• VINTE E TRÊS • RAMON
Estaciono em uma área própria para isso, ao lado de veículos de variadas cores, tamanhos e anos. Enfio o monstro que usamos como carro que também é blindado no meio dos carros populares e não poderia haver mais controvérsias do que essa imagem. O rapaz ao meu lado, ergue o olhar da lenta da câmera profissional e sorri largamente assim que vê a fachada da padaria.
Ele vem me surpreendendo desde que comecei a fazer dia segurança. Raphael Nikolaiev não poderia ser mais diferente do que pintei em minha cabeça cheia de conceitos pré concebidos. Eu já conhecia os pais, mesmo sabendo o quão humildes eram mesmo com tanto dinheiro, que poderia cega - los, eu ainda carregava um medo absurdo que de ter que fazer a segurança de um rapaz mimado e que não tinha aprendido nada com os pais.
- Eu disse que ela era bonita não disse? - entoa fascinado. Realmente, conforme entramos no estabelecimento, a decoração que mistura elementos modernos mas ainda mantendo no meio alguns aspectos da decoração antiga, faz o estabelecimento ficar mais bonito.
- É realmente linda. - há mesas redondas espalhadas por um salão amplo. De onde estamos, perto do balcão de vidro que nos permite ver os doces e salgados que estão disponíveis, ouvimos também a conversa em um tom médio dos clientes.
O rapaz de vinte e quatro anos, que mora sozinho e trabalha como fotógrafo em uma agência de modelos, agora parece uma criança diante de mim. Seu rosto está quase colado a superfície de vidro e ele parece simplesmente salivar pelas delícias disponíveis ali.
- Os doces e salgados não vão fugir, fica tranquilo. - ele ri baixinho desviando só por um momento.
- Você não pode ter certeza! - soca meu ombro fracamente. - Quem sabe se a passos não é assaltada e o bandido tenha como algo esses doces maravilhosos.
Sinto meu estômago gelar com a ideia de um assalto, a diversão indo para o inferno e me lembro o motivo de estar aqui. É para fazer sua segurança e não brincar de amigos com ele. Não quero nem pensar de fazer meu trabalho pela metade e algo acontecer com ele.
Parecendo ler meus pensamentos, segura meu ombro, quando com as mãos nos lados do meu corpo mas com o olhar atento a tudo, resolvo dar uma volta pelo lugar.
- Cara relaxa! Nada vai acontecer. - diz com tanta segurança que quase acredito. - Não precisa entrar no modo "Robocop".
Quase sorrio.
- Não tem como Raphael! - a fila anda e os atendentes vão acabando aos poucos com ela, fazendo assim chegar na nossa vez rapidamente.
- Juro não contar para meu padrinho. Ele nem vai saber.
- Otávio Lambertini sabe de tudo.
- Talvez você esteja certo. - alisa a barba castanha. - Mas ainda vamos comer essa coxinha maravilhosa e um pouco de café. Me acompanha? - me lança seu maior sorriso. Não tem como não sorrir. Ele sorri com alegria verdadeira e com os olhos, fazendo com que seu sorriso nos atinja em cheio.
Quem diria que o mais sério dos seguranças, estaria nesse momento quase trocando confidências com seu meio de sustento. A moça que nos atende é simpática e além de nos entregar nosso pedido faz algumas indicações de sobremesas, que o rapaz ao meu lado aceita com entusiasmo. Procuro por uma mesa onde possa estar na direção da porta de saída e que eu possa tira - lo daqui o mais rápido possível quando for necessário.
Nos sentamos de frente um para o outro e vejo - o aspirar o aroma do salgado.
- Ah, essa coisa é tão boa. - morde com vontade. Pega o ketchup e derrama com abundantemente.
- Sempre vem aqui?
Ele para por um momento.
- Hum...- lambe os lábios, mas ainda assim fica um pouco de ketchup no canto deles.- Costumo vir com meu tio nos fins de semana mas deu vontade de vir aqui hoje.
- O café aqui pelo menos é bom.
- Confessa que é maravilhoso, não vou contar para ninguém que consegui te impressionar.
- Tem um longo caminho pela frente.
O restante do tempo, passamos comigo pedindo outro café e falando um pouco de minha graduação e ele entre mordidas expondo de forma orgulhosa, seu trabalho. Ele quis pagar meu café no fim, mas não permiti. Não chegamos no carro e senti meu celular vibrar, não consegui não sorri ao ver seu nome piscando em minha tela.
- Oi, isso tudo é saudades? - brinco ao abrir a porta do carona ganhando um revirar divertido de olhos. Mas meu sorriso vavila quando escuto somente sua respiração apressada. - Aconteceu alguma coisa?
Ouço - o pigarrear.
- Sua mãe está no mesmo parque que viemos mais cedo.
Passo a mão por minha cabeça. Raphael não parece mais divertido. Pelo semblante sério quando demonstra, vê em meu próprio rosto que não estou para brincadeira.
- Amor, ela....- respira fundo. - Ela foi embora.
Solto o ar com força dos meus pulmões. Nem havia percebido que estava prendendo - o. O que Viviane quer porra?
- Tudo bem. Vou ficar muito grato se puder levar meu irmão para casa agora. Mais tarde vamos nos ver sim?
- Nos vemos mais tarde. - Murmura lentamente. - E Arthur?
- Sim?
- Eu te amo ok?
- Eu sei. E também te amo! - digo baixinho.
Não saio de imediato com o carro e agradeço a Raphael por respeitar meu silêncio. Viviane ficou longe por anos, se casa e de repente quer entrar em nossas vidas novamente como se nada tivesse acontecido. Anos de abandono resumidos a um "não estava preparada para ser mãe!".
- Não sei o que te deixou assim, mas saiba que estarei aqui para o que precisar cara.
- Nos conhecemos tem alguns dias apenas. - entoo com sinceridade. Um fato concreto.
- Mas já te tenho como meu amigo.
- Você faz amigos muito rápido sabia? - dou partida no carro, tento brincar.
- Ah, isso eu também herdei do meu pai.
- Eu vejo. - Faço uma curva e logo estou seguindo a rota de sua casa. - Para onde iremos depois?
- Está liberado após me deixar em casa. - o olho rapidamente. Seu rosto está sereno.
- Tem certeza?
- Absoluta. Hoje só vai dar Netflix e eu.
Como acordado, o deixei em seu apartamento. Com um último abraço apertado que me pegou de surpresa e que logo me vi retribuindo, me dando conta naquele instante como eu precisava de um e não sabia. Após deixar o veículo da família em um estacionamento particular, peguei o meu e ao estacionar na frente do prédio onde moro, não desci de imediato. Tomava respirações profundas e tentava acalmar meu machucado coração.
Mesmo com todas as boas intenções de preserva - lo de se machucar mais tarde, ele tinha o direito de conhecer a mãe. Eu não qiryoa contato nenhum com ela. Por muito tempo senti raiva, mágoa e dor por ser deixado para trás como um objeto que não tinha mais valia.
Mas hoje eu estava bem. Tinha meus amigos como minha família, uma avó que me criou mesmo com todos os seus defeitos, um irmão que tinha um ótimo futuro pela frente e o amor do homem que nunca busquei ter.
Eu tinha tudo e era grato por isso. Uma ligação dias atrás me tirou do eixo por um instante mas depois de ver que eu tinha o apoio daqueles a minha volta, aos poucos estou voltando ao meu normal.
Deixo minha cabeça cair por um segundo contra a madeira pesada. Abro a porta e nem ao menos dá tempo de piscar. Tenho - o tentando me escalar animadamente. A face aberta em uma alegria genuína, que me toca profundamente. Valeu a pena cada noite pouco dormida que dei a ele. Eu o amo e vou protege - lo com tudo de mim mas preciso também ser sincero com ele.
- Ah como eu te amo carinha! - beijo sua têmpora.
- Oi amor, ele lanchou no parque mesmo. - Ramon sorri de lado mas há preocupação em seus olhos. Olhos esses que tanto amo. - Sérgio é quem vai cozinhar hoje. Então vovó fez questão de convidar vocês.
Envolvo sua cintura com meu braço livre, trazendo - o para bem perto de mim. Exigindo seus lábios contra os meus, sei que não vou poder beija - lo como realmente quero, com minha língua dançando juntamente com a sua, mas pelo menos um gostinho de seus lábios deliciosos eu tenho.
- Fábio também? - Davi não esconde o desânimo e a careta que desfigura seu rosto.
- Davi!
- O que? Ele é muito chato e falou um monte de coisas para tio Ramon hoje! - Ramon arregala os olhos e logo olha para o chão.
Seus chinelos ficando muito mais interessantes de repente.
- Algo que eu deva saber?
- Não é o momento. - tenta desviar o assunto. - Vocês precisam conversar agora. E eu tenho que tomar um banho.
- Hum...- o beijo mais uma vez. - Não sei se Fábio vai, mas nós vamos não é carinha?
- Sim! Sim!
Assim que a porta se fecha, caminho com meu irmão até o sofá, o colocando sentado na ponta. Beijo sua testa e vou até a porta do meu primo. Sem gentileza alguma, bato na madeira a ponto de quase racha - la.
- Jesus, quem morreu? - o abusado abre a porta somente de cueca. Os cabelos em cachos estão presos em um coque alto.
- Ninguém... até agora! - lhe dou um sorriso frio, fazendo - o engolir em seco. - Mas vou saber o que falou para meu namorado mais cedo ou mais tarde, e dependendo do que eu ouvir, farei você voltar muito rápido para a casa de nossa avó!
Parecendo chocado, segura firmemente o batente. Seus dedos ficando brancos com o ato mas não me importo.
- Só disse a verdade.
- Que verdade homem? - digo exasperado.
- Conversa com o loiro aguado e vai saber! - bate a porta na minha cara.
- Puta que pariu! - aperto minhas mãos em punhos e volto para a sala um pouco mais controlado.
Vou até a geladeira e pego uma garrafa d'água para mim. Me sento ao lado dele, que está estranhamente quieto. Abraço - o pelos pequenos ombros e o trago para mais perto de mim.
Não digo nada por um tempo muito longe.
Em seguida, me coloco em uma posição onde nossas testas fiquem juntas, nossos olhos se fecham automaticamente. - Somos nós contra tudo não é? - acena sem ao menos hesitar.
- Sim!
- Somos fortes juntos. Se você sofre, eu também faço. Se chora, eu vou embarcar junto com você. Quando se machuca sinto dor juntinho com você. - entoo as palavras como um mantra. Não são outras senão as mesmas que repito desde sempre.
- Somos a fortaleza um do outro. - diz com firmeza.
- Tenho algo para conversar com você e é muito importante que me escute primeiro e fale depois. Tudo bem?
- Hum...
Me afasto um pouquinho dele. Nunca deixando de olhar em seus olhos.
- Se lembra quando eu disse que nossa...- parece que engoli um pedaço de arame. As palavras arranham, elas saem rasgando, causando estragos por onde passam. - Nossa mãe, não estava preparada para ser mãe?
Ele se afasta bruscamente.
- O que era tudo mentira! Mamãe não me quis.
- Está me chamando de mentiroso? - não gritei nem nada do tipo. Mas suas palavras doeram em mim.
- Eu...ela não me quis. - seus olhos ficam úmidos mas ele se recusa a chorar. Faço - o se sentar em meu colo.
- Eu te amo muito David. Não imagina o quanto e daria minha vida por você. Que era quem me dava forças para continuar. - sinto minha voz vacilar. - As vezes temos que fazer coisas que não gostamos.
- Como lição de casa? - faz careta. Toco seu queixo, rindo baixinho.
- Ou comer beterraba. - finjo estremecer.
- Jiló é ruim também mas tenho que comer.
- E tomate também! - cutuco suas costelas. Ele se contorce em meu colo. - Agora é sério!
Acena freneticamente.
- Nossa mãe voltou e quer te ver! - decido tirar o curativo rapidamente.
Ele não se move por alguns minutos e começo a ficar preocupado quando envolve seus bracinhos ao redor do meu pescoço e enterra o rosto em meu peito, quase me sufocando no processo mas retribuo como posso o gesto.
- Eu não quero! - diz abafado contra o tecido grosso de minha blusa. - Ela vai me tirar de você!
- Não vai! - há certeza em minhas palavras. Pois é certo que não deixarei ela me afastar dele. - Somos nós contra o mundo. E é só isso que deve saber. Ela só quer te ver.
- Hum...- funga. - Vai estar comigo?
- Nunca vou te deixar sozinho.
Prometo. Mesmo não tendo certeza de como as coisas vão se desenrolar. Eu vou proteger meu irmão com tudo de mim. Nem que para isso eu tenha que derrubar meio mundo ou me machucar no processo. Viviane tem de saber que nós vencemos sem a ajuda dela. Que não poderá entrar assim no meio de nós. Pois até agora eu tenho algo que ela está longe de possuir.
O amor do meu irmão.
- O que acha de ir escolhendo um filme enquanto eu tomo um banho rapidinho?
- Pode ser "Como treinar seu dragão?" - anima - se. O que agradeço mentalmente.
- Você quem manda cara! - acaricio seu rosto e vou correndo tomar um banho. Coloco meu celular sobre a mesa de estudo e não demoro a estar debaixo do chuveiro.
Saio do chuveiro com uma toalha enrolada na cintura e outra secando meu cabelo. Com minha saudade não totalmente saciada, pego meu celular e disco seu número.
- Agora sou eu quem pergunto: isso tudo é saudade?
Bufo baixinho. Tiro a toalha do meu quadril, notando o quão excitado fiquei só de ouvir sua voz. Minha boca se enche d'água só de pensar em lamber cada centímetro de seu corpo maravilhoso. Tento me controlar, quase me esquecendo do que iria falar.
- Tem razão, estou com muita saudade sua. E de sua boca.
- Não fala essas coisas. Estou com visita em casa.
"Ramon está transando pelo telefone vó!"
- Não seja ridícula Aline! - pigarreia. - Como foi tudo? - a excitação vai para o caralho com mudança de assunto.
Visto uma cueca e me jogo na cama, olhando para o teto.
- Boa na medida do possível. Vou entrar em contato com o advogado e ver como vamos proceder a partir daqui.
- Estou aqui para te ajudar, você sabe sim?
- Sei. Mas vamos esquecer isso. - sorrio novamente. - Vem aqui para que possamos assistir a um filme. Davi está responsável pela escolha.
- Aceita mais um? - diz entre risadinhas.
- Não sendo a cobra julgadora!
- Arthur! - ouço - o se engasgar com a própria saliva. Não disse nenhuma mentira. A cobra me olha como se soubesse de tudo sobre mim e me julgasse ainda assim. - Ela não é assim!
- Palavras, apenas palavras. Mas é ela? Se for, é um não bem grande! - seguro um sorriso.
- Hum... é o Caio. Nana está aqui também.
- Caio é bem vindo!
- Quando nos casarmos, terá de aceitar ela como parte da família! - solta de repente. Ouço um som de um baque. - Ah merda, não foi isso que quis dizer! - noto o nervosismo em sua voz.
- Mas foi isso que ouvi. - lambo meus lábios. Meu coração acelerado. Nunca falamos sobre casamento, estamos no início de nosso relacionamento mas não vou mentir. As vezes penso em nós em um futuro casados e felizes. - Ramon?
- Sim?
- Está me pedindo em casamento?
- Vá se...
"Ramon Vieira! Olha a boca!" Dona Elisa ralha no fundo. Não resisti, rindo alto, quase caindo da cama.
- Não estou. E vou levar pão de queijo. Vovó fez hoje.
Desliga o celular na minha cara. Mas até o momento que ele aparece na minha porta cheio de bolsas e cheirando a pão de queijo. Não consigo tirar o sorriso do meu rosto. Caio me observa atentamente e logo se joga em meus braços.
- Minha resposta é sim!
Ganho um revirar de olhos, que paro com um beijo profundo. Estava feliz mesmo com um problem enorme a enfrentar pela frente. Mas tendo minha pequena família e amigos, estarei bem.
23/12/20
Raphael na mídia!
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