Seu corpo estremece por inteiro e logo um soluço corta o ar.
Me desespero, pois nunca tinha visto - o chorar. Para mim, Arthur sempre se mostrou essa fortaleza onde quem quer que precise, encontra abrigo. O homem tem um coração tão bonito, não merece chorar por uma pessoa que por muito tempo mostrou que não se importa com ele. Fico com raiva da situação toda.
Dou a volta em seu corpo, ergo meu olhar para encontrar o seu inundado de lágrimas. Que carregam tanta dor, que posso senti - la. Tento seca - las mas é uma tarefa impossível, quanto mais me ponho a limpar seu rosto, mais delas descem. Levo - o para meu quarto, ele me segue sem hesitar.
Faço - o se sentar na minha cama, que está desarrumada por ter quase entrado em cima nela por horas. Ele faz, deixando os braços flácidos rente ao corpo. Antes que possa me acomodar ao seu lado, ele me surpreende trazendo - me para seu colo, apertando minha cintura. Não de forma sexual, acredito que seja para ter algo em que se firmar. Seguro em seus ombros largos e deixo que ele chore tudo o que tem de chorar.
- Acha que estou errado? - se pronuncia com a voz rouca. Não há mais vestígios de lágrimas em seus olhos, nem sei quanto tempo se passou. Só queria estar ali para ele. Ele sempre está cuidando de mim e de todos.
Teve uma vez que Silas ficou doente, a montanha de músculos não teve chance em negar ajuda. O amigo estava lá observando sua febre baixar aos poucos e lhe fazendo sopa. Samantha também precisou de ajuda com o tio e lá estava meu namorado disposto a fazer qualquer coisa para ajudar.
Agora era hora dele se deixar ser cuidado. Acaricio seu rosto, segurando firmemente em seguida para que possa olhar para mim. Assim não terá dúvidas do que digo.
- Sei que nossas histórias são diferentes. Eu tive uma família "modelo", um lar dito como estável mas nunca me senti o suficiente amado. Você foi criado pela a avó ao ser deixado pela mãe com ela. Anos depois, a mesma coisa acontece mas agora é seu irmão que é deixado para trás. Agora surge a sua mãe querendo uma aproximação com Davi, mas não tem a intenção de ficar. - respiro profundamente me aconchegando nele. - Não estou no lugar de juiz sabe? Mas sei que você só está tentando fazer o que é melhor para seu irmão.
- Ele pode querer vê - la! - diz engasgado.
Aceno afirmativamente.
- Pode, não vou negar. Mas ele é um garoto muito inteligente e mesmo se ela partir depois de tudo, ele é forte para lidar com isso não acha?
Seu silêncio dura alguns minutos. Não o forço a nada, espero que ele pense bem nas palavras que disse.
- Preciso pensar com calma.
- Eu sei. - dou um beijo em seu queixo, ele tenta segurar minha nuca, pronto para me assaltar com sua língua maravilhosa. Desvio bem a tempo, ele faz beicinho. - Você já cuidou de mim hoje. O que acha de ser cuidado?
- Davi vai chegar daqui a pouco, ele tem lição de casa e...- o calo beijando ele de verdade, que solta um gemido profundo. Mordo seu lábio inferior, sentindo vontade de ficar em seus braços para senpre.
- Não. - suas sobrancelhas se juntam enquanto me observa com diversão imersa em seus olhos castanhos e tão bonitos.
- Não?
- Você vai tomar um banho agora, colocar uma roupa leve e vai comer um pouco.
- Estou fedendo? - cheira as axilas. Dou uma risadinha seguido de um tapa em seu ombro.
- Não seja bobo. Você zelou pelo meu bem estar o dia todo. Almoçou pelo menos?
- Talvez! - reviro meus olhos.
- Vou te enfiar a sopa goela a dentro. - agora é ele quem bufa. - Não discuta comigo, estou no controle da situação amor.
- Por enquanto!
Me levanto, observando - o entrar no banheiro. Me espreguiço e abro meu guarda - roupas a procura de uma calça de moletom e camisa sua que ficou aqui nas outras vezes que ele ficou aqui. Abro um pacote de cuecas que vovó comprou essa semana para mim e retiro uma das três, colocando - a sobre as peças separadas.
Na sala, logo para seus amigos explicando toda a situação e eles ficam preocupados dizendo que a noite estarão aqui para dar todo o apoio que ele precisa. Desço para o térreo, em direção a entrada do condomínio, onde a van de David estaciona. Ele de dentro do veículo já acena freneticamente para mim, sorrindo largamente. Retribuo o gesto e pego sua mochila assim que ele desce, pegando minha mão na sua. Sua janelinha a mostra enquanto tagarela a mil por hora.
- Fiquei sabendo que tem lição para fazer hoje.
- Ah não tio Ramon! - geme frustrado. - Hoje eu queria brincar muito sabe?
- Só depois da lição. E seu irmão está precisando de muito amor da nossa parte hoje sabia? - ele fica sério de repente. Quase me bato por dentro. Pigarreio constrangido. - Não aconteceu nada! Só temos que abraçar muito ele. Aquele gigante merece você não acha?
- Sim! - de mãos dadas seguimos para meu apartamento. Quando chego na sala, encontro - o tomando sopa. Finjo estar brava. Davi corre se enfiando entre as pernas dele, envolvendo seu pescoço com seus finos braços. - Te amo Arthur!
- Eu te amo muito mais!
- Eu que te amo mais! - grita nos fazendo rir.
- Eu vou superar vocês nesse negócio. Amo os dois muito mais.
Davi fica quieto pensando, Arthur o observa.
- Acho que tio Ramon venceu essa!
- Claro que venci.
Deixo a mochila do nosso garoto sobre o outro sofá e ao passar por Arthur que tenha ouvir tudo o que o irmão diz, me inclino bem perto de seu rosto.
- Sabe, eu iria te dar comida na boquinha! - se engasga com o ar. Me retornando um olhar malicioso.
- O que mais iria me dar na boquinha?
- Argh! Seu ridículo! - sua risada alta me acompanha para o quarto.
Não sei como serão as coisas daqui para frente mas de uma coisa tenho certeza. Estarei com ele durante todo o caminho.
23/12/20
O circo tá armado.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro